segunda-feira, 31 de maio de 2010

Guimarães Rosa em som e imagem.

Outra preciosidade. Aproximações talvez pouco prováveis, porém corações partidos mais que conhecidos. Outro filme sobre homens que sofrem por amor. Quando assisti não sabia o que pensar, porém vou me dando conta que cada vez que falo dele, que penso nele, gosto mais. 'Viajo porque preciso, volto porque te amo' tem uma poesia encantadora, um sofrimento digno, o olhar que muda, é o que brota da pedra, uma vontade de ir adiante e um movimento que te leva até o alívio.

sábado, 29 de maio de 2010

"A aventura básica da vida é o modo como uma pessoa organiza sua forma de existência, desorganiza o que não é mais relevante e gera novas experiências para se tornar o indivíduo que ele vive e não aquele que ele imagina que tem que ser".
Stanley Keleman

quarta-feira, 26 de maio de 2010

A Roda no Centro de Capoeira Angola Angoleiro Sim Sinhô


A roda de capoeira é ritual e tradição. Uma cerimônia que converge para uma produção de sentidos comuns aqueles que estão próximos dela. Fundamental ao capoeirista estar nesse lugar, nesse encontro para viver a roda. Ela garante a iniciação, o caminho que nos treinos são apontados e anunciados. Se o treino é necessário, a roda é fundamental. A roda de capoeira não é uma explicação ou uma justificativa para o treino, mas o processo da capoeiragem por definição, ela é a alegria e a dor em si, a ambigüidade e o contraste inerentes a sua história. Nela não negamos os conflitos, mas pretendemos superar a ironia, o cinismo e a arrogância. Características essas presentes no mundo - não devemos negar - mas se acreditamos na liberdade e no processo civilizatório da arte da capoeira, tratamos então de cultivar o humor, a sinceridade e a humildade. Um conduz ao outro. Humor que ri de tudo, mas que ri primeiro de si mesmo. Sinceridade para compreender limites e auto-realização. Humildade para perceber que não temos ou fazemos a capoeira, mas somos seu instrumento, a praticamos, que muitos vieram antes de nós e reconhecemos nossa herança para saber que não temos a única verdade, mas sabemos quem somos. No Centro de Capoeira Angola Angoleiro Sim Sinhô ela acontece com respeito as características de cada pessoa. Importa encontrar seu jogo, seu ritmo, seu tempo e lugar, não uma cópia, a mera reprodução. Acontece também na coletividade. A disposição da bateria: reco-reco, agogô, pandeiro, berimbau gunga, berimbau médio, berimbau viola, pandeiro, atabaque e dois para vadiar. Precisamos minimamente de dez pessoas. O convite está aberto para muito mais na roda! O singular e o múltiplo não se distanciam, mas se complementam numa rara simbiose. Nossa roda é uma forma de exteriorizar um tipo de culto, porque entendemos que há muitas maneiras de instruir e cultivar. A tradição é memória viva, um costume, um uso, uma apropriação devida. A roda de capoeira possui linguagem própria, está para além das palavras e dos movimentos. Ela imprime gesto e tenta acolher, e quando aparentemente vai em direção oposta, não é porque é dura e perversa, mas é sua maneira particular de conduzir justiça e reparação. Muita gente morreu para ela chegar até nós e essa lembrança, para quem tem olhos e ouvidos, está na roda. Mas a roda não é feita com rancor e mágoa pelos tempos cruéis e rudes que tivemos, mas com a superação do ressentimento, com o valor da amizade, da gratidão, da política do afeto, do amor por algo maior. A roda de capoeira é liberdade porque provoca e desafia, mobiliza outras formas de pensar, outros modos de melhorar os sentimentos. Ela é a espontaneidade, o improviso e a malandragem. Iê!

Todas as pessoas podem vir para vadiar ou para compartilhar da maneira que queiram, seja olhando, cantando ou apenas sentindo o axé. Sejam bem vindos!

Toda quinta-feira, apartir das 19:00

Rua Turiassu, 1172 - Perdizes


Saiba mais aqui

Brilho eterno...

É chegada a hora!

"Odeio os indiferentes. Acredito que viver significa tomar partido. Indiferença é apatia, parasitismo, covardia. Não é vida. Por isso, abomino os indiferentes. Desprezo os indiferentes, também, porque me provocam tédio as suas lamúrias de eternos inocentes. Vivo, sou militante. Por isso, detesto quem não toma partido. Odeio os indiferentes.”
Antonio Gramsci

Almoço domingo no Ay Carmela!

sexta-feira, 21 de maio de 2010

O que queremos preservar?

"Cada vez que num conjunto de elementos começam a se conservar certas relações, abre-se espaço para que tudo mude em torno das relações que se conservam."

LEI SISTEMICA # 8 - Conservação e Mudança
Habitar Humano - em seis ensaios de biologia-cultural
por Humberto Maturana e Ximena Dávila Yáñes

Foto de Campañero Baltazar Baptista

Medo


Tienen miedo del amor y no saber amar
Tienen miedo de la sombra y miedo de la luz
Tienen miedo de pedir y miedo de callar
Miedo que da miedo del miedo que da

Tienen miedo de subir y miedo de bajar
Tienen miedo de la noche y miedo del azul
Tienen miedo de escupir y miedo de aguantar
Miedo que da miedo del miedo que da

El miedo es una sombra que el temor no esquiva
El miedo es una trampa que atrapó al amor
El miedo es la palanca que apagó la vida
El miedo es una grieta que agrandó el dolor

Tenho medo de gente e de solidão
Tenho medo da vida e medo de morrer
Tenho medo de ficar e medo de escapulir
Medo que dá medo do medo que dá

Tenho medo de acender e medo de apagar
Tenho medo de esperar e medo de partir
Tenho medo de correr e medo de cair
Medo que dá medo do medo que dá

O medo é uma linha que separa o mundo
O medo é uma casa aonde ninguém vai
O medo é como um laço que se aperta em nós
O medo é uma força que não me deixa andar

Tienen miedo de reir y miedo de llorar
Tienen miedo de encontrarse y miedo de no ser
Tienen miedo de decir y miedo de escuchar
Miedo que da miedo del miedo que da

Tenho medo de parar e medo de avançar
Tenho medo de amarrar e medo de quebrar
Tenho medo de exigir e medo de deixar
Medo que dá medo do medo que dá

O medo é uma sombra que o temor não desvia
O medo é uma armadilha que pegou o amor
O medo é uma chave, que apagou a vida
O medo é uma brecha que fez crescer a dor

El miedo es una raya que separa el mundo
El miedo es una casa donde nadie va
El miedo es como un lazo que se apierta en nudo
El miedo es una fuerza que me impide andar

Medo de olhar no fundo
Medo de dobrar a esquina
Medo de ficar no escuro
De passar em branco, de cruzar a linha
Medo de se achar sozinho
De perder a rédea, a pose e o prumo
Medo de pedir arrego, medo de vagar sem rumo

Medo estampado na cara ou escondido no porão
O medo circulando nas veias
Ou em rota de colisão
O medo é do Deus ou do demo
É ordem ou é confusão
O medo é medonho, o medo domina
O medo é a medida da indecisão

Medo de fechar a cara
Medo de encarar
Medo de calar a boca
Medo de escutar
Medo de passar a perna
Medo de cair
Medo de fazer de conta
Medo de dormir
Medo de se arrepender
Medo de deixar por fazer
Medo de se amargurar pelo que não se fez
Medo de perder a vez

Medo de fugir da raia na hora H
Medo de morrer na praia depois de beber o mar
Medo... que dá medo do medo que dá
Medo... que dá medo do medo que dá

quarta-feira, 19 de maio de 2010

e outra vez, outra vez e outra vez.


"Eu posso, entretanto, falar por mim. Posso afirmar que ao testemunhar a coragem do Sr. Ayres, sua humildade, sua fé no poder da sua arte, aprendi a dignidade de ser leal a algo que você acredita. E acima de tudo, manter tudo isso. Acreditando, sem dúvida, que isso o levará para casa".
Lopez, no filme O Solista

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Nenhuma verdade além dos fatos.

Para algumas coisas do coração não há escolhas fáceis. Chego às vezes a pensar que nem mesmo há escolhas. Quando somos pegos pela paixão, por exemplo, não escolhemos, não decidimos isso e nossas ações nos conduzem a todo custo a nos manter próximos de quem gostamos. Casar com fulano e não com cicrano pode até nos dar certa impressão de liberdade, mas mesmo aí não podemos afirmar isso. O que quero dizer é que não se trata de elaborar uma decisão por um pensamento e por um conhecimento para acharmos que estamos fazendo uma escolha, e menos ainda que seja a certa. Sei que de algum modo isso vai contra a idéia bem presente de que sempre há uma escolha, mas explico. A compreensão é um modo de saber que nosso coração utiliza para nos levar de um lugar a outro. Conhecimento e compreensão não é a mesma coisa, embora um não exclua o outro. O equívoco é acharmos que podemos compreender por que conhecemos, quando o contrário é o mais provável. A fragmentação de nossos sentimentos começa quando acreditamos que para resolver algo dessa condição do coração devemos apenas pensar. Claro que precisamos de boa dose de razão para olhar o que sentimos, é como a coragem sem um tanto de cautela, enfrentamos de corpo e alma o perigo, mas a incapacidade de avaliar os riscos reais é maior. Já diz o dito popular que na guerra e no amor vale tudo e não se pode sair daí sem algumas perdas. Começamos, não sei quando nem como, a acreditar que é possível sim contrariar esse jargão. Guerras podem ser evitadas e o amor pode agregar mesmo quando não correspondido. Acho que muitos podem teorizar bem sobre isso, mas percebemos que erros se repetem e que nossas neuroses não nos deixam esquecer que somos humanos, demasiadamente humanos. Por que ferimos quem amamos? Por que mentimos quando nos pedem sinceridade? Por que insistimos em acreditar que podemos escolher como as coisas terminam? Por mais que saibamos que existem muitas versões do mesmo fato, que a verdade nunca pode ser única, que se somos adultos e esperamos ter capacidade de escolhas, o que acontece afinal de contas com nosso coração por viver tempos de caos? Aprendi com Lowen que enquanto terapeuta é necessário acreditar que nossos clientes vivem certa incapacidade de resolver seus conflitos, que há uma impotência e que a compulsão a repetição não pode ser superada apenas conhecendo o lugar e o tempo em que se dá a fixação ou o trauma. Primeiro que se desconfiamos que as pessoas se mantêm num determinado lugar da existência ou repetem seus erros por que querem ou simplesmente não se esforçam suficientemente começamos a acreditar que é por serem fracas, fingidas, que escolhem ficar mal pelo ganho secundário disso, são cínicas, agem de má-fé, etc. Acabou a terapia. Segundo, e já dizia Reich, não superamos um trauma ou a repetição apenas tendo consciência disso. A linguagem e a memória são fundamentais, mas superamos isso quando identificamos no corpo e na sua re-significação a experiência que te faz repetir. O corpo é a memória. Claro que pressupomos que um adulto deva ter responsabilidade por seus atos, não nego isso. A tarefa terapêutica é sempre confrontada com a questão do livre-arbitrio versus o determinismo. Ajuda a entender um bocado de coisas, mas não somos terapeutas a todo instante e nem nos relacionamos com as pessoas sempre nesse contexto. Fora daí somos confrontados de outras formas com nossas idéias sobre o amor e a repetição dos erros. Ferimos quem amamos inicialmente por que nos traímos. A traição não pode ser do outro, apesar dela acontecer na relação. Traímos a nós mesmos quando não expressamos o que sentimos. Traímos quando agimos e permanecemos com algum senso de dever ou culpa. Traímos quando assumimos o que não é nosso. Traímos, e então passamos também a ser egoístas, quando nos iludimos achando que omitir é não machucar o outro. Passamos a mentir não pela falta de caráter (apesar de às vezes ser exatamente esse o problema), mas pelo fato de sermos imaturos. Certa incompletude que não nos permite lidar melhor com a ambigüidade e o paradoxo de se relacionar. Ambigüidade por que não tem certo ou errado nos modos de se relacionar e paradoxo por que é um enorme desafio adequar segurança com liberdade. Como é duro crescer! E há momentos que não crescemos em um lugar para crescer em outro. Ingênuo pensar que vamos dar conta de tudo que pensamos de prima, que somos capazes de lidar tranquilamente com a plenitude do desejo. Vamos fracassar muitas e muitas vezes nesse esforço de coerência daquilo que pensamos com o que sentimos até se aproximarem de fato. Seremos bem sucedidos de tempos em tempos, mas teremos que saber também que iremos sucumbir algumas vezes. Não precisamos de ninguém para saber de nosso caráter, para dizer dos nossos defeitos e das possíveis qualidades, um pouco de bom senso é suficiente, mas precisamos sim de algumas pessoas especiais para nos ajudarem a entender alguns caminhos que percorremos, algumas escolhas que fizemos e alguns modos de ver que foram se construindo. Amigos de longa data, pais, irmãos, são pessoas que autorizamos a falarem com todo coração e fé sobre nossa história. E é provável que serão sinceros sem agredir. Não importa o que você tenha feito nem o que aconteceu, evite alguns encontros, afinal se ainda restar um tanto de culpa a outra pessoa vai possivelmente te bater sem dó. Não pense em reparação se ainda houver ressentimento, raiva, rancor e coisas afins. Com o fracasso não se pode fazer muita coisa, além de aceitá-lo. Nosso cansaço será reconhecido em alguns momentos e respeitado em outros, mas não podemos esperar entendimento sempre. Não sei se aprendi, mas alguém que amei e que muito me ensinou falava sempre sobre perdoar (ou não) o intolerável. Para alguns um único erro é intolerável, para outros é a sucessão desses equívocos. São como pequenos suicídios que não voltam. Pequenas mortes que fragmentam, desiludem, rompem. Não fiquemos presos nesse lugar. O bom nisso tudo, apesar das dores e dos desencontros que podem ir surgindo daquilo que um dia foi lindo, é que não é para sempre. Ninguém morre de amor, mas a vida sem ele é mesmo miserável. Compreendemos o amor em novos encontros. Novos inclusive que podem ser com a mesma pessoa. E se não for tudo bem, afinal já dizia a canção do Jorge que “se ela não lhe quer mais, arranje outra meu rapaz, pois vive mal quem não vive de amor!” O título desse post foi retirado de um filme em homenagem ao mestre Akira Kurosawa. Na verdade “Depois da chuva” foi feito por um de seus discípulos, Takashi Koizumi, Kurosawa morreu antes do início das filmagens, mas participou do roteiro. Para variar só um pouco, o filme fala de samurais. Um ronin (um samurai errante) e sua mulher buscam por um lugar no mundo para viver em paz, mas sempre acontecem muitos equívocos e as informações nunca são entendidas como seus interlocutores desejam. A frase “nenhuma verdade além dos fatos” fica no centro do dojo de um importante mestre em que o protagonista, Ihei Misawa, se encontra para um desafio. A cena é simplesmente maravilhosa! Vale mesmo a pena assistir para entender o contexto. O filme inteiro é encantador. Bom, essa questão sobre a verdade e os fatos é central na narrativa da história e na vida desse ronin. Quando julgamos alguém pelo que estamos vendo, quase não há dúvida de que essa é a verdade. Estamos vendo! Temos a tendência de avaliar os outros pelas suas ações, entretanto nos avaliamos pelas nossas intenções. O filme de Kurosawa discute isso. É um bálsamo para os corações amargurados e para deixar para trás o arrependimento. Quando nosso esforço é para abandonar a culpa, aceitar o fracasso, reverenciar quem compartilhou parte de sua vida com nós, alimentar a esperança, enxugar as lágrimas e voltar a sorrir, então tudo vale mesmo à pena e poderemos estar em um novo lugar. Reconciliar nossas contradições nos ajudará a não temer a vida. Nenhuma verdade além dos fatos para o que somos e buscamos em primeiro lugar. Caso não esteja acostumado a isso, não se surpreenda se fizer alguma bobagem antes disso acontecer. Esse texto só nasceu por conta desse reconhecimento. Aprender é isso. Nenhuma paz será possível sem a coragem para enfrentar as limitações. Dia algum é igual a outro, vida alguma é idêntica a que a precedeu. Tudo muda. Nenhum amor irá acontecer sem liberdade. Ao que me cabe aqui, hoje, agora, é deixar partir, deixar ir, para que talvez lá na frente, mas não muito longe, tudo possa ser de outro modo.

domingo, 16 de maio de 2010

"Ó minha sereia Rainha do Mar
não deixa meu barco virar.
Não deixa meu barco virar não..."

sexta-feira, 14 de maio de 2010

II Prêmio Carrano

Dia 27 de maio completa-se dois anos da morte de Austregésilo Carrano Bueno, dramaturgo, militante da luta antimanicomial e autor do livro “Canto dos Malditos”, que originou o filme “Bicho de sete cabeças”, que junto com o livro revolucionou a história da Reforma Psiquiátrica no Brasil. Carrano se destacou como o principal militante pela Luta Antimanicomial em nosso país. Eleito em congresso na cidade de Xerém-RJ, atuou nos últimos anos como representante dos usuários na Comissão Nacional de Reforma Psiquiátrica do Ministério da Saúde, chegando a receber, em 2003, uma homenagem das mãos do presidente da república Luís Inácio Lula da Silva, por seu empenho na Reforma Psiquiátrica. Além das torturas sofridas nos “chiqueiros psiquiátricos” – como dizia – Carrano sofreu vários processos judiciais por sua militância, principalmente por parte dos familiares dos médicos responsáveis pelos “tratamentos” recebidos nas passagens pelos locais onde foi internado, confinado e torturado. Carrano continuou militando até seus últimos dias no Movimento da Luta antimanicomial, mesmo com a saúde debilitada, no dia 18 de maio de 2008, participou do Dia Nacional de Luta Antimanicomial em Belo Horizonte.

O Prêmio - Para que a sua voz não se cale e seu nome continue vivo no Movimento de Luta Antimanicomial, criamos em 2009, o Prêmio CARRANO de Luta Antimanicomial e Direitos Humanos. O Prêmio tem como o objetivo dar continuidade a sua luta por uma mudança nas condições de tratamento de pessoas em sofrimento mental, fazendo valer a Lei nº 10.216/2001 da reforma Psiquiátrica no Brasil, da qual foi um dos defensores e críticos. O prêmio será entregue anualmente a pessoas de ações e atitudes importantes nestas áreas, mas principalmente, denunciar quaisquer violações dos Direitos Humanos, especialmente no que se refere a pessoas nas condições de sofrimento mental. Fizemos em 2009, na Semana do Dia Nacional de Luta Antimanicomial, o lançamento do Prêmio, com uma entrega simbólica a Carlos Eduardo Ferreira, mas conhecido como Maicon, usuário e militante da Luta, que esteve em vários momentos ao lado de Carrano, também foi entregue um prêmio a família de Carrano.

A criação do prêmio foi uma iniciativa de alguns amigos de Carrano: Edson Lima coordenador do projeto O Autor na Praça, Erton Moraes escritor, compositor e músico do Movimento TrokaosLixo, Lobão integrante do Movimento 1daSul e Sarau do Cooperifa, Adriano “Mogli” Vieira da AEUSP - Associação dos Educadores da USP, Paloma Kliss escritora e contamos com o apoio do Movimento Nacional e Fórum Paulista de Luta Antimanicomial, Conselho Regional de Psicologia de São Paulo e militantes do movimento. A entrega do II Prêmio Carrano será na semana do dia nacional de Luta Antimanicomial, dia 15 de maio (data de nascimento de Carrano, em 1957). Neste ano criamos o coletivo Gato Seco – Nos telhados da Loucura, que tem o papel da organização do Prêmio. O coletivo é formado pelo projeto O Autor na Praça, Movimento Trokaoslixo, Literatura Nômade, grupo Encontro de Utopias, Lobão, agitador e grande amigo de Carrano, a escritora e produtora Paloma Kliss, a psicóloga Patrícia Villas-Bôas, a poeta Tula Pilar, o músico e compositor Léo Dumont outros amigos de Carrano. Trata-se de um grupo aberto e convidamos a pessoas e instituições que quiserem participar e colaborar com esta iniciativa. Além da entrega do prêmio haverá uma tarde poética sobre a Literatura e Loucura, organizada pelo pintor e poeta Júlio Bittar e o grupo Encontro de Utopias. Também acontece performance com o coreógrafo Marcos Abranches e apresentações musicais com a participação da Banda Mokó de Sukata, do músico e compositor Léo Dumont e outros convidados.

onde fica
Espaço Plínio Marcos (Tenda na Feira de Artes da Praça Benendito Calixto, Pinheiros)
quando ir
15/5/2010, às 14:00h
quanto custa
Grátis
website
www.portalliteral.terra.com.br/artigos/ii-premio-carrano-de-luta-antimanicomial-e-direitos-humanos

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Abrindo o debate



O Growroom e a Matilha Cultural convidam para o ciclo de debates “Abrindo o debate sobre a Cannabis no Brasil” – Liberdade de expressão, Segurança Pública e Uso Medicinal, que será realizado no dia 19 de maio. O objetivo do evento é estruturar um debate democrático e transparente sobre as políticas de regulação da Cannabis no Brasil, lidando com a questão de forma pragmática e coerente com a realidade social do país.

Com a presença de pesquisadores, advogados, ativistas, agentes redutores de danos e cidadãos, os debates não pretendem defender ou condenar a discriminalização da Cannabis no Brasil, mas trazer luz à questão ao promover a pluralidade de opiniões e colaborações de especialistas e cidadãos.

O evento será gratuito, aberto ao público e transmitido pela internet pelos endereços http://www.matilhacultural.com.br e http://growroom.net.

Pano de Fundo

No Brasil, em 1932, por decreto, o então presidente Getúlio Vargas tornou crime o cultivo, o comércio e o consumo da planta e criou restrições severas ao seu uso como medicamento.

A rigidez da proibição transformou o comércio em narcotráfico e a Cannabis passou da esfera da saúde, para a criminal. O uso medicinal da planta no país foi, assim, transformado em crime e oficialmente desqualificado e perseguido.

Mesmo reprimida e criminalizada há décadas, a Cannabis continua sendo uma das plantas mais cultivadas pela humanidade em todo o planeta, como acontece há mais de 15 mil anos. Estima-se que os negócios em torno da planta movimente bilhões de dólares, abastecendo milhões de consumidores em todo o mundo.

A proibição, por sua vez, transforma esse comércio em fonte de renda para pessoas já envolvidas com atividades criminosas, muitas vezes violentas extinguindo a possibilidade de controle oficial do governo sobre a questão.

Em países como Espanha, Argentina, Reino Unido, Canadá e até estados norte-americanos, o debate em torno da regulamentação do uso medicinal e recreativo da Cannabis tem sido ampliado com novas perspectivas, ideias e experiências práticas sobre o tema.

No Brasil, a discussão vem acontecendo graças a profissionais de diversas áreas que adotaram posturas mais humanitárias com respeito as especificidades culturais, econômicas e as liberdades individuais na questão da Cannabis.

PROGRAMAÇÃO

19 DE MAIO – 15 às 19hs

15h às 17h – Antiproibicionismo: Um debate autorizado!

Mediador: Alexandre Youssef - Sócio do STUDIO SP, fundador de Instituto Overmundo e colunista de política da revista TRIP, foi Coordenador de Juventude da cidade de São Paulo entre 2001 e 2004
Marco Magri – Cientista Social. Coletivo Desentorpecendo a Razão (SP)
Gerardo Santiago – Advogado. Nova Sociedade Libertadora (RJ)

Leonardo Sica – Advogado. Coletivo Marcha da Maconha São Paulo

Júlio Delmanto – Jornalista Caros Amigos (SP) – A confirmar

Sergio Vidal – Antropólogo, membro do Growroom, Representante da União Nacional dos Estudantes no CONAD e no Grupo de Reforma da Lei 11.343

Marisa Fefferman – Advogada e prof. da Universidade São Paulo (USP)

10 min por componente da mesa e 1h de debate
17h às 17h30 – coffee break
17h30 às 19h – Horizontes para um mercado regulamentado de Cannabis no Brasil
Mediador: Alexandre Youssef
Domiciano Siqueira – Presidente da Associação Brasileira de Redutoras e Redutores de Danos (ABORDA);
Médico Convidado (Confirmado, aguardando os dados)
Cristiano Maronna – Advogado NEIP/IBCCRIM
Mônica Gorgulho – Psicóloga, Representante do Conselho Federal de Psicologia no CONAD e no Grupo de Reforma da Lei 11.343
Alessandra Oberling – Diretor do Viva Rio e da Comissão Brasileira Drogas e Democracia.
10 min por componente da mesa e 50 min de debate

Filmes

19h30 O Sindicato – o negócio por trás do barato (2007) – 100’ – Canadá
Direção: Brett Harvey
Título Original: The Union – The Business Behind Getting High
Site Oficial: www.theunionmovie.com

21h30 Esperando para tragar – A vida de pacientes não-regulamentados de Cannabis (2005) – 74’ – EUA
Direção: Jed Riffe
Título Original: Wait to Inhale

Site Oficial: www.waitingtoinhale.org

SOBRE A MATILHA CULTURAL

A Matilha Cultural é uma entidade independente e sem fins lucrativos instalada em um edifício de três andares, localizado no centro de São Paulo. A Matilha integra um espaço expositivo, sala multiuso, café, além de um cinema com 68 lugares.

Fruto do ideal de um coletivo formado por profissionais de diferentes áreas, a Matilha foi aberta em maio de 2009 e tem como principais objetivos apoiar e divulgar produções culturais e iniciativas sócio-ambientais do Brasil e do mundo.

SOBRE O GROWROOM

growrooom@growroom.net – (11) 70286983

O Growroom é um grupo que atua em defesa dos direitos dos usuários de maconha, tendo como uma de suas principais atividades manter um Portal na Internet sobre tudo que é relacionado a planta Cannabis sativa, seus usos e usuários, além de um Fórum que serve de espaço de convivência para pessoas adultas que consomem Cannabis sativa. O grupo atua dentro dos princípios da redução dos riscos e danos, buscando o fortalecimento da autonomia e da responsabilidade dos usuários.

MATILHA CULTURAL

Rua Rego Freitas, 542 – São Paulo.
Tel.: (11) 3256-2636.
Horários de funcionamento: terça-feira a sábado, das 12h as 20h.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Compartilhando opiniões

Aprendo com os anarquistas a importância do esforço contra o sectarismo. Particularmente a figura de José Oiticica sempre me inspirou nesse sentido e sua vida e trabalho foram uma das lutas mais coerentes que conheci até hoje. Dizia ele que devemos observar os rumos da história e nos aproximar de todos aqueles que num dado momento tem algo a contribuir para a evolução humana. Contava que as vezes seria necessário, por exemplo, se aproximar dos burgueses contra a tirania e o privilégio do Vaticano ou nas trincheiras ao lado dos comunistas estatais contra os fascistas. Enfim, tomei contato com um texto do deputado Brizola Neto e ele me parece colocar essa questão. Não concordo com tudo que está alí, particularmente o afã nacionalista e a perspectiva dos líderes, mas é um bom texto. Exatamente por que nos faz pensar sobre nossas paixões e os rumos da história que ainda se inventa. Leiam e tirem suas conclusões.
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O fio da história na ponta de nossos dedos
por Brizola Neto

Deformações ideológicas não se acabam do dia para a noite.Vivemos, mais de uma década, sob a ditadura do pensamento único, do “politicamente correto”.A paixão política passou a ser um “defeito”, aliás quase todas as paixões passaram a ser um defeito, um “fanatismo”.Claro que não se está louvando aqui a irracionalidade, o sectarismo, a imbecilidade.Mas a história humana é feita de paixão.Ou será que não foi preciso paixão para os homens que deram a vida nas barricadas da Revolução Francesa, para que aquele país e o mundo pudessem gritar “Liberdade, Igualdade, Fraternidade”?Faltou paixão, aqui, aos Henriques Dias, negros, aos Felipes Camarão, índios, para lutarem em Guararapes ao lado do português João Fernandes, fundando o sentimento nacional?Ou a Tiradentes, para enfrentar o cadafalso? A Getúlio, para a bala no coração?O neoliberalismo pretendeu reduzir o desejo humano a um “negócio”, material ou sentimental, que deve trazer vantagens. Era a “lei de mercado” transposta para a existência do ser humano. Um verso de uma música dos Titãs, fora do contexto, servia de “hino” desta anulação da paixão: “eu só quero saber do que pode dar certo, não tenho tempo a perder”.A história das lutas sociais, das lutas que ao longo de milhares de anos, homens e mulheres de todas as partes do globo terrestre fizeram em busca da liberdade, da justiça, da dignidade, não importava muito. Era tempo perdido. Era o passado, e o passado, passou. Era “o fim da história” que o tal Francis Fukuyama, aquele historiador a quem a história já quase esqueceu, proclamava, sob o aplauso dos medíocres.Virou algo “arcaico”, “jurássico”, anacrônico ter paixão pelo Brasil e pelo povo brasileiro.Importante era ser certinho, arrumadinho, “preparadinho” e fazer “o dever de casa” direitinho, como os nossos comentaristas políticos e econômicos pregavam nos jornais e na televisão. Nenhuma atenção era dada a que este “dever de casa” vinha de professores de fora, que queriam ensinar-nos a ser como convinha a eles, não a nós mesmos.Mas a história não acabou.A realidade, o processo social, retornou, com suas voltas caprichosas e tantas vezes incríveis, o fio desta história.Lula, o sindicalista que surgiu condenando Vargas, virou o estadista que repetiu seu gesto de banhar de petróleo sua mão e, mais ainda, praticou uma política de composição, tolerância e alianças como a do velho Getúlio, a quem chamavam de “pai dos pobres e mãe dos ricos”. Embora os pobres tenham ganho muito no Governo Lula, a verdade é que os ricos não perderam, não é? Está aí o lucro dos bancos que não nos deixa enganados.Apesar disso, porém, como a Getúlio, a Jango, a Brizola, os ricos o odeiam. Odeiam não apenas porque ele vem da pobreza. Odeiam porque ele não a abandonou, não lhe virou as costas. As elites brasileiras só admitem a entrada dos pobres nos seus salões se for para servir-lhes obsequiosamente, como mucamas ou garçons.A história seguiu, e o povo brasileiro viu, com Lula, que podia dirigir seu país. Viu mais: que este país, invadido economicamente, culturalmente e polticamente pelos “monitores” daqueles professores que lhe cobravam, ferozes, “o dever de casa” , não precisava ser como lhe diziam que deveria ser.Eu vejo com tristeza muitos homens e mulheres das gerações mais velhas tornarem-se tíbios, medrosos, a encherem de vírgulas e concessões o que dizem, para deixar aceitáveis pela ditadura da mídia a verdade que já não sabem dizer de forma aguda e cortante.Falta-lhes já a pureza e a sinceridade do menino que, na praça cheia, rasgou o véu do temor e da conivência gritando que o rei estava nu.Com mais tristeza ainda vejo outros, que eram jovens abandeirados de paixões e amor a este povo se converterem em instrumentos de seus algozes, com a pífia desculpa de que os tempos são outros, quase a dizer que aquele mundo de opressão e dominação acabou. Talvez tenha acabado, sim, mas só para eles, não para as imensas massas humanas a que um dia disseram servir.Não são todos, talvez não sejam sequer muitos, mas foi a eles que o sistema deu luz e notoriedade e fez aos outros temer não serem aceitos, acolhidos, amados, porque teimavam em ser, mesmo que por dentro e silenciosamente, o que eram.Que lindas as supresas da história, porém.Dos frangalhos de Brasil que a ditadura e, depois, a mediocriade e o entreguismo dos governos neoliberais nos deixaram, rebrotamos, como nos versos de Neruda sobre a Espanha destruída pela barbárie franquista:“mas de cada buraco da Espanha, sai Espanha, e de cada criança morta nasce um fuzil com olhos”.Pois correndo o risco de parecer primário, poderíamos dizer que sai agora um fuzil com teclas. Esta nova “arma”, a internet, foi posta à prova, nestas semanas, em rápidas escaramuças: o clipe serrista da Globo e as manipulações difamatórias dos tucanos. Os tanques pesados da grande mídia continuam rolando, potentíssimos. Mas nós já podemos fustigá-los e fazer recuar.Nós, os que estamos ainda no começo da caminhada, que temos o coração em chamas pelo Brasil, precisamos muito dos corações que nunca deixaram esta brasa apaixonada se apagar. Precisamos de sua sabedoria e de sua coragem, que certamente é maior que a nossa, pois já passou por batalhas mais longas e mais duras.Somos soldados deste combate pelo povo brasileiro. Precisamos de comandantes que nos ajudem a lutar e vencer. A paixão e o amor não nos faltam.Então, quem sabe, juntos, poderemos soprar as brasas que se reduziram pela descrença, pelas decepções, pelas derrotas e, finalmente, em nome de milhões de nossos irmãos que nada têm de rico, senão a esperança, em nome de um país que não quer mais viver na barbárie de uma condição colonial, possamos enfim dar ao Brasil o destino próprio que uma nação e um povo como o nosso merecem.

domingo, 9 de maio de 2010

Da gratidão e do lar

Existem encontros em nossas vidas que nos marcam profundamente e que não saimos ilesos. Que bom! Alguns produzem entendimentos de nós mesmos, lugares mágicos que nos levam para além do simples momento em que vivemos. Eles podem nos fazer simplesmente ir para outros lugares, únicos, despretenciosos quem sabe, singulares sem dúvida, nos dando a sensação de que fomos um pouco mais por que pudemos compartilhar algo fundamental na nossa caminhada. Sem esse encontro ainda estariamos lá atrás. Talvez, quem sabe... Em todo caso justiça seja feita: a gratidão é uma forma de virtude que não podemos nos dar o luxo de negar. Re-li um texto que me foi muito importante quando o encontrei pela primeira vez. Não apenas pela beleza dele em si, mas também porque ele me entendia. Um texto feito num desses encontros únicos que temos na vida. Uma narrativa que me mostrou muito de mim mesmo e que da qual ainda aprendo. Foi escrito por uma das pessoas mais virtuosas que conheci na vida: Juliana Pacheco. A você devo muito. Obrigado Ju.

Mas há ângulos dos quais não se pode mais sair.
Albert-Birot

Ontem eu vi no noticiário que haviam deixado um bebê recém nascido em uma borracharia de beira de estrada, dentro de uma caixa de papelão com um bilhete: Se não quiser ficar, leve para uma casa de adoção. Eu sou pobre.
Não levando em conta as falas moralistas do jornalista e as lágrimas sinceras, mas, ali, sensacionalistas da enfermeira que hoje cuida do bebê, eu fiquei emocionada. O menininho era recém nascido mesmo, pequeninho e fiquei pensando como ele poderia estar se sentindo, mesmo na desorganização das sensações de um ser humano de apenas alguns dias...
Também voltei estes dias na casa da Maria Clara, a menininha de um ano e meio que foi espancada pelo pai e por isso ficou em um abrigo por cinco meses. Hoje em dia ela está em casa com a mãe e conversamos um pouco sobre o período de Maria Clara no abrigo e a sensação da mãe (e talvez de todos nós!) de que pode ter sido infinitamente difícil para a Clarinha ter perdido sua casa, sua mãe e tudo o mais. E depois ter parado, de um dia para o outro, em uma "casa" estranha, cheia de tias estranhas e mais uma bando de crianças, também tiradas de casa.

Mas este post não é sobre o Matheus (o menininho da caixa de papelão), nem sobre a Maria Clara. É sobre outro menino... que na verdade não foi tirado de casa, mas teve sua casa tirada de si. Aparentemente apenas uma diferença na ordem dos termos, mas não é só isso.

Eu senti que me tiraram minha casa. Ele disse. Eu lembrei que no primeiro ano da faculdade eu havia feito um grupo de estudos em fenomenologia com o Nichan que tinha como objetivo estudar a obra de Gaston Bachelar A Poética do Espaço. Segundo uma anotação minha na antecapa do livro, este se define por ser uma topoanálise da vivência humana através das imagens poéticas da casa. De fato o livro vai trazendo vários poemas relacionados à imagem da casa e analisando como tal imagem fala das mais diversas vivências humanas.


À porta quem virá bater?

Em uma porta aberta se entra

Uma porta fechada um antro

O mundo bate do outro lado da minha porta.


Pierre Albert-Birot


O livro começa com a afirmação de que não se trata se descrever casas e seus pormenores, mas de compreender a função original do habitar: "Porque a casa é nosso canto do mundo. Ela é, como se diz amiúde, o nosso primeiro universo."

Como traz Bachelard, a casa nada mais é do que a imagem que podemos usar para qualquer vivência de se habitar inteiramente e de fato algum lugar. Inversamente, é também a experiência da casa-abrigo, de abrigar-se e ser abrigado que permite um habitar íntegro posterior. Ou seja: se é mais capaz de habitar algo com integridade, quanto mais experiências de abrigagem tivemos na vida.

Meu menino teve sua única experiência de casa de verdade tirada de si. Depois, um bando de meias-casas, muitas delas, umas atrás das outras, incessamente. Díficil mesmo de habitá-las.

Meu menino teve sua casa roubada, foi-lhe tirada quando a havia encontrado, quando começava a experenciar a intimidade do espaço, a circulação livre e segura pelos caminhos... como então ele pode habitar de forma tranquila, senera e íntegra os lugares de hoje em dia? Como pode experimentar de forma íntima e entregue os lugares-casa, os lugares-relacionamento, os lugares-si-mesmo?

Meu menino tem sonhos ruins. Quase todas as noites. Não pode dormir sem a possibilidade de sonhos intranquilos. Ironicamente é o próprio Bachelard que explica que a casa tudo tem a ver com a possibilidade de sonhos belos: "Nessas condições, se nos perguntassem qual o benefício mais precioso da casa, diríamo: a casa abriga o devaneio, a casa protege o sonhador, a casa permite sonhar em paz."


Sonhei com um ninho em que as árvores repeliam a morte.

Adolphe Shedrow


Eu queria muito que o meu menino pudesse ter sonhos bonitos e dormir tranquilamente. Queria que pudesse ter alguma tranquilidade no habitar os espaços. Que pudesse ser um pouco mais forte, nos dizeres de Guimarães: aquele que pára quieto, permanece. Mas talvez não seja assim nunca. Talvez o meu menino passe mesmo a vida indo dos lugares em que vai. Nem sequer podendo partir do lugar em que vive. E ir do lugar em que se vai é uma repetição da mesma coisa, não ajuda a mudar nada.

Uma das poucas coisas que eu lembrava do grupo de estudos sem consultar anotações ou mesmo o próprio livro era a idéia de que só se sai de verdade de algum lugar em que se esteve. Que é preciso aterrar para dar um passo, que é preciso habitar para partir. O meu menino não parte, ele não muda de lugar, ele apenas erra. No sentido do erro em si, mas também no sentido daquele que é errante: que se engana, que se equivoca, que anda ao acaso.

Eu queria dar uma casa oa menino, mas a esta altura do campeonato, quando não se é mais recém nascido como o Matheus, nem se tem um ano como a Clarinha, há que se inventar uma casa e habitá-la até mais do que quando se é criança. Há que se ter a coragem da intimidade pela primeira vez. Há que se ter a coragem, principalmente, de se habitar. De habitar-se. De habitar a casa-corpo, a casa-alma. Com suas escadas, suas poeiras, suas infiltrações e imperfeições. E dai, sim, quem sabe, poder sair por ai. De verdade.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

"Felicidade é a consciência do crescimento".
Alexander Lowen

terça-feira, 4 de maio de 2010

Batidas.

Soco no estômago! O clip da M.I.A. "Born Free" não perdoa. Para alguns nada mais que violência gratuita (o youtube censurou e tirou do ar), para outros - como eu - posicionamentos necessários para os dias de hoje. A crítica é clara e direta: Estados fascistas ganham espaço e suas políticas de vigilância e controle devem ser enfrentadas. Quantánamo te lembra algo? Vejam e tirem suas conclusões. Para quem não sabe a M.I.A. é inglesa e filha de ex-guerrilheiros dos Sri Lanka e escreve músicas de grande contestação e crítica social. Famosa no subterrâneo da música eletrônica, queridinha de um monte de ativistas e fascinada pelas batidas do funk carioca. O vídeo é muito bem feito. Quem produziu foi o Romain Gravas, filho do Costa- Gravas, diretor politicaço dos anos 60 e 70. http://www.miauk.comLink

M.I.A, Born Free from ROMAIN-GAVRAS on Vimeo.

domingo, 2 de maio de 2010

Como tucanar uma eleição!

Novamente meu comparsa TIM superou as expectativas! Palavras precisas sobre boa parte da atual política partidária no Brasil. E seja o que deus quiser!

Por TIM
direto de A Cortiça

Ano eleitoral no Brasil, que desespero! Meia dúzia de candidatos mendigando o voto de 190 milhões de Zés e Zéfas. E, o que é pior, conseguindo!

No Brasil, como sabemos, não faltam partidos políticos fazendo coligações das mais medonhas, tendando de forma desesperada controlar a máquina burocrática do Estado Nacional. Siglas e mais siglas que, se em seu programa partidário há exclamações seguidas por xavões, na prática, a diferença entre todos esses partidos não é assim tão perceptível.

Mas no meio de todas essas siglas e facções criminosas (isso sim é o crime organizado, controla até o Estado!) criou-se uma bipolarização partidária burra. Se você critíca o PT, ofendem sua inteligência e te acusam de tucano. Se você critíca o PSDB, ofendem sua honra e te taxam de petista. Que mania desagradável, reducionista e obtusa essa a de encarar a guerra eleitoral. Até isso parece que importamos dos EUA.
Flagrante de flerte intimista. Repare no olhar sedutor e cordial dos presidenciáveis!

Aliás, cambada, vamos lá, né! Aqui n'A CORTIÇA estamos bem longe das câmeras e dos holofotes. Podemos ser minimamente mais sinceros uns com os outros. Além de não formular uma política para matar sem-terra (como FHC sempre adorou fazer), num plano nacional de governo, quais são as grandes diferenças entre PT e PSDB?

Algum desses partidos governou rompendo com a lógica do Capital? Algum desses partidos puniu os responsáveis pela Ditadura Militar? Algum desses peitou o PMDB? E a tal da reforma agrária prometida por Lula? Ah! Desculpem-me questionar isso! Talvez eu esteja sofrendo daquela "doença infantil"!

O fato é que nas eleições de 2010 para presidente há uma chance enorme do PSDB voltar diretamente ao poder com Serra, o Terrível! Vale dizer que A CORTIÇA já demonstrou todo o seu apoio ao vampiresco candidato em alguns outros posts. Falamos sobre como ele tratou bem da educação de São Paulo e como ele adora valorizar os professores. Afinal de contas, São Paulo é um Estado cada vez melhor.
Mas A CORTIÇA sabe muito bem que mesmo atingindo mais leitores que o Bradesco atinge de lucro, nossos elogios a Serra, o Terrível, não alcançam (ainda) grande parcela da sociedade (... esperem até eu tomar o poder). Dessa forma, contamos com a ajuda de nossos colegas de profissão, aliados de coração, na hora de eleger um vampirão!

OS TUCANOS AVANÇANDO SUAS TRINCHEIRAS

Como sabemos, nossos amiguinhos da mídia corporativa já estão plenamente em campanha para que Serra, o Terrível, consiga finalmente reproduzir sobre o país inteiro seu sanguinolento governo que já aplicou sobre São Paulo.

Em um seminário promovido pelo Instituto Millenium, em São Paulo (evento ocorrido em 1º de março, cuja inscrição custava a bagatela de R$500,00), representantes do mass-media nacional concluíram que PT é um partido contrário à liberdade de expressão e à democracia. Até aí, nenhuma novidade, pois isso sempre foi afirmado ao longo dos oito anos de Lula. Mas em ano eleitoral a cólera tucana fica mais corrosiva.

De acordo com eles, existe o chamado "risco Dilma", ou seja, se a Dilma for eleita o "stalinismo" será implantado no Brasil. Para evitar que isso ocorra, Arnaldo Jabor em sua fala apresenta a estratégia: "Tem que haver um trabalho a priori contra isso, uma atitude de precaução dos meios de comunicação. Temos que ser ofensivos e agressivos, não adianta reclamar depois. Nossa atitude tem que ser agressiva".

Ah, claro! Além do Arnaldo Jabosta, estavam presentes também Reinaldo Azevedo (aquele articulista da Veja, que consegue como ninguém misturar fascismo com neoliberalismo), o Carlos Alberto Di Franco (articulista do Estadão e membro assíduo da Opus Dei) e, não podendo faltar à festa, no evento estava também o ilustríssimo vice-príncipe dos socilólogos, vossa alteza Demétrio Magnoli, em defesa da liberdade (de mercado) atacando o "stalinismo" (e depois dizem que é a esquerda que ainda vive na Guerra Fria, aff...). Poizé! Só gente fina!
Demétrio Magnoli (por mais incível que pareça, à esquerda) dizendo o que pensa sobre Dilma:
"Uma vergonha! Que merda! Desejando governar do alto de sua vassoura..."

Leia tudo aqui na reportagem da Carta Maior.
O Instituto Millenium tem entre seus conselheiros João Roberto Marinho, Roberto Civita, Eurípedes Alcântara e Pedro Bial, e do fórum participaram entidades como a ABERT (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão), ANER (Associação Nacional de Editores de Revista), ANJ (Associação Nacional de Jornais) e ABAP (Associação Brasileira de Agências de Publicidade).

E como sentenciou Reinaldo Azevedo, “na hora em que a imprensa decidir e passar a defender os valores que são da democracia, da economia de mercado e do individualismo, e que não se vai dar trela para quem quer a solapar, começaremos a mudar uma certa cultura”!

GÁS MOSTARDA NOS ADVERSÁRIOS DO BAT-TUCANO

Nós, indefesos pagadores de impostos, encontramo-nos no meio de uma guerra entre Alien e Predador! O Lula já está tomando até multa por utilizar do dinheiro público para fazer campanha pra Dilma por aí, assim como o Serra, o Terrível, também utiliza o nosso dinheirinho de paulista otário fazendo campanha "inaugurando maquete" por aqui! Mas convenhamos: contar com o apoio escancarado da mídia nacional tucana, é como utilizar de gás mostarda na guerra eleitoral. Por exemplo nossa velha companheira: a Veja! (tire as crianças da sala)
Depois de oito longos anos engolindo a seco os resultados nada desprezíveis do governo Lula, chegou a hora de ter um velho aliado no poder novamente. Em sua ediçãode 17 de abril, a Veja foi além de meramente fazer campanha para Serra, o Terrível. Mais que isso, a indispensável revista já o apresenta como presidente pós-Lula.
E o que dizer dá Globo? Foi obrigada a retirar do ar sua campanha de comemoração de 45 anos, pois não apenas se utiliza do mesmo discurso do PSDB ("o Brasil pode mais") como ainda enaltece o número "45" (coincidentemente o mesmo número que você precisa digitar na urna para que o Brasil tenha uma noite eterna sob a vigilância do vampiro). Não acredita, então veja aí embaixo o vídeo tirado do ar!


Sinceramente, só falta colocar a rampeira da Regina Duarte falando que está com medinho novamente


TENTANDO FUGIR DO MINOTAURO

Mas sem essa de querer ficar questionando a mídia e como ela age! Como se não soubéssemos, não é mesmo?! Sabemos muito bem quem controla toda essa circulação massiva de informações, o que eles pensam e o que querem. E, assim sendo, mais proveitoso que ficar questionando, vale mais a pena atirar pedras. Afinal, paus e pedras podem quebrar seus ossos, antenas e etc.
Vejam que fantástico o documentário "Levante sua voz", produzido pelo Intervozes.

Intervozes - Levante sua voz from Pedro Ekman on Vimeo.

Intervozes - Levante sua voz from Pedro Ekman on Vimeo.

Dirigido por Pedro Ekman (e abertamente inspirado no clássico "Ilha das Flores", 1989, de Jorge Furtado), o curta faz um retrato da concentração dos meios de comunicação existente no Brasil.
Esse é um vídeozinho que vale a pena você repassar pra famíla, pros bródi, até pro Ali Kamel!
Como afirma o José Simão: "o Serra é mais feio que a morte comendo pastel"! Mas com seus amiguinhos controlando os meios de comunicação, motivos para sorrir não lhe faltam. Não é mesmo vampirão?
E nas próximas eleições, em vez do título, acho que vou levar alho e água benta!