Lei do Passante
Passante, quase enamorado,
nem livre nem prisioneiro
constantemente arrebatado,
-- fiel? saudoso? amante? alheio? --
a escutar o chamado,
o apelo do mundo inteiro,
nos contrastes de cada lado...
Chega?
Passante quase enamorado,
já divinamente afeito
a amar se ter de ser amado,
porque o tempo é traiçoeiro
e tudo lhe é tirado
repentinamente do peito,
malgrado seu querer, malgrado...
Passa?
Passante quase enamorado,
pelos campos do inverdadeiro,
onde o futuro é já passado...
-- Lúcido, calmo, satisfeito,
-- fiel? saudoso? amante? alheio? –
só de horizontes convidado...
Volta?
Cecília Meireles, Poemas Escritos na Índia, in Obra Poética - Volume Único, Editora Nova Aguilar, Rio de Janeiro, 1987
2 comentários:
Olá,
Tomei a liberdade de copiar o poema.
confira no:
pedalante.blogspot.com/2008/09/flores-e-poesia-na-primavera.html
Abraços
Te respondo com a mesma autora:
É preciso não esquecer nada:
nem a torneira aberta nem o fogo aceso,
nem o sorriso para os infelizes
nem a oração de cada instante.
É preciso não esquecer de ver a nova borboleta
nem o céu de sempre.
O que é preciso é esquecer o nosso rosto,
o nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso.
O que é preciso esquecer é o dia carregado de atos,
a idéia de recompensa e de glória.
O que é preciso é ser como se já não fôssemos,
vigiados pelos próprios olhos
severos conosco, pois o resto não nos pertence.
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