sábado, 30 de agosto de 2008






Força e um som belo como de um arco tenso.
Quero viver assim até o dia em que morrer.

O arco, de Kim Ki-Duk

sexta-feira, 29 de agosto de 2008


"Alguns homens não estão à procura de algo lógico, como dinheiro. Eles não podem ser comprados, nem intimidados. Não é possível negociar com eles. Alguns homens só querem ver o mundo em chamas."
Heath Ledger

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Os elementos do cativeiro


Pegue uma criatura original.
Domestique-a cedo, de preferência antes da fala e da locomoção.
Socialize-a ao máximo.
Deixe que sinta fome profunda pela natureza selvagem.
Isole-a dos sofrimentos e liberdades dos outros, para que ela não possa comparar sua vida a nada.
Ensine-lhe apenas um ponto de vista.
Permita que ela seja carente (ou fira, ou indiferente) e deixe que todos percebam, mas que ninguém lhe diga.
Permita que ela se isole do seu corpo físico, eliminando, portanto, seu relacionamento com essa criatura.
Solte-a num ambiente em que possa obter em excesso coisas que antes lhe eram negadas, coisas que sejam tanto interessantes quanto perigosas.
Dê-lhe amigos que também sejam carentes e que a estimulem ao desregramento.
Permita que seus institos fragilizados relacionados à prudência e à proteção continuem assim.
Em conseguência de seus exageros (alimentação insuficiente, alimentação excessiva, drogas, sono insuficiente, sono excessivo, etc.), permita que a morte se insinue bem perto dela.
Permita que ela se esforce por uma restauração da persona de “boa menina” e que tenha sucesso, mas só de vez em quando.
Depois, finalmente, permita que ela se envolva freneticamente com excessos promotores de depêndencia em termos psicológios ou fisiológicos, que causem entorpecimento por si mesmos ou pelo seu abuso (álcool, sexo, raiva, submissão, poder, etc.).
Agora ela está no cativeiro.
Inverta o processo, e ela se libertará. Restaure seus institos, e ela se fortalecerá.

Trecho encontrado em Mulheres que correm com os lobos de Clarissá Pinkola Estés

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Mas o viajante que foge, tarde ou cedo detem seu andar...

Volver
de Carlos Gardel e Alfredo Le Pera


Yo adivino el parpadeo
De las luces que a lo lejos
Van marcando mi retorno...
Son las mismas que alumbraron
Con sus palidos reflejos
Hondas horas de dolor..

Y aunque no quise el regreso,
Siempre se vuelve al primer amor..
La vieja calle donde el eco dijo
Tuya es su vida, tuyo es su querer,
Bajo el burlon mirar de las estrellas
Que con indiferencia hoy me ven volver...

Volver... con la frente marchita,
Las nieves del tiempo platearon mi sien...
Sentir... que es un soplo la vida,
Que veinte años no es nada,
Que febril la mirada, errante en las sombras,
Te busca y te nombra.
Vivir... con el alma aferrada
A un dulce recuerdo
Que lloro otra vez...

Tengo miedo del encuentro
Con el pasado que vuelve
A enfrentarse con mi vida...
Tengo miedo de las noches
Que pobladas de recuerdos
Encadenan mi soñar...

Pero el viajero que huye
Tarde o temprano detiene su andar...
Y aunque el olvido, que todo destruye,
Haya matado mi vieja ilusion,
Guardo escondida una esperanza humilde
Que es toda la fortuna de mi corazón.

Volver... con la frente marchita,
Las nieves del tiempo platearon mi sien...
Sentir... que es un soplo la vida,
Que veinte años no es nada,
Que febril la mirada, errante en las sombras,
Te busca y te nombra.
Vivir... con el alma aferrada
A un dulce recuerdo
Que lloro otra vez...

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Sayonara ou o adeus que vem da alma.

Vai entender essa vida! Como pode algo que esteve dentre do coracao tao cheio de brilho e ternura ir perdendo espaco para o desconsolo e a dor? Como entender que algo mude tanto e deixe de ser tao importante? Aquilo que te seduzia apenas com uma cor, um sabor ou um cheiro, de repente nao lhe diz mais nada. O respeito ainda esta ali, vivo e presente - nao poderia ser de outro modo - mas nao ha mais razao alguma para ir adinate. Quanto mais se ve e se entende, menos se deseja e alimenta. Estou sendo duro e injusto? Talvez. Quem vai me condenar? Depois do que tivemos quem vai dizer algo? Dou-me o direito de ser, apesar de nao me parecer esse o caso. Admito que talvez nao seja isso tudo, digo apenas tomado pelo calor do momento. Uma amiga certa vez me disse que as vezes eh necessario partir, e de longe quem sabe, sentir saudade e entender melhor o que foi que passou. Aguardo esse dia entao. Ainda me intriga nao saber explicar por que de longe, distante, antes de pisar aqui, pude conhecer tanto, apreciar tanto, amar quase, e agora que esta tudo tao perto, me tocando - mesmo que fechado e reservado - nao posso mais sentir. As vezes eh como se tudo desaparecesse! Parece-me tao distante e inacessivel. Pensei que era apenas por nao falar sua lingua, nao compreender ainda seus sinais, mas nao, nao foi apenas isso. Sinto muito, nao posso mais. Voce, e somente voce, entende isso. As palavras nao alcancariam, mas voce sabe. Sabe sim! Ironico que onde mais encontrei silencio, foi exatamente onde mais tive vontade de gritar... Espero por outro tempo que possa dizer a seu respeito sem essas coisas dificeis, mas voce foi exatamente isso pra mim: o dificil. Quem sabe eu diga tambem sem tanta furia. Gostaria de aprender mais contigo, mas nao mais por esse caminho, nao com essa desconfianca e esse preconceito. Ja que voce nao me olha, o que poderia eu fazer? Lamentei por mim um tempo, depois por nos dois, e agora lamento apenas por voce. Em breve por nada nem ninguem. Acho que acaba fazendo parte, as mudancas. Os ensinamentos de Gautama foram todos sobre isso: impermanencia, mudancas, sofrimento. Na minha cabeca ta tudo guardado, mas o que interessa mesmo eh a pratica, certo? Sou humano, demasiadamente humano e vai entender essa vida! Claro que felicidade existe. Deve existir! Nao vi muito disso por aqui, mas sei que ha. Do seu modo, da sua maneira e provavelmente, eu outra vez, nao pude ver. Te deixo assim entao: como te encontrei. Boa sorte. Sem magoas, ou quase. Ei Nihon! Japao, ta ouvindo? Acabou! Nossos caminhos se separam e decido por outras coisas, e voce nao faz mais parte disso.

Um pouco da vida dos trabalhadores imigrantes no Japão

por Brasil de Fato

No final de junho, um terremoto de 6,8 na escala richter balançou o Japão. Na região de Niigata, o tremor prejudicou uma fornecedora de autopeças, a Rinken, que presta serviços para grandes montadoras como Nissan, Mitsubishi e Suzuki. Resultado: as linhas de montagem dessas empresas foram paralisadas.
Os operários ficaram sem serviço. Para os trabalhadores japoneses, foi apenas um contratempo. Mas para os imigrantes, não. Ficaram sem serviço e sem salário. “No final do mês foi aquela miséria, quase uma semana parado, e as contas não param”, reclama Sérgio Hashimoto que trabalha na Suzuki.
Esse é um pequeno exemplo da condição de vida dos trabalhadores estrangeiros na segunda maior economia do planeta. Quase sempre contratados de forma terceirizada, sem vínculo empregatício, por intermediários das transnacionais locais, muitas delas líderes mundiais em seu segmento. São operários que sobrevivem em uma lógica de trabalho e remuneração que desafia a reprodução humana. O salário e o trabalho não são regulares; dependem da demanda de produção. Ou seja, quando há encomenda da transnacional, por exemplo, há pagamento. Se há produção acima do consumo, quem paga a conta é o trabalhador - menos pedidos, menos salário. Seguridade social? Esse não é um direito para imigrantes.
Quando uma pessoa deseja trabalhar no Japão, o caminho tradicional é esbarrar na intermediação de empreiteiras contratadas pelas próprias transnacionais ou fábricas locais. O operário recebe, por hora, cerca de 1.200 Yens homens e 900 Yens mulheres, e pode ser contratado por um período de tempo de três a seis meses, ou enquanto houver necessidade de sua mão-de-obra. Na maioria das vezes não há aviso prévio quando o trabalho termina.

Os três k
Os acidentes de trabalho são outra realidade que o trabalhador imigrante enfrenta. A maioria dos serviços realizados por esses operários são chamados, no Japão, de 3k: kitsui (pesado), kitanai (sujo) e kiken (perigoso). “O pessoal faz zanguio (hora-extra) permanecendo nas fábricas duas, muitas vezes, quatro horas, além do período normal – de oito horas. Como o serviço é perigoso e repetitivo, a pessoa acaba cometendo uma falha”, analisa o presidente do Sindicato dos Trabalhadores de Hamamatsu, Francisco Freitas.
O sindicalista afirma que muitas pessoas perdem os dedos nas máquinas de prensa ou ficam com lesões musculares graves por conta do período longo de trabalho sem o devido descanso. “Normalmente, é assim: uma pausa de cinco minutos no período da manhã, mais cinco no período da tarde e uma hora para o almoço. Fora desses intervalos, não é permitido aos trabalhadores nem ir ao banheiro ou beber água”, diz Freitas.
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domingo, 10 de agosto de 2008

Enfim,

para ajudar na caminhada. Para colaborar na superacao dos desafios. Para acreditar. Para criar. Uma vez mais para nao esquecer de onde a gente vem.
Paz para todos!

comecou...

Ta acompanhando direitinho as olimpiadas? Torcendo para equipe brasileira (que mais parece a da Suecia na evidente falta de atletas negros, tirando o atletismo e o futebol...)? Diz ai, ta?
E quanto ao Tibet, ta torcendo tambem? E a possibilidade de maior liberdade e respeito aos direitos humanos na China devido aos jogos, continua acreditando nisso?
Boa sorte pra todo mundo, mas eu nao acompanho essa olimpiada de jeito nenhum!


terça-feira, 5 de agosto de 2008

Para saber e ver Tokyo

As vezes algumas pessoas me perguntam sobre o Japao, particularmente sobre Tokyo. Tento contar uma coisa aqui e outra la, mas claro que sempre esta distante do que realmente eh. Assim, pensando nesses amigos e em uma eventual curiosidade sobre Tokyo por parte de outros, faco uma sugestao de tres filmes relativamente conhecidos e encontraveis no Brasil, que na minha opiniao retratam bastante do que se encontra por aqui.


Para comecar o filme de Sofia Coppola Encontros e Desencontros - Lost in Translation, 2003. O resumo da opera eh mais ou menos o seguinte- Depois de fazer grande sucesso durante a década de 70, o astro de cinema Bob Harris encontra-se em declínio e, assim, aceita protagonizar um comercial de uísque que será rodado no Japão. Impressionado com a quantidade de luzes e anúncios em Tóquio, o ator procura se ambientar à cidade, mas as diferenças culturais tornam sua estadia bem mais complicada - e, para piorar, Harris não consegue se adaptar ao fuso horário, passando as noites em claro. É então que ele conhece Charlotte, cujo marido, John, está em Tóquio para fazer algumas fotografias e que passa os dias sozinha no hotel. Juntos, eles decidem passear pela cidade e começam a conversar sobre suas inseguranças e frustrações. Primeiro que o filme tem uma fotografia impecavel sobre a cidade. As ruas realmente sao como mostradas na tela. Depois, o enredo do filme eh exato sobre a presenca de muitos estrangeiros aqui. Falar ingles ajuda, mas sem entender japones, ou alguem que conheca o lugar pra te mostrar, voce esta anos luz de saber o que eh essa cidade. Fique atento ao nome original do filme, algo como Perdido na traducao, que tem muito mais haver com o contexto e a vida aqui para quem precisa entender as entrelinhas da cidade do que o titulo em portugues.
O segundo eh Tokyo em decadencia, de Ryu Murakami, 1991. Aqui acompanhamos uma prostituta que topa qualquer parada. Relacoes de poder, submissao, angustia, solidao e sexo com Tokyo de cenario. O filme eh bom, mas um tanto duro. Eu nao conheci nenhuma prostituta que ´topa tudo´ por aqui, mas conversando com amigos japoneses eles confirmam a historia. Ate porque como eh de conhecimento geral , os japoneses adoram uma putaria com muitas bizarrices. O mercado de pornografia e sexo geraram no ultimo ano nada mais nada menos que 20 bilhoes de dolares! Em Tokyo ha um bairro com quase 5 mil sex shops e inferninhos. O estranho nisso tudo eh a incrivel taxa de natalidade ser tao baixa e por isso estar causando bastante preocupacao nos dirigentes niponicos. Mas isso nao interessa agora. Por outro lado, dizem que a vida sexual dos japoneses eh devagar, quase parando. A media de vezes que fazem sexo eh de 45 por ano! Uma das piores do mundo. Penso que de tanto apenas assistirem e falarem sobre, eles se esquecem de fazer, mas vai entender... Assista o filme, mas nem pense que todo mundo anda praticando o que a mocinha precisa se submeter por la. Logo mais volto a falar sobre sexo no Japao, um assunto bem interessante.
Por fim, bem diferente dos anteriores e com uma certa tranquilidade, mas ao mesmo tempo triste e comovente eh o filme de Hikazo Koreeda Ninguém Pode Saber , 2004 . A historia eh baseada em um caso real ocorrido no fim dos anos 80. A trama, onde quatro irmãos abandonados sobreviveram sozinhos por meses sem ninguém se dar conta, é centrada não nas peripécias dos garotos para tentar sobreviver - apesar do assunto ser constantemente abordado -, mas sim em sua calada busca por identidade. Quatro irmãos, todos de pais diferentes, se vêem gradativamente perdidos na selva urbana sem a esperada ajuda materna, confinados num apartamento a margem da sociedade, sem poderem contar com a ajuda dos outros. O filme comeca com uma mãe e seu filho adolescente que se mudam para um apartamento nos subúrbios de Tóquio, carregando com cuidado a bagagem da mudança para cima. Ao entrarem no apartamento, a surpresa: em duas das malas, estavam os irmãos pequenos, que se divertiam pela aventura de entrarem escondidos. Mais tarde no dia, Akira, o primogênito, vai à estação buscar sua outra irmã, que tem de entrar no apartamento escondida, e a prole estará completa. O filme impressionou os proprios japoneses pela fidelidade da trama. O pequeno ator ganhou a palma de ouro em Cannes! Na minha opiniao, o Japao tem esse sentimento estranho, de atencao e cuidado com o coletivo, mas igualmente negligente e frio com aqueles que estao mais proximos.
Espero que com esses filmes voces tenham uma ideia do que seja Tokyo, pelo menos sua arquitetura, cores, sons e alguns de seus habitantes. Sempre adorei o cinema exatamente por essa capacidade - a de nos transportar para outros lugares sem nos conduzir fisicamente ate eles.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Impermanente

Andar por lugares novos eh bom, principalmente pela abertura que ocorre na alma. A confrontacao eh inevitavel, e seja grande ou pequena, a aprendizagem acontece, ela esta ali. Porem, depois de ver e saber um certo tanto, o que me parece apertar - muito ou pouco e ai depende - eh a interminavel explicacao de onde voce vem, o que faz naquele lugar e tudo mais que continua. Na maioria das vezes isso eh basico, nao ha problema algum com o fato em si. O que pega mesmo eh a outra confrontacao que isso provoca com relacao ao tempo sem estar com quem te conhece. Nao necessariamente uma pessoa ou um grupo, mas tambem um lugar, uma situacao, um sabor, algum cheiro. Todas essas coisas tambem te conhecem. Aparecem e existem sem muita explicacao. O reconhecimento simultaneo produz entendimento e dentro dessa possibilidade simples de existir, faz com que voce seja - olhe que incrivel - voce! Nenhuma necessidade de dizer o que eh, quem eh, porque veio ou o que pretende. Apenas acontecendo. Durante um bom tempo tive saudade. Ainda tenho, mas agora eh diferente. Agora eh essa presenca de quem e aquilo que me conhece que me faz falta. Com a saudade se aprende a lidar, bem ou mal. E com essa outra coisa? Observo.