terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Gostaria de dizer muitas coisas desse ano que esta terminando, mas acho que não posso. Algo me diz que acabaria sendo injusto com muitos lugares, pessoas e comigo mesmo. Tornaria esse espaço longo e talvez acabaria perdido. Certamente foi um ano de muitas partidas, marcado por muitos encontros e despedidas. Meu coração ainda pulsa nesse ritmo, porém continua um pouco mais com o desejo de tentar ficar. Assim, espero que possamos compartilhar mais, principalmente a força de poder ser inteiro. Não tenho tanta certeza daquilo que me tocou nesse ano e me fez vir até onde estou, mas ter encontrado o caminho de volta foi uma das coisas mais bonitas e importante que presencie. Hoje sou mais íntegro, mais brasileiro, principalmente negro, mais atento, mais honesto comigo mesmo. Celebro! Desejo a capacidade de intuir melhor, amar melhor e sonhar melhor. Acredito para minha vida que ouvir o coração é uma coisa boa, que amar nunca é demais ou insuportável, assim como viver sem sonhos é escolher um tempo com muitas tristezas. Então quero mesmo isso pra todo mundo! Quero de dentro do meu peito toda saúde, paz e felicidade para todos que cruzaram meu caminho até aqui! Agradecer mais que lamentar. Deixar, mesmo que aos poucos, todos os ressentimentos e desabores. Que nesse rito coletivo da passagem de ano, tenhamos todos mais que renovação e esperança, sim a coragem de admitir que tudo muda. Agradecer a benção de compreender que tudo irá se transformar. Sem mais, um pouco da beleza e do encanto de algo que descobri recentemente e que gostaria de utilizar com todo respeito para manter essa vontade de compartilhar. Glória Bomfim transmite muito do que experimentei nesse ano e tudo que busco para os tempos que estão por vir. Vocês podem escutar ela aqui. Boa sorte para todos! Feliz ano novo! Axé! Metta! Obrigado tudo que foi e o que será! Muito obrigado!

Receita de Ano Novo


Para você ganhar belíssimo Ano Novo

cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,

Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido

(mal vivido ou talvez sem sentido)

para você ganhar um ano

não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,

mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,

novo até no coração das coisas menos percebidas

(a começar pelo seu interior)

novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,

mas com ele se come, se passeia,

se ama, se compreende, se trabalha,

você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,

não precisa expedir nem receber mensagens

(planta recebe mensagens? passa telegramas?).

Não precisa fazer lista de boas intenções

para arquivá-las na gaveta.

Não precisa chorar de arrependido

pelas besteiras consumadas nem parvamente acreditar

que por decreto da esperança a partir de janeiro as coisas mude

me seja tudo claridade, recompensa,

justiça entre os homens e as nações,

liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,

direitos respeitados, começando

pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um ano-novo

que mereça este nome,

você, meu caro, tem de merecê-lo,

tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,

mas tente, experimente, consciente.

É dentro de você que o Ano Novo

cochila e espera desde sempre.

Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Coisas boas que mobilizam

encontrado no Blog da Cidinha
Publicado no "SimplesRap / Notícias", Salvador, BA, por:
William Douglas, juiz federal (RJ), mestre em Direito (UGF), especialista em Políticas Públicas e Governo (EPPG/UFRJ), professor e escritor, caucasiano e de olhos azuis).
"Roberto Lyra, Promotor de Justiça, um dos autores do Código Penal de 1940, ao lado de Alcântara Machado e Nelson Hungria, recomendava aos colegas de Ministério Público que "antes de se pedir a prisão de alguém deveria se passar um dia na cadeia". Gênio, visionário e à frente de seu tempo, Lyra informava que apenas a experiência viva permite compreender bem uma situação. Quem procurar meus artigos, verá que no início era contra as cotas para negros, defendendo – com boas razões, eu creio – que seria mais razoável e menos complicado reservá-las apenas para os oriundos de escolas públicas. Escrevo hoje para dizer que não penso mais assim. As cotas para negros também devem existir. E digo mais: a urgência de sua consolidação e aperfeiçoamento é extraordinária. Embora juiz federal, não me valerei de argumentos jurídicos. A Constituição da República é pródiga em planos de igualdade, de correção de injustiças, de construção de uma sociedade mais justa. Quem quiser, nela encontrará todos os fundamentos que precisa. A Constituição de 1988 pode ser usada como se queira, mas me parece evidente que a sua intenção é, de fato, tornar esse país melhor e mais decente. Desde sempre as leis reservaram privilégios para os abastados, não sendo de se exasperarem as classes dominantes se, umas poucas vezes ao menos, sesmarias, capitanias hereditárias, cartórios e financiamentos se dirigirem aos mais necessitados. Não me valerei de argumentos técnicos nem jurídicos dado que ambos os lados os têm em boa monta, e o valor pessoal e a competência dos contendores desse assunto comprovam que há gente de bem, capaz, bem intencionada, honesta e com bons fundamentos dos dois lados da cerca: os que querem as cotas para negros, e os que a rejeitam, todos com bons argumentos. Por isso, em texto simples, quero deixar clara minha posição como homem, cristão, cidadão, juiz, professor, "guru dos concursos" e qualquer outro adjetivo a que me proponha: as cotas para negros devem ser mantidas e aperfeiçoadas. E meu melhor argumento para isso é aquele que me convenceu a trocar de lado: "passar um dia na cadeia". Professor de técnicas de estudo, há nove anos venho fazendo palestras gratuitas sobre como passar no vestibular para a EDUCAFRO, pré-vestibular para negros e carentes. Mesmo sendo, por ideologia, contra um pré-vestibular "para negros", aceitei convite para aulas como voluntário naquela ONG por entender que isso seria uma contribuição que poderia ajudar, ou seja, aulas, doação de livros, incentivo. Sempre foi complicado chegar lá e dizer minha antiga opinião contra cotas para negros, mas fazia minha parte com as aulas e livros. E nessa convivência fui descobrindo que se ser pobre é um problema, ser pobre e negro é um problema maior ainda. Meu pai foi lavrador até seus 19 anos, minha mãe operária de "chão de fábrica", fui pobre quando menino, remediado quando adolescente. Nada foi fácil, e não cheguei a juiz federal, a 350.000 livros vendidos e a fazer palestras para mais de 750.000 pessoas por um caminho curto, nem fácil. Sei o que é não ter dinheiro, nem portas, nem espaço. Mas tive heróis que me abriram a picada nesse matagal onde passei. E conheço outros heróis, negros, que chegaram longe, como Benedito Gonçalves, Ministro do STJ, Angelina Siqueira, juíza federal. Conheço vários heróis, negros, do Supremo à portaria de meu prédio. Apenas não acho que temos que exigir heroísmo de cada menino pobre e negro desse país. Minha filha, loura e de olhos claros, estuda há três anos num colégio onde não há um aluno negro sequer, onde há brinquedos, professores bem remunerados, aulas de tudo; sua similar negra, filha de minha empregada, e com a mesma idade, entrou na escola esse ano, escola sem professores, sem carteiras, com banheiro quebrado. Minha filha tem psicóloga para ajudar a lidar com a separação dos pais, foi à Disney, tem aulas de Ballet. A outra, nada, tem um quintal de barro, viagens mais curtas. A filha da empregada, que ajudo quanto posso, visitou minha casa e saiu com o sonho de ter seu próprio quarto, coisa que lhe passou na cabeça quando viu o quarto de minha filha, lindo, decorado, com armário inundado de roupas de princesa. Toda menina é uma princesa, mas há poucas das princesas negras com vestidos compatíveis, e armários, e escolas compatíveis, nesse país imenso. A princesa negra disse para sua mãe que iria orar para Deus pedindo um quarto só para ela, e eu me incomodei por lembrar que Deus ainda insiste em que usemos nossas mãos humanas para fazer Sua Justiça. Sei que Deus espera que eu, seu filho, ajude nesse assunto. E se não cresse em Deus como creio, saberia que com ou sem um ser divino nessa história, esse assunto não está bem resolvido. O assunto demanda de todos nós uma posição consistente, uma que não se prenda apenas à teorias e comece a resolver logo os fatos do cotidiano: faltam quartos e escolas boas para as princesas negras, e também para os príncipes dessa cor de pele. Não que tenha nada contra o bem estar da minha menina: os avós e os pais dela deram (e dão) muito duro para ela ter isso. Apenas não acho justo nem honesto que lá na frente, daqui a uma década de desigualdade, ambas sejam exigidas da mesma forma. Eu direi para minha filha que a sua similar mais pobre deve ter alguma contrapartida para entrar na faculdade. Não seria igualdade nem honesto tratar as duas da mesma forma só ao completarem quinze anos, mas sim uma desmesurada e cruel maldade, para não escolher palavras mais adequadas. Não se diga que possamos deixar isso para ser resolvido só no ensino fundamental e médio. É quase como não fazer nada e dizer que tudo se resolverá um dia, aos poucos. Já estamos com duzentos anos de espera por dias mais igualitários. Os pobres sempre foram tratados à margem. O caso é urgente: vamos enfrentar o problema no ensino fundamental, médio, cotas, universidade, distribuição de renda, tributação mais justa e assim por diante. Não podemos adiar nada, nem aguardar nem um pouco. Foi vendo meninos e meninas negros, e negros e pobres, tentando uma chance, sofrendo, brilhando nos olhos uma esperança incômoda diante de tantas agruras, que fui mudando minha opinião. Não foram argumentos jurídicos, embora eu os conheça, foi passar não um, mas vários "dias na cadeia". Na cadeia deles, os pobres, lugar de onde vieram meus pais, de um lugar que experimentei um pouco só quando mais moço. De onde eles vêm, as cotas fazem todo sentido. Se alguém discorda das cotas, me perdoe, mas não devem faze-lo olhando os livros e teses, ou seus temores. Livros, teses, doutrinas e leis servem a qualquer coisa, até ao nazismo. Temores apenas toldam a visão serena. Para quem é contra, com respeito, recomendo um dia "na cadeia". Um dia de palestra para quatro mil pobres, brancos e negros, onde se vê a esperança tomar forma e precisar de ajuda. Convido todos que são contra as cotas a passar conosco, brancos e negros, uma tarde num cursinho pré-vestibular para quem não tem pão, passagem, escola, psicólogo, cursinho de inglês, ballet, nem coisa parecida, inclusive professores de todas as matérias no ensino médio. Se você é contra as cotas para negros, eu o respeito. Aliás, também fui contra por muito tempo. Mas peço uma reflexão nessa semana: na escola, no bairro, no restaurante, nos lugares que freqüenta, repare quantos negros existem ao seu lado, em condições de igualdade (não vale porteiro, motorista, servente ou coisa parecida). Se há poucos negros ao seu redor, me perdoe, mas você precisa "passar um dia na cadeia" antes de firmar uma posição coerente não com as teorias (elas servem pra tudo), mas com a realidade desse país. Com nossa realidade urgente. Nada me convenceu, amigos, senão a realidade, senão os meninos e meninas querendo estudar ao invés de qualquer outra coisa, querendo vencer, querendo uma chance. Ah, sim, "os negros vão atrapalhar a universidade, baixar seu nível", conheço esse argumento e ele sempre me preocupou, confesso. Mas os cotistas já mostraram que sua média de notas é maior, e menor a média de faltas do que as de quem nunca precisou das cotas. Curiosamente, negros ricos e não cotistas faltam mais às aulas do que negros pobres que precisaram das cotas. A explicação é simples: apesar de tudo a menos por tanto tempo, e talvez por isso, eles se agarram com tanta fé e garra ao pouco que lhe dão, que suas notas são melhores do que a média de quem não teve tanta dificuldade para pavimentar seu chão. Somos todos humanos, e todos frágeis e toscos: apenas precisamos dar chance para todos. Precisamos confirmar as cotas para negros e para os oriundos da escola pública. Temos que podemos considerar não apenas os deficientes físicos (o que todo mundo aceita), mas também os econômicos, e dar a eles uma oportunidade de igualdade, uma contrapartida para caminharem com seus co-irmãos de raça (humana) e seus concidadãos, de um país que se quer solidário, igualitário, plural e democrático. Não podemos ter tanta paciência para resolver a discriminação racial que existe na prática: vamos dar saltos ao invés de rastejar em direção a políticas afirmativas de uma nova realidade. Se você não concorda, respeito, mas só se você passar um dia conosco "na cadeia". Vendo e sentindo o que você verá e sentirá naquele meio, ou você sairá concordando conosco, ou ao menos sem tanta convicção contra o que estamos querendo: igualdade de oportunidades, ou ao menos uma chance. Não para minha filha, ou a sua, elas não precisarão ser heroínas e nós já conseguimos para elas uma estrada. Queremos um caminho para passar quem não está tendo chance alguma, ao menos chance honesta. Daqui a alguns poucos anos, se vierem as cotas, a realidade será outra. Uma melhor. E queremos você conosco nessa história. Não creio que esse mundo seja seguro para minha filha, que tem tudo, se ele não for ao menos um pouco mais justo para com os filhos dos outros, que talvez não tenham tido minha sorte. Talvez seus filhos tenham tudo, mas tudo não basta se os filhos dos outros não tiverem alguma coisa. Seja como for, por ideal, egoísmo (de proteger o mundo onde vão morar nossos filhos), ou por passar alguns dias por ano "na cadeia" com meninos pobres, negros, amarelos, pardos, brancos, é que aposto meus olhos azuis dizendo que precisamos das cotas, agora. E, claro, financiar os meninos pobres, negros, pardos, amarelos e brancos, para que estudem e pelo conhecimento mudem sua história, e a do nosso país comum, pois, afinal de contas, moraremos todos naquilo que estamos construindo. Então, como diria Roberto Lyra, em uma de suas falas, "O sol nascerá para todos. Todos dirão – nós – e não – eu. E amarão ao próximo por amor próprio. Cada um repetirá: possuo o que dei. Curvemo-nos ante a aurora da verdade dita pela beleza, da justiça expressa pelo amor." Justiça expressa pelo amor e pela experiência, não pelas teses. As cotas são justas, honestas, solidárias, necessárias. E, mais que tudo, urgentes. Ou fique a favor, ou pelo menos visite a cadeia".

sábado, 27 de dezembro de 2008

...

"Sou negro. Meus avós foram queimados pelo sol da África. Minha alma recebeu o batismo dos atabaques, gongues, tambores e agofôs.
Na minha alma, ficou o samba, o batuque, o bamboleio, e o desejo de libertação..."

Solano Trindade

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Ainda, fragmentos de um dia nublado no Rio...

Bom humor é fundamental. Imperdível: bonde de Santa Tereza!
O condutor.
Outra vez o pequeno grande Zuri, sua mãe e minha amiga Grazi e eu.Voltando de Niterói, as armas de guerra entre edificios antigos.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Minha mensagem

É Natal! Não que eu seja cristão e isso faça muita diferente na minha vida hoje, mas apenas lembrando: a data provavel do nascimento de Jesus é entre março e abril, algo perto da primavera na região onde ele estava. Dezembro foi uma mudança forçada pela igreja católica e suas conveniencias. E depois que essa coisa de Papai Noel foi uma sacada de marketing da Coca-Cola, nada mais. Papai Noel é a mesma coisa - só que numa versão moderna e piorada - de algo como Branca de Neve e os sete anões, Chapeuzinho Vermelho e etc. Essas histórias pelo menos abrigam conteúdos curiosos sobre arquétipos e similares, já o Papai Noel... Por fim, na minha pequena opinião, o que interessa nessa data é tentar compreender a possível mensagem na sua existência. Amor, esperança, perdão, transformação e luta, muita luta, o resto é papagaiada pra melhorar o comércio. Então, totalmente inspirado pelos compas gregos e os acontecimentos das últimas semanas, feliz natal para todos!

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Fragmentos de um dia nublado na cidade do Rio de Janeiro

Candelária.
Perto do porto. De um dos pontos do alto da Glória
O pequeno grande Zuri, eu e o Bom, o pai do Zuri...
de baixo dos Arcos da Lapa. Seria pra rir se não fosse sério...

e depois tem mais.
inté.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Rio

Povo, estou agora no Rio de Janeiro e sem nenhum tempo para o blog. Escrevo mais com calma em breve.
Enquanto isso escutem essa preciosidade: Orkestra Rumpilezz. O nome do criador disso é Letieres Leite, um baiano de 49 anos que vem mobilizando multidões. Uma Big Band baiana de percussão e metais de primeira. Ouçam! Por favor, ouçam!!!
http://profile.myspace.com/index.cfm?fuseaction=user.viewProfile&friendID=109778728
E me de licensa que durante isso vou pro samba alí no Beco do Rato com minha querida anfitriã e amiga Cidinha... inté!

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Qual criança?

Em época de natal, onde fica mais evidente que "você é o que você tem" - ou o que compra - uma ótima oportunidade para pensar o consumo entre as crianças. O documentário é bem interessante. Trata do consumismo entre os infantes de um modo mais amplo, para além do natal, é contundente e reflete particularmente o lugar dos pais, educadores e profissionais de publicidade e propaganda nesse enrosco todo. Abaixo o trailler de Criança, A Alma do Negócio, que é um documentário de Estela Renner e Marcos Nisti.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Autônomos FC: "futebol com alegria, mais espontâneo, menos mercadológico"

Alguns devem ter estranhado minha última postagem por aqui. Futebol, é isso mesmo? Sim! E digo por que. Primeiro porque eu gosto de futebol. Não que seja um grande entendedor ou que ainda acompanhe de perto a série A do campeonato brasileiro, mas é algo que me diverte. Apesar desse distanciamento confesso, ver meu time ganhar pela terceira vez consecutiva o mais importante campeonato do país é motivo de festa! Mas não é assim tão gratuito. Já fui mais chegado em acompanhar o esporte bretão. Acontece que com a "evolução" do futebol e os times na verdade se tornando apenas empresas, fui ficando um tanto decepcionado com a coisa. Entretanto não acho que tudo esta perdido e que o futebol nada mais é que outro modo de alienar e controlar a população. Ele pode ser isso também, mas não necessariamente. Exatamente por que a população, seja ela qual for, quando se apropria de uma determinada manifestação coletiva, faz com que essa apropriação ganhe ares e faces típicas de sua gente. Apesar do futebol-empresa estar tomando conta de quase tudo por aí, não significa que toda reunião em volta da pelota seja sinônimo de dominação e "business".
E é nessa direção que lhes apresento meu outro time, que apesar de sua recente formação, vem ganhando espaço e mais torcedores. Estou falando do Autônomos Futebol Clube. Foi feita pela ANA (Agência de Notícias Anarquistas) uma entrevista - digasse de passagem fenomenal, que inclui uma excelente análise sobre o futebol - e acredito que isso irá dispensar qualquer outra apresentação. Tenho certeza que para muitos pessoas será uma grande surpresa ver o futebol discutido dessa maneira.

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Criado por punks e anarquistas, desde 1º de maio de 2006, existe na Grande São Paulo um time de futebol autogestionado, com espírito anárquico. O Autônomos Futebol Clube, ou "Auto", como é carinhosamente chamado por seus "fãs". "Um time com ideal autogestionário, anti-racista, anti-fascista, contra o futebol mercadoria", explica Kadj Oman, um dos fundadores do clube. Na entrevista a seguir, ele fala, com a espontaneidade e malandragem libertária de um bom boleiro varzeano, do Autônomos FC e do esporte mais popular do país, cada vez mais industrializado e burocratizado pelos interesses materiais. Mas que, também, sob sol e chuva, terra batida, bola improvisada, descalços, resiste, alegra e encanta nas mais diversas "peladas" das periferias e rincões miseráveis do Brasil. Confira o bate-bola:


Agência de Notícias Anarquistas - Fale um pouco sobre o Autônomos Futebol Clube, sua organização e objetivos, em que contexto ele surge...

Kadj Oman - Bom, no fim de 2005, eu comecei a organizar um campeonato de futebol de salão que se chamava Copa Autonomia. Nele, não havia juiz e as regras eram poucas. Fizemos 10 edições dessa copa sem nenhum problema. Mulheres jogavam, crianças, a gente se divertia (inclusive, dá pra ver o vídeo da 1ª edição do torneio procurando pelo nome no YouTube). Aí, no Carnaval Revolução de 2006, em Belo Horizonte (MG), acabei participando de uma palestra/bate-papo sobre futebol e revolução, e conheci o Mau, o Jão e a Mix, do Ativismo ABC. Compartilhando um pouco das nossas angústias sobre o punk e o futebol, tivemos a idéia de fazer algo nesse sentido quando voltássemos. Aí eu aproveitei que na Copa Autonomia tinha um pessoal interessado na idéia e fundamos o time, pra jogar futebol society, no início. Foi uma época de muitas alegrias e muitas derrotas, tirando as amizades que surgiram. Jogaram suíços (5 ao mesmo tempo, de uma banda de ska), argentinos, australianos, canadenses, colombianos. E muitos brasileiros, punks ou não, afeitos ao ideal de autogestão. Mas o society era mercadológico demais pra gente, e então fomos pra várzea, onde mais e mais gente foi se interessando pelo time e ele cresceu. Hoje temos dois quadros e um time "júnior", composto por alunos de um dos zagueiros do time. Sobre a organização, bem, a gente divide tudo, desde lavar os uniformes até ficar de gandula nos jogos, passando pela vaquinha pra pagar o campo em que jogamos, que é alugado. E os objetivos sempre foram o de resgatar o futebol com alegria, mais espontâneo, menos mercadológico, sem se fechar a qualquer um que concordasse com a idéia de autogestão. Faz pouco mais de um mês, traçamos um estatuto, já que o time está cada vez maior e a gente não quer perder o objetivo principal dele, que é se divertir. Lógico que jogamos pra ganhar, até porque fazer as coisas você mesmo pra gente significa fazer o melhor possível, mostrar o quão bom se pode ser assim. Mas não colocamos a vitória acima de tudo - aliás, só nos últimos 4 meses que o time passou a ganhar mais do que perder mesmo.

ANA - E que história é essa de futebol autogestionado?

Oman - Pra ser justo, toda a várzea é meio que autogestionada. Surgem campos onde quer que haja um pedacinho de terreno, por mais que a metrópole engula espaços e vomite de volta o futebol society e o futsal, além do profissional, é claro. Mas no nosso caso, a autogestão passa por uma questão estrutural, de não ter presidente, diretor, tesoureiro, nada. Temos sim capitão, técnico, goleiros, laterais-direitos, porque isso não tem a ver com hierarquia necessariamente, e sim com aptidões ou gostos pessoais por jogar aqui ou ali, ou fazer essa ou aquela função. E divulgamos essa idéia de autogestão por onde jogamos, distribuindo panfletos ou no boca-a-boca mesmo. Alguns jogadores que estão com a gente, inclusive, eram de times que enfrentamos e que gostaram do nosso jeito de lidar com as coisas. Então a nossa autogestão é tentar ser o mais livre possível dentro do que se quer ser, mas respeitando os princípios básicos e as responsabilidades inerentes a todo projeto coletivo, como chegar na hora, colaborar com a grana sempre que necessário etc. Claro que no meio disso tudo às vezes surgem conflitos, mas o que seria a vida sem conflitos?

ANA - E qual a relação do Autônomos FC com o anarquismo? A cor do uniforme é mera coincidência? (risos)

Oman - (risos) É não é não. Acontece que o time foi fundado por punks e anarquistas, então na hora de escolher o escudo e as cores do uniforme isso contou. Mas conforme foi crescendo, o Auto (apelido carinhoso do time) foi se abrindo. Nunca foi um time explicitamente anarquista, mas sempre foi um time com ideal autogestionário, anti-racista, anti-fascista, contra o futebol mercadoria. Na verdade, os fundadores e boa parte do time, hoje, é de românticos, que ainda enxerga o futebol como uma crônica continuamente narrada a muitas vozes sobre a vida. Até banda de "rock'n'gol" o time gerou, a Fora de Jogo, que toca trajada com os uniformes do time e fala de futebol (sob uma ótica política) em todas as suas músicas. Além de que, convenhamos, preto e vermelho é uma combinação de cores das mais bonitas que existe. Os anarquistas, além de tudo, sempre tiveram bom senso estético. (risos) ANA - Como explicar um anarquista ser fanático por futebol, por um time profissional, que cada vez mais são verdadeiros instrumentos capitalistas de manipulação, consumo e controle social? Ou assim como o amor não tem explicação? (risos) Oman - Olha, explicação mesmo acho que não tem. A gente cresce gostando de futebol, aprende nele e com ele a se expressar, a se entender no meio de um coletivo (a torcida), acaba virando um dos nossos primeiros lugares de socialização. E como é o único que é contínuo pela vida toda, difícil se desligar dele. Até porque existiram muitos times anarquistas na história, o começo do futebol é operário, e ele é mais do que tudo uma festa popular. No início do século anarquistas aqui em São Paulo nomeavam suas equipes de "Flor" ou "Estrela". Então, sempre que você encontrar um boteco ou padaria com esse nome, são grandes as chances de ele ter um passado anarquista. (risos) E se o profissional é cada vez mais instrumento de controle, ele permite também nas suas brechas diversos tipos de encontros essencialmente anti-capitalistas, pró-ócio, pró-festa. A Gaviões da Fiel, torcida do Corinthians, por exemplo, se aproximou do MST nos últimos anos, dos Sem-Teto, promove festivais de cinema político, entre outras coisas. Temos que tomar cuidado pra não tomar a festa do povo por ópio, esse velho clichê, porque não é simples assim. O futebol foi apropriado pelo capital, assim como todo o resto, mas o próprio capital, contraditório que é, recria possibilidades dentro do profissional mesmo de ir contra ele (um bom exemplo, embora já meio distante temporalmente, é a Democracia Corinthiana). Cabe encontrar essas brechas, aproveitá-las, aprofundá-las. Durante toda a sua história o futebol opôs controle à festa, foi usado para dominar de um lado e para contra-atacar o domínio de outro. São tantas as histórias possíveis de serem contadas dentro do futebol... Um livro legal sobre isso é o "A Dança dos Deuses - Futebol, Sociedade, Cultura", do historiador Hilário Franco Júnior. O que podemos e devemos fazer é continuar a contá-las, do nosso jeito, sem deixar que as vendam como mero produto descartável.

ANA - Será mesmo que o futebol profissional recria possibilidades de ir contra ele mesmo? Não acredito. O futebol profissional brasileiro está tomado pela maracatuia, pelo mercado, pelo negócio, vide Rede Globo, CBF´s, Trafic´s, Adidas e por aí vai. E por outro lado, os jogadores profissionais, na sua maioria, são despolitizados, sem atitude, vão à mercê dos dirigentes, cartolas. E no grosso as torcidas organizadas não são muito diferentes disso tudo não, também vão a reboque de políticos, dirigentes, cartolas... Na Itália, e em outras partes da Europa, que foi criado um movimento interessante por vários grupos "Ultras", chamado "Contra o Futebol Moderno", que luta contra as condições precárias dos estádios, ingressos caros, partidas sendo jogados em horários não-tradicionais, jogadores sendo vendidos como mercadoria, a comercialização excessiva no futebol etc. As torcidas uniformizadas do Brasil poderiam seguir esse exemplo, não?

Oman - Não vou te dizer que o profissional dá possibilidades o tempo todo de se ir contra ele, mas as recria vez ou outra sim. Se está envolto em tudo isso que foi mencionado, me diga, em que é diferente de qualquer outra esfera da sociedade? Tudo foi apropriado pelo capital, as relações sociais baseadas na venda são quase totalitárias, então as brechas são mesmo pequenas, ainda mais em um país onde as organizações sociais são tão marginalizadas e politicamente tão superficiais (não todas). As organizadas seguem o mesmo caminho. Não dá pra esperar delas uma postura que nenhum (ou quase nenhum) outro movimento organizado da sociedade toma, como essa de ir contra o futebol moderno. As poucas torcidas que vejo tentando seguir algum exemplo de fora acabam copiando as formas estéticas, as faixas, os gritos de guerra, mas não o conteúdo das reivindicações. Mas mesmo assim há organizadas indo contra sim. Um exemplo é a Resistência Coral, do Ferroviáio do Ceará, abertamente anti-capitalista, que leva faixas com dizeres como "paz entre as torcidas, guerra ao Estado". Normalmente são torcidas menores, frutos de movimentos pequenos, como em geral é o anarquismo e o anti-capitalismo no Brasil. Mesmo assim, nas grandes torcidas aparecem às vezes manifestações nesse sentido. Já citei a Gaviões, que este ano levou faixas contra o preço dos ingressos nos jogos fora de casa do Corinthians. A Mancha Verde, do Palmeiras, também recentemente protestou contra o preço dos ingressos no estádio do clube. Eu acredito que os próprios constrangimentos que o capital imprime junta pessoas em direção a lutas por direitos básicos. Essa história da Copa 2014 e seus estádios a la européia vai dar pano pra manga. Já dá, aliás. Ano passado, acompanhando a final da Taça Brahma no estádio do Palmeiras, vi um monte de gente de Itapevi, cidade periférica da Grande São Paulo, se deslumbrando com o Setor Visa, pedaço do estádio com preços altos e cheio de mordomias. Outras pessoas, ao mesmo tempo, achavam aquilo absurdo, porque elitizava o estádio. A força das organizadas, que a mídia insiste em colocar na violência e na coerção, na verdade reside no fato de que elas são aglutinadoras de gente da periferia, que é quem mais sofre com as restrições do capital. Disso sempre pode surgir algo. E há de lembrar também que na mesma Europa contra o futebol moderno estão torcidas neonazistas, que também são contra o futebol moderno, obviamente por outros motivos. A Eurocopa desse ano mostrou neonazistas croatas com faixas com esses dizeres. Então, temos sempre que pensar as possibilidades dentro das realidades históricas, sociais, políticas de cada lugar. Não dá pra querer no Brasil a força de um movimento anarquista organizado como o grego, por exemplo, do dia pra noite. Mas nem por isso não existem possibilidades ou se deve jogar fora o que há.

ANA - Num papo sobre "Cultura e Futebol", um crítico de arte e amante do futebol disse: "Anabolizado ao máximo pelas táticas e pelo preparo físico, o jogo vem mudando um pouco de figura, atenuando seus componentes anárquicos e tendendo à exacerbação de seus aspectos mais previsíveis. No fundo, o desafio aqui é o mesmo da arte. Disfarçada de permissiva, vivemos uma época obsessiva pelo controle, ainda que o nome do controle, muitas vezes, seja obediência tática, desempenho, pró-atividade, boa administração." E aí, a indústria do futebol está matando a criatividade, espontaneidade do futebol? O que pensa disso tudo?

Oman - Isso é verdadeiro se falamos de futebol profissional, e em boa parte do amador, também, que acaba se tornando cada vez mais um "espelho quebrado" disso tudo. Mas o futebol sempre se reinventou a todo tempo, independentemente do tanto de controle (tecnológico ou não) que o capital tentou impor sobre ele. No começo ele era um jogo de drible de nobres ingleses. Os operários o transformaram em um jogo de passe, e assim ele chegou aqui. Com esse jogo de passe o Uruguai, viajando de forma precária, conquistou duas Olimpíadas na Europa na década de 20. Por aqui, estudantes e a elite começaram a jogar só entre si, mas não demorou para a maioria de negros, caipiras, indígenas e trabalhadores rurais adaptar o jogo pra sua realidade, cheia de entreveros a serem "driblados". E surgiu o futebol brasileiro, baseado no drible, cujos expoentes máximos são Pelé e Garrincha. Garrincha que já se tentou domar desde a Copa de 58, inclusive, mas a quem tiveram de se render depois do insosso empate em 0 a 0 com o País de Gales na segunda rodada. Se formos falar de várzea, então, veremos que o próprio capital recria o futebol. Acaba com os campos no centro da metrópole pra urbanizá-la. Expulsa trabalhadores e pobres para as periferias não-urbanizadas. E lá os campos pipocam novamente. E assim vai. Já nos estádios a coisa não vai tão bem, com a vigilância ostensiva cada vez maior, querendo transformar torcedor em mero consumidor e torcida organizada em bandido violento, quando se é muito mais que isso. A Copa 2014 vai representar um momento drástico nesse embate. Torço para que até lá estejamos fortes o suficiente pra ao menos sermos ouvidos contra essa transformação do estádio em shopping center.

ANA - Falando em arte. No Brasil há poucos livros abordando o futebol. Vocês não projetam lançar algo neste sentido?

Oman - Pessoalmente estou terminando um trabalho acadêmico sobre o futebol contemporâneo na metrópole de São Paulo, mas isso não tem a ver com o time, embora eu fale dele na pesquisa. E na verdade a produção de livros (e filmes) sobre o futebol tem crescido no país, está se re-descobrindo que o esporte é uma expressão da própria sociedade, às vezes artística, às vezes não. Porém, no time, temos algumas pessoas que não só gostam de escrever como fazem isso regularmente acerca do futebol. Quem sabe você mesmo não está lançando uma idéia muito boa pra gente? Por exemplo, costumamos noticiar nossos jogos na lista de e-mails como se fossem notícias de jornais inventados, "A Plebe", "O Povo" e coisas assim. Isso pode dar coisa boa, rapaz! Inclusive, no site que sempre projetamos e nunca fazemos, essas coisas vão constar com certeza.

ANA - Recentemente quando esteve em São Paulo, John Zerzan comentou que tinha sido lançado um livro nos Estados Unidos que abordava "anarquismo, comunismo e futebol". Se eu não estou equivocado, o título do livro é "Revolution: The Girly Gay Commie Soccer Threat To The American Way Of Life".

Oman - É que o "soccer" nos EUA tem outra perspectiva. É esporte da classe média, das mulheres, dos gays, dos latinos. Das minorias. O povão lá acompanha os esportes de pontuação alta, basquete, futebol americano, hóquei. Isso gera bizarrices como mães que obrigam seus filhos a jogar futebol de capacete porque cabecear a bola pode machucar. Não é coincidência que nesses seriados de TV paga feitos pra classe média as mães sempre levem seus filhos para o futebol, ou que tantos filmes infantis sejam feitos sobre futebol onde uma menina ou um cachorro são os protagonistas principais e os filmes sempre são leves, pretensamente divertidos. Já os filmes sobre basquete ou futebol americano envolvem histórias viris, de superação a todo custo, de exaltação do amor à camisa (ou a pátria), temas muito mais povão por lá. Os Simpsons têm um episódio em que sacaneiam o futebol, mostrado como um jogo em que se fica passando a bola e não acontece nada e no final as torcidas vandalizam o estádio. Então por lá pode ser que os anarquistas ou comunistas vejam no esporte algo mais "libertário" simplesmente por ser contra os valores esportivos tradicionais. Mas isso está longe de ser necessariamente verdadeiro. Tem um livro de um jornalista americano apaixonado por futebol chamado "Como o Futebol Explica o Mundo" em que em um dos capítulos ele fala dessa coisa do "soccer" por lá, a discriminação, esse tratamento como esporte de filhinho-de-mamãe e de latinos, de inimigos da pátria. Vale conferir.

ANA - Você sabia que o libertário Albert Camus, teve uma breve carreira de goleiro de futebol, interrompida aos 17 anos quando contraiu tuberculose nas ruas de Argel? Uma vez perguntado por um jornalista sobre a importância do futebol em sua vida, ele respondeu: "O que eu sei sobre a moral e as obrigações de um homem devo ao tempo em que joguei futebol..."

Oman - Sim, inclusive esse assunto esteve em pauta entre a gente faz pouquíssimo tempo. A Argélia tem também, inclusive, uma outra história sobre futebol muito bacana: quando da guerra pela independência, um grupo de jogadores argelinos, alguns profissionais em clubes franceses, abandonaram suas equipes e fizeram amistosos pelo mundo em prol da causa argelina. Essa "seleção" foi até reconhecida pela FIFA, antes mesmo do país, assim como acontece com a Palestina hoje. Ficaram conhecido como "Revolutionnáire XI", ou "Revolucionário Onze", numa tradução livre. O Camus com certeza devia andar lado a lado com eles. E essa frase dele sintetiza muito bem como o futebol é representação da vida, da guerra, da arte, da sociedade.

ANA - Há algum filme sobre futebol que você goste, destacaria?

Oman - Olha, eu particularmente sou muito deslumbrado com filmes de futebol, mesmo os bobos. Tem um patrocinado pela Adidas que chama "Gol! O Sonho Impossível", onde um mexicano ilegal nos EUA consegue ir jogar pelo Newcastle, da Inglaterra. É bem bobo, mas me diverte. Já filmes sérios, acho o do Garrincha bom, e os dois "Boleiros" interessantes. Mas não destacaria nenhum deles em especial, são mais crônicas apaixonadas do que qualquer coisa. Legais pra se apaixonar, nem tanto pra fazer uma crítica sobre o futebol. Deixo claro que essa é a minha opinião, não sei se outras pessoas do time pensam assim. Tem gente que gostou desse filme novo aí, ?Linha de Passe?. Eu não assisti, tenho um certo ranço com essa coisa de cineasta brasileiro que faz filme do tipo "vejam a nossa pobreza, que sofrida, que bonita, que romântica" pra europeu ver, filme que sempre tem um final poeticamente feliz. Já documentários, tem um que eu acho muito bom, argentino, que chama "A Outra Copa" e mostra todas as dificuldades da equipe de "futebol de rua" (ou seja, moradores de rua que jogam) da Argentina em ir para a Copa do Mundo da "categoria" na Suécia (site do torneio: http://homeless.worldcup.org/). Um detalhe desse campeonato é que a Itália ganhou duas ou três vezes. Só que o time italiano é formado por latinos (brasileiros, argentinos, uruguaios), que foram pra lá e viraram moradores de rua. E tem também filmes bons onde o futebol é pano de fundo: "Fora do Jogo", do Irã, sobre mulheres que querem assistir a um jogo da seleção e são barradas; "Crônicas de Uma Fuga", argentino, muito bom, sobre um goleiro que é preso pela ditadura confundido com um militante político e elabora um jeito de fugir (o final é dos mais lindos que já vi em filmes); "O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias", pra mim um dos melhores filmes brasileiros dos últimos tempos, que tem tanto o futebol profissional como o futebol de várzea como pano de fundo, com um negro como goleiro do time dos judeus no bairro do Bom Retiro; e tem um que o Jão citou mas eu nunca vi que chama "Pra frente Brasil". Por fim, tem um documentário uruguaio não tão bom chamado "Aparte", sobre moradores das periferias que, entre outras coisas, são catadores de latinhas, onde há uma presença do futebol muito forte, tendo inclusive imagens de um jogo de várzea só de mulheres, coisa rara de se ver na vida e na arte.

ANA - É cada vez maior a presença feminina no universo do futebol, assim como a violência no futebol, entre as torcidas, ou grupo de torcedores pressionando agressivamente dirigentes, técnicos, jogadores... Contudo, raramente vemos mulheres nessas brigas, confusões. O fato é que os homens são um bando de idiotas mesmo? (risos)

Oman - (risos) Creio que a cultura masculina é mais permeada de agressividade e babaquices do que a feminina, mas de uma forma geral essa violência é resultado de muitas outras violências anteriores, como o preço dos ingressos, dos alimentos, o tratamento dispensado pela polícia, a localização dos estádios em centros nobres onde a entrada dos torcedores não é permitida em dias comuns. Já a entrada das mulheres no jogo não é bem uma entrada, é uma volta, pelo menos em alguns lugares. Aqui em São Paulo, por exemplo, no começo do futebol de várzea os clubes de bairro tinham departamentos femininos constituídos que eram responsáveis pela confecção e manutenção de bandeiras e troféus, ensino e execução do hino do clube, organização das festas que aconteciam junto aos jogos... O futebol era pano de fundo pra festa popular, muito mais do que um mero jogo. Festa feita por comunidades organizadas, que serviram de base para as próprias torcidas contemporâneas. E falando nelas, é importante também lembrar que a violência desses grupos organizados é só uma parte do que eles representam, a parte que serve pra mídia e pras instituições do futebol enfiarem goela abaixo a transformação do futebol em mercadoria, do torcedor em consumidor, cada um sentadinho quietinho na sua cadeira ou em frente à TV, consumindo. Um mecanismo de controle sobre uma das poucas coisas que o trabalhador, o pobre, o povo, enfim, tem como sendo dele, como intocável, independente de qualquer situação social ou econômica - até por isso a agressividade nas cobranças a dirigentes e jogadores, cobrança que às vezes lembra mesmo a de consumidores, mas que na maioria das vezes é a voz de quem está descontente com o tratamento dado a algo coletivo, um sentimento mesmo, aliás, dos poucos sentimentos que permanece num mundo onde tudo muda tão rápido.

ANA - Você acha que o futebol feminino não cresce no Brasil por causa do machismo, do preconceito? Como você diz, as mulheres historicamente sempre foram tratadas como subalternas, com papeis bem definidos, raramente como protagonistas do futebol, do jogo... Homem é uma desgraça mesmo. (risos)

Oman - (risos) É, não dá pra descartar a imbecilidade masculina nesse processo, mas acho que é algo mais econômico do que só cultural. Não dá dinheiro, então não cresce. O futebol feminino profissional é amador, na verdade. Mas por incrível que pareça no começo do futebol na Inglaterra existiam ligas de futebol feminino! Sumiram logo, mas existiram. No Brasil, eu acho que ao menos ultimamente a seleção feminina trouxe mais orgulho pros torcedores do que a masculina, até porque ela é mais humana, mais sofrida, mais cheia de sentimentos. O grande problema é que o crescimento que se espera do futebol feminino é o crescimento econômico, da profissionalização, da mercadoria. E esse não vai acontecer tão cedo - e eu, particularmente, nem sei se seria algo completamente bom. Mas se o tênis virou moda depois do Guga, tudo pode acontecer. Até porque em todos os esportes a presença feminina cresce e a distância entre os recordes masculinos e femininos diminui. Mas voltando pro futebol, um dos zagueiros do time, que é professor, ficou sabendo que há um projeto pra 2009 de começar times de futebol feminino em todas as escolas estaduais de São Paulo. E no Auto, nossa mascote é a Mafalda, do Quino, pela postura contestadora dela e porque a maioria da nossa "torcida" acaba sendo das namoradas, mulheres, irmãs, então a homenagem a elas é mais do que justa. E se tiver meninas querendo formar um quadro feminino do Auto, por favor, apresentem-se! Nas poucas vezes em que jogamos futebol de salão houveram meninas jogando conosco. Não fazemos um time misto só porque isso é impossível na várzea. Mas um dia, quem sabe, dá pra tentar sim!

ANA - Como você vê essa história dos jogadores profissionais, em sua maioria, rezarem aos gritos um "Pai Nosso" antes dos jogos? Vocês do Autônomos FC fazem isso também? (risos)

Oman - (risos) Bom, eu vejo como um ritual herdado da várzea, onde todo time faz isso também. No Autônomos não fazemos isso, embora já tenhamos feito de sacanagem umas duas vezes, tentando ver se assim a gente não perdia. Não adiantou, parece que Deus não gosta muito de nós. (risos) No lugar de rezar a gente entoa um canto em homenagem à torcida. Dá pra ver isso nesse vídeo aqui, uma espécie de mini-documentário sobre o time: http://fiztv.uol.com.br/f/Video/assista/16751/0

ANA - Vocês já se imaginaram participando de um "Mundialito de Futebol Anti-Racista", desses que acontece na Europa, que reúne times de várias partes do mundo? (risos)

Oman - Cara, conhecemos isso esse ano através de uma equipe amadora anti-fascista inglesa que nos mandou um e-mail! Morremos de vontade de ir, mas não há condições financeiras pra isso. Em compensação, chamamos essa equipe pra jogos por aqui e eles aceitaram, agora estamos vendo quando eles poderão fazer isso, se poderão mesmo, como faremos. Com certeza se eles vierem será um momento único por aqui, novo, até uma oportunidade de encontro com organizadas, equipes amadoras, torcedores pra uma troca de experiências.

ANA - Uma coisa que sempre me chamou a atenção no futebol profissional é o fato de muitos jogadores negros, com "cara de nordestinos", se casarem com loiras, mulheres brancas. Quem exemplifica isso muito bem é o maior astro do futebol de todos os tempos, Pelé. Aliás, a única filha que ele teve com uma mulher negra até hoje ele não assumiu, muito pelo contrário, sempre se esquivou da história. É um mito dizer que no futebol brasileiro não há racismo?

Oman - Está longe de ser mito, muito longe mesmo! O futebol faz parte da sociedade, e se a sociedade é racista, é claro que no futebol isso vai aparecer. Não tem Obama ou Hamilton que mudem isso. (risos) Só pra dar um exemplo mais recente, o Felipe, goleiro do Corinthians, quando foi rebaixado pelo Vitória-BA foi chamado de macaco preguiçoso por um dirigente do time, que ele processou (o caso, até onde sei, está na Justiça ainda). Isso sem falar nas histórias passadas, de jogador negro passando pó-de-arroz na cara. É claro que o capital não vê cor quando o jogador dá lucro, mas ali no cotidiano dos jogadores, no dia-a-dia, rola racismo o tempo todo. Na Copa de 1958 o time que jogou os dois primeiros jogos só tinha brancos, fruto do preconceito adquirido na Copa de 50 quando o goleiro negro Barbosa foi culpado pela perda do título. Então isso vem de longe, desde o começo da bola rolando por aqui, do embate entre times da elite e times da várzea, que opunham fundamentalmente brancos a negros, pobres, mestiços, caipiras. Isso foi inclusive usado de desculpa pelos times da elite para não mais disputar jogos contra os times que aceitavam esses jogadores. O que acabou sendo mau negócio pra eles, porque perderam qualidade técnica e público (que na época eram a maior fonte de renda) e acabaram falindo. Veja só que coisa, o próprio processo capitalista no futebol fez os times pobres falirem os ricos. Mas o racismo continuou, está aí até hoje. O Pelé, pra mim, em termos raciais, é um Michael Jackson que não tentou se pintar de branco, nada mais do que isso. Sou Maradona mil vezes. (risos)

ANA - Para finalizar, quais os projetos futuros? Pretendem organizar algum evento com exposições, debates e palestras em torno do futebol?

Oman - Então, a vinda dos ingleses (a equipes se chama Easton Cowboys&Cowgirls, existe há mais de década e tem vários esportes, não só futebol, com participação feminina) nos deu a idéia e a vontade pra algo nesse sentido. Queremos chamar o pessoal da Resistência Coral e quem mais se sinta interessado pra participar também. Mas mesmo que eles não venham, acho que em 2009 devemos fazer algo nesse sentido. Esse ano fizemos um debate no Ativismo ABC sobre futebol e política, mas teve muito pouca gente. Queremos repetir isso em breve sim. Enquanto isso continuamos jogando na várzea, conhecendo e sendo conhecido. E quem sabe mais pra frente não conseguimos marcar uns jogos interestaduais? Soubemos que aí na Baixada Santista o pessoal libertário joga na praia às vezes, em Santa Catarina o pessoal do Passe Livre tem um time também... quem sabe uma liga de futebol autogestionário não se configura daqui uns anos? (risos) E tem também o "Auto Júnior", que acabamos de formar com a molecada, todos da extrema zona sul. Queremos levar eles pra outras coisas além de jogos, é um projeto que está começando e no qual estamos bastante empolgados. Por fim, temos o sonho de um dia ter um campo nosso, um terreno baldio qualquer, comprado ou cedido, pra poder fazer as coisas ainda mais do nosso jeito, levar os projetos adiante e colocar o time numa situação de maior presença no tempo e no espaço da cidade. Se alguém que estiver lendo isso tiver como e quiser ajudar, entre em contato!

ANA - Alguma coisa mais? Valeu!

Oman - Cara, queria agradecer muito em nome do time por esse espaço. O movimento anarquista no Brasil sempre teve muito preconceito com o futebol, é muito bom ter um espaço desse pra falar. O futebol sempre foi do povo por aqui, o capital destruiu isso e encobriu a história. É importante pra qualquer movimento que se pretende social se aproximar e entender melhor as coisas do povo, então que o futebol possa ser visto com mais carinho no meio libertário. E desculpa se eu falei demais, mas é que o tema propicia muita conversa... Por fim, um abraço pra todo mundo e quem se interessar pode entrar em contato com a gente, pra jogar, pra torcer, pra convidar ou planejar eventos, estamos aí! Abraços autogestionários!

Contato: autonomosfc@gmail.com

Blogs: http://autonomosfc.10.forumer.com/ e http://autonomosfc.blogspot.com/

Clipe da Banda Fora de Jogo: http://www.youtube.com/watch?v=uIg_tBadIvQ

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Goyaz

Como falei, isso de seguir caminhando pode render alguns bons encontros e uma interessante ampliação de nossos conceitos. Então, um pouco mais da ida a Goiás. No caso da Cidade de Goyaz (sim, antes se escrevia assim mesmo, com y e z...) caminhar por ruas antigas, com até 3 séculos de existência e preservadas em sua forma original, é se deixar tocar pela possibilidade de sentir o que parte de nossos antepassados viveram. A história da escravidão alí, por exemplo, foi particularmente tensa. Quando converso com pessoas que conhecem essas ruas, posso sentir ainda a força e a resistência dessa gente. Mas não pretendo, apesar de ser merecedor de um livro inteiro esse assunto, me ater muito nisso. Continuo tentando revelar um pouco mais dos encontros que tive por lá.

Eis então que encontro um lugar chamado Vila Esperança. Segundo sei, a Associação Espaço Cultural Vila Esperança, associação sem fins lucrativos, nascida em 19 de julho de 1994, desenvolve um trabalho educativo, cultural e artístico, direcionado principalmente a crianças, adolescentes, jovens e adultos da comunidade, no resgate e valorização das origens (africanas e indígenas) do povo brasileiro . O Espaço Cultural Vila Esperança se localiza na periferia da cidade de Goiás.

A questão indígena, africana e afro-descendente impõem-se sempre mais como uma questão histórica. Analisar sua trajetória histórica, seus encontros e confrontos culturais e sua organização social é tão importante quanto explicar a origem do Brasil, suas diversidades e a procura de sua identidade singularmente múltipla.

Trabalham-se durante o ano temas ligados às culturas afro-descendentes e indígenas (vivência afro-brasileira e indígena, pesquisa histórica, mitos, tradições, músicas e cantos, danças e código gestual, arte plástica e utilitária, etno botânica e ecologia).

O Espaço Cultural Vila Esperança vive e revive em Goiás a História e o Modo de Ser das Culturas Originais do Povo Brasileiro. É uma referência social, humana, artística e cultural para a comunidade e ao longo do ano oferece uma programação cultural de Eventos abertos à cidade, oficinas e cursos de formação para professores e estudantes de nível universitário em âmbito pedagógico, artístico e cultural, festas, estudos e atividades incluindo: Projeto “Vivências Culturais - Ojó Odé e Porancê Poranga”, Projeto “Ancestralidade” - Trabalho e pesquisa com os avós; Projeto “Afoxé Ayó Delê” - Saída de bloco afrobrasileiro; Projeto “Sacyzada” - tradições populares; entre outros. Vocês podem saber mais em http://www.vilaesperanca.org/
Depois continuo...
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Na entrada da Vila não é bem uma pessoa que te recebe...
Caminhos...
Em um dos dias em que fui na Vila, estava acontecendo uma roda de capoeira angola com o grupo do espaço em homenagem ao Mestre Pastinha. Era 13 de novembro, dia da "passagem" do Mestre.Mais das ruas da cidade.
Igreja de Nossa Senhora da Boa Morte.
A noite...
com ruas vazias...
mas com as casas cheias...

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Tribunal Popular começa hoje!

Cobrar justiça para os crimes do Estado contra a população brasileira, especialmente a mais pobre, é o objetivo do Tribunal Popular: O Estado Brasileiro no Banco dos Réus, que tem início nessa quinta-feira (04), na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), na capital paulista. A iniciativa, organizada por mais de 70 movimentos e organizações sociais, pretende servir de contraponto às comemorações dos 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos e 20 da atual Constituição Brasileira.

O presidente da Associação Brasileira da Reforma Agrária (Abra), Plínio de Arruda Sampaio, avalia que a importância do Tribunal será mostrar que não existem motivos para festejar, pois esses documentos, que prometem garantia de integridade aos trabalhadores brasileiros, não vêm sendo respeitados.

"Todas essas comemorações exaltam o direito do povo à democracia, mas a verdade é que o Estado brasileiro nunca foi tão repressivo com a população pobre como nesse momento", denuncia.
O Tribunal Popular realizará quatro sessões de instruções, que ocorrerão entre os dias 4 e 5 de dezembro - no dia 6, será a sessão final de julgamento. Os casos julgados são considerados emblemáticos sobre a questão da violência institucional: operações militares no Complexo do Alemão no Rio de Janeiro, em 2007; sistema carcerário e execuções de jovens negros na Bahia; execuções na periferia de São Paulo em maio de 2006; e a criminalização dos movimentos sindicais, de luta pela terra, pelos direitos indígenas e quilombolas no Rio Grande do Sul.
Ainda no dia 4, será realizada uma caminhada da Faculdade de Direito da USP até o Tribunal de Justiça de São Paulo, na Praça da Sé. A concentração ocorrerá a partir das 18h na própria faculdade, logo na sequência da 2ª sessão do Tribunal Popular. Os manifestantes, durante o ato, carregarão velas acesas e imagens de presos, torturados e vítimas da violência do Estado em diferentes momentos da história.

As sessões serão transmitidas pela internet, e podem ser acompanhadas na página do Tribunal, www.tribunalpopular.org ou pela página da IPTV USP.

As conclusões do Tribunal serão entregues a entidades governamentais e apresentadas durante o Fórum Social Mundial, que ocorrerá em janeiro do próximo ano em Belém, no Pará.

Programação- Sessões de Instrução

04 de dezembro de 2008
1ª sessão - 9 horas
Violência estatal sob pretexto de segurança pública em comunidades urbanas pobres: dentre outros, o caso do Complexo do Alemão no Rio de Janeiro
Presidente: João Pinaud, membro da Comissão Nacional de Direitos Humanos da OAB.
Acusadores: Nilo Batista, jurista e fundador do Instituto Carioca de Criminologia e João Tancredo, Presidene do Instituto de Defensores de Direitos Humanos - IDDH e ex-Presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ.
Defesa: representante do Estado
Participação especial: Companhia de Teatro Marginal da Maré
2ª sessão- 14 horas
Violência estatal no sistema prisional: a situação do sistema carcerário e as execuções sumárias da juventude negra pobre na Bahia
Presidente: Nilo Batista, advogado, jurista e fundador do Instituto Carioca de Criminologia
Acusador: Lio N'zumbi - membro da Associação de Familiares e Amigos de Presos da Bahia (ASFAP/BA) e da Campanha Reaja ou será Mort@/ BA.
Defesa: representante do Estado
05 de dezembro de 2008
3ª sessão- 9 horas
Violência estatal contra a juventude pobre, em sua maioria negra: os crimes de maio/2006 em São Paulo e o histórico genocida de execuções sumárias sistemáticas
Presidente: Sergio Sérvulo, jurista, ex-Procurador do Estado
Acusador: Hélio Bicudo, promotor aposentado, presidente da Fundação Interamericana de Defesa dos Direitos Humanos
Defesa: representante do Estado
Participação especial: Grupo Folias D'Arte
4ª sessão- 14 horas
Violência estatal contra movimentos sociais e a criminalização da luta sindical, pela terra e pelo meio ambiente
Presidente: Ricardo Gebrim, advogado, coordenador da Consulta Popular e Maria Luisa Mendonça, coordenadora da Rede Social de Justiça e Direitos Humanos
Acusador: Onir Araújo Filho, advogado, membro do Movimento Negro Unificado
Defesa: representante do Estado
Participação especial: Aton Fon Filho, advogado do MST
Sessão Final de Julgamento
Dia 06 de dezembro
9 horas- O Estado Brasileiro no Banco dos Réus
Presidentes: Hamilton Borges - membro da Associação de Parentes e Amigos de Presos da Bahia (ASFAP/BA) e coord. da campanha Reaja ou será mort@; Valdênia Paulino, coordenadora do Centro de Direitos Humanos de Sapopemba (SP) e Kenarik Boujikian, juíza e diretora da Associação de Juízes para a Democracia
Acusador: Plínio de Arruda Sampaio, presidente da Abra (Associação Brasileira de Reforma Agrária) e diretor do "Correio da Cidadania".
Defesa: representante do Estado
Participação Especial: Kali Akuno - Movimento Malcon X Grass Roots Moviment.
Jurados: Cecília Coimbra, presidente GrupoTortura Nunca Mais -RJ; Ferréz - escritor e MC; José Guajajara - militante de movimento indígena, membro do Centro de Étnico Conhecimento Sócio-Ambiental Cauieré; Ivan Seixas, diretor do Fórum Permanente de Ex Presos e Perseguidos Políticos de São Paulo; José Arbex Jr., jornalista e escritor; Marcelo Freixo, deputado estadual PSOL-RJ; Marcelo Yuka, músico e compositor; Maria Rita Kehl, psicanalista e escritora; Paulo Arantes, professor de Filosofia da USP; Wagner Santos, músico, sobrevivente da chacina da Candelária; Waldemar Rossi, militante da Pastoral Operária e do Movimento de Oposição Sindical Matalurgica de São Paulo, aposentado; Adriana Fernandes, presidente da ASFAP/BA; e Dom Tomás Balduino, bispo emérito da cidade de Goiás e conselheiro permanente da CPT
Entidades e movimentos que compõem a organização do Tribunal Popular:
ALAIETS, ANDES-SN, APROPUC-SP, ASFAP/BA, Assembléia Popular, Associação Amparar/SP, Associação Brasileira pela Reforma Agrária (ABRA), Associação dos Anistiados Aposentados, Pensionistas e Idosos de São Paulo, Associação de Familiares e Amigos de Pessoas em Privação de Liberdade/MG, Associação de Juízes pela Democracia, Associação de Mães e Familiares de Vítimas da Violência do Espírito Santo, Associação dos Defensores Públicos do Estado do Rio de Janeiro (Adperj), Associação Paulista de Defensores Públicos, Bancários na Luta, Brasil de Fato, Brigadas Populares/MG, CAJP Mariana Criola, CDHSapopemba/SP, CEBRASPO, Centro Santo Dias de Direitos Humanos, CIMI-SP, Coletivo Contra Tortura, Coletivo Socialismo e Liberdade, Comitê Contra a Criminalização da Criança e Adolescente, Comuna Força Ativa/SP, Comunidade Cidadã, CONLUTAS, Conselho Federal de Serviço Social, CRESS-SP, Conselho Regional de Psicologia 6ª região, Consulta Popular, Correio da Cidadania, CRP/RJ, DCE-Livre UFSCAR, DCE-Livre USP, Escritório Modelo Dom Paulo Evaristo Arns (PUC-SP), Fórum Centro Vivo, Fórum da Juventude Negra/BA, Fórum das Pastorais Sociais e CEBs da Arquidiocese de SP, Fórum dos Ex-Presos e Perseguidos Políticos de SP, Fórum Estadual de Defesa dos Direitos da Criança e Adolescente/SP, Fórum Social por uma Sociedade sem Manicômios, IDDH/RJ, Instituto Carioca de Criminologia, Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania/MG, Instituto Palmares de Direitos Humanos/RJ, Instituto Pedra de Raio/BA, Instituto Rede Ação/RJ, Instituto Rosa Luxemburgo, Instituto Zequinha Barreto, INTERSINDICAL, Justiça Global, Kilombagem/SP, MLST, MORENA - Círculos Bolivarianos, Movimento Defesa da Favela, Movimento em Marcha/SP, Movimento Nacional de Direitos Humanos, Movimento Negro Unificado (MNU), MST, MTST/PE, NEPEDH, Observatório das Violências Policiais de São Paulo (OVP-SP), ODH Projeto Legal, Projeto Meninos e Meninas de Rua, Quilombo X/BA, Reaja ou será mort@!/BA, Rede de Comunidades e Movimentos Contra a Violência/RJ, Rede Social de Justiça e Direitos Humanos, Resistência Comunitária/BA, Revista Debate Socialista, Sindicato dos Advogados de SP, Sindicato dos Bancários de Santos, Sindicato dos Radialistas-SP, Sindicato Unificados dos Químicos de Osasco e Campinas, SINSPREV-SP, Sinpeem, Sintrajud-SP, SINTUSP, Tortura Nunca Mais/RJ

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Viagens que não terminam

Andei com um pouco de dificuldade para postar algumas outras coisas aqui, mas acho que vocês irão entender. Isso de seguir caminhando pode render algumas histórias interessantes. No melhor dos casos, viagens podem nos porporcionar bons encontros. Talvez com o tempo eles podem ir melhorando e quando nos damos conta, uma grata surpresa esta diante de seus olhos. Não estou bem certo de como fazer para termos sempre bons encontros - na verdade acho que isso nem é possível - mas certamente ajudar o "destino" para proporcionar uma melhor chance de isso acontecer, até que me parece algo mais razoavel.

Desde que retornei ao Brasil, a quase 2 meses, ainda fico pensando sobre essa condição de "regresso" e o que ela pode significar. Ainda estou bastante curioso sobre as coisas que me cercam e o que fiz de mim mesmo nos últimos quase 2 anos. Pensava que iria permancer em São Paulo a maior parte do tempo assim que voltasse a pisar nessa terra, mas acontece exatamente o oposto. Continuo viajando! Até porque tem sido uma boa forma de lidar com a angústia de voltar também. Mas agora por regiões mais tranquilas, com outra diferença, mas não menos curioso. E foi numa dessas recentes caminhadas que fui parar em Góias no mês de novembro. Precisamente Cidade de Goiás e Goiania. Passei quase 10 dias por lá.

A Cidade de Goiás é antiga, a primeira a ser fundada no Estado, foi a capital se não me engano até os anos 50 quando transferem essa condição para Goiania e também importante ponto de convergência dos primeiros bandeirantes nos idos de 1600.

Alí tem um rio chamado Vermelho. Conta a lenda que foi nas margens desse rio que o bandeirante Anhanguera assim que chegou na região, entrando em contato com indígenas usou de uma estratégia bem curiosa para conseguir o "apoio" dos locais. Colocou fogo numa bacia com álcool e disse que sem eles não fossem respeitos e obedecidos iriam fazer o mesmo com o rio. Acho que nem preciso dizer o que aconteceu depois, né? Enfim, acontece que como em muitos outros locais por onde esses ilustres bandeirantes passaram, ainda encontramos diversas homenagens a eles. A cidade de Goiás também não é diferente e até hoje existe esse clima meio "você sabe com quem esta falando?". Esta lá perto do centro uma cruz com o nome do dito cujo. O bom é que sempre existem dissidentes, inconformados, pessoas que preferem agir do que apenas se lamentar. Um projeto incrível com crianças pobres, um padre macumbeiro, ativistas do movimento negro, uma capoeira angola ótima, um mosteiro com monges comunistas e outras coisas. Vamos a elas!

Descubro que o municipio de Goiás possui um dos maiores índices de assentamento na relação território x população. Fico intrigado a respeito de um Estado tão conservador possuir tamanha mobilização pró reforma agrária. Descubro então que isso se deve bastante a atuação direta dos religiosos católicos da cidade. Desde 1977 existe na cidade o Mosteiro da Anunciação do Senhor. Alguns monges beneditinos que viveram e vivem alí são também ótimos socialistas! Explico.

Em 1961, atendendo a um apelo de João XXIII, o mosteiro de Tournay, na França, enviou oito monges para Curitiba. Lá começou a história do Mosteiro da Anunciação do Senhor, quando depois foi transferido para Goiás. Acontece que esses monges foram soldados na Segunda Guerra e lutaram contra a ocupação nazista na França. Muitos entraram em contato com a idéias socialistas e quando chegaram ao Brasil, uma das missões era justamente trabalhar com a população mais desfavorecida economicamente. Esses monges tiveram um importante papel no surgimento da Teologia da Libertação. Trabalham anos a fio com os movimentos sociais e ainda são (aqueles que estão vivos, claro) figuras de grande relevância como líderes espirituais e políticos de muitas pessoas e grupos de esquerda. O Mosteiro é aberto para visitas e para pessoas interessadas em permanecerem lá por mais tempo. Voces pode ver e saber muito mais em http://www.empaz.org/

Depois escrevo mais sobre essa experiência em Goiás.

Abraços.

A igreja do mosteiro. No fundo, um painel esculpido com a santíssima trindade. Pai, filho e espirito santo representados na figura de um negro, um índio e uma mulher. Na direita um Cristo negro.

Tudo é feito de modo circular. No fundo a imagem da Virgem de Guadalupe, padroeira da América Latina.

A Capela.Meu guia: monge Pedro. Gente muito boa! Um dos franceses que lutaram na Segunda Guerra e segundo ele, comunista...

No fim da rua, a cruz do Anhanguera. Só pra constar: em 2001 uma forte chuva inundou parte do centro histórico e a cruz acabou caindo e sendo levada pela enchurrada. Ela passou anos desaparecida e uma réplica foi erguida em seu lugar, mas muitas pessoas achavam que não fazia sentido homenagear alguém que causou tanta dor em sua época. A cruz acabou aparecendo ninguém sabe como e está hoje no Museu das Bandeiras.


Rio Vermelho

Museu das Bandeiras. O edíficio funcionou como cadeia e um tipo de juizado até 1951, quando foi tombado, junto com o restante do centro da cidade. Na frente do prédio, os escravos eram colocados a venda e os senhores das fazendas vinham para compra-los. O açoite era feito ali mesmo e a forca funcionava nos fundo.

Vista noturna de uma rua do centro histórico da Cidade de Goiás.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Um pouco mais de nomes para os bois, vacas e outros bichos.

Quando junto com outros venho falando que as coisas estão cada vez mais claras no que diz respeito as diversas formas de retrocesso político e social no mundo todo, e que precisamos saber quem esta do lado de quem, reafirmo meu compromisso com as lutas populares, a resistência autêntica, os saberes ancestrais e com a vida comunitária. Veja o que acaba de acontecer com uma das maiores expressões culturais do Estado do Rio de Janeiro e me digam se tenho alguma chance de estar certo.
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POLÍCIA INVADE E DESTRÓI A ESCOLA DE JONGO DA SERRINHA.
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Olá Amigos e Amigas,
Depois de se meter na trapalhada de ocupar o espaço de uma creche no Morro Dona Marta que atendia a 120 crianças para transforma-la em uma Posto Policial, a política de "segurança" do Governo do Estado do Rio de Janeiro, em mais uma de suas atuações truculentas em comunidades populares, invadiu na manhã desta última sexta-feira a comunidade da Serrinha em Madureira.
A operação para prender traficantes, sem qualquer planejamento como são as recorrentes invasões de favelas, além de botar a vida dos moradores em risco, cometeu um crime contra a cultura e as tradições populares do Rio de Janeiro, uma vez que destruiu móveis, utensílios e as dependências da Escola de Jongo do Grupo Cultural Jongo da Serrinha um dos maiores símbolos da preservação da memória e das tradições jongueiras - matriz de uma das principais expressões da cultura popular do Rio - o Samba.
Abaixo segue um artigo escrito pelo Desembargador Siro Darlan, presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente, que dá a idéia do quão absurda tem sido a atuação da polícia quando intervém em comunidades populares e do quanto não há respeito às tradições de cultura e às intervenções da sociedade para assegurar à crianças e jovens direitos e possibilidades que as políticas públicas deveria mas não dão conta.
Abraços, Junior Perim
SERRINHA, Capital do jongo e do samba.
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SIRO DARLAN DE OLIVEIRAPRESIDENTE DO CONSELHO ESTADUAL DE DEFESA DO DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTEO
Rio de Janeiro está sediando o 3º Congresso Internacional de Combate às Violências sexuais contra crianças e adolescentes. E, paralelamente, a menos de 50 quilômetros do Rio Centro, a polícia dá mais uma demonstração de despreparo e desrespeito às populações mais carentes.Assim como fizeram na ocupação violenta do Complexo do Alemão, quando deixaram todas as crianças fora das escolas por mais de 60 dias, acabam de destruir um dos raros espaços culturais e educacionais existentes em comunidades empobrecidas, ao atacarem com fúria e violência a população da Serrinha sob o pretexto, aplaudidas por alguns desavisados cidadãos, de combater os comerciantes de drogas, que por incompetência da policia de fronteiras e falta de políticas públicas, obrigação dos governos estaduais e municipais.
O Jongo da Serrinha é um dos mais tradicionais grupos de cultura do país tendo recebido diversos prêmios por seu trabalho artístico e social. Com 40 anos de história, o grupo de Madureira foi fundado por Mestre Darcy e sua mãe, Vovó Maria Joana Rezadeira que, preocupados com a extinção do jongo na cidade, transformaram a antiga dança praticada nos quintais da Serrinha num espetáculo. O Morro da Serrinha, localizado na zona norte do município do Rio de Janeiro, é uma comunidade urbana com aproximadamente 5.000 moradores na sua maioria negros. Com cerca de 110 anos de existência, a Serrinha é uma das primeiras favelas do país, tendo recebido no início do século passado um enorme contingente de escravos negros recém-alforriados. Os moradores da Serrinha constituíram um núcleo religioso e cultural potencial, visitado não só pelos moradores das cidades próximas, como também por jornalistas, artistas e turistas de vários pontos do Estado do Rio, do Brasil e exterior, interessados em cultura e tradições afro-brasileiras.
O Jongo é uma herança cultural trazida pelos negros bantos que vieram da região do Congo-Angola, na África, para as fazendas de café do Vale do Paraíba no século 19 que ficou preservado na região. Graças a uma iniciativa do grupo, o ritmo foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), em 2005, como o primeiro Bem Imaterial do Estado do Rio de Janeiro. Ao transformar a antiga dança de roda num espetáculo, Mestre Darcy e Vovó Maria inovaram ao introduzir violão e cavaquinho no jongo e ao ensinar crianças a dançar, antigamente só permitido aos "cabeça branca", criando uma nova referência do jongo na cidade e garantindo sua sobrevivência no contexto da globalização.
Em sua trajetória de resistência, o Jongo da Serrinha se transformou em uma das mais genuínas referências da cultura carioca e vem se apresentando em diversas cidades do Brasil e exterior divulgando e preservando o ritmo com espetáculos de alta qualidade. Em 2000, o grupo criou a ONG Grupo Cultural Jongo da Serrinha (GCJS) para desenvolver estratégias de preservação da memória da comunidade Serrinha e do jongo e de educação e capacitação profissional para jovens e crianças, através da Escola de Jongo (EJ). Recebeu diversos prêmios entre eles o Escola Viva (2007), Cultura Nota Dez (2006), Cultura Viva (2006), Itaú-Unicef (2007 e 2005), Petrobrás Rival BR (2002), Orilaxé (2002) e o prêmio mais importante do Ministério da Cultura, a Medalha de Ordem ao Mérito Cultural (2003).
A ONG tem, em linhas gerais, duas missões institucionais: educar crianças e jovens através da arte e da memória e preservar o jongo como patrimônio imaterial através da produção cultural, gerando trabalho e renda. A Escola de Jongo é o projeto sócio-educativo do Grupo hoje patrocinado pela Petrobrás, Criança Esperança e Ministério da Cultura. A Escola valoriza e fortalece laços familiares, comunitários e a identidade local, preservando o Patrimônio Imaterial do jongo criando alternativas de geração de trabalho e renda. A base pedagógica da Escola de Jongo é fundamentada na cultura e memória locais. A Escola de Jongo atende a cerca de 120 crianças e jovens, diariamente em dois turnos, com aulas de música (canto e percussão), dança (afro e jongo), teatro, capoeira angola, cultura popular, leitura e Griôs (contadores de história). O GCJS também cria produtos (discos, livros, filmes, etc), pesquisa, reúne, organiza e produz acervo audiovisual sobre o jongo, a Serrinha e a cultura popular brasileira e africana.
Como ONG, está inserido em diversas redes do terceiro setor e conta com o apoio de vários parceiros institucionais. Para elaboração de metodologia pedagógica e planejamento estratégico participa das Redes Social da Música, Rede Circo Social e Rede de Memória do Jongo. A instituição conta ainda com o apoio da Unesco, FASE/SAAP, G.R.E.S. Império Serrano e artistas entre eles Paulão Sete Cordas, Letícia Sabatella, Sandra de Sá, Beth Carvalho, Dona Ivone Lara, Beth Carvalho, Jorge Mautner, Arlindo Cruz, entre outros.
Pois essa rara escola de cultura e tradição acaba de ser destruída pela incompetência dos policiais do Senhor Beltrame que sob pretexto de combater a violência, usando da mesma, deixou órfãos crianças e jovens que mesmo tendo sido roubados em seus direitos fundamentais de cidadania, porque lá o governo não chega com creches, educação, saneamento básico, se dedicavam a preservação de sua cultura e arte, mas tal qual o exército nazista foram atacados por fuzis e armas pesadas, enquanto se defendiam com sua chupetas, mamadeiras e o som de seus jongos e instrumentos. Até quando, Governador, insistirão nessa política de desrespeito ás crianças do Rio de Janeiro. Não seria a hora de usar um pouco de respeito e inteligência?
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Junior Perim
Coordenador Executivo
CRESCER E VIVERRua Benedito Hipólito, s/n (Lona de Circo) - Praça Onze - Cep.: 20.211-130 - Rio de Janeiro/RJ
Tel.: (21) 3972-1391

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

...acontecendo na Cinemateca! AFRICALA

27 de novembro a 05 de dezembro de 2008

AFRICALA (África en Latinoamérica) é uma associação internacional sem fins lucrativos que promove o cinema africano no México e na América do Sul. Sua principal atividade é a organização do Festival Internacional de Cine Africano de la Ciudad de México, evento que acontece todos os anos no mês de abril, em distintas salas da Cidade do México. AFRICALA se apresenta como fórum de cinema africano e de intercâmbios com este continente. Uma de suas características é a de ser um festival que convida agentes, multiplicadores e organizações sociais, assim como instituições culturais, para participarem de sua grade de atividades que, além da exibição de filmes contemporâneos, conta com mesas-redondas, oficinas e palestras com, ao menos, um diretor de cinema africano. Em novembro, mês da Consciência Negra, a Cinemateca Brasileira exibe uma seleção de títulos da última edição do AFRICALA, com destaque para a produção dos países lusófonos. A programação inclui um panorama da produção contemporânea, duas coletâneas de curtas e uma animação direcionada ao público infantil. Convidado especial do evento, o cineasta moçambicano Sol de Carvalho exibe uma seleção de seus filmes e conversa com o público após a exibição de seu longa O jardim do outro homem, o primeiro filmado em película no país depois de mais de 25 anos e que marca o regresso do cinema moçambicano às salas. O Centro Cultural da Espanha em São Paulo /AECID apóia o AFRICALA e viabilizou a vinda dos filmes que serão exibidos na Cinemateca Brasileira, assim como a presença de Flávio Florencio, curador do Festival, e do cineasta Sol de Carvalho.

CINEMATECA BRASILEIRA
Largo Senador Raul Cardoso, 207
próxima ao Metrô Vila Mariana
Informações: (11) 3512-6111 (ramal 215)
www.cinemateca.gov.br
Ingressos: R$ 8,00 (inteira) / R$ 4,00 (meia-entrada)Atenção: estudantes do Ensino Fundamental e Médio de escolas públicas têm direito à entrada gratuita mediante a apresentação da carteirinha.

sábado, 29 de novembro de 2008

Fazendo história


Você sabe o que é a ALCA? Já ouviu falar em A20, S26, N30? Participou de algum Dia de Ação Global? Já ouviu falar em Ação Direta? E de “movimento antiglobalização”? Sabe o que é horizontalidade?
Pois desde 1999 no Brasil há grupos e indivíduos de boa-vontade que se organizam para combater o capitalismo global. Ocorreram muitas mobilizações, ações, manifestações, oficinas, debates, experiências que marcaram uma geração e tem influenciado os movimentos sociais e políticos até hoje.
Em Seattle, no dia 30 de novembro de 1999, uma nova forma de fazer política surgia e ganhava o mundo através da grande mídia. Muitos acreditaram e compartilharam de um mesmo sonho, todos juntos, todos iguais. Durante um bom tempo as pessoas mantiveram a chama acesa.
Hoje, 9 anos depois, é preciso rever essa história, resgatar a memória dessa luta anticapitalista e olhar para o futuro...
Se você quer ajudar a construir a história do movimento anticapitalista ou se você quer saber mais sobre suas propostas e ações venha participar do debate A HISTÓRIA DO MOVIMENTO ANTICAPITALISTA.

*** Data: Domingo, 30 de novembro de 2008 (N30) Horário: 16 horas Local: Espaço Ay Carmela! – Rua das Carmelitas, 140 – Sé - São Paulo Entrada Gratuita

*** VIDEOS

*Essa é a Cara da Democracia
Com material coletado com mais de 100 ativistas, narração de Susan Sarandon e trilha Sonora da Rage Against Machine, o vídeo é uma co-produção da Big Noise Films com o CMI - Seattle. 72 minutos/2000. Áudio em inglês com legendas em português

* A20 – Não Começou em Seattle, Não Vai Terminar em Quebec
Video da primeira manifestação no Brasil contra a ALCA, Área de Livre Comércio das Américas, que ocorreu em São Paulo no dia 20 de abril de 2001. A manifestação pacífica foi violentamente atacada pela polícia. CMI. 22 minutos/2001. Áudio em português.

EXPOSIÇÃO DE FOTOS E CARTAZES DEBATE

A proposta desta atividade é iniciar a (re)construção da história do movimento anti-capitalista de maneira coletiva. Começando por identificar suas origens e tradições, assim como quais temas estavam na pauta naquele momento. Também é importante buscar identificar os grupos e coletivos envolvidos na luta contra a globalização capitalista e os demais atores sociais em cena. Pode-se levantar casos, depoimentos, relatos e documentos para serem avaliados. A discussão sobre as propostas, as estratégias, as táticas, as formas de organização e os objetivos dos grupos e coalizões do movimento, assim como das manifestações de rua contribuirão para que possamos entender sua essência. E, finalmente, um olhar para os dias de hoje a partir da experiência vivida por milhares de pessoas ao redor do mundo nos ajuda a pensar na nossa ação no futuro.

ACERVO AGP (nome provisório)

A Biblioteca Terra Livre instalada no Espaço Ay Carmela! pretende constituir um acervo de materiais sobre o movimento anti-capitalista no Brasil e no mundo. Portanto, convidamos a todos a trazerem materiais (livros, fotos, documentos, cartazes, vídeos, áudios, etc etc) para serem doados à Biblioteca. Assim, todos estaremos colaborando com a preservação da memória das lutas anti-capitalistas.