O homem nessa foto é meu avô. Antonio de Oliveira Campos, mas todos o chamavam de Seu Campos. Pai do meu pai. Já a criança, acho que é meu primo. Não há data, mas sei que é lá pelo início dos anos 70. Encontrei essa foto olhando alguns álbuns de meus pais. Confesso que tem sido uma experiência bastante interessante, particularmente por que há uma quantidade enorme de fotos de um tempo que eu ainda não existia nesse planetinha. Mas enfim, sobre o Seu Campos. Meu avô sempre foi tranqüilo, desses tipos calmos, que evitavam os excessos, o tumulto desnecessário, mas também era um tanto sério, provavelmente exigente, mas justo. Não convivi muito com ele, mas pelo menos uma semana por ano, nas férias da escola, nós visitávamos ele e sua segunda família que viviam em Uberaba, Minas. Acontece que minha avó faleceu antes de eu nascer e meu avô se casou outra vez, daí minha memória estar toda volta nesse outro lugar, de seu segundo casamento. Ainda lembro de meu avô falando sobre os desígnios da fé e da doutrina espírita codificada por Allan Kardec. Meu avô foi um estudioso dessa doutrina e um entusiasmado divulgador de seus ensinamentos. Eu mesmo só vim me interessar por parte desses assuntos muito tempo depois, particularmente alguns anos antes dele falecer. Ainda assim, ficou guardado dentro de mim, ele me explicando sobre os “capelinos” e as sessões de mediunidade. Eu nem tenho mais tanta certeza a respeito dessas coisas, mas fico contente e sinto uma sensação de acolhimento quando lembro disso. Caso as coisas sejam como dizem os espíritas, deve ele agora estar aprendendo mais alguma coisa por aí no plano astral e ensinando outro tanto acolá. De todo modo, fico com a vontade de dizer como foi bom conhecê-lo. Engraçado, porque cresci em uma família onde homens não choram, se é que vocês me entendem. Quando isso acontece, esteja certo que a coisa ficou no limite do insuportável, e no meu caso é sempre uma verdade catarse! Acontece que tentando entende-lo, acabo por me aproximar de meu pai, que por sua vez me obriga a pensar em mim mesmo, e se me esforço, vislumbro um “tantinho” daqueles que vieram antes ainda de todos nós. Acho que isso é o que chamam de resignação, a força para aceitar aquilo que não pode ser mudado (meu avô partiu), mas de lutar para transformar aquilo que deve ser mudado ( hoje eu tento chorar mais). Meu avô, esse homem descendente de sertanejos nordestinos e negros etíopes! E confesso outra coisa olhando essa foto: sabendo dessa dignidade toda, que ele trazia em cada gesto, ela acaba por me ajudar muito nessa vida. Explico. Quando vamos entendendo melhor de onde viemos e quem esteve aqui antes de nós (acredite você no quiser, não faz diferença), podemos nos apropriar disso de muitos modos, mas quando tomamos para nós exatamente o que leva uma pessoa a caminhar com tamanha certeza de quem é e de seu valor, se cultivarmos e mantermos o mesmo tipo de esforço, já valerá a pena o simples fato de se estar vivo. Eu me sinto assim quando lembro do meu avô e do pouco que convivi com ele. Sem nenhuma complicação, simples assim. Saravá meu avô! Ofereço em sua memória, essa música incrível do Afoxé Oyá Alaxé, de Recife, cantando Quilombo Axé.
Um comentário:
VocÊ lembra ele...
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