Existe algo interessante quando alguém se encontra distante de tudo que lhe é familiar. Estar longe dos sons, das palavras, dos gestos que lhe dizem tanto é uma aprendizagem bastante enriquecedora, apesar de muitas vezes dolorosa.
Existe uma cena do filme sobre o incrível músico Ray Charles que pode ajudar a entender isso melhor. Quando o pequeno Ray começa a desenvolver a patologia que irá deixa-lo cego pelo resto da vida, e precisa se adaptar aos novos modos e maneiras, que na verdade é tudo a sua volta, as coisas ficam bem difíceis. Por volta dos seus 5 ou 6 anos ele entra em casa e chama por sua mãe. Ele sempre ficava apenas na varanda da casa e não se arriscava muito para depois do portão. Enfim, um dia ele entra em sua casa e chama pela mãe que mesmo estando ali bem diante dele, não responde. Ela fica parada e não diz nada, nenhum sinal que esta por perto. A criança então se desespera e começa a gritar. Um choro desesperado que não encontra resposta alguma. A mãe permanece imóvel, mesmo com lágrimas nos olhos e o coração na boca, louca pra pular sobre seu filho e lhe oferecer todo acolhimento possível. Porém ela sabe que nem sempre vai estar por perto, que o quanto antes ele se virar, melhor. As vezes vai gritar e não haverá ninguém pra ajudá-lo. Essa cena é mesmo impressionante! Esse moleque tinha que ganhar um oscar por ela. Ele então se acalma e diminui o choro. Seu desespero dá lugar a única possibilidade: estender as mãos e explorar o mundo. Não importa o que está por vir, ele precisa seguir e continuar, conhecer, enfrentar. Não há ninguém para lhe dizer o que fazer. Ele tenta, e o mais incrível e bonito, ele consegue.
Por que estou contando essa cena em particular? Talvez porque muitas pessoas experimentam algo semelhante em suas vidas. Particularmente quando mudam de cidade, de um país, quem sabe de uma relação. Quando não restam lágrimas e seu coração parece sucumbir ao desespero, a única coisa que importa é estender os braços e dar mais um passo. Assim, como diz uma linda canção, toda vez que dou um passo o mundo sai do lugar. Há momentos em que a Vida nos olha como essa mãe. Ela sofre com seu filho, mas o desafia, continua com um tipo de provocação e sempre acredita em sua capacidade. Depois que se vai, o retorno, se assim for, passa a ser apenas a metade do caminho.
foto by Kaxo
Um comentário:
Hola, mi nombre es Kaxo y soy el autor de la fotografía que encabeza tu escrito.
Entiendo que con Internet se pueda vulnerar de una forma más libre los derechos de autor de la gente, pero por lo menos se pide permiso para utilizar la fotografía y, en todo caso, se pone un enlace o link directo a mi galería en Flickr.
Te pido que así lo hagas o que si no elimines por completo la imagen. Para mi es muy especial y personal y me he sentido violado al verla junto a tu texto.
Estaré esperando.
Kaxo-.
Postar um comentário