segunda-feira, 29 de junho de 2009

Do outro lado do mundo

Não vou falar muito não. Assista o vídeo e conheça uma dos caras mais legais do Japão. O Rafael está do outro lado do mundo faz um tempão e continua firme e forte naquilo que lhe faz tanto bem e batalhando para superar um monte de desafios. Conheci ele quando estive por lá, logo quando cheguei em 2007, e apesar do pouco tempo que a gente conviveu, ficou o respeito, o carinho e a afinidade pelo que há de melhor na música punk. Boa sorte aí Rafa!

domingo, 28 de junho de 2009

Nada

Apague a luz.
Faça o vídeo ficar em tela cheia.
Deixe tocar.
Nada será desperdiçado ou desprezado: nenhum som, ruído, imagem, tempo, nenhuma luz, nenhuma inspiração ou expiração, nenhum gesto. Nada.

Eu sou uma parte de tudo que encontrei.
Ortega y Gasset

sábado, 27 de junho de 2009

Luto

O Pedal Verde e a Bicicletada SP estão organizando um encontro de ciclistas, pedestres e moradores da cidade de São Paulo para conhecer pessoalmente o andamento das obras do projeto de ampliação da Marginal Tietê!!! Indo completamente na contramão do que seria o desenho estratégico de uma cidade sustentável, dentre os enormes impactos negativos que esta obra trás, damos destaque à:
  • eliminação de diversas árvores com mais de 50 anos de vida, que cumprem papel ecológico importantíssimo no equilíbrio climático e da poluição da marginal;
  • impermeabilização dos canteiros centrais que cuidam da manutenção de escoamento das nossas águas evitando enchentes;
  • impossibilitam a moradia para avifauna e outros seres vivos que cumprem papel ambiental na cidade;
  • no transplante de árvores que está sendo realizado, com certeza muitas não sobreviverão

Mesmo que hoje a Marginal do Rio Tietê esteja distante de ser como a sociedade deseja – um local de convivência em harmonia com uma fonte de vida – esse projeto assina o decreto de morte para que um dia possamos a voltar a viver juntos e de forma saudável junto do Rio Tietê, indo completamente na contramão de projetos realizados em diversas cidades pioneiras do mundo - um retrocesso de mais de 40 anos no pensamento humano!!!

Vamos nos unir neste domingo, levar nossos amigos e família num encontro para tomarmos conciência da dimensão do impacto desta obra, e refletir se realmente é isso que queremos para o futuro de nossa cidade!!!

Lembramos que é importante levar:

  • água para hidratação
  • lanche
  • máquina fotográfica para registrar a oportunidade histórica de estar em uma área verde que já está sendo rapidamente consumida
  • muita vontade de trocar conhecimentos e histórias com as pessoas participantes e refletir sobre os caminhos da nossa cidade


Pedal Verde para conhecer as obras de ampliação da Marginal Tietê

Domingo, 28/06/2009

1° Ponto de Encontro (10h): Pedalada saindo da Praça d@ Ciclista (Av. Paulista x Rua da Consolação)
Trajeto que será realizado pelas bicicletas a partir da praça

2° Ponto de Encontro (12h): Ponte das Bandeiras
Não é necessário ir de bicicleta, a estação de metrô mais próxima é a Tietê

Matérias sobre a ampliação da Marginal Tietê:

Blog do Milton Jung

CicloBR

Apocalipse Motorizado

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Pedal Verde
Bicicletada SP

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Estupidez

O presidente Lula sancionou a Medida Provisória (MP)O 458 e vetou apenas um ponto da MP - também conhecida como “MP da Grilagem”. O artigo sete que foi vetado previa a transferência de terras para pessoas que não moram na região e para empresas que exploram indiretamente a área. Apesar de parlamentares, ministros e até mesmo o próprio presidente declarar que a MP favorece pequenos e médios posseiros da região, 72% de toda a área regularizada pela Medida é composta por latifúndios com mais de 1,5 hectares.

Segundo o presidente da Associação Brasileira de Reforma Agrária (ABRA), Plínio de Arruda Sampaio, a MP favoreceu apenas o agronegócio.

“[Essa medida foi editada] para legalizar as terras griladas da Amazônia. Esses grileiros com os títulos regularizados vão vender essas terras para as grandes empresas nacionais e estrangeiras, que vão produzir soja, cana-de-açúcar, criação de gado e exploração de madeira. [Os pequenos proprietários] não conseguirão se manter em uma região dominada pelo agronegócio.”

Ao todo, 67 milhões de hectares de terra na Amazônia serão transferidos da União para particulares. Áreas com até 1,5 mil hectares, ocupadas até 1º de dezembro de 2004, não devem pagar ou pagarão um valor simbólico pelo imóvel. Isso representa apenas 28% da área total e compreende mais de 90% dos imóveis. Ocupantes de áreas maiores pagarão à União o valor de mercado para se manter no local.

Aline Scarso,

De São Paulo,

da Radioagência NP.

quinta-feira, 25 de junho de 2009


É preciso deixar que os outros tenham razão,
isso os consola por não terem outra coisa.


André Gide

foto by Zeynepinyeri

terça-feira, 23 de junho de 2009

O Pesquisionismo Dominante: o governo o produz, a imprensa o engole e o reproduz

por Paulo Ghiraldelli Jr

O Brasil descobriu a pesquisa. Infelizmente, não é research, mas survey. E o pior, em alguns casos o resultado vem da universidade, sob encomenda do governo, com cara de research, mas é survey. Em outras palavras: não fazemos mais investigação criteriosa, mas enquetes, e as apresentamos como pesquisa. E o pior ainda: os jornais estampam em suas manchetes o “resultado” do trabalho e, assim, eis que a cara do Brasil é desenhada como o que está na manchete. Na verdade, não é cara, é caricatura.

A mais recente pesquisa encomendada pelo MEC a um professor de contabilidade da USP é colocada no Estadão da seguinte forma: “Escola e dominada por preconceitos”. (Aqui). Pronto, surge uma verdade, aparece um rosto para a escola brasileira. A escola agora não é só fraca, é o berço do preconceito. E com isso, com tal dogmatismo e falta completa de reflexão, os números secos, elaborados a partir da pretensa exatidão e objetividade da matemática (uma matemática pobre, na maioria das vezes), a denúncia do preconceito se põe a serviço da produção de mais preconceito. Agora, os que se acham sem preconceitos, vão se afastar da escola: “nossa, lá é lugar do preconceito!” – assim reagirá uma parte da elite. Outra parte da população, ela própria na escola, irá dizer: “nossa, eu nem percebia que estava vivendo num lugar tão horrível”. E uma terceira dirá: “ah, eu bem que sabia, lá na minha sala de aula, fora eu, todo mundo é preconceituoso”.

O terrível nisso é a interpretação do pesquisador, o professor-contador José Afonso Mazzon: “A pesquisa mostra que o preconceito não é isolado. A sociedade é preconceituosa, logo a escola também será. Esses preconceitos são tão amplos e profundos que quase caracterizam a nossa cultura”. (Aqui). Ele foi pago (estou pasmo!) para fazer um serviço e concluiu isso aí! Ora, para dizer algo assim, alguém deveria ser pago?

Assim, as enquetes pagas a preço de ouro pelo MEC ou dizem banalidades, no melhor do casos, ou então geram a meia verdade, quase a mentira, e tem como fruto, na população e a partir da imprensa, a própria mentira.

-para continuar lendo aqui

segunda-feira, 22 de junho de 2009

dez mil

Começamos a semana com uma observação sobre esse espaço virtual. O Paladar de Palavra acaba de passar os 10000 acessos. Curioso fato que me faz pensar sobre as coisas todas que publico. Mesmo não escrevendo tanto como gostaria, me parece que de algum modo algumas das questões apresentadas demonstram interesse para um bocado de gente. Claro que muitos dos acessos foram acidentais, afinal quem da Sérvia ou Arábia Saudita estarei acompanhando esse blog em português? - podem ver lá no marcador que esses países fazem parte do time de acesso único aqui no Paladar - mas sei também que existem outros, que mesmo não se manifestando, passam por aqui de tempos em tempos. Isso é mesmo muito engraçado. Já encontrei amigos que vieram me falar de algo que estava aqui e eu nem lembrava mais sobre o assunto! Ficava tão intrigado que vinha buscar a postagem só para confirmar... O bom é que não me arrependi de nada desde o primeiro dia em que resolvi criar o blog que surgiu como uma necessidade para registrar os acontecimentos que me ocorriam fora do Brasil desde 2007. Interessante isso também se levarmos em consideração o fato do Paladar não ter uma pauta permanente, tema central ou política editorial definida que direcione os assuntos que aparecem. De todo modo continua sendo um espaço para compartilhar idéias, lugares e experiências que me tocam de algum modo. Assim dito, vamos em frente!
Abraços para tod@s!

sábado, 20 de junho de 2009

Vida e morte da festa do povo


por Luiz Vieira Lima Filho

São comemoradas, todos os meses de junho, as festas juninas. Antigamente, na roça ou na cidade, esse mês era bastante comemorado. Rojões, enormes rojões eram soltados e logo se via na noite estrelada, faíscas que logo iriam transformar-se em grande explosão. Os fogos de artifício, multicoloridos, enfeitavam maravilhosamente, parecendo fenômeno dos céus. Lembram-se, com saudades, dos chamados "mosquitinhos" e "busca-pés", que quando soltos pareciam ganhar vida e corriam atrás das pessoas ou elevavam-se ao céu, assim como um foguete espacial. Os "traques", brinquedo junino preferido pela criançada de antigamente, quando riscados no chão, estouravam como se fosses pipocas dentro da panela. Hoje, infelizmente, já não existe tamanha animação, pois a precaução e o progresso assim ditaram. Já não se vê mais as gigantescas fogueiras produzindo chamas como vulcão. A turma toda se reunia ao seu redor, abrigando-se da noite fria. O quentão saboroso, a batata doce assada, o churrasco, a pipoca, o pinhão, o amendoim, a queijada, a cocada e o milho assado, eram elementos que não poderiam faltar em uma boa festa junina. Que saudades sentimos dos enormes balões ricamente coloridos, que se elevavam graciosamente no espaço, parecendo levar mensagem de carinho, paz e amor! Com grande custo eram construídos, mas a seguir viria a recompensa. Que olhos não paravam e olhavam fixamente a tamanho deslumbramento? A meninada corria alegremente em grandes grupos atrás do esplendoroso balão, com a gana de pegá-lo, mas tal esforço era sem êxito, pois chegava a transpor de uma cidade para outra, parecendo um planeta solitário em meio de tamanha escuridão, navegando levemente na imensidão do céu.

Hoje, já não há tantas quadrilhas como dantes, e que quadrilhas! Era a festa sadia, a festa pura, a festa do povo.

Hoje, quase nada de toda essa maravilha existe, as festas juninas já não têm o mesmo espírito de outrora. Aqui em nossa cidade, pelo menos é uma prova de que as festas juninas estão pouco a pouco sucumbindo, se já não sucumbiram por inteiro, pois nem fogueiras como víamos, poucas, mas que nos faziam sentir com o espírito junino e era um consolo: toda a graça ainda não teria se findado. Este ano, nem essa ilusão teremos, pois o DOPS santista baixou decreto proibindo fogueiras nas ruas etc. Como já frisamos, o progresso e a precaução contra abusos determinam, praticamente, o fim das verdadeiras festas juninas, e hoje conhecemos tal festa apenas por nome ou somente em quermesses é que temos nossas festas juninas, a única coisa que restou e que nos dá ainda o prazer de saborear.

Veremos, pois, até quando perdurarão essas quermesses que nos dão um pouco de ilusão e satisfação.

*

Sim, festa junina na cidade, acabou-se o gosto. Agora, festa junina é na roça. A festa típica, sem abusos, sem perigos e nem tantas leis a proibi-las. Foi justamente com a inspiração elevada a tal lugar que apresentamos a seguir, em homenagem àquela gente, e para aqueles que apreciam tal festa...

São João na roça

Olha lá o balão
é a primeira recepção
pra saudar o São João

Vamos todos pra perto do fogueirão com toda animação, pois hoje é dia de festa; é dia de São João. Balão, balão, vá subindo para o céu infindo, leve a mensagem de alegria deste grande dia. Vem, cabocla bonita, pulemos juntos a fogueira, não precisa ter medo, oncê não vai se queimar, não; vou lhe contar um segredo: é meu amigo o São João.

Veja, a pipoca e o pinhão; amendoim e quentão, corra, peguemos nosso quinhão! A cocada tá quentinha e a paçoca gostosinha, vamos, coma, menininha!

Veja! Com grande emoção, soltemos o rojão. Tampe bem o ouvido, pois será grande o estampido! Pum! Lá se foi o rojão com tamanho barulhão, saudando São João. Óia lá! o casamento na roça vai ter início, mas antes ouça o padre em sua choça, comovente a fazer comício, e eis que surgem os noivos na carroça. O noivo Mané Pinguinha desembarca vestindo sua calça com remendo novo, fazendo pose e garbo; mas eis que desacerto, na calça jogam-lhe um ovo. Mané Pinguinha não se zanga com qualquer coisinha; levanta o braço pra pegar sua noivinha, Nhã Zefinha. Mas ao descer, eu nem quero ver que terrível acidente está pra acontecer. Nhã Zefinha o cheiro não agüentou, na tábua tropeçou e no chão se apatolou. Já refeitos do acidente, ele e ela sorridentes, alegres sobem ao altar. O padre, sorrindo, diz que eles só viverão para se amar, e nem uma garra de pinga nunca há-de os separar. Pro casamento festejar, uma quadrilha a turma vai dar. Corramos, minha gente, a quadrilha vai começar. Entremos, pessoal, vamos todos dançar e cantar. Corra, minha caboclinha, peguemos nosso lugar! Lá está o chefe contente, a pular e bradar: "Um, dois, três; minha gente, vamos todos trocar de par e logo, logo, debandar. Mas como tudo termina, a quadrilha teve fim. O dia de São João se acabou e a saudade ficou.

Vamos todos se acomodar pra de manhãzinha trabalhar, e outro São João, ansiosos esperar.

(Lima Filho, Luiz Vieira. "Vida e morte da festa do povo". A Tribuna. Santos, 21 de junho de 1967)

*encontrado no Jangada Brasil

sexta-feira, 19 de junho de 2009

curtas de todos os tipos

  • Poesia da melhor qualidade! VAMOS A LUTA de Sergio Vaz é pura paixão, é incendiária!
  • E a canalha não desiste. O Senado Federal está fazendo uma enquete sobre a redução da idade penal. Até o momento, a posição pela qual os defensores e defensoras de direitos humanos lutam está perdendo, vejam o resultado parcial: 49,64 % concordam com a redução para menos de 16 anos! 39,52 % concordam com a redução para 16 anos. apenas 10,82% não concordam com a redução. Participe aqui. A votação está no canto inferior direito da página do Senado.
  • Resposta de Em abril do ano passado, 113 autoproclamados "cidadãos anti-racistas" endereçaram uma carta ao presidente do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes para fazer lobby contra o programa ProUni e a instituição de cotas raciais compensatórias em vestibulares para universidades estaduais. O movimento foi visivelmente inspirado nas teses de Ali Kamel, diretor de Jornalismo da Rede Globo e autor de Não Somos Racistas, livro de cabeceira de alguns dos piores porta-vozes da direita golpista na mídia brasileira."(...)
  • Desiertos antrópicos é mais que uma exposição de fotografia. Sofia Silva é uma argentina que aponta para cenários e modos de viver nos Estados Unidos com enorme sensibilidade para falar de algo bastante inusitado. Suas fotos nos mostram algo, mas sempre pensamos e sentimos para além do que vemos, como olhar para o estacionamento de uma supermercado e pensar que é uma prisão, ou ainda em subúrbios que parecem casas de bonecas. Veja aqui.
  • Continua no Centro de Cultura Social de são Paulo o ciclo de debates Pedagogia, sujeito e resistências: verdades do poder e poderes da verdade. Altamente recomendavél!Veja toda programação aqui
  • O conselho regional de psicologia promove debate sobre Psicologia e Justiça.O objetivo deste evento é ampliar o debate sobre os campos da psicologia na interface com a justiça, criar referências para orientações à categoria e conhecer o trabalho e prática dos psicólogos que atuam nestas áreas.Evento do CRP.
  • Música para o fim de semana de vocês, afinal que vida seria essa sem ritmo? Passeio Público é um "projeto desenvolvido pelo baterista Flávio Lazzarin e pelo trompetista Daniel Gralha pela fome mútua duma abordagem do improviso (tanto melódico/harmônico, qto estrutural), de certa inclinação "jazzística", fundida a timbres e ambientes de vertentes como trip-hop, nu-jazz, dubstep." No myspace.

Inté!

quinta-feira, 18 de junho de 2009

vô alí e volto já!

Povo, ando meio sem tempo para escrever no blógui por conta de umas correrias para poder mudar de vida, mas prometo que em breve escrevo mais. Enquanto isso deixa eu mostrar algo que irão adorar.

Acabei de descobrir um som que tenho certeza fará vocês se perguntarem, como eu fiz, como é que não conhecia isso antes?! Encontrei lá no ótimo Radiola Urbana. Bom, “Funk Inc." (Prestige, 1971) é um petardo espetacular de jazz-funk. Disco 100% instrumental, com órgãos matadores, muita percussão, baixo bem marcado, metaleira impecável e arranjos similares ao de muitos combos da época. A gravadora Prestige, que também contava com nomes como Charles Earland e Ivan "Boogaloo Joe" Jones em seu staff em 71, parecia atingir o que pode ser considerada sua marca registrada com o lançamento de "Funk Inc.". Basta conferir os primeiros acordes de "Kool Is Back" para notarmos que a rapaziada de Indiana (EUA) não estava pra brincadeira. Check it out, baby!”(PP)

O disco inteiro é maravilhoso, mas devo confessar que "The thrill is gone" é uma das mais sedutoras, elegantes, e como dizia o saudoso Tim Maia, “mela cueca” que escutei. É dar o play e se atracar a qualquer hora do dia, ou da noite...

Baixe logo aqui.

Abraços!

terça-feira, 16 de junho de 2009

o pensar


"A tarefa não é tanto ver o que ninguém tinha visto, mas pensar o que ninguém pensou a respeito do que todo mundo vê."
Schopenhauer

Foto encontrada aqui

CICLO DE VÍDEO-DEBATES: EDUCAÇÃO E ANARQUISMO

Biblioteca Terra Livre e Espaço Ay Carmela! convidam:

CICLO DE VÍDEO-DEBATES: EDUCAÇÃO E ANARQUISMO

17/06 – QUARTA – 19h

A LÍNGUA DAS MARIPOSAS (Espanha, 1999, DVD, color, 96 min). Direção: José Luís Cuerda

O mundo de Mocho vivia em paz até o início da Guerra Civil Espanhola. É seu primeiro ano na escola, ele gosta do professor e encontra um novo amigo, Roque. Em uma viagem com a banda de seu irmão, Mocho descobre o que acontece em seu país. Rebeldes fascistas abrem fogo contra o regime republicano e o povo se divide. O pai e o professor do menino são republicanos, mas os rebeldes ganham força, virando a vida do garoto de pernas para o ar.

***
24/06 – QUARTA – 19h

FRANCISCO FERRER I GUARDIA: uma vida para a liberdade (Espanha, 2003, DVD, p&b
e color, 51 min). Direção: Agustí Corominas i Casals. Produção: TV3 català

Documentário sobre a vida e obra de Francisco Ferre i Guardia, mestre anarquista fundador da Escola Moderna e teórico das escolas racionalistas. Há entrevistas com ex-alunos e muitas informações sobre a construção de uma nova concepção de educação na Espanha no início do século XX.

ESCOLAS MODERNAS: educação anarquista na São Paulo no início do século XX (São Paulo, 1995, S-VHS, p&b e color, 20 min). Produção: Coletivo Cinestesia
- http://www.geocities.com/cinestesia/

Documentário sobre os projetos educacionais dos operários anarquistas da cidade de São Paulo no início do século XX, como alternativa à educação oferecida pelo Estado, pelas classes dominantes e pela Igreja.

***

ESPAÇO AY CARMELA!
Rua dos Carmelitas, 140 – Sé – São Paulo
telefone: 55 11 3104 4330
e-mail: ay-carmela@riseup.net
site: http://ay-carmela.birosca.org

***
Como Chegar?

A pé/bicicleta/ônibus/metrô:
Partindo da Praça da Sé dirija-se à saída do Metrô Sé próxima aoPoupatempo, nas proximidades do Corpo de Bombeiros; Siga pela Rua do Carmo; entre na primeira rua à esquerda – Rua Joaquim S. de Andrade; No final dobre à direita, aí já é a Rua dos Carmelitas.

De carro/moto/bicicleta:
Na Praça da Sé desça a Avenida Rangel Pestana; No farol antes do viaduto entre à direita e logo à direita de novo numa ruazinha bem curta; No final dobre à esquerda e na bifurcação à direita; Já é a Rua dos Carmelitas.

domingo, 14 de junho de 2009

Repensar São Paulo

O governo de São Paulo continua apresentando obras bilionárias cujo objetivo é melhorar o fluxo dos milhões de veículos que circulam diariamente pelas ruas da capital. Sem sombra de dúvidas, se essa verba fosse destinada a investimentos em transporte coletivo público, em outros meios de locomoção – inclusive calçadas decentes – teríamos a solução para a imobilidade que vivemos na cidade.

Quando gritamos por verba para educação, transportes e até lazer de qualidade, o argumento é sempre a falta de verba. O que ocorre, então para que sempre haja verbas para a construção de túneis, pontes e “adequações viárias” BILIONÁRIAS?!

Além disso, ainda que tiv~essemos infinitos recursos, é notório que não é o aumento do número de vias que solucionará os problemas de mobilidade na cidade. O trânsito se deve a muitos outros fatores, dentre os quais se destacam a concentração de demanda por serviços, a marginalização das moradias populares e ao próprio planejamento viário que destrói a cidade, hostilizando os cidadãos que dela queiram – ou precisem – fazer parte.

Por isso, vamos discutir esse aspecto das obras viárias apresentadas pelos governos Estadual e Municipal, questionar a verdadeira moeda de troca das empreiteiras e os “favores” à indústria automobilística.

*encontrado em Ecologia Urbana

sexta-feira, 12 de junho de 2009

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Adão Xalebaradã. Não esqueça esse nome!

Um dia o cineasta Walter Salles subiu o morro do Cantagalo, no Rio, à procura de novas expressões artísticas. De lá, saiu com um documentário e uma descoberta: Adão Dãxalebaradã. Waltinho foi levado à casa desse músico desconhecido por Luanda, caçula dos filhos de Adão e bailarina do projeto Dançando para Não Dançar. O diretor de Central do Brasil ficou impressionado com o compositor, de mais de 500 canções, e o apresentou à sua parceira Daniela Thomas e ao irmão dela, o produtor musical Antônio Pinto. “Fiquei obcecado em registrá-lo. Adão tem um discurso de contestação, de paz, mas com olhar particular”, disse Antônio. Hipnotizados pela mistura de sons – reggae, samba, afro-beat, rap – e pelas letras vigorosas, os três decidiram revelar Adão. O resultado foi o disco Escolástica, o documentário Somos Todos Filhos da Terra e o videoclipe Armas e Paz.

Sobrevivente de emboscadas da polícia e de bandidos, levou 12 tiros. Quatro foram de metralhadora, e foi perseguido por 30 homens da polícia especial. Segundo Adão, o motivo foi ele ter sido excluído do Exército, conforme crê, por preconceito racial. Passou a pregar peças no coronel responsável pela sua exclusão. Em plena ditadura militar, conta ter sido até torturado. Um dos tiros de metralhadora ficou a um dedo do coração, e Adão passou meses no hospital.

A última bala ele levou quando tentava se afastar da violência do morro, como mecânico, em 1973. Em tese, foi assalto. Quis reagir e, sem ver que havia outro bandido atrás, foi alvejado. O tiro o deixou numa cadeira de rodas. “Sou semiparaplégico, consigo andar segurando nas coisas, tomar banho sozinho, fazer sexo", dizia. "Na verdade o tiro foi um mal que veio para bem, pois descobri as coisas da Umbanda e do Candomblé”. Daxãlebaradã é uma qualidade de Xangô que significa “Princípio, Meio e Fim”. Este foi o nome espiritual que adotou desde então.

Adão começou a fazer música aos cinco anos: “Meus pais eram crentes. Fazia hino de igreja”. Sua brincadeira era imitar o pastor. Aos oito anos, fugiu de casa e foi morar na rua. “Não tinha liberdade, era criado na base da pancada. Não podia jogar bola de gude nem soltar pipa porque eram coisas do diabo”, lembrava ele, o mais velho de nove irmãos. “Só podia brincar no porão. Não podia me misturar com filhos de pessoas que não eram da igreja.”
Na rua, sobrevivia com o que lhe davam. Foi encaminhado a uma instituição para menores, onde ficou dos 9 aos 17 anos. Foi guia espiritual de sua comunidade e por ser ligado às raízes afro-brasileiras, compôs cerca de 500 músicas sobre o tema. Residia no Morro do Cantagalo, em Ipanema. Faleceu no Hospital Miguel Couto, segundo alguns, vítima de uma Hepatite C com infecção generalizada, sendo enterrado no cemitério São João Batista, mas há muitos que juram que Adão incomodou o pessoal do tráfico, quando fêz a música "armas e paz", um protesto criticando o tráfico de armas e sua morte foi "repentina" e estranha demais...
A música de Adão é forte, cheia de fúria, com as letras focadas na injustiça de todos os matizes. Tocava apenas um atabaque - que era como compunha suas músicas - e muita gente achava que fazia parte da galera do funk carioca, o que o produtor Antônio Pinto provou não ser verdade, pois construiu junto com Adão um dos discos mais lindos da história da música brasileira. Adão era um homem de raiva e de fé, raiva dos poderosos que manipulam idéias para manter os homens escravizados, raiva da apatia dos seus iguais e fé na força de suas origens no Orun e nos rios da África, que o inspiravam na sua pregação libertária. Com uma voz rouca e profunda, forjada na tristeza e na difícil vida que levou, ela soa como se viesse de antes dos tempos, tempos melhores que estes que o fizeram vítima da violência. Adão foi uma perda, quase despercebida pelos homens, mas certamente, será sempre lembrado pelos deuses.
Deixou dois filhos: Ortinho e Luanda.
Obrigado Yan Kaô! Todas as palavras aqui foram dele.

Um pouco de felicidade!

Orquestra Brasileira de Musica Jamaicana

01. O Guarani
02. Tico Tico No Fubá
03. Carinhoso
04. Águas De Março
05. Ska Around The Nation
06. O Barquinho
07. Águas de Março DUB

Clique aqui pra baixar.

Myspace:
http://www.myspace.com/skabrazooka

II Encontro Pró-Federação Anarquista de São Paulo

O coletivo Pró-Federação Anarquista de São Paulo convida a todas/os para participar do "II Encontro Pró-Federação Anarquista de São Paulo", nos dias 18 e 19 de julho de 2009, na cidade de São Paulo.

A proposta deste segundo encontro é de apresentar e discutir sobre as experiências do coletivo e os trabalhos realizados até o momento, e convidar novas/os companheiras/os à participação.

Portanto, é com espírito de luta, que convidamos todas/os a este segundo encontro, para darmos continuidade a este trabalho e juntas/os construirmos uma organização anarquista especifista em São Paulo.

Saúde e Liberdade!

Local do Encontro:
Espaço Ay Carmela!
Rua dos Carmelitas, 140, Sé – São Paulo
Travessa da Rua Tabatinguera - Metrô Sé

Para uma melhor organização do encontro, pedimos que todas/os que puderem, confirmar a participação mandando um e-mail dizendo: nome, se participa de alguma organização, se vai consumir a alimentação do encontro e se precisa de alojamento.
E-mail para contato: fasp(arroba)riseup.net

Maiores informações: http://www.anarquismosp.org/

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Boas notícias.

Na manhã da última quarta-feira, dia 03 de junho, a Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados aprovou por unanimidade o Substitutivo do Projeto de Lei 7.291/2006, que Proíbe a Exploração de Animais em Circos em Todo o Brasil.

Com isso, mais um importante passo foi dado em busca de uma sociedade melhor. Ainda faltam algumas etapas até que a Lei seja sancionada, mas, ficaremos atentos ao andar dessa carruagem e divulgaremos todas as novidades!

A PEA - Projeto Esperança Animal agradece aos Deputados que votaram a favor da vida, a todos que enviaram e-mails aos Srs. Parlamentares e, principalmente, a todos que lideraram essa batalha e estiveram em Brasília representando a vontade daqueles que nunca puderam se defender.

Para quem participou dessa luta e ao menos enviou um e-mail, o nosso muito obrigado em nome de diversos animais. Saiba que você fez a diferença!

CCZ de São Paulo

Se você mora na cidade de São Paulo, por favor, preste muita atenção no box abaixo e faça de tudo para participar.

Caso você more em outra cidade, ajude divulgando para seus contatos em São Paulo. Os animais precisam de nós. Faça a diferença!

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Mais que recomendado!

Hoje li uma das histórias mais interessantes e sinceras deste ano. Craig Thompson é um cartunista e escritor estadunidense e nos conta parte de sua infância e adolescência no livro Retalhos. A história autobiográfica é repleta de sentimentos conflitantes, medo, angústia, mas também muita ternura e afeto. Na Folha escreveram algo aqui para vocês conhecerem um pouco mais sobre esse artista e detalhes do livro, e no Globo uma entrevista com ele. Apenas gostaria de recomendar essa leitura encantadora com uma arte incrível, uma história em quadrinhos com mais de 500 páginas, mas que nos mobiliza do começo ao fim.

Teatro

terça-feira, 2 de junho de 2009

O que fazer com a desilusão?

Conferência de John Holloway no Brasil em 2004.

O que fazer com a desilusão? O que fazer quando a democracia não funciona?

O Brasil é um país muito especial para formular essa pergunta. Há apenas dois anos, a esquerda mundial festejou o triunfo de Lula nas eleições. Houve uma grande vitória para a democracia, uma vitória real para a esquerda . E não qualquer esquerda, mas um partido de militância comprovada, com um líder trabalhador de miltância comprovada. Aqui, finalmente, todo mundo podia ver que era possível mudar a sociedade através de eleições democráticas. E agora? Dois anos depois, desilusão total. A eleição de Lula não mudou o Brasil, o governo segue implementando as mesmas políticas do capitalismo neoliberal. O que farão então com a desilusão? Escolher outro líder e esperar que seja melhor que Lula? Formar outro partido e esperar que seja melhor que o PT? Isto é o terrível dos governos de esquerda: quando fracassam (e sempre fracassam) parece que não há nenhuma solução e se instala a depressão. O fracasso de Lula não é simplesmente um fenômeno brasileiro. É a repetição, no Brasil, de uma experiência mundial. Há uma palavra que ocorre uma e outra vez na história da esquerda estadocêntrica em todo o mundo: traição. O fato da traição repetir-se tão seguidamente faz com que o conceito de “traição” se torne ridículo. O fracasso da esquerda não pode ser simplesmente questão de traição, da culpa de um líder nem de um partido: tem a ver com as mesmas estruturas. O fato de que não é apenas uma experiência brasileira significa que temos que ir mais além de uma crítica a Lula ou ao PT.
II

O problema não é Lula nem o PT, mas a democracia participativa. A democracia representativa não é nossa democracia, é a democracia deles, a democracia do capital. Não articula nosso poder, articula o poder deles, o poder do capital e dos poderosos. Nosso poder não é como o poder dos poderosos. É completamente distinto. Nosso poder é o poder-fazer, o poder criativo. Nosso poder-fazer é o poder de produzir e reproduzir a vida, porém, também o de fazer as coisas de outra maneira, o poder de mudar o mundo. Este é o poder que sentimos em um evento como este: uma confiança coletiva de que podemos fazer as coisas de outra maneira. Nosso poder é coletivo e social. O fazer é o centro de nosso poder, e é impossível imaginar um fazer que não seja social, que não dependa dos fazeres de outros, no passado ou no presente. Nosso fazer é sempre parte de um fluxo social do fazer. O desenvolvimento de nosso poder sempre implica o reconhecimento explícito da sociedade do fazer, implica, em outras palavras, um movimento de reunir e afirmar uma subjetividade social, um nós criativo. O poder dos poderosos é todo o contrário. Por trás de suas armas e bombas há um movimento de separação e fragmentação. O capital é um movimento de separação que fragmenta a sociedade do fazer. O capital toma o que os fazedores fizeram e diz: “isto é meu!”. O capitalista rompe o fazer, separa o feito do fazer e do fazedor, e com isso tudo se rompe, cada aspecto da vida. A respeito de tudo estamos rotos. Nós estamos rotos como sujeito social, despedaçados em milhões de indivíduos atomizados. O capital é a ruptura do fazer social, e quando o fazer se rompe, o ser impõe-se, o que é domina. Vemos os horrores do mundo, as crianças que morrem, a pobreza e a injustiça, as bombas que caem, e gritamos “Não! Não pode ser. Temos que mudar o mundo, temos que fazer outro mundo” E eles riem: Vocês são nada
mais que um grupo de indivíduos. Não podem mudar o mundo porque o mundo é assim, assim são as coisas”. Estão evidentemente equivocados. O que é, somente é porque nós o fizemos e o seguimos fazendo. O que é depende de nosso nosso fazer. O capital depende de nós. O capital se vê estável e eterno. Porém, não é. Existe somente porque nós o criamos. Não porque o criamos há duzentos anos, mas porque o criamos hoje. O problema não é abolir o capitalismo, o problema é deixar de criá-lo. O conflito entre nosso poder e o deles (nosso poder-fazer e o poder-sobre o deles) não é simplesmente um conflito entre o poder de baixo e o de cima. Nosso poder é o de poder fazer, de criar, da sociabilidade. O poder deles é o de separar, individualizar, o poder do que é. Nosso poder se dissolve; o deles, se enraíza. São dois movimentos muito distintos, duas lógicas muito distintas, duas linguagens distintas, duas formas de organização opostas. É importante reconhecer isto, porque eles (os poderosos, os capitalistas) sempre estão tratando de nos fazer devorar sua lógica, sua linguagem, sua forma de fazer e pensar. Fazem isso de muitas maneiras, e uma das maneiras mais importantes é através da democracia, convidando-nos a jogar seu jogoda democracia.
III

Nossa democracia não é como a democracia dos poderosos. Da mesma forma em que há dois tipos de poder, também há dois tipos de democracia: a deles, dos poderosos; e nossa democracia, a da resistência. Representação é o princípio da democracia deles: deixe que alguém tome seu lugar! Participamos nas decisões do Estado, dizem, escolhendo nossos representantes. Não há outra forma, porque os estados não são como as pólis gregas. Seria impossível reunir cinqüenta ou cem milhões de pessoas em uma assembléia, portanto, a única forma em que a democracia pode funcionar é através da eleição de representantes, dizem. Portanto, nas sociedades modernas, a democracia significa representação. Nas eleições escolhemos livremente quem vai falar por nós, nos representar no parlamento e formar o governo. Se não gostarmos, podemos trocá-los depois de três ou quatro anos. Votando participamos no governo do país. A representação significa democracia e democracia é boa, dizem. Mas então, por que é um desastre? Por que não funciona? Por que nos sentimos excluídos? Por que, sob Bush e Blair, a democracia converteu-se em uma arma de destruição massiva? Por que elegemos Lula, para mudar a sociedade, e não se passa nada? É porque a representação nos exclui no lugar de incluir-nos. Nas eleições, escolhemos alguém para falar por nós e tomar nosso lugar. Excluímos a nósmesmos. Criamos uma separação entre aqueles que representam e nós, os representados. E congelamos essa separação no tempo, dando-lhe uma duração, excluindo-nos como sujeitos até que tenhamos a oportunidade de renovar a separação nas próximas eleições. Cria-se um mundo da política, separado da vida cotidiana da sociedade, um mundo da política povoado por uma casta distinta de gente que fala sua própria linguagem e tem sua própria lógica, a lógica do poder. Não é que esta gente esteja totalmente separada da sociedade e seus antagonismos: precisam preocupar-se com a próxima eleição, as pesquisas de opinião pública e os grupos organizados de pressão. Porém, veêm e escutam somente aquilo que está traduzido no seu mundo, sua linguagem e lógica. Ao mesmo tempo, cria-se um mundo da ciência política e jornalismo científico, que nos ensina a linguagem e lógica peculiares dos políticos e nos ajuda a ver o mundo através de seus olhos cegos. A representação é parte do processo geral de separação que é o capitalismo. É totalmente falso pensar no governo representativo como um desafio ou como desafio potencial ao capital. A democracia representativa não é oposta ao capitalismo: é mais uma extensão do capital. Projeta o princípio da dominação capitalista (ou seja, a separação) dentro de nossa oposição ao capital. A representação consolida a atomização dos indivíduos (e a fetichização do tempo e espaço) que o capital impõe. A representação separa os representantes dos representados, os líderes das massas, e impõe estruturas hierárquicas. A esquerda sempre acusa os líderes e os representantes de traição, mas não há nenhuma traição. A traição não é um ato dos líderes que são parte intregrante do processo de representação. Traímos a nós mesmos quando dizemos à alguém: “Tome você meu lugar, fale por mim”. Eleição é traição.
IV

Já basta de representação! Já basta de representantes! Que se vayan todos! O grito dos argentinos é um grito contra os políticos, contra todos aqueles que desejam nos representar e querem tomar nosso lugar. Que se vayan todos é um grito que ressoa em todo o mundo, porque em todo mundo as pessoas estão fartas dos políticos profissionais, aqueles miseráveis que tomam nosso lugar e nos representam Não é um grito contra a democracia, mas por outro tipo de democracia: uma democracia sem representantes, que não nos exclua e que seja nossa. Estamos reinventando a democracia. Temos que começar outra vez, desde o princípio, e o princípio é o grito, o grito de não à sociedade como existe. O grito de não ao capitalismo. O grito é tão óbvio no Brasil como no México: um grito de não a este contraste terrível entre uma potência humana tão exuberante e uma miséria tão espantosa. A única forma em que podemos viver como humanos é dizendo não, gritando não. Porém o não contém um sim, um projeto, uma projeção de outro mundo. Gritar não a este mundo é dizer que outro mundo é possível. Outro mundo é possível porque nós podemos fazê-lo diferente. Podemos fazer diferente se trabalharmos para determinar nosso próprio fazer. O grito de não e o projeto que contém outro mundo implica um impulso à auto-determinação. Não, vocês não vão decidir por nós. Nós mesmos vamos decidir. Reinventar a democracia significa articular este impulso à auto-determinação. O impulso à auto-determinação não é a auto-determinação: não pode haver auto-determinação em uma sociedade capitalista, simplesmente porque o capitalismo está baseado na negação da auto-determinação. Esse impulso é um movimento, um mover, baseado na negação, no não. Não temos uma auto-determinação, o que temos é um não à determinação alheia e o impulso à auto-determinação. Começamos no não e nos movemos para fora. Em outras palavras, começamos nas fissuras, nas fendas da dominação capitalista. Começamos no não, desde as negações, as insubordinações, as projeções contra-e-mais-além que existem por todos os lados. O mundo está cheio de fissuras desse tipo, de negações. Em todas as partes do mundo há pessoas dizendo, invidualmente ou coletivamente “Não, não vamos fazer o que o capitalismo nos diz: vamos moldar nossas vidas como queremos”. Às vezes, estas fissuras são tão pequenas que nem os rebeldes, mesmo, estão conscientes de sua própria rebedia. Às vezes, são tão grandes como a Selva Lacandona – e quanto mais nos concentramos nelas, mais começamos a ver o mundo. Não como um sistema fechado de dominação total capitalista, mas como um mundo cheio de fissuras, negações e resistências. Um mundo grávido de outro mundo. Cada fissura é um impulso rumo a esse outro mundo -- ou seja, um impulso à auto-determinação. Nossa luta é para estender, multiplicar, aprofundar e fortalecer essas fissuras. Estamos falando de revolução. Porém, na única forma pela qual é possível concebê-la agora, como uma revolução intersticial, molecular, através das fissuras. Esta é a reinvenção da democracia, uma reinvenção que já está em andamento. Este é um processo fragmentado; porém, universal e com raízes profundas. Suas raízes estão na prática cotidiana das pessoas. Normalmente, vamos até as pessoas que queremos. Discutimos, buscamos um consenso, desenvolvemos formas coletivas de tomar decisões, formas horizontais. Este é o significado da amizade e companheirismo. Muitas das lutas atuais contra o capitalismo no mundo tomam como princípio básico a idéia de que o movimento deveria ser uma extensão das relações de amizade e companheirismo desse tipo. A meta básica da organização é criar formas coletivas e horizontais de tomar decisões. Onde alguma forma de delegação for necessária, é importante que seja possível revogar a delegação de imediato, que seja de curta duração e, na medida do possível, que haja um revezamento de delegados. A reinvenção da democracia é, portanto, a renovação de uma larga tradição de organização na luta anti-capitalista. É a tradição da democracia conselheira, comunista ou assembleísta, discutida na análise de Marx sobre a Comuna de Paris. Que se pode encontrar nos sovietes da revolução russa, nos conselhos comunitários dos zapatistas, nas assembléias de bairro
argentinas e em mitos outros movimentos. Dizer que a democracia representativa não é uma forma de organização adequada para o impulso à auto-determinação não significa, certamente, que a democracia direta ou de conselhos não tenha seus problemas. A distinção entre delegados e representantes é crucial, mas sempre vai depender, na prática, da participação ativa das pessoas. Em uma comunidade pequena, também, há muitos problemas práticos relacionados àquelas pessoas que não podem ou não querem participar ativamente no processo, o peso desproporcional que adquirem as pessoas mais ativas ou articuladas, etc. Provavelmente, problemas desse tipo são inevitáveis, na medida em que um sistema perfeito de democracia direta implicaria a participação de pessoas emancipadas. Porém, não somos (ainda) emanciapados. Parecemos mais como portadores de deficiências, que se ajudam uns aos outros a caminhar, e caem freqüentemente. Sem dúvida alguma, há alguns que podem caminhar melhor que outros. Nesse sentido, a existência de algum tipo de vanguarda provavelmente não pode ser evitada. A pergunta é: estes semi-deficientes deveriam avançar correndo – como vanguarda –, deixando os outros engatinhando no chão e gritando “não se preocupem, vamos fazer a revolução e resgataremos vocês”? (sabemos que não vão fazê-lo). Ou tratamos de avançar no mesmo passo, ajudando os mais lentos?
Provavelmente, não se pode pensar na democracia direta como um modelo ou uma série de regras -- mas como orientação, como luta incessante para destilar o impulso à auto-determinação social que existe dentro de nós. Não pode haver modelo fixo precisamente porque o impulso à auto-determinação é o movimento de uma pergunta. O que é importante não é o detalhe, mas o sentido do movimento: contra a separação e substituição, pelo fortalecimento da comunidade de luta baseada no reconhecimento mútuo da dignidade humana.
V

O que fazer, então, com nossa desilusão? Em todo o mundo existe o mesmo desencanto, uma crise de confiança no Estado e na possibilidade de conseguir mudanças através da democracia representativa. Uma crise de confiança nos partidos políticos. A pergunta para nós é como reagimos a essa crise. Dizemos: “vamos lutar por um Estado justo com uma democracia representativa genuina e fundar um partido político novo e honesto, que realmente represente os interesses de seus membros”. Ou dizemos simplesmente “Não ao Estado, não à democracia representativa, não aos partidos políticos”? A resposta é clara. Dizemos não ao Estado, à democracia representativa, aos partidos políticos. Não podemos mudar o mundo através do Estado, nem através da democracia representativa e dos partidos políticos. Estas são formas de organização que nos excluem, não articulam o impulso à auto-determinação. Não estou dizendo que nunca deveríamos votar. Provavelmente, em algumas circunstâncias há sentido em fazê-lo. Porém, está claro que não podemos mudar o mundo através das eleições. A crise da democracia e dos partidos não é um problema: é uma oportunidade de reinventar a democracia e mudar o mundo.

*John Holloway é autor do livro Mudar o mundo sem tomar o poder, ed. Boitempo

Tradução: Bárbara Ablas

07/12/2004