segunda-feira, 5 de maio de 2008

Bons reencontros

O bom de se reler um livro - entre tantas outras coisas - é que uma nova oportunidade é dada para que possamos entender o que antes não enxergavamos. E mesmo que não provoque o mesmo impacto da primeira vez, provocará outros com a chance de se fazer seduzir pelo que existe de novo nesse outro tempo. Escutei certa vez que reler é um tipo de arte. Disse Guimarães Rosa que releitura é deixar de ser "analfabeto para as entrelinhas”.
Estou terminando de reler O velho e o mar de Ernest Hemingway. Apesar de ser a quarta releitura que faço, ainda fico fascinado pelos detalhes psicológicos que estão contidos nessa história. Um velho pescador cheio de boa vontade, ternura e experiência, mas num período de má sorte que não lhe permite nem conseguir o próprio sustento, se depara com uma situação onde pode contar apenas consigo mesmo, precisando superar o que seus olhos não acreditam ver.
O livro é bem conhecido e a historia foi discutida inúmeras vezes, até virou filme com Spencer Tracy. O que me faz nunca deixar esse livro de lado - e sempre insisto na obrigatoriedade dessa leitura para toda criatura que conheço - é o poder de lutar com sabedoria. Para mim é uma das melhores histórias sobre o bom combate. No mesmo nível encontrei Musashi de Eiji Yoshikawa, Demian de Hermann Hesse e Sandman – os caçadores de sonhos de Neil Gaiman. Cada um a seu modo, mas em comum o bom combate, a necessidade de conhecer seus limites, aceitá-los e quem sabe, superá-los. Musashi é o bom combate e o caminho do guerreiro. Demian é o bom combate e o caminho da amizade. Os caçadores de sonhos é o bom combate e o caminho do amor. O livro de Hemingway de algum modo tem um pouco de cada.
Em O velho e o mar um conflito universal aparece na figura de um homem simples e perseverante que apesar das limitações e do medo, faz a escolha pelo combate, pelo enfrentamento do desafio. Mesmo com as mãos doendo e sangrando, Santiago não solta sua linha de pesca. Mesmo sabendo estar indo para águas desconhecidas, não recua. Não se trata de conseguir a vitória ou de dominar o oponente, mas de aceitar a dor e ser capaz de transformar isso em algo maior. Amo essa história porque ela sempre me faz enfrentar e imaginar quantas vezes perdi essa mesma oportunidade por apenas me lamentar e não lutar pelo que precisava. Quanto tempo foi desperdiçado por uma tristeza que não gerou nada além de mágoa e desespero? Entretanto, não preciso ser duro demais comigo. Não sei, talvez quando nos levamos a sério demais, perdemos a oportunidade de rir do que é fundamental: antes de mais nada, rir de nós mesmos. O velho e o mar não é um história alegre com um final feliz, mas ainda assim um conto lindo sobre a condição humana que precisa se aceitar como tal.
Claro que nada pode substituir um livro desses, mas abaixo esta a animação maravilhosa do russo Alexander Petrov de o velho e o mar. Até mais.

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