Agora que estou mais velho, respeito a vontade dos deuses. Há muito tempo, fui aprovado nos exames e nomeado governador de uma província inteira. Comandei exércitos. Aconselhei dois imperadores. Toda a minha sabedoria estava ao seu dispor, e tudo que eu conhecia estava sob suas ordens. Tive dezenas de milhares em dinheiro, uma esposa, um filho e muitas concubinas. Somente a fênix ascende e não desce: agora com idade avançada, fui mandado para longe da corte, da minha família e de tudo que conheço, rumo ao exílio.
Vi muitas coisas estranhas em minha jornada. Cruzando as montanhas Nan Shan, formos cercados por lobos, incitados por uma criatura atrofiada a quem chamavam de rei. Quando a matamos, o resto perdeu a coragem. Sonhei com as responsabilidades dos imperadores; há muitas léguas já não escuto o rouxinol.
Mas sonhei com sonhos sobre sonhos.
-continua...
*Está é a primeira parte de uma história que será publica aqui em 4 momentos, não necessariamente seqüenciais. Ela pertence ao livro Despertar, de Neil Gaiman. Já falei anteriormente desse livro aqui. O livro é maravilhosamente ilustrado por Michael Zulli e faz com que cada palavra acabe ganhando outra forma e movimento. Apesar de nesse momento estar presente apenas o texto, acredito - como vocês irão perceber – que o encanto de cada trecho é forte o suficiente para nos aproximar do protagonista que narra essa jornada. Como diz o título, Exilados, fala da necessidade de partir, e seja voluntário ou não, em minha opinião, o exílio implica num modo de compartilhar o desafio de aceitar essa jornada da melhor maneira possível. Este texto ofereço então, para todos aqueles que buscam sua casa, seu silêncio e sua paz, particularmente para aqueles que o buscam dentro de si.
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