por Paulo Ghiraldelli Jr
O Brasil descobriu a pesquisa. Infelizmente, não é research, mas survey. E o pior, em alguns casos o resultado vem da universidade, sob encomenda do governo, com cara de research, mas é survey. Em outras palavras: não fazemos mais investigação criteriosa, mas enquetes, e as apresentamos como pesquisa. E o pior ainda: os jornais estampam em suas manchetes o “resultado” do trabalho e, assim, eis que a cara do Brasil é desenhada como o que está na manchete. Na verdade, não é cara, é caricatura.
A mais recente pesquisa encomendada pelo MEC a um professor de contabilidade da USP é colocada no Estadão da seguinte forma: “Escola e dominada por preconceitos”. (Aqui). Pronto, surge uma verdade, aparece um rosto para a escola brasileira. A escola agora não é só fraca, é o berço do preconceito. E com isso, com tal dogmatismo e falta completa de reflexão, os números secos, elaborados a partir da pretensa exatidão e objetividade da matemática (uma matemática pobre, na maioria das vezes), a denúncia do preconceito se põe a serviço da produção de mais preconceito. Agora, os que se acham sem preconceitos, vão se afastar da escola: “nossa, lá é lugar do preconceito!” – assim reagirá uma parte da elite. Outra parte da população, ela própria na escola, irá dizer: “nossa, eu nem percebia que estava vivendo num lugar tão horrível”. E uma terceira dirá: “ah, eu bem que sabia, lá na minha sala de aula, fora eu, todo mundo é preconceituoso”.
O terrível nisso é a interpretação do pesquisador, o professor-contador José Afonso Mazzon: “A pesquisa mostra que o preconceito não é isolado. A sociedade é preconceituosa, logo a escola também será. Esses preconceitos são tão amplos e profundos que quase caracterizam a nossa cultura”. (Aqui). Ele foi pago (estou pasmo!) para fazer um serviço e concluiu isso aí! Ora, para dizer algo assim, alguém deveria ser pago?
Assim, as enquetes pagas a preço de ouro pelo MEC ou dizem banalidades, no melhor do casos, ou então geram a meia verdade, quase a mentira, e tem como fruto, na população e a partir da imprensa, a própria mentira.
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