Pode parecer estranho isso que eu vou falar aqui, mas talvez logo irão concordar comigo. Alguns até dirão antes que “lá vem o Ale com essas coisas sobre o Brasil e a saudade...”, mas apesar de não me cansar disso, é mais adiante o lugar a se chegar. Não sou um grande entendedor da arte do futebol, mas gosto de ver como a redonda é disputada nos gramados e me dou o direito de opinar quando a coisa merece.
Dia 14 foi a final da Copa da UEFA entre o escocês, Rangers, e o russo Zenit. O Zenit foi o grande campeão, vencendo o jogo por 2x0. O jogo não foi lá essas coisas, mas o que nos interessa aqui é outro ponto. O clube russo é bem conhecido por seu racismo. Seu presidente já declarou publicamente que negros alí não entram e houve até o caso triste dos torcedores que certa vez usaram máscaras da Ku Klux Klan em estádios. A FIFA até adivertiu o clube a esse respeito, mas como o time é grande por lá, ficou valendo o seis por meia dúzia. E assim vamos percebendo através do futebol um pouco mais do que acontece no “velho continente civilizado”...
Pois bem, no começo do ano estava tendo a Copa da África e no jogo Egito x Sudão, o egípcio Mohamed Abou Treika comemorou o seu gol exibindo uma camiseta de apoio aos palestinos, com a inscrição “simpatia por Gaza”, justamente num período em que a Faixa de Gaza estava sitiada pelo exército de Israel. A Confederação Africana de Futebol, seguindo uma medida da FIFA, puniu o jogador por fazer manifestações políticas. Está certo que são situação diferentes, envolvendo torcedores, técnico e jogador, mas que deixa claro como os dirigentes encaram a situação. E eu não tenho dúvida se caso fossemos fazer uma comparação com a política internacional hoje o que iriamos descobrir: dois pesos e duas medidas.
E voltemos ao Brasil. Deixo para vocês pensarem um pouco mais sobre arte e futebol, política e manipulação, o excelente texto de Luis Antonio Simas encontrado no seu Histórias do Brasil, o que anda acontecendo no Rio de Janeiro e algumas restrições feitas aos torcedores cariocas. É ou não é pra colocar o dedo na ferida?
Dia 14 foi a final da Copa da UEFA entre o escocês, Rangers, e o russo Zenit. O Zenit foi o grande campeão, vencendo o jogo por 2x0. O jogo não foi lá essas coisas, mas o que nos interessa aqui é outro ponto. O clube russo é bem conhecido por seu racismo. Seu presidente já declarou publicamente que negros alí não entram e houve até o caso triste dos torcedores que certa vez usaram máscaras da Ku Klux Klan em estádios. A FIFA até adivertiu o clube a esse respeito, mas como o time é grande por lá, ficou valendo o seis por meia dúzia. E assim vamos percebendo através do futebol um pouco mais do que acontece no “velho continente civilizado”...
Pois bem, no começo do ano estava tendo a Copa da África e no jogo Egito x Sudão, o egípcio Mohamed Abou Treika comemorou o seu gol exibindo uma camiseta de apoio aos palestinos, com a inscrição “simpatia por Gaza”, justamente num período em que a Faixa de Gaza estava sitiada pelo exército de Israel. A Confederação Africana de Futebol, seguindo uma medida da FIFA, puniu o jogador por fazer manifestações políticas. Está certo que são situação diferentes, envolvendo torcedores, técnico e jogador, mas que deixa claro como os dirigentes encaram a situação. E eu não tenho dúvida se caso fossemos fazer uma comparação com a política internacional hoje o que iriamos descobrir: dois pesos e duas medidas.
E voltemos ao Brasil. Deixo para vocês pensarem um pouco mais sobre arte e futebol, política e manipulação, o excelente texto de Luis Antonio Simas encontrado no seu Histórias do Brasil, o que anda acontecendo no Rio de Janeiro e algumas restrições feitas aos torcedores cariocas. É ou não é pra colocar o dedo na ferida?
Maracanã lotado!
A higienização dos estádios
Ativistas políticos estão sugerindo um boicote aos jogos olímpicos de Pequim. A causa é politicamente correta. Eu vou boicotar o campeonato brasileiro de futebol de 2008. A causa é, graças aos deuses, tremendamente incorreta: a CBF anunciou a proibição da venda de bebidas alcoólicas nos estádios. Não vou aos jogos sem cerveja em nenhuma hipótese. Essa idéia, de um puritanismo primário, é apenas a ponta de um iceberg de sinistras proporções; a morte do futebol-cultura e o advento do futebol-produto.
O futebol começou a ser praticado no Brasil, no início do século XX, como um esporte elitista. Houve, porém, uma popularização magnífica do jogo. Em seu prefácio ao fundamental "O Negro no Futebol brasileiro ", a obra-prima de Mário Filho, Gilberto Freyre diz o seguinte:
"...vá alguém estudar a fundo o jogo de Domingos da Guia ou a literatura de Machado de Assis que encontrará decerto nas raízes de cada um, dando-lhes autenticidade brasileira, um pouco de samba, um pouco de molecagem baiana e até um pouco da capoeiragem pernambucana ou malandragem carioca. Com esses resíduos é que o futebol brasileiro afastou-se do bem ordenado original britânico para tornar-se a dança cheia de surpresas irracionais e de variações dionisíacas que é."
Independentemente de se gostar ou não do jogo, não há como negar que o futebol transformou-se numa instituição nacional de brancos, negros, mulatos e cafuzos, símbolo de um país de mestiços. Ir ao futebol no Brasil é um ato vital inserido num contexto mais amplo, transcendente ao próprio jogo. O encontro no botequim próximo ao estádio e a cerveja nas arquibancadas fazem parte desse ato.
A ida aos estádios está seriamente ameaçada por dois fatores aparentemente distintos, mas que se enredam perversamente. De um lado temos, e não há como negar, a violência das torcidas organizadas. Do outro, a transformação do futebol em um grande negócio. Sob o pretexto, porém, de se combater a violência - tarefa legítima e necessária - o que se busca é elitizar a frequência aos campos. O torcedor só interessa ao negócio da bola como um consumidor potencial.
Ingressos caros, público com bom poder aquisitivo, garantia de ordem e conforto aos frequentadores, afastamento das camadas populares dos campos (em um processo perverso que vincula pobreza e violência) , redução da capacidade dos estádios e acordos milionários com grandes redes de comunicação. Estão criadas assim as condições para o futebol-business, atividade que envolve impressionante circulação de capitais. Esse futebol empresarial, para prosperar, depende da morte do outro, o futebol como traço distintivo de uma cultura popular e mestiça.
Há que se combater a violência nos campos? É evidente que sim. Não nos enganemos, porém. O discurso do combate a violência busca moldar o novo perfil do frequentador dos jogos. Sai o torcedor e entra o consumidor. A ideia é reservar os estádios para as chamadas famílias de bem, entendidas como aquelas que podem pagar 40 mangos pelo ingresso mais barato e 200 reais numa camisa oficial do clube. Algo similar ocorreu com os desfiles das escolas de samba, hoje marcados pelas arquibancadas de turistas e camarotes de celebridades.
Os canais de televisão colaboram com isso. Não é inocente a sistemática campanha pelo futebol-família, termo exaustivamente usado por Galvão Bueno, ou a utilização de orquestras sinfônicas para acompanhar gritos de guerra das torcidas. Insisto que o combate aos vândalos dos campos está sendo instrumentalizado para atingir outro objetivo, o de higienizar os estádios - e uso o termo aqui com o mesmo sentido dado pelos homens do poder no início do século XX, quando combater epidemias passava também pela repressão às manifestações culturais das camadas populares urbanas e o afastamento dos pobres da região central da cidade.
Esse processo vai, evidentemente, culminar com a realização da Copa de 2014 no país. Não duvidem. A clientela - o termo é esse - dos estádios de futebol será formada por turistas e brasileiros de médio e alto poder aquisitivo sem relações emocionais mais profundas com o futebol. O verdadeiro torcedor - aquele que acompanha o cotidiano do seu time e faz do ato de assistir ao jogo uma reinvenção da vida - estará do outro lado da telinha, ou ao pé do rádio, tomando uma gelada, que ninguém é de ferro.
Abraços.
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