sábado, 6 de setembro de 2008

Ikura dessu ka.

O que pega de verdade aqui do outro lado do mundo, é que a maioria das coisas que você faz pra sobreviver acabam te exigindo muito mais que sangue e suor. Como a maioria dos imigrantes brasileiros vão parar nas fábricas, o que acabam querendo de você alí é, nada mais nada menos, que a sua alma. E no meio disso tudo, uma vez mais a economia necessária para juntar dinheiro e partir. Mas ninguém é de ferro! Tá pensando que rola a cervejinha no buteco do Joaquim depois do trampo? Que o churrasquinho de fim de semana tá garantido? Complido isso, complicado. Você precisa fazer algumas escolhas antes de seguir com isso. Mas antes de falar do que interessa, cerveja, uma pequena reflexão.

Na minha opinião, isso cria tantos problemas, com as consequências de uma vida voltada apenas ao trabalho, com comprometimento da sociabilidade e do lazer, podendo isso ser no mínimo algo bem triste. Não posso imaginar a quantidade de gente adoecendo fisica e psicologicamente por aqui. O uso de drogas é também bastante elevado. Quadros de depressão idem e você percebe facilmente isso numa conversa de 10 minutos. Conheci jovens com menos de 25 anos que precisam beber todos os dias para dormir. Outros que apelam para o “cristal” (um tipo de estimulante a base de quetamina muito parecido com o ribiti utilizado por alguns caminhoneiros brasileiros para ficarem acordados) num esforço de se manterem inteiros numa jornada de 24 horas de trabalho. Já conheci gente que fez 36 horas de trabalho direto! Normal encontrar gente que trabalha 29 dias por mês.

Mas isso tudo apenas para dizer um pouco mais como a vida por aqui pode ser dura e cara, e uma vez mais, contribuir para a desmistificação de que viver em um país onde a economia é supostamente mais consolidada, a vida é mais facíl.

E como falei antes, ninguém é de ferro. Vai uma cervejinha aí?

Geralmente os bares oferecem uns 3 tipos de cerveja japonesa, além da famosa nama biru, que nada mais é que um chop, e as vezes um ou dois tipos importadas. Se é um bar mais moderninho e descolado, temos o dobro de escolhas da gelada. Na verdade nem sei se dá pra falar isso aqui, porque para quem está acostumado a beber a loirinha próximo a 0ºC, a ponto de congelar, acaba tendo uma certa limitação e frustração. A cerveja nunca é servida assim, e para o gosto brasileiro, muitas vezes ela esta quente.

A cerveja japonesa, que vem numa garrafa de 600ml custa em torno de 500 yens, algo próximo a 4,70 dólares. A caneca do chopp, com 450 ml uns 550 yens, que vale uns 5 dólares. Já as importadas, sempre long neck, custam uns 650 yens, perto de 6 dólares. Quanto você acha que precisa para sentar num bar e beber sem se preocupar com a conta? Meia dúzia de “chopp sem pastel” (uma quantidade razoável para algumas horas com os amigos, não?) te custam uns 3.000 yens, algo em torno de 27 dólares. Apesar do preço é uma boa cerveja. Geralmente mais amarga e incorpada que a maioria das cervejas brasileiras. Existe também uma variedade grande de algo que estaria entre a cerveja e o chopp. Muito mais barata que a cerveja convencional, mas com uma qualidade bem inferior. São populares pelo preço e fáceis de encontrar, principalmente nas lojas de conveniência, ótimo para quem está voltando pra casa, quer tomar mais uma, mas tem pouco dinheiro no bolso.

Bom, pelo que me lembro, com essa mesma quantia de dinheiro no Brasil, tomava um porre homérico para ficar de ressaca uns 3 dias! E por favor não me venham falar dos bares da Vila Olímpia ou mesmo alguns da Vila Madalena em são Paulo, que aí tudo muda de figura. Tô falando das escolhas nos butecos do centro, da República, da Zona Norte, da Barra Funda, lugares por onde andava e bebia sem muita preocupação com a conta. Os preços que descrevi aqui no Japão são sempre esses e mudam muito pouco de um lugar para o outro.

E quando vierem para os lados da terra do sol nascente, diga apenas “Biru onegaishimasu!” = “Uma cerveja, por favor!”, no resto tudo se dá um jeito. E diga também “Kampai!”, nunca tim-tim, porque é assim que eles chamam o orgão sexual masculino e isso pode criar um pequeno constrangimento para os anfitriões japoneses. Ou diga, só pra ver a cara do povo e tirar um sarro disso depois... inté!

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