terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Agora tudo precisa descansar. Ficarei ausente alguns dias daqui. Nesse tempo, que haja mais paz, saúde e felicidade no mundo. Vou pisar (pedalar) em breve em um lugar inédito para mim e desejo que quando isso acontecer tenhamos novos sonhos, muitas flores e amores, bons encontros e superação. Que o ano novo seja novo em toda sua força e esperança! Esse foi um ano bastante estranho para mim e agora não sei bem como seremos ou onde estaremos, mas decido que independente dos lugares que irei e com as pessoas que viverei, não mais me sabotarei e viverei as coisas que o mundo me der com um sorriso melhor e um amor maior. Obrigado a todas as pessoas que participaram de minha vida nesses últimos doze meses. Sinto muito pelos desencontros que produzi, por um tanto de dor e pelas coisas ruins que criei. Desculpe por não ter dito o que precisava. Mas muito obrigado pelo cuidado, pela gentileza, pela compreensão, pela amizade, pelas palavras, pelo olhar, por dançar comigo, por cozinhar, por pedalar, rir, por escutar, por chorar, por duvidar, por acreditar e confiar, por amar, mesmo que eu não tenha correspondido. Obrigado minha família, alguns amigos que sem eles eu não seria quem sou, por minha casa, meus alunos, pela minha Capoeira, a namorada que tive e que não consegui dizer eu te amo a tempo. A tudo isso, minha reverência, meu desejo de mudança, minha alma, meu corpo e meus pensamentos para o que e quando vocês precisarem. Com minhas próprias mãos, com Oxalá, Tempo e Oxum em meu coração, preparo minha existência para reconhecer, aceitar e viver o bom combate. Sejamos felizes!

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Soren K.

Há dias em que nosso coração se desespera. Dias sucessivos. Ininterruptos e exaustivos. Como podemos deixa-lo descansar depois de viver tanto tempo aquilo que não acredita? Hoje aprendi algo importante sobre o medo. Havia muitas e muitas vezes pensado sobre isso. Entendi agora em meu corpo, em minha alma, que quando temos medo podemos destruir coisas lindas. Acabamos por fazer coisas terríveis e cruéis quando não o expurgamos. Quando vivemos tempo demais tomados pelo medo um tanto de corvardia vai nos parecendo normal, vamos convivendo com sentimentos tristes, com insatisfações que de outro modo não toleraríamos. Hoje chorei porque entendi que podemos pedir ajuda quando ele chegar. Sinto apenas que tenha feito isso tarde demais. Que tem um tanto dele que nos deixa sozinhos sim, mas há muito que pode ser dito, compartilhado de algum modo para que nos traga um pouco mais de luz, um pouco mais de calma e verdade. Hoje espero ter superado o medo de compartilhar quando isso significar renuncia e cuidado.

domingo, 27 de dezembro de 2009


"... uma árvore firme porém dançante,
um caminhar de rio que se curva,
avança, retrocede, dá uma volta
e chega sempre:
um caminhar tranquilo
de estrela ou primavera sem urgência,
água que com as pálpebras fechadas
profecias emana a noite inteira..."
(Octavio Paz em Pedra de Sol)

sábado, 26 de dezembro de 2009

E no dia 26...

Acordei hoje de manha e olha quem encontrei na porta de casa.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Reflexão no dia de Natal

Pretendo apenas pontuar uma questão no dia de natal. Como todos devem ter percebido, não temos mais participado de um uma celebração religiosa ou mesmo da memória dos ensinamentos de um mestre espiritual - interpretem como queiram - mas de uma imperativa e exaustiva exigência de consumo. Exemplo disso são as infinitas decorações de natal tendo papai noel como ícone maior com suas ridículas renas e seu treno em neve artificial. Lembro-me de uma época que as pessoas se reuniam para ver presépios e as árvores eram secundárias. Quantos presépios vocês viram nesse natal? Vi apenas um, no centro de São José dos Campos. Em São Paulo não encontrei nenhum. Fique claro que não sou cristão e isso não me chateia, apenas tento reparar e pontuar essa característica de nosso tempo. Sou sim um curioso das tradições religiosas e me esforço para respeitá-las. Assim, sendo hoje uma data importante para a tradição cristã, ofereço essa ladainha (oração) de Santo Amaro na voz da Maria Bethânia, para meu povo.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Tire seu sorriso do caminho

Tire seu sorriso do caminho, que hoje não tem samba pro meu enredo. Degredo. Não tem alegoria pra minha tristeza. Eu sou só dor. Latejante. Tire seu sorriso do caminho, que hoje meu funk tá sem movimento de bacia. Não tem rima pro meu rap. Não tem Robinho nem Ronaldinho no meu jogo. Meu reggae tá sem sabor. Tire seu sorriso do caminho, que eu quero passar. Adeus, amor.
Do livro: "Você me deixe, viu? Eu vou bater meu tambor!" de Cidinha da Silva

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Natal: estupro, drogas e capitalismo!


Natal, uma das datas mais importantes para aqueles que acreditam no calendário cristão. Mas o que vem a ser o Natal? Que ele celebra a manifestação de Deus em ser humano em Belém (cidade palestina próximo a Jerusalém) todos sabem, mas qual a origem disso tudo? Foi a Coca-Cola que inventou o Papai Noel? Aconteceu algo em 25 de dezembro? Essas e outras questões estão presente no texto. Leia!

Natal, ok? Uma das datas mais importantes para aqueles que acreditam no calendário cristão. Porém, o que vem a ser o Natal? Que ele celebra a manifestação de Deus em ser humano em Belém (cidade palestina próximo a Jerusalém) todos sabem, mas qual a origem disso tudo? Para pensar um pouco sobre isso, é melhor não pensar sobre outros dados importantes, por exemplo o fato de não haver quaisquer provas materiais sobre a existência de Jesus. Deixando de lado essa informação, vamos tentar perceber qual a origem disso tudo e suas conseqüências.

Leia na integra aqui

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Do não-civilizado ou quando não será mais necessário sair de férias.

"Enquanto alguns gostariam de falar em termos de democracia direta e jardinagem urbana nós achamos que é impossível e indesejável fazer a civilização mais "verde" e/ou fazê-la mais "justa". Nós sentimos que é importante mover radicalmente em direção a um mundo descentralizado, para desafiar a lógica e a formação de opinião da cultura-da-morte, acabar com toda mediação em nossas vidas, e destruir todas as instituições e manifestações físicas deste pesadelo. Nós queremos nos tornar não-civilizados."

Manifesto do The Green Anarchy Collective
leia na integra aqui

domingo, 13 de dezembro de 2009

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Quando economistas controlam a cultura

CULTURA, MERCADO E LUCRO EM SÃO PAULO:
Quando economistas controlam a cultura

Sob a gestão de neoliberais, a pasta da secretaria da cultura do estado de são paulo virou um grande e constante leilão!

João Sayad e a sua São Paulo Cia. de Dança
João Sayad e a sua São Paulo Cia. de Dança

O ano de 2009 se encerra de uma forma muito triste para a cultura paulistana. Na madrugada de 05 de dezembro, o dramaturgo Mário Bortolotto e o ilustrador Carlos Carcarah (pseudônimo de Henrique Figueiroa) foram baleados após reagir a um assalto no Espaço Parlapatões, na Praça Roosevelt (Centro de São Paulo), um dos mais importantes pólos do Teatro de São Paulo.

Com a violência e degradação urbana (e humana) da megalópole estampada na face dos consumidores de cultura de São Paulo, explicita-se também o momento de exigir não apenas mais iluminação e policiamento na Pça Roosevelt, mas de observar com mais atenção a situação lamentável em que se encontra grande parte do setor cultural em SP.

Na mesma manhã do incidente com Bortolotto, o jornal Folha de S. Paulo publicou uma matéria sobre a passagem pelo Brasil do arquiteto Jacques Herzog, do escritório de arquitetura suíço Herzog & de Meuron Architekten. Vindo à tona ao grande público mundial por meio da construção do Ninho de Pássaro (Estádio Nacional Olímpico de Pequim, 2008) e o Allianz Arena (Munique, 2005), o escritório será o responsável por construir um centro cultural no bairro da Luz, que vem sendo denominado como Teatro da Dança. Projeto este que já nasce cercado por polêmicas.


Cultura para poucos... bem poucos mesmo.


Os arquitetos Cesar Bergström Lourenço (ASBEA Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura) e Rogério Bataglies (SINAENCO Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva) entraram com uma ação popular para paralisar a construção do referido Teatro da Dança.

Na Constituição, está que uma ação popular visa anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural. Para os arquitetos que movem essa ação a Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, controlada por João Sayad, não discutiu o projeto com o rigor e a profundidade devidos e, além disso, contratou o Herzog & de Meuron Architekten sem concorrência ou concurso público, o que é inconstitucional. O escritório suíço irá faturar entre R$ 26,5 milhões pelo projeto arquitetônico, e de acordo com a Folha, ele já ganhou R$ 3 milhões pelo pré-projeto.

Cabe ainda ressaltar um questionamento feito também por Bataglies: será mesmo que a região da Luz precisa de mais uma instituição cultural Uma vez que no bairro já estão localizadas a Escola Livre de Música do Estado de São Paulo-Tom Jobim, a Sala São Paulo, a Pinacoteca, a Estação Pinacoteca e o Museu da Língua Portuguesa, será mesmo que há alguma suposta revitalização do bairro da Luz que justifique a construção do chamado Teatro da Dança também nesse mesmo perímetro urbano?


O dinheiro de todos retornando para uns poucos


As situações acima já são suficientes para exigir detalhadas explicações do secretário de Cultura, João Sayad, à sociedade. Entretanto, ainda há muito mais por se esclarecer. Por exemplo, as proporções e, conseqüentemente, os custos ?faraônicos? da obra.

Contendo um teatro para dança e ópera, um para peças e recitais, uma sala experimental, uma escola de música, totalizando quase 3.000 lugares, o ?Teatro da Dança? será construído na Praça Júlio Prestes, no local da antiga rodoviária do bairro da Luz (que funcionou até 1982, quando foi construído o Terminal Rodoviário Tietê) abarcando uma área construída de 95 mil m2 (cerca de quatro vezes o Pavilhão da Bienal, de 25 mil m2). Dessa forma, esse centro cultural está orçado em R$ 311,8 milhões (valor que pode se elevar, de acordo com a própria Secretaria de Cultura), ou seja, o mais caro projeto da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo.

Minimamente republicanos, minimamente cidadãos, demasiadamente pagadores de impostos, questionamos se realmente justifica-se destinar R$ 311,8 milhões a um único centro cultural em uma região que já possui diversas instituições culturais? Será que com R$ 311,8 milhões não é possível fomentar uma estrutura melhor (em todos os sentidos) a companhias e grupos que promovem a cultura em SP e constantemente sofrem com as limitações impostas pela ausência de uma política pública decente voltada para a área cultural?
Ao destinar fartos R$ 311,8 milhões ao ?Teatro da Dança?, fica explícito (ou melhor, obsceno) que o secretário de Cultura, João Sayad, não está minimamente preocupado em promover maiores e melhores atividades culturais entre os cidadãos paulistas, mas quer meramente privilegiar a São Paulo Cia. de Dança (SPCD).

A SPCD, criada em janeiro de 2008, pelo próprio João Sayad, é a primeira companhia subsidiada pelo Estado, recebendo com exclusividade a inacreditável quantia de R$ 13 milhões anuais (!), ao mesmo tempo em que R$ 1,4 milhões é a verba pública a ser dividida por todos os grupos privados do Estado de São Paulo! Como aponta Sandro Borelli (coreógrafo da Cia. Borelli de Dança), um típico ?caso de coronelismo?. A opinião de Borelli sobre esse assunto está mais bem explicitada e http://idanca.net/2008/02/27/polemica-cerca-sao-paulo-cia-de-danca/ .

Atualmente, a SPCD, com total apoio governamental, faz da Oficina Cultural Oswald de Andrade sua sede própria (na prática, faz o que quer e o que bem entende dentro da Oficina Oswald de Andrade, mesmo que em detrimento de outras atividades). Com a construção do ?Teatro da Dança?, sua sede será realocada para o bairro da Luz. Ou seja, constroem de forma ilegal (como já se alertou acima) um espaço de R$ 311,8 milhões para sediar o grupo que recebe R$ 13 milhões anuais... Notável!


Quando açougueiros cuidam de hospitais


Em 25 de novembro de 2009, o Memorial da América Latina recebeu a Iº Conferência Estadual de Arte e Cultura do Estado de São Paulo. Ao ser inquirido sobre os R$ 13 milhões anuais da SPCD, João Sayad respondeu que a São Paulo Cia. de Dança vai muito bem, obrigado!? No mesmo evento, Sayad ainda teria afirmado que, enquanto pai, ele preferia levar seu filho para assistir a filmes como Homem-Aranha, que ele denominou como ?cinema de qualidade, por ser importado?.

Não satisfeito, na mesma Conferência o secretário de cultura ainda apresentou o projeto do Estado de construção de livrarias megastore, com preços acessíveis, na periferia da cidade, afirmando que Carlos Drummond de Andrade, Machado de Assis e outros exemplos ficarão nos fundos da loja, pois nas vitrines estarão os Harry Porter, Crepúsculo e etc. Sayad afirmou ainda, como algo realmente revolucionário, que a Secretaria de Cultura de SP distribuiu 2,5 milhões de ingressos de cinema, em 2009, para que as pessoas de baixa-renda tivessem a oportunidade de ir ao cinema uma vez ao ano gratuitamente... Ganhando R$ 13 milhões anuais, quantas vezes será que os cerca de 30 dançarinos da SPCD vão ao cinema por ano? Talvez o próximo plano da Secretaria seja permitir que a população de baixa-renda vá gratuitamente às temporadas que a SPCD realiza no Teatro Alfa, sob o custo de R$ 80 o ingresso (mesmo com toda a verba anual).

Como se sabe, João Sayad nunca teve nenhum vínculo com a área cultural. Ex- presidente do Banco Inter-American Express, Sayad é doutor em Economia pela Universidade de Yale, professor pela FEA-USP. Ele foi ministro do Planejamento do Sarney e secretário de Finanças e Desenvolvimento Econômico da cidade de São Paulo e secretário da Fazenda na gestão Franco Montoro e do município de São Paulo durante a administração de Marta Suplicy. No ano de 2006, deixou a vice-presidência de Planejamento e Administração do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).
E a cultura nisso tudo? Não há! Nunca houve. Apenas números, cifrões e, claro, muito lucro. E, após o singelo convite do governador José Serra (PSDB) assumiu, em 2007, a Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo.

Com pesar, constata-se que mesmo a escolha dos arquitetos para a construção do ?Teatro da Dança? não foi por um mero acaso. O arquiteto suíço Jacques Herzog, conforme relata a referida matéria de 05 de dezembro da Folha, depois de degustar sua tão merecida taça de vinho tinto e seu prato de hors d'oeuvres sortidos, gesticulando, mastigando com avidez seus deliciosos canapés, admitiu que o teatro é, de fato, um "projeto para a classe alta". Além do mais, de acordo com Herzog, "é estúpido ser politicamente supercorreto [...] Dizer que é preciso cuidar só de pobres é uma hipocrisia." Afinal, os malditos pobres já vão uma vez por ano ao cinema, não é mesmo?!
Então, eis que um economista vem administrando a Secretaria de Cultura. Suas opiniões e, acima de tudo, suas ações refletem o interesse mercadológico e do mundo corporativo. Não há espaço para o autônomo, para o nacional, para a inovação e muito menos para a contestação. Sua postura neoliberal submete uma das pastas mais importantes do governo aos benefícios e lógicas dos meios empresariais.

Porém, não podemos alegar surpresa frente tal situação. Em São Paulo, a gestão estadual e municipal (Serra / Kassab) para a educação, saúde e, obviamente, cultura é a da lógica que atua contra a população, privilegiando uns e excluindo a quase todos. Trata-se de uma postura elitista, que articula o dinheiro público para favorecer apenas uns poucos grupos privados.

Somando um misto de privatização e prevaricação com uma plebe rude que, temerosa e desorientada, apóia quem gere a coisa pública contra a própria sociedade, o triste resultado é um economista cuidando da pasta da cultura, assemelhando-se muito ao Goebbels, chefe da propaganda hitlerista, que já dizia: quando eu ouço a palavra cultura, logo saco meu revólver?!

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Dia de Nossa Senhora da Conceição da Praia


São Paulo passou o dia de ontem e hoje praticamente com chuva. Com poucas horas de pausa, a água tomou conta da cidade. Muitos estabelecimentos não abriram por que seus funcionários não conseguiram chegar. Pontes interditadas, a defesa civil em alerta, caminhos alagados e muitas histórias para serem contadas... Bom, só gostaria de contar que hoje é dia de Nossa Senhora da Conceição da Praia. Em muitas capitais, particularmente nordestinas, e mesmo alguns Estados é feriado. Data para pensar sobre parte de nossas tradições. Parte outra para pensar o que estamos fazendo com essa cidade chamada São Paulo que vai ladeira abaixo. Parte também para lembra-los de montar a árvore de natal. E por fim, parte para comunicar que em breve começo a minha contribuição nada favoravel ao velhinho papai noel, mas isso fica pra depois. Agora a gente celebra o feriado em Salvador. Axé meu povo! porque amanhã não tem desculpa para não ir trabalhar.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Não começou em Seattle não vai acabar em Copenhagen

Por Naomi Klein
Tradução de artigo escrito ontem por Naomi Klein a respeito do aniversário do N30 e o anti-COP15 por vir.


N30! Quem viveu nunca esquecerá!

O aniversário dxs ativistas de Seattle em Copenhagen será muito desobediente

http://www.guardian.co.uk/commentisfree/cifamerica/2009/nov/12/seattle-coming-age-disobedient-copenhagen

A conferência do clima testemunhará uma nova maturidade do movimento que se iniciou uma década atrás. Mas isso não significa jogar mais seguro.

Naoime Klein
Guardian.co.uk, Quinta 12 de Novembro 2009 20.30 GMT

Outro dia recebi uma pré-publicação sobre A Batalha da História da Batalha de Seattle, por David e Rebecca Solnit. Feito para sair 10 anos após uma histórica coalizão de ativistas acabarem com o encontro da OMC em Seattle ? a fagulha que incendiou um movimento anti-coorporativo global.

O livro é um fascinante relato do que realmente aconteceu em Seattle; mas quando falei com David Solnit, o guru da ação direta que ajudou a acabar com o encontro, o encontrei menos interessado em relembrar sobre 1999 do que em falar sobre o encontro sobre aquecimento global das Nações Unidas que está por vir em Copenhagen e as ações de "justiça climática" que ele está ajudando a organizar nos EUA no 30 de Novembro. "Este é definitivamente um momento do tipo Seattle" Solnit me disse. "As pessoas estão prontas pra arrebentar."

Há, certamente, uma qualidade de Seattle nas mobilizações de Copenhagen: a gama de grupos que estarão lá; as tática diversas que serão mostradas; e os governos dos países em desenvolvimento [mais conhecidos como subdesenvolvidos N.T.] prontos a trazes as demandas dxs ativistas ao encontro. Mas Copenhagen não é meramente uma outra Seattle. Ao contrário, sente-se, ao mesmo tempo em que as placas tectônicas progressivamente se movem, a criação de um movimento que se constrói sobre as forças de uma era anterior mas também aprende com seus erros.

A grande crítica ao movimento que a mídia insiste em chamar de "anti-globalização" foi sempre que se tinha uma grande lista de queixas e poucas alternativas concretas. O movimento que se converge em Copenhagen, ao contrário, é sobre uma causa somente ? aquecimento global ? mas agita uma narrativa coerente sobre suas causas, e curas, que incorporam virtualmente cada questão no planeta.

Nessa narrativa, o clima não está mudando somente por causa de práticas poluidoras específicas mas em razão da latente lógica do capitalismo, que valoriza lucro a curto prazo e crescimento perpétuo sobre qualquer outra coisa. Nossos governos queriam que acreditássemos que a mesma lógica poderia ser aproveitada para resolver a crise climática ? criando um produto de troca chamado "carbono" e transformando florestas e áreas rurais em pias que iriam supostamente contrabalancear escorrendo tais emissões.

Ativistas em Copenhagen vão questionar isso, longe de resolver a crise climática, o negócio do carbono representa uma privatização sem precedentes da atmosfera, e essas compensações e "pias" virem a ser um recurso de proporções coloniais. Não somente essa "soluções-baseadas-no-mercado" falham em resolver o problema da crise climática, mas essa falha irá aprofundar os níveis de pobreza e desigualdade dramaticalmente pois os mais pobres e vulneráveis são as primeiras vítimas do aquecimento global ? assim como os porquinhos da índia para esses esquemas de negócios de emissão.

Mas xs ativistas em Copenhagen não vão somente dizer não a tudo isso. Elxs vão agressivamente avançar em soluções que simultaneamente reduzam as emissões e diminuam as desigualdades sociais. Diferente de encontros anteriores, onde alternativas pareciam ficar em segundo plano, em Copenhagen as alternativas estarão no centro do palco.


Por exemplo, a coalizão de ação direta Ação Justiça Climática tem chamado ativistas a perturbar o centro de conferências no 16 de Dezembro. Muitxs farão isso como parte do "bike bloc", pedalando juntxs mostrando a "irresistível nova máquina de resistência", feita de centenas de bikes velhas. O objetivo dessa ação não é bloquear o encontro, estilo-Seattle, mas abrí-lo, transformando-o em "um espaço para falar sobre nossa agenda, uma agenda dxs de baixo, uma agenda da justiça climática, de soluções reais contra as falsas ... Esses serão os nossos dias".

Algumas das soluções em oferta do campo ativista são as mesmas que o movimento por justiça global tem levado por anos: agricultura local e sustentável; projetos pequenos e descentralizados; respeito por terras e direitos indígenas; deixar os combustíveis fósseis no solo; e pagar por essas transformações através de impostos sobre transações financeiras e cancelando as dívidas externas. Algumas soluções são novas, como a demanda de que os países ricos paguem o "débito do clima" para a reparação dos países pobres. Temos visto, como no ano passado, o tipo de recursos que nossos governos podem dispor quando é para salvar as elites [crise capitalista 2008. N.T.]. Como um slogan pré-Copenhagen coloca: "Se o clima fosse um banco, já teria sido salvo" não abandonada à brutalidade do mercado.

Em adição à narrativa coerente e a focalização nas alternativas, existem ainda muitas outras mudanças: uma aproximação mais pensada à ação direta, uma que reconheça a urgência de se fazer mais do que ficar somente no discurso mas determinada a não entrar no velho script ativistas vs. polícia. "Nossa ação é uma desobediência civil," dizem xs organizadorxs da ação de 16 de Dezembro. "Passaremos por qualquer barreira que esteja em nosso caminho, mas não responderemos com violência se a polícia (tentar) agravar a situação." (Dito isso, não há como o encontro de 2 semanas não incluir uma poucas batalhas entre polícia e xs meninxs de preto; isso aqui é a Europa, no fim das contas.)

Uma década atrás, num comentário do New York Times após o bloqueio de Seattle, escrevi que um novo movimento reinvidicando uma forma radicalmente diferente de globalização "acabou de ter sua festa de estréia". Qual será a importância de Copenhagen? Coloco essa questão a John Jordan, cuja previsão do que eventualmente aconteceu em Seattle eu citei no meu livro No Logo. Ele respondeu: "Se Seattle foi a festa de estréia do movimento dos movimentos então provavelmente Copenhagen será a celebração do nosso amadurecimento."

Ele precavê, porém, que amadurecer não significa "jogar com mais segurança", ou abster-se de desobediência civil em favor de reuniões. "Espero crescermos para nos tornarmos muito mais desobedientes," disse Jordan, "porque a vida nesse nosso mundo pode terminar por cause de muitos atos de obediência"

* guardian.co.uk © Guardian News and Media Limited 2009

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Quem nunca viu venha ver.

Para quem ainda nao viu. A Ponte conta algo sobre nossa cidade, Sao Paulo. Depoimentos e imagens de lugares e pessoas que nao desistem.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Encontro da Luta Antimanicomial 2009

IX Encontro Nacional de Usuários e Familiares da Luta Antimanicomial
VIII Encontro Nacional da Luta Antimanicomial
Reforma Psiquiátrica: a revolução na comunidade!

É hora de afirmar!
De 26 a 29 de Novembro de 2009
São Bernardo do Campo
Região do Grande ABCDMRR - SP
Inscrições:http://www.osdevoltaparacasa.org.br/
Informações:http://br.mc343.mail.yahoo.com/mc/compose?to=osdevoltaparacasa@uol.com.br
Tel.: 11 4455-0825
Aviso aos Núcleos da Luta Antimanicomial: ainda há vagas subsidiadas para alimentação e hospedagem!

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Professor é...

Isso de ser professor é mesmo muito interessante. Não apenas pelas boas interpretações e intervenções que os alunos podem fazer -e eles as fazem- mas também pelas pérolas que nos revelam. Li esses dias em um dos relatórios de estágios de meus alunos, depois de contextualizarem a instituição onde eles estavam indo fazer sua intervenção (um ambulatório infantil), escreveram:
"Achamos o lugar muito bonito, mas nos surpreendeu a total falta de autoritarismo dos profissionais com as crianças, elas faziam o que queriam!"
Ainda não pude perguntar para minhas alunas o que exatamente eles entendem por "falta de autoritarismo", mas cá estou eu imaginando o que minhas queridas estagiárias fariam no lugar dos técnicos desse ambulatório. Ou será apenas uma questão mal interpretada do uso da "autoridade"? Veremos.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Cidinha da Silva estréia na literatura infanto-juvenil e apresenta sua obra em São Paulo!


A escritora mineira, Cidinha da Silva prepara o lançamento de mais um livro: Os nove pentes d’África. Desta vez, a autora direciona sua criação, a quarta, ao público infantil e juvenil. A publicação será apresentada, pela primeira vez no país, em noite de autógrafos na tradicional Feira do Livro de Porto Alegre, em sua 55ª edição.

Com um texto pautado pela emoção, em que a prosa a cada linha é pura poesia, a mais recente obra literária de Cidinha da Silva terá, com certeza, leitura disputada pelos adultos. A história construída em 56 páginas, com ilustração da atriz e artista plástica Iléa Ferraz, é lançamento da Mazza Edições, editora de Belo Horizonte, Minas Gerais.

A micro apresentação de seu novo livro, Cidinha da Silva expressa que Os nove pentes d'África" tecem um bordado de poesia e surpresa na tela de uma família negra brasileira. Os pentes herdados pelos nove netos de Francisco Ayrá, personagem condutor, são a pedra de toque para abordar a pulsão de vida presente nas experiências das personagens e rituais cotidianos da narrativa.

O livro de Cidinha da Silva cativa pela descrição minuciosa do universo das relações familiares, pela reverência à sabedoria dos mais velhos e à ancestralidade africana. A motivação criadora, segundo Cidinha da Silva, veio de casa, dos pequenos da família “e em especial, de uma sobrinha que, aos seis anos, em processo de alfabetização, soletrava as letras do Tridente - referência ao seu segundo livro Cada Tridente em seu lugar” -. Aquilo me comovia e angustiava. Expliquei que se tratava de um livro para adultos, por isso as letras eram pequenas e daí sua dificuldade para ler. Ela então me perguntou: “- Tia quando você vai escrever livros para crianças?”.

Era a senha que faltava para a escritora mergulhar nesse novo processo criativo. Ela está fascinada pela experiência. “Creio que farei este caminho por algum tempo. Estou determinada a ser lida pelos pequenos da minha casa, enquanto são pequenos, e fico felicíssima quando minhas sobrinhas e irmãos levam meus livros para a biblioteca da escola em que estudam, ou quando encontram meus livros por lá e vêm me contar. É delicioso sentir que eles têm orgulho de mim e agora poderão ler minha literatura sem esforço, apenas por prazer”.

Outras publicações da autora – “Ações afirmativas em educação: experiências brasileiras”, de 2003, um livro de ensaios organizado por Cidinha da Silva com a parceria de sete outros autores e autoras. “Cada tridente em seu lugar”, já em segunda edição (2006/2007), é o primeiro livro de ficção. Em 2008, Cidinha da Silva publicou “Você me deixe, viu? Eu vou bater meu tambor”, um conjunto de 26 textos, entre crônicas e mini-contos, que gira em torno das afetividades, da sexualidade, do amor e do corpo.

Serviço

O que é: Lançamento do livro de Cidinha da Silva: Os nove pentes d´Áfric

Quando: 21/11/09

Horário: 20:00

Onde: ODUN Formação e Produção - Rua Jardim Francisco Marcos, N.180, Bela Vista
Informações: (11) 31057247


sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Vai ser em Sampa também!

O novo livro de Cidinha da Silva estará sendo lançado em São Paulo em breve. Os nove pentes d'África (ed. Mazza) estará com a autora dia 21/11, às 20:00, na Odun - Formação e Produção e dia 23/11, às 19:00, na Casa das Áfricas. Em breve mais notícias!
"Cidinha da Silva é uma amiga minha que escreve como quem trança ou destrança cabelos e nos presenteia com pentes presentes cheios de passado que nos ajudam a destrinçar o futuro. Seus pentes são pontes de compreensão entre o que somos nós negros brasileiros agora, nossos avós recentes e os tais ancestrais africanos. E pontes entre nós e nossos filhos e sobrinhos, os que vêm depois de nós. Compreensão aqui que eu digo é aquele entendimento afetuoso, apaixonado até e cheio de compaixão no sentido de gratidão pelo que se é. Pelo que nós somos: família, solidariedade e contradição na difícil tarefa de encontrarmos, cada um, nosso papel de levar adiante a história coletiva e ao mesmo tempo afirmar o traço intransferivelmente pessoal do indivíduo. Estar com a mãe e nascer, ser da famíla e ir embora, constituir a sua própria (que ainda é a mesma). É aí que mora o penteado: saber qual é o pente que te penteia. Para os mais jovens, a quem se destina a princípio este livro, mas também para os nem tão jovens assim são generosas as pistas sopradas ao nosso ouvido por essa contadora de história. Escutadora atenta, agora vem a griot nos atentar doce e profundamente. Vem aqui nos alentar deschavandos e nos ajudando a achar laços nesse desconchavado mundo. Vem reforçar nossas ligações básicas, comunitárias, domésticas. É tão certeiro e tão bem-vindo esse livro que lê-lo me encheu de orgulho e admiração. Pelo tema e pela forma. Sei que os próximos leitores de "Pentes" sentir-se-ão gratos a Cidinha da Silva, como eu". (Chico César, compositor).

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

De São José

Aconteceu numa das tardes que caminhava pelo centro da cidade. Tenho uma "janela" logo após o almoço e costumo caminhar pelas ruas de São José dos Campos que me são mais acessíveis para conhecer melhor a cidade onde trabalho. O centro, seja de qual cidade for, sempre me interessa. Alí sempre está concentrada uma espécie de democracia direta, é o lugar que reúne a diversidade e que revela bem a cidade a qual pertence. O centro precisa conviver com a diferença, ele é a convergência, a aglutinação da diversidade por excelência. Enfim, adoro o centro! O de São José revela essa particularidade também. Simultaneamente é o típico interior paulista com um tanto da metrópole, da conversa tranqüila do caipira e do passo acelerado dos comerciantes. A principal praça do centro de São José é a Afonso Pena. Bem cuidada e arborizada, possui uma fonte central, é cercada por algumas lojas de armarinhos, móveis e eletrodomésticos, agências bancárias, um restaurante, uma escola, um distrito policial, algumas bancas de jornal e livros usados, barraquinhas de lanches a preços populares e parte do Banhado, principal cartão postal da cidade de onde se pode ver o pôr do sol. Os tipos que a habitam também são bem ecléticos e são esses que me interessam mais. Estão por alí no horário comercial, inúmeros trabalhadores do comércio, estudantes, donas de casa, senhores com chapéu de palha e trabalhadoras do sexo. Realmente me chamou atenção essa atividade por lá, mas é isso mesmo. Estão em um dos cantos da praça as crianças brincando no chafariz, no outro os idosos papeando e jogam baralho, e em outra parte, as trabalhadoras do sexo que oferecem seus serviços para que estiver interessado. Muito tranquilas, discretas e educadas, permanecem sentadas na mureta do jardim, ou em pé, sozinhas, em dupla ou trio, esperando a abordagem dos clientes. Como disse, numa tarde dessas caminhando pelo centro, depois de comprar um sorvete, resolvi sentar num dos bancos próximo as meninas para pensar sobre os problemas da existência que afligiam minha alma naquele momento. Não me dei conta quando uma delas sentou no mesmo banco que eu. Não disse nada. Nem ela. Passados alguns segundos ela me fala:

-Vamos?
-Obrigado, mas acho que não.
Alguns segundos depois pergunto:
-E quanto é?
-40, mais 10 do hotel.
-E você fica sempre aqui?
-Todos os dias, de segunda a sexta, das 9:00 às 18:00.
-Horário comercial mesmo. Não trabalha a noite?
-Não, tenho que cuidar da casa, então só de dia.
-Entendi.

Ela se dando conta que alí não tinha cliente também não disse mais nada. Ainda assim me tratou com simpatia e permaneceu sentada olhando as crianças brincando. Terminei meu sorvete, me despedi com um "até logo" e um aceno de mão e voltei a caminhar em direção a meu trabalho.
Vim a saber depois por uma de minhas alunas, joseense nativa de quase trinta anos, que a praça é ponto dessas trabalhadoras antes mesmo dela nascer. Interessante, não? Fico intrigado para entender melhor dessa convivencia entre tantos tipos distintos numa cidade como São José. Talvez, como disse antes, seja a beleza e o encantamento das diferenças do centro que permita essa aglomeração de identidades tão múltiplas.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Após o Zapatismo


"FHC: O Filho da P..." - A Nova Superprodução do Cinema Nacional.

Incomodados com a repercussão que o filme “Lula, O Filho do Brasil” está tendo mesmo antes de sua estréia, os principais líderes demo-tucanos decidiram dar o troco produzindo uma cinebiografia de seu guru-mor: o "príncipe dos sociólogos" Fernando Henrique Cardoso - primeiro e único. Financiado com recursos provenientes do governo do Rio Grande do Sul, do Banco Opportunity, de sobras de campanha e de uma graninha que restou de um capilé que a CIA mandava para o biografado na década de 70, o filme “FHC, o Filho da P...” já nasce como um clássico do cinema (trans) nacional. Reunindo um elenco estelar, a película recebeu aplausos unânimes dos críticos dos principais veículos de comunicação do país. O único dilema desta crítica especializada foi saber de que forma classificar o filme: se como terror, como drama ou como policial. O “Abobrinhas Psicodélicas”, em mais um furo de reportagem, publica em primeira mão o cartaz e a ficha técnica desta obra que, definitivamente, entrará para os anais (ops!) da sétima arte. Portanto, não deixe de ampliar a imagem abaixo para apreciar os detalhes deste belíssimo cartaz, que faz juz à estatura intelectual e política do homenageado.


Ficha Técnica:

Título Original: “FHC, The Son of B…”

Gênero: Drama/Terror/Policial

Produção: Brasil/EUA

Ano: 2010

Direção: Arnaldo Jabor

Distribuição: Globo Filmes e FMI Pictures

Direção de Arte: Nizan Guanaes

Efeitos Especiais: Hans Doner

Roteiro: Ali Kamel e Diogo Mainardi

Inspiração Espiritual: Roberto Marinho (psicografado por Ana Maria Braga)

Trilha Sonora: Caetano Veloso (incluindo a música-tema: “Você não vale nada, mas eu gosto de você”, na voz e no violão deste grande compositor e intelectual baiano)

Figurinos: Merval Pereira

Moça do Cafezinho: Miriam Leitão

Elenco: FHC (o próprio), Daniel Dantas, Gilmar Mendes, Geraldo Brindeiro, Ronivon Santiago, Ricardo Sérgio, José “Nosferatu” Serra, Herr Jürgen Bornhausen, Carlos Augusto Montenegro, Ronaldo “little jet” Sardenberg, Celso “no shoes” Lafer, Eduardo Jorge.

Participações Especiais: Miriam Dutra e Regina Duarte

terça-feira, 10 de novembro de 2009

As turbas têm um ponto em comum: detestam a ideia de que a mulher tenha desejo próprio

CONTARDO CALLIGARIS
Folha de S. Paulo - Ilustrada - 5/11

NA SEMANA passada, em São Bernardo, uma estudante de primeiro ano do curso noturno de turismo da Uniban (Universidade Bandeirante de São Paulo) foi para a faculdade pronta para encontrar seu namorado depois das aulas: estava de minivestido rosa, saltos altos, maquiagem -uniforme de balada.

O resultado foi que 700 alunos da Uniban saíram das salas de aula e se aglomeraram numa turba: xingaram, tocaram, fotografaram e filmaram a moça. Com seus celulares ligados na mão, como tochas levantadas, eles pareciam uma ralé do século 16 querendo tocar fogo numa perigosa bruxa.

A história acabou com a jovem estudante trancada na sala de sua turma, com a multidão pressionando, por porta e janelas, pedindo explicitamente que ela fosse entregue para ser estuprada. Alguns colegas, funcionários e professores conseguiram proteger a moça até a chegada da PM, que a tirou da escola sob escolta, mas não pôde evitar que sua saída fosse acompanhada pelo coro dos boçais escandindo: "Pu-ta, pu-ta, pu-ta".

Entre esses boçais, houve aqueles que explicaram o acontecido como um "justo" protesto contra a "inadequação" da roupa da colega. Difícil levá-los a sério, visto que uma boa metade deles saiu das salas de aula com seu chapéu cravado na cabeça.

Então, o que aconteceu? Para responder, demos uma volta pelos estádios de futebol ou pelas salas de estar das famílias na hora da transmissão de um jogo. Pois bem, nos estádios ou nas salas, todos (maiores ou menores) vocalizam sua opinião dos jogadores e da torcida do time adversário (assim como do árbitro, claro, sempre "vendido") de duas maneiras fundamentais: "veados" e "filhos da puta".

Esses insultos são invariavelmente escolhidos por serem, na opinião de ambas as torcidas, os que mais podem ferir os adversários. E o método da escolha é simples: a gente sempre acha que o pior insulto é o que mais nos ofenderia. Ou seja, "veados" e "filhos da puta" são os insultos que todos lançam porque são os que ninguém quer ouvir.

Cuidado: "veado", nesse caso, não significa genericamente homossexual. Tanto assim que os ditos "veados", por exemplo, são encorajados vivamente a pegar no sexo de quem os insulta ou a ficar de quatro para que possam ser "usados" por seus ofensores. "Veado", nesse insulto, está mais para "bichinha", "mulherzinha" ou, simplesmente, "mulher".

Quanto a "filho da puta", é óbvio que ninguém acredita que todas as mães da torcida adversa sejam profissionais do sexo. "Puta", nesse caso (assim como no coro da Uniban), significa mulher licenciosa, mulher que poderia (pasme!) gostar de sexo.

Os membros das torcidas e os 700 da Uniban descobrem assim um terreno comum: é o ódio do feminino -não das mulheres como gênero, mas do feminino, ou seja, da ideia de que as mulheres tenham ou possam ter um desejo próprio.

O estupro é, para essas turbas, o grande remédio: punitivo e corretivo. Como assim? Simples: uma mulher se aventura a desejar? Ela tem a impudência de "querer"? Pois vamos lhe lembrar que sexo, para ela, deve permanecer um sofrimento imposto, uma violência sofrida -nunca uma iniciativa ou um prazer.

A violência e o desprezo aplicados coletivamente pelo grupo só servem para esconder a insuficiência de cada um, se ele tivesse que responder ao desejo e às expectativas de uma parceira, em vez de lhe impor uma transa forçada.

Espero que o Ministério Público persiga os membros da turba da Uniban que incitaram ao estupro. Espero que a jovem estudante encontre um advogado que a ajude a exigir da própria Uniban (incapaz de garantir a segurança de seus alunos) todos os danos morais aos quais ela tem direito. E espero que, com isso, a Uniban se interrogue com urgência sobre como agir contra a ignorância e a vulnerabilidade aos piores efeitos grupais de 700 de seus estudantes. Uma sugestão, só para começar: que tal uma sessão de "Zorba, o Grego", com redação obrigatória no fim?

Agora, devo umas desculpas a todas as mulheres que militam ou militaram no feminismo. Ainda recentemente, pensei (e disse, numa entrevista) que, ao meu ver, o feminismo tinha chegado ao fim de sua tarefa histórica. Em particular, eu acreditava que, depois de 40 anos de luta feminista, ao menos um objetivo tivesse sido atingido: o reconhecimento pelos homens de que as mulheres (também) desejam. Pois é, os fatos provam que eu estava errado.

PARTICIPE DESSE ATO!

POR FAVOR, DIVULGUEM AMPLAMENTE E COMPAREÇAM!

CONVOCAÇÃO AO POVO DE SÃO PAULO
Nesta quinta-feira dia 12 de Novembro
Apartir das 16h00 no MASP
PARTICIPE DESSE ATO DE REPÚDIO


*Shimon Peres Senhor da Guerra vem a São Paulo *

Nós, da Frente em Defesa do Povo Palestino de São Paulo, que reúne movimentos sociais, organizações não-governamentais, associações da sociedade civil e partidos políticos, desejamos tornar público nosso repúdio à visita de Shimon Peres, presidente de Israel, ao Brasil no dia 12 de novembro.

O partido de Shimon Peres é o Kadima, um partido israelense fundado por Ariel Sharon, que coordenou os massacres de Sabra e Chatila no Líbano em 1982 e organizou a sangrenta repressão à segunda Intifada em 2000, que ele mesmo havia provocado. A atual presidente do Kadima é Tzipi Livni, que disputava o “mérito” da organização do massacre deGaza em janeiro de 2009.

Shimon Peres disse, em entrevista ao /Expresso, /diário português, que “no fim, o mundo irá agradecer-nos” pelo massacre em Gaza, pelos 1500 mortos, pela destruição completa de um território que já vinha sofrendo dois anos de fechamento de fronteiras. É também um presidente que defende o crescimento dos assentamentos na Cisjordânia e a expansão do Muro que dilacera a sociedade palestina.

Esse porta-voz de Israel será recebido pelos dignatários brasileiros e pelos empresários paulistas, na semana em que o mundo se levanta contra o Muro do Apartheid. A Fiesp organizará um seminário especial destinado a discutir as relações comerciais Brasil-Israel e o Acordo de Livre Comércio Mercosul-Israel, pautado para votação no Congresso. Além de Shimon Peres, falará o presidente da empresa israelense Elbit, desenvolvedora dos principais armamentos e tanques israelenses usados no massacre em Gaza.

Qual mensagem o Brasil passa ao mundo com essa visita? A mensagem de que senhores da guerra podem testar seus equipamentos contra populações infinitamente menos preparadas e depois vendê-los a outros países, sedimentando assim as “parcerias estratégicas”.

Perante tal cinismo do empresariado paulista e dos governos estadual e federal, nós livantamos nossa voz.


*PARTICIPE DESSE ATO A PARTIR DAS 16H NO MASP*

domingo, 8 de novembro de 2009

ESPELHO ATLÂNTICO – MOSTRA DE CINEMA DA ÁFRICA E DA DIÁSPORA


Após o furor cinematrográfico provocado pela Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que neste ano não exibiu nenhum filme africano, a Matilha Cultural e a curadora Lilian Solá Santiago promovem a ESPELHO ATLÂNTICO – MOSTRA DE CINEMA DA ÁFRICA E DA DIÁSPORA, como programação exclusiva para o Mês da Consciência Negra. A seleção de filmes propõe um olhar contemporâneo da diversidade cultural do vasto continente africano e de seus descendentes dispersos pelo mundo.
A ESPELHO ATLÂNTICO vêm sendo realizada há dois anos na Caixa Cultural do Rio de Janeiro, acompanhada por um público crescente e fiel. O cronograma do evento paulistano inclui a exibição de 11 filmes, africanos, europeus e brasileiros sobre a temática, sendo a maioria inédita em São Paulo.
A abertura da Mostra acontece na terça-feira, 10 de novembro às 19 horas, no Espaço Matilha Cultural, com coquetel e a primeira exibição em 35mm de “Graffiti”, dirigido por Lilian Solá Santiago. Na noite da abertura, haverá também uma performance CORES DA PERCUSSÃO, com o duo Simone Soul e Marina Uehara.

De 10 a 15 de novembro de 2009 (terça a domingo)

Exibições gratuítas, sempre às 19:00h.

ESPAÇO MATILHA CULTURAL
R. Rego Freitas 542 - São Paulo – Brasil (próx. à R. da Consolação)
fone:11 3256.2636

Mais informações sobre a Mostra:

http://liliansantiago.blogspot.com/

http://matilhacultural.com.br/2009/10/espelho-atlantico-mostra-de-cinema-da-africa-e-da-diaspora/


PROGRAMAÇÃO E SINOPSES

Dia 10/11 - terça-feira - abertura com coquetel

Graffiti (ficção / documentário)

Lílian Solá Santiago (Brasil, 2008, 10 min.)
São Paulo é a cidade mais grafitada do mundo. "Graffiti" acompanha o rolê solitário de Alê numa das semanas mais sinistras que essa cidade já viveu – dos ataques do PCC, e a violenta revanche da polícia em 2006. O que o move a enfrentar as ruas nessa noite? Ganhador do Prêmio Estímulo ao Curta-Metragem. Com Sidney Santiago e Chico Santo.

Sessões: 19:30, 20:00, 21:00 e 21:30 horas.

Dia 11/11 – quarta-feira

O som e o resto (ficção)
André Lavaquial (Brasil, 2007, 23min)
Jahir é um virtuoso baterista carioca que toca numa banda evangélica. Ao se indispor com o pastor da igreja, se vê sozinho na rua com seu instrumento e inicia uma jornada existencial rumo à sua música. Participou de importantes festivais internacionais e, em 2008, foi o único curta-metragem brasileiro a conquistar uma vaga do Festival de Cannes, na seção Cinéfondation.

Cariocas (documentário)
Ariel de Bigault (França, 1989, 57 min.)
“Cariocas” mostra diversas facetas do samba no Rio de Janeiro. Grande Otelo, nos guia ao encontro dos grandes músicos da cidade. Realizado originalmente para a TV francesa, conta com importantes depoimentos de Martinho da Vila, Paulo Moura, Velha Guarda da Portela, Nelson Sargento, Wilson Moreira, e Joel Rufino dos Santos.

Dia 12/11 – quinta-feira
Balé de pé no chão (documentário)
Lilian Solá Santiago e Marianna Monteiro (Brasil, 2006, 17 min.)
Documentário sobre Mercedes Baptista, principal precursora da dança afro-brasileira. Bailarina de formação erudita, cria seu grupo na década de 50, e estuda os movimentos do candomblé e das danças folclóricas. Participou de vários festivais nacionais e internacionais. A versão de 52 minutos para televisão ganhou, entre outros, o Prêmio de Melhor Documentário no I Hollywood Brazilian Film Festival, 2009.

Esperando os homens (documentário)
Katy Lena Ndiaye (Senegal/ Mauritânia/ Bélgica, 2007, 56 min.)
Em Hassania, no abrigo de Oualata, uma cidade vermelha na fronteira distante do deserto de Sahara, três mulheres praticam pintura tradicional decorando as paredes da cidade. Em uma sociedade dominada pela tradição, pela religião e pelos homens, estas mulheres expressam-se livremente, discutindo o relacionamento entre homens e mulheres. Presente em mais de 20 festivais internacionais.

Dia 13/11 – sexta-feira
Ossudo (ficção / animação)
Júlio Alves (Portugal, 2007, 14 min.)
Baseado no conto "Ossos", do famoso escritor moçambicano Mia Couto, este filme é uma história de amor entre duas pessoas desamparadas. Participou de mais de vinte festivais pelo mundo. Recebeu, entre outros, o Troféu de Melhor Filme Português e o Troféu Ouro Animação no 36º Festival Internacional do Algarve.

Kuxa Kanema – O nascimento do cinema (documentário)
Margarida Cardoso (Bélgica / França / Portugal, 2003, 52min.)
O governo Moçambicano cria após a independência, em 1975, o Instituto Nacional de Cinema (INC), pois o presidente, Samora Machel, sabia do poder da imagem para a nação socialista. O filme acompanha a ruína do INC após um incêndio e a desilusão dos moçambicanos com o regime. Vencedor do Festival de Nova York de Filmes Africanos, entre outros.

Dia 14/11 – sábado
Maria sem graça (ficção)
Leandro Godinho ( Brasil, 2007, 14min.)
Maria das Graças, menina negra de 12 anos, moradora da periferia de São Paulo, atormenta a vida de sua mãe para alcançar seu maior sonho: ser a apresentadora Xuxa Meneghel. Selecionado para o Festival Internacional de curta-metragens de São Paulo.

Cabo Verde, meu amor (ficção)
Ana Lisboa (Portugal/ França/ Cabo Verde, 2007, 76 min.)
A condição feminina em Cabo Verde na atualidade é o foco principal deste primeiro longa metragem da cineasta Ana Lisboa. Falado em crioulo cabo-verdiano, foi totalmente rodado na Cidade da Praia com um vasto elenco de atores amadores. Primeiro filme realizado e produzido em Cabo Verde, por cabo-verdianos.

Dia 15/11 – domingo
Black Berlim (ficção)
Sabrina Fidalgo (Alemanha / Brasil, 2009, 15 min.)
Nelson é um jovem baiano estudante de engenharia em Berlim. Na capital alemã, leva uma vida muito distante de suas verdadeiras raízes. Porém tudo muda quando ele frequentemente passa a encontrar Maria, uma imigrante ilegal do Senegal. Apesar de ignora-la ele começa a ter visões de personagens estereotipados, que o remetem a um passado que ele prefereria esquecer. Inédito.

O Herói (ficção)
Zezé Gamboa (Angola / França / Portugal, 2004, 97 min.)
Um soldado mutilado na explosão de uma mina volta à Luanda após 20 anos de combates. No elenco o senegalês Makena Diop, as brasileiras Maria Ceiça e Neuza Borges. Premiado no Festival de Sundance (EUA) e no Festival de Cinema Africano de Milão, entre outros.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Sobre Exu

Não foi eu ter acabado de falar de minha admiração e respeito por Exu, leio no blog do Bruno Ribeiro esse ótimo texto falando sobre a intolerância religiosa que ainda permeia nossa gente. Leiam vocês mesmos. Inté!
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Nas religiões afro-brasileiras, Exu é o mensageiro entre o Céu e a Terra (entre o Orum e o Ayiê, como dizemos no Candomblé). É o único orixá com liberdade para circular nas duas esferas. Por esta razão, Exu apresenta, entre suas inúmeras virtudes, também numerosos defeitos ou vícios humanos. Sua personalidade contraditória e imprevisível talvez ajude a explicar a associação equivocada que a Igreja Católica, ainda no tempo das caravelas, fez entre Exu e o Diabo.

Longe de ser um demônio, Exu é uma energia vital, presente em todas as coisas que se movem. Sem a sua energia, quase nada seria possível. Exu não é bom e nem mau, posto que o Candomblé desconhece o maniqueísmo. Exu é simplesmente a fagulha que detona os grandes acontecimentos, seja ele o nascimento de uma criança ou a guerra mais sangrenta. Os conceitos de Bem e Mal, para o povo-de-santo, não existem; pelo menos, não da forma como os cristãos concebem tais valores.

Exu não é santo, não é diabo, não é espírito. Exu é um orixá, ou seja, uma divindade mitológica africana. E é também um princípio. Nenhuma entidade, como ele, foi vítima de tanto preconceito ao longo da história. Quando o povo brasileiro ainda estava sendo formado, lá pelos idos da escravidão, o culto a Exu foi proibido pela Igreja. Relegado ao submundo dos porões e dos becos mais escuros, acabou ganhando uma conotação de culto macabro, misterioso, feito nas sombras da noite. Puro preconceito. Nada ou ninguém pode ser mais solar e festivo do que Exu.

E ainda hoje, se os senhores querem saber, Exu é o alvo maior do preconceito que recai sobre a religião de milhões de brasileiros, dentre os quais me incluo. Grande parte deste preconceito, sem dúvida a maior, vem atualmente das igrejas neopentecostais que estão proliferando no País, sobretudo nos lugares mais pobres – onde é mais fácil colocar em Exu a culpa pela miséria, pela prostituição, pelo desemprego, pelo alcoolismo...

Não faz muito tempo, a professora Maria Cristina Marques, que leciona Literatura Brasileira em uma escola de Macaé, município do Rio de Janeiro, foi proibida pela diretora de trabalhar com seus alunos as histórias do ótimo livro Lendas de Exu, de Adilson Martins, recomendado pelo Ministério da Educação (MEC). Mary Lice Petrilo, a diretora, é evangélica. Além de proibir sua funcionária de apresentar aos alunos lendas afro-brasileiras – lendas que, aliás, trazem ensinamentos e valores morais belíssimos – espalhou provérbios bíblicos na sala dos professores, com a intenção de "salvar" a alma de Maria Cristina, que é umbandista.

De nada adiantou. A professora, acertadamente, entrou com notícia-crime no Ministério Público e denunciou a diretora da escola, por se sentir vítima de intolerância religiosa. Ela não estava trabalhando questões religiosas dentro de sala de aula, mas literárias e culturais. Mesmo assim, não se livrou das humilhações que sofreu por parte da direção – Petrilo acusou Maria Cristina de estar fazendo apologia do diabo.
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A professora, que fora afastada, continua no exercício de suas funções, respaldada por decisão da Procuradoria do Município e da Secretaria de Educação. Porém, segundo ela, mães de alunos, todas evangélicas, querem proibi-la de dar aulas sobre a História da África. “Algumas disseram que eu estava usando os alunos para fazer magia negra e comercializar os órgãos das crianças”, disse.

A nota à imprensa, publicada pela Secretaria de Educação de Macaé, toma providência enérgica e justíssima contra o ato de intolerância. O conteúdo, na íntegra, pode ser lido no blog do escritor e compositor Nei Lopes (clique aqui). Para saber mais sobre o lamentável caso, acessem o portal online do jornal O Dia (cliquem aqui)
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Laroiê, Elegbara!

Claude Lévi-Strauss

Bruxelas, 28 de novembro de 1908-Paris, 30 de outubro de 2009

Ocupe!

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Quando preciso olhar mais para meus pés

Caminho por dois lugares quanto a espiritualidade. Tem gente que não encara isso com bons olhos, acha complicado, pensa que caminhar por caminhos distintos na senda da religiosidade é um ecletismo desnecessário. Talvez, mas eu tenho aqui comigo uma certeza: como um perfeito par de sapatos, cada um voltado para um lado, com sua função bem definida, o budismo e a umbanda são uma perfeita combinação. Não apenas por me auxiliarem, mas por as vezes serem meus próprios pés. Não é ecletismo, papagaida de nova era que aceita qualquer coisa em nome de uma pseudo diversidade, tampouco coisa de quem não sabe o que quer. A umbanda é um de meus modos de permanecer na tradição, é a religião do meu povo, da minha casa, da minha terra. Há nela um olhor tão belo e lindo que para mim é a experiência da amorosidade única. E como a muito tempo ando eu sedento de povo e terra é alí que faço minha oração e aprofundo os fundamentos, é o mistério, a magia e aceitação. Alí ninguém nunca disse que estava certo ou errado. Nesse espaço e nesse encontro posso aceitar o Tempo, saber melhor que acaso é um luxo que quase nunca temos. É a força do combate bem sucedido. Já no budismo a coisa é diferente. Pelo menos no que estudei e tento experimentar é o olhar da prática da compaixão. é saber o que o outro sente sem precisar passar por aquilo. Dos ensinamentos de Sidartha vieram os esforços para a ação correta, para a ação sem reação. É observar para acalmar seu pensamento e seu corpo. Perceber a impermanência, anicca... Sempre o bom combate pela paciência. Esse encontro é de resignação porque sabe do momento para mudar, para deixar partir, mesmo quando não tenho a menor idéia do que estou fazendo. Cria movimento, é o caos, é silêncio. Também é quando choro, quando a dor cala fundo. E esta tudo bem. É a ambiguidade. Minha singularidade que precisa ser, que quer acontecer. O que me interessa nesse espaços é que a conotação de bem/mal, certo/errado, corpo/mente é percebida de modo bem diferente do que o habitual. Ela não é a dualidade. Sua moralidade é para o bem comum e os desejos para meu crescimento. As vezes os dias são por demais conflitivos e o medo maior do que conheço, e é nesses dias que chamo Exu para sentar e meditar comigo. Ele me acompanha e não fala muito. Exu não é apenas conhecimento, é sabedoria. Ele me mostra pelo lugar que caminho onde é que esta meu apego e minha aversão. Exu é aquele que caminha pelo Vazio! É a máxima do ditado que professa que é dando que se recebe. Exu é a perfeita prática do discurso sobre o Carma. Sabe que ações não são melhores ou piores, mas que elas tem consequências! Ele é o Mestre que não se pode vencer. Ele é conhecedor do Dharmma e para esses não há caminhos desconhecidos. Quando Buda caminhou pela terra a tantos séculos atrás e conheceu as Nobres Verdades em sua iluminação, reverenciou todos os seres de todos os mundos existentes com a cabeça tocando a terra em uma encruzilhada. Há dias mais conturbados sim, e nesses dias eu agradeço por Exu sentar e meditar comigo. O que não me surpreende é que ele sempre aceita.

“Invertir en salud mental comunitaria”

BENEDETTO SARACENO, DIRECTOR DE SALUD MENTAL DE LA ORGANIZACION MUNDIAL DE LA SALUD
El especialista italiano advierte que en la Argentina “hay un exceso de camas psiquiátricas”. Destaca los modelos de Brasil y Chile, donde hay menos internaciones y más atención ambulatoria. Propone crear una red de atención comunitaria.

Por Pedro Lipcovich
“Hoy la OMS dice claramente: manicomios, nunca más”, advierte Benedetto Saraceno, director del Departamento de Salud Mental de la Organización Mundial de la Salud. El destacado especialista italiano, en un breve viaje a Buenos Aires, explicó a Página/12 que la “desmanicomialización –fue la palabra que eligió, en su perfecto castellano– forma parte del discurso aceptado en salud pública”. Saraceno destacó el ejemplo de dos países. Uno es Brasil, donde “en los últimos quince años cayó la cantidad de camas en los manicomios, mientras subía la cantidad de centros ambulatorios en salud mental, en el marco de una política sostenida por gobiernos de distintos signos partidarios”. El otro es Chile, donde también “cayeron las internaciones psiquiátricas, mientras subía la presencia de la salud mental en las salas de atención clínica”. En cambio, “en la Argentina hay un exceso de camas psiquiátricas”, señaló el jefe de salud mental de la OMS. Saraceno destacó la necesidad de que, en las reformas, participen los pacientes psiquiátricos, “porque ellos son los que mejor saben cuáles son los problemas en la atención”.

–¿Cómo evalúa la situación actual, en el mundo, en el orden de la enfermedad mental y sus instituciones?
–Hoy la idea de que la atención a las enfermedades mentales no puede centrarse en hospitales psiquiátricos no pertenece ya a una minoría innovadora, sino que forma parte del pensamiento de la salud pública en muchísimos países; es parte del discurso aceptado por la salud pública. Hace treinta años, la OMS no tenía una actitud tan clara y tajante. A partir de su Informe de 2001, la OMS dice claramente: manicomios, nunca más.

–¿Cuál es el modelo que, en cambio, hoy reconoce la OMS?
–La salud mental no se hace en manicomios, sino con fuerte inversión en salud mental comunitaria y en atención primaria, y poniendo en primer lugar los derechos ciudadanos de los pacientes. Hace treinta años había “esquizofrénicos argentinos”, o de cualquier nacionalidad; hoy hay argentinos que tienen esquizofrenia. No estoy jugando con las palabras, sino refiriéndome al hecho de que cualquier persona, cualquiera sea el tipo de discapacidad que pueda sufrir, es primero un ciudadano. Primero, tiene derechos y, después, una discapacidad.

–¿Cómo este cambio de paradigma se expresa en distintos países?
–Este discurso, tan aceptado, no se implementa en todo el mundo. Hay mucha heterogeneidad. No me voy a centrar en Europa, donde, desde las décadas de 1970 y 1980, primero Italia y España, después Inglaterra, Escocia, Irlanda, Portugal y otros países encararon la desinstitucionalización. También países en vías de desarrollo avanzaron mucho, y en algunos casos no se limitaron a tomar modelos de otros países, sino que los construyeron a partir de su propia realidad. Un caso es el de Brasil, que hace quince o veinte años tenía una población manicomial enorme y con un aspecto particularmente dramático, que era la presencia de manicomios privados, sin supervisión del Estado.

–¿“Manicomios privados”? ¿Se refiere a clínicas de internación psiquiátrica, como las hay en la Argentina?
–Clínicas donde el Estado pagaba una cuota diaria por cada paciente: el Ministerio de Salud de Brasil empezó por evaluar la calidad de esos lugares; si no era buena, cortaba los fondos. En todo caso, la naturaleza misma de estas instituciones las lleva a defender el sistema manicomial. Dentro del sistema público, es más fácil movilizar los fondos, que pueden trasladarse desde la cama psiquiátrica hacia la comunidad. Al dueño del lugar privado de internación nunca le conviene que vayan recursos a la comunidad, porque su interés es mantener un alto número de pacientes para garantizar su interés económico.

–¿Cómo fue la reforma de la salud mental en Brasil?
–Brasil, en quince años, bajó en forma impresionante la cantidad de camas en manicomios. Al mismo tiempo, la cantidad de centros de atención psicosocial (CAPS) subió desde 80 a más de mil: la baja en la población manicomial fue correlativa con el aumento en los recursos de salud mental comunitaria financiada por el sector público. Brasil en esto mostró un liderazgo en América latina y, diría también, en el mundo.

–¿Qué más configuró el modelo brasileño?
–Una característica específica de Brasil es la involucración de los usuarios de los servicios. He visto reuniones organizadas por el Ministerio de Salud, en Brasilia, con presencia de centenares de usuarios que llegaban en buses financiados por el Estado. Los usuarios no sólo participaban en las discusiones, sino también en las votaciones: era una democratización del proceso de reforma. Y esa reunión fue hace varios años, cuando el partido que gobernaba era otro: la lucha antimanicomial en Brasil se sostuvo con distintos gobiernos, más conservadores o más progresistas. Esto es un factor muy importante.

–¿Qué otro país ofrece enseñanzas?
–Chile, donde hubo una notable disminución de camas psiquiátricas, con gran fortalecimiento de la red comunitaria. Una característica propia de este país ha sido la gran inversión y desarrollo de la atención primaria de la salud en general. Uno de sus aspectos es que los profesionales que hacen atención primaria están muy entrenados para manejar problemas de salud mental. Otra característica importante es la coherencia institucional. En la Argentina, advierto una fuerte fragmentación en la salud: están la Nación, las provincias, los municipios, los gremios, las organizaciones. Aunque esto pueda implicar una mayor vivacidad social, así el consenso debe buscarse entre muchos más actores. En Chile, en cambio, el Ministerio de Salud nacional toma decisiones, define reformas y las financia.

–¿Qué más observa sobre la salud mental en la Argentina?
–Mi grado de conocimiento de la Argentina es modesto, mientras que tengo trayectoria de trabajo en Chile y en Brasil, desde la OMS y la OPS. Puedo decir, sí, que en la Argentina hay un exceso de camas psiquiátricas, y una necesidad de invertir más recursos humanos en salud mental comunitaria, como de agregar camas en hospitales generales para internación de episodios agudos. También encuentro que el nudo más complicado es el área metropolitana. Sin embargo, hay experiencias en provincias argentinas que lograron reconocimiento internacional. La ley de desmanicomialización de Río Negro es una normativa de referencia, citada en diversos documentos. Es cierto que este proceso es más difícil en los grandes conglomerados urbanos.

–¿Cómo es, concretamente, la red de atención comunitaria que recomienda la OMS?
–Es algo más complejo que tener una sala de salud mental ambulatoria en la comunidad. Tampoco es sólo un conjunto de casas de medio camino, hogares protegidos, cooperativas de personas con discapacidad. También es más que la relación de trabajo con los servicios de atención primaria que actúan en el área, pero tampoco es sólo eso. No hay que reducirla a una cuestión de ingeniería institucional: casas, casitas, camas, no son más que los contenedores. La vida de una persona no se reduce a tener una casa y una cama; tampoco la de una persona con discapacidad mental. La salud mental comunitaria es un mundo de relaciones por las que a una persona vulnerable se le brindan oportunidades de aumentar su intercambio afectivo y material con el entorno social.

–¿Por ejemplo?
–Alguien puede creer que hace psiquiatría comunitaria si cierra un hospital psiquiátrico de 500 camas y las distribuye en diez lugares de 50, pero eso no es más que repartir la lógica y la cultura del manicomio. En cambio, pensemos en cada una de esas 50 personas: quizá tres de ellas no necesitan mucha asistencia y pueden ir a un departamento, con una trabajadora social que los visite una vez por semana; otros ocho necesitan atención más intensa, en la casa habrá un enfermero y el médico pasará una vez por día; otros pueden volver a su casa, la familia los acepta, pero mantenemos visitas domiciliarias para que los familiares se sientan respaldados; otros van a consultorios para hacer psicoterapia o recibir medicación; otros participan en una cooperativa que vende su producción en el mercado. Se trata de reconocer las diferencias, las individualidades. El manicomio es la negación de las individualidades. Se trata de que la comunidad se enriquezca en la interacción con sus grupos vulnerables.

–¿Cómo es este enriquecimiento de la comunidad?
–La rehabilitación no consiste en enseñarles a los enfermos mentales cómo ser más normales. La rehabilitación no es enseñarle a un grupo cómo parecerse a otro grupo, sino un proceso en el que dos grupos aprenden que hay reglas distintas. Uno puede pensar como discapacitada a la persona que no conoce las reglas para sentarse a la mesa educadamente: rehabilitar es inventar una mesa donde se acepten reglas distintas. Los que no pertenecen al grupo vulnerable se enriquecen cuando empiezan a pensar que ese chico con retraso mental es muy dulce y con eso aporta a la escuela; que ese loco que nos daba miedo resulta ser un tipo simpático, con el que podemos vincularnos. Esta interacción con la diversidad enriquece a todos.

–¿Cuál es el principal resultado de la participación de usuarios de salud mental?
–Bueno, ¿cuál es el aporte de los usuarios de automóviles? Decir cuándo el auto no funciona bien. No es cierto que los profesionales de la salud mental sepamos siempre qué es lo que necesitan las personas. Es mejor que el mensaje no sea: “Tú eres el paciente y debes producir síntomas, delirios, alucinaciones, y mostrármelos; por lo demás debes quedarte callado, yo te daré las respuestas”. Si entramos en otra relación, donde esa persona seguirá produciendo síntomas pero también otras cosas, entonces yo también podré entender más: su contexto familiar, sus miedos, qué es lo que puede tolerar, qué cosas puedo proponerle y qué cosas no. Hace unos días, en una mesa de trabajo en Chile, participó una señora mapuche que tenía cierto grado de retraso mental; en su intervención habló muy despacio, se notaba que tenía dificultades. Pero después pidió la palabra por segunda vez: “...además, quiero agregar que el psiquiatra de mi centro de salud tendría que escucharme más: él no me escucha”, dijo.

sábado, 31 de outubro de 2009


Fora de mim

imagino na paisagem

a imagem do que fui.

Alice Ruiz

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Mais do mesmo. Até quando?

Semana passada havia publicado aqui no Paladar uma nota e um pedido de solidariedade de ativistas estadunidenses que foram acusados de conspiração e tiveram sua casa invadida pelo FBI, e esses por sua vez causaram mais que danos físicos ao roubarem equipamentos e materiais de trabalho de seus moradores. Acabo de tomar conhecimento de que a sede da Federação Anarquista Gaúcha foi invadida ontem (29) pela Policia Militar do Rio Grande do Sul. Fica a pergunta: quem protege quem? Estamos seguros? Mais que a sociedade disciplinar anunciada por Michel Foucault continuamos em estado de sítio e vigília numa falsa democracia. Manipulados, controlados, enganados, agredidos sem trégua pela canalha. Você não se sente violentadx? Concretamente estamos sendo atacados! O Estado dá continuidade em sua função de cão de guarda de alguns privilegiados e fica claro, como já disse inúmeras vezes, quem está do lado de quem.

A sede da Federação Anarquista Gaúcha (FAG) foi invadida por dezenas de policiais ontem (29), por volta das 16 horas. A ação policial, sob um mandado de busca e captura, visava recolher material de propaganda contra a governadora do Rio Grande do Sul Yeda Crusius, que decidiu mover uma ação por injúria, calúnia e difamação contra ativistas da organização anarquista. No local da FAG, na rua Lopo Gonçalves, Cidade Baixa, os policiais apreenderam vários materiais de propaganda, documentos e um computador. Integrantes da FAG prestaram depoimentos na 17ª Delegacia Policial e foram liberados. A governadora do Rio Grande do Sul é acusada de estar envolvida em uma série de escândalos de corrupção que atingiu o seu governo e resultou no afastamento de quatro secretários estaduais. Contudo, no dia 20 de outubro, a Assembléia Legislativa gaúcha aprovou relatório de comissão especial que propôs arquivar processo de impeachment contra a governadora. A seguir três comunicados públicos da FAG.]

1º Comunicado

Neste exato momento – quinta-feira, 29 de outubro de 2009, a partir das 16 horas - a Polícia Civil do RS sob o comando da governadora Yeda Crusius promove diligência na sede da Federação Anarquista Gaúcha (FAG). O mandado de segurança do governo busca apreender material de propaganda política contra o governo acusado de corrupção. Os cartazes abordam o empréstimo junto ao Banco Mundial e o assassinato do sem-terra Eltom Brum. Este ato é pura provocação do Executivo gaúcho, atravessado por atos de corrupção e situações até hoje sem explicação, como a morte de Marcelo Cavalcante em fevereiro desse ano. Convocamos as forças vivas da esquerda gaúcha para reagirmos de forma unificada contra mais esse desmando.

Solidariamente,

Federação Anarquista Gaúcha (FAG)

2º Comunicado

Material de propaganda e CPU da FAG apreendidos

Nesse momento, quinta-feira, 29 de outubro, 2009, às 17h31, temos compas respondendo na 17ª DP, localizada na rua Voluntários da Pátria, 1500, perto da Rodoviária de Porto Alegre. A Polícia Civil apreendeu material impresso, chapas de cartazes e inclusive a CPU do computador da sede. Isso se trata de uma conspiração oficial para atacar uma das forças da esquerda não parlamentar e com base social real no RS!

Era de se esperar uma reação como essa, em função da FAG sempre haver atuado com modéstia mas tenacidade, sendo das mais aguerridas em todas as circunstâncias na defesa dos interesses e objetivos estratégicos do povo gaúcho. Vamos fazer uma denúncia pública e provar para as classes oprimidas do RS a natureza desse ataque vil sob ordem de um governo acusado dos mais graves crimes.

Não tá morto quem peleia!

Federação Anarquista Gaúcha (FAG)

3º Comunicado

Toda a solidariedade para com a FAG! Antes a repressão foi contra o sem terra Eltom, hoje é na sede da FAG, amanhã quem será?

A repressão do governo Yeda foi além do esperado. Dois compas foram processados e responderam a processo de parte de um governo acusado de dezenas de crimes, e alvo de investigações federais em seqüência. Até a repressão do Estado liberal-burguês vê a esta gestão como alegando investigar uma propaganda contra a sua gestão, a polícia civil do RS apreendeu documentos internos da Federação Anarquista Gaúcha, intimou
aqueles que mesmo prestando apenas a sua solidariedade constavam de registros da página de internet da organização. Não bastasse a apreensão da CPU e do backup do computador, levaram documentos internos (como ata de reuniões), material de propaganda público e até os resíduos que estavam na lixeira da sede.

Imediatamente a solidariedade de classe se fez notar, repercutindo no Rio Grande do Sul, por todo o Brasil, na América Latina e, a partir da Espanha, por organizações anarquistas e movimentos populares de todo o mundo.

Pedimos a solidariedade de companheiras e companheiros para difundirem e
traduzirem esta três notas em seqüência.

Solidariamente,

Federação Anarquista Gaúcha (FAG)

secretariafag@vermelhoenegro.org

www.vermelhoenegro.org/fag



VÍDEO GANHADOR DO PRÊMIO EDUCAÇÃO SEXUAL DA OMS


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segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Imperdível!

Por Cidinha da Silva
Como vocês sabem, tenho muito alegria em participar de todas as etapas de feitura de um livro meu e, depois de pronto, dar os primeiros passos junto com ele. E quando ele passa a caminhar com as próprias pernas, gosto de saber por onde anda, em companhia de quem e perceber algumas das emoções que provoca. Livro para mim não é filho. Livro é livro, é obra de arte. Há pessoas, muitas até, que fazem analogias entre filhos e livros, dirão até que o que escrevi sobre o Pentes poderia ter escrito sobre um filho, mas não me convenço, livro é livro, e tem um lugar que filho não ocupa, e o contrário também é verdadeiro. Um livro eu faço como quero, defino a cara, a capa, a voz, o número de páginas, o ritmo da trama. Eu formato, eu defino, eu construo, e, se não gostar, ao final, tenho a opção de destruir, deixar guardado ou posso também refazer. O livro é algo que, como autora, eu manipulo. Filho eu amo como é. Um filho, se por desventura, perco, eu não reconstituo, não refaço, não recrio. Um livro, sim. Por isso acho que livro e filho são essencialmente diferentes e não faço analogias para achar que são a mesma coisa. O Pentes sai da gráfica daqui a uns quinze dias e, junto com amigos e amigas queridos, parceiros de sempre, estou organizando os lançamentos. Adianto os eventos já definidos: 30/10 em Porto Alegre, na Palavraria, espaço sempre acolhedor, desta feita em evento organizado pelo poeta e amigo Ronald Augusto. Dia 31/10 também em Porto Alegre, na Feira do Livro. Lançamento organizado por duas organizações de Mulheres: Maria Mulher e Mulheres Rebeldes. Dia 14/11 em Belo Horizonte, na sede da Companhia de Teatro "A Farsa", em bate-papo organizado pelo Espaço Griô, Companhia "A Farsa" e pelo amigo Anderson Feliciano. Teremos mais três eventos em BH, um para crianças, adolescentes e professores/as, organizado pela Mazza Edições, no próprio dia 14/11; algo organizado pelos amigos da Coletivoz no dia 13/11 e um happy our com amigos a amigas do movimento LGBT no domingo, 15/11. Mas ainda estamos em tratativas, assim que as coisas estiverem definidas, informo aqui. Dia 21/11 em São Paulo, dentro da programação de primeiro aniversário da Odun - Formação e Produção. Dia 26/11 no Rio de Janeiro, no Grupo Arco-Íris, promoção do Núcleo de Mulheres da Instituição. É isso. Espero por você que acompanha este blogue em algum desses momentos. Até lá.

sábado, 24 de outubro de 2009

Quando eles chutam a tua porta da frente, como você vai ficar?


No dia 1º de outubro, às 6 da manhã, o Joint Terrorism Task Force (um sindicato de departamentos policias locais e o FBI), chutou as portas de nossa casa – uma casa coletiva anarquista no Queens, Nova Iorque, afetuosamente conhecida como Tortuga. Os primeiros desastres da batida foram rapidamente seguidos por mais brutalidade, na medida em que a polícia sujeitava três pessoas que estavam dormindo, destruindo as portas do quartos que estavam destrancados.

Outras três pessoas (que acordaram com desagradáveis barulhos de passos, madeiras quebrando, e vozes gritantes) aguardaram no porão – mas as armas apontadas e as luzes ofuscantes chegaram rápido.

Nós colocamos nossas mãos aonde eles pudessem vê-las. Eles mandaram a gente sair da cama. Eles não deixaram a gente se vestir, mas colocaram roupas ao acaso em algumas pessoas. Nós fomos algemados, e embora no início os grupos do andar de cima e do andar debaixo terem sido propositalmente separados, logo estávamos todos juntos, sentados na sala de estar, posicionados como bonecas sobre os sofás e as cadeiras. Ficamos algemados por muitas horas, e estávamos desamparados como nosso pequeno pássaro, um fringilidae que resgatamos e estávamos reabilitando, e que voou pela porta aberta para uma morte certa, após sua gaiola ter sido golpeada pelos policiais no seu zelo em abrir as portas do quartos do andar de cima pela força. Nós gritamos para eles, mas eles continuaram com a brutalidade.

Eles nos mantiveram e nos vigiaram por horas e horas e horas. 16 horas para ser preciso, 16 horas com o NYPD e o FBI perambulando pela nossa casa, confiscando nossas vidas em uma “expedição de pescaria” relacionada aos protestos do G20 de 24 e 25 de setembro, em Pittsburgh. O mandato de busca, que finalmente permitiram que a gente pudesse lê-lo, mencionou a violação de leis de tumulto e foi vaga o suficiente para permitir que a casa inteira fosse vasculhada. Eles continuamente repetiam que nós não estávamos sob prisão, que éramos livres para ir. Mas ser livre significa ser vigiado pelo FBI, monitorado enquanto usa o banheiro, não ter permissão para fazer telefonema por horas ou observá-los saqueando nossos quartos. Ser livre significa levar dois de nós embora sob estúpidas intimidações, e mesmo embora esta fosse a nossa casa, onde vivíamos, se a deixarmos, não poderemos entrar nela novamente.

Três de nós ficou até o final. Três de nós permaneceu para assistir a equipe de substâncias perigosas entrar na casa para investigar um jogo de química de criança, vê-la vasculhar a garagem sob uma autorização adicional, assinalar todas as coisas que confiscavam como “evidência” – curiosos brinquedos de pelúcia do George, trabalhos artísticos, correspondência com o prisioneiro político Daniel McGowan, certificados de nascimento, passaportes, o arquivo de vídeo inteiro de um coletivo de mídia local, registros de taxas, livros, computadores, aparelhos de armazenamento, telefones celulares, DVDs da Buffy a Caça Vampiros, bandeiras, faixas, cartazes, fotografias e mais coisas do que foram relatadas aqui.

O ímpeto aparente desta batida apareceu cerca de uma semana atrás, quando dois membros de nosso lar foram presos, uma vez mais sob a mira de uma arma, nos subúrbios de Pittsburgh. Eles são acusados de serem os cabeças que, “dirigindo” as alegres manifestações contra o G-20, usaram tecnologias tais como o Twitter para “impedir a apreensão” do/as manifestantes. Os dois foram presos sob fiança, um tendo que pagar uma soma absurda de 30.000 dólares, e soltos 36 horas depois, após a fiança ter sido paga. A partir daí, nenhuma acusação adicional foi imposta contra os dois, nem contra qualquer outro morador após a batida.

Como anarquistas, não temos nenhuma ilusão do que o Estado é capaz de fazer. Nós não somos os primeiros anarquistas a ter a casa atacada, e infelizmente enquanto o Estado existir, nós não seremos os últimos. Nós somos, juntamente a outros indivíduos tarjados como David Japenga, as saídas para a raiva impotente que as autoridades sentem quando perdem o controle, assim como eles fizeram durante o G-20 em Pittsburgh. Nós, aquele maravilhoso nós, que inclui o Tortuga House e todos que mantêm afinidades conosco, recusamos as formas rígidas que as autoridades aprisionam um mundo explodindo com possibilidades infinitas – ele não é um líder, ela não agiu sozinha, eles não estão sendo dirigidos. A repressão é uma estratégia que o Estado usa para nos colocar na defensiva, para desviar nossas energias de ser uma força pro-ativa e ao invés disso lidar com as coisas que isto provocou. Nós não iremos mentir e dizer que isso não nos deixou enrolados, mas na medida em que nosso tempo e vertigem passam, tomamos conhecimento que amigos nos cercam. Nossa determinação é fortalecida por esta solidariedade, e nós não iremos ser detidos por esta agressão do Estado.

Desejamos agradecer todos o/as nosso/as amigo/as e companheiro/as que nos apoiaram nestes dias difíceis. Na manhã seguinte (2 de outubro) nosso advogado arquivou uma injunção sobre a batida que foi inesperadamente concedida – ela proíbe as autoridades de pesquisar nossos pertences até a gente voltar ao Tribunal no dia 16. Nas semanas e meses a vir nós faremos o melhor para compartilhar os desenvolvimentos processuais na medida em que eles forem ocorrendo. Se você quer manter contato ou descobrir uma maneira para nos ajudar, por favor, envie um e-mail para: tortugadefense@gmail.com