quinta-feira, 9 de abril de 2009

Quando a história vai sendo escrita: Enric Duran

“Liquidemos o banco - Testemunho de um ativista que desafiou o poder”, é o título de um livro que acaba de ser lançado na Espanha. Enric Duran é um anticapitalista catalão que anunciou no ano passado o "roubo" de quase meio milhão de euros como um ato de "desobediência civil financeira", e que regressou recentemente a Espanha para promover a luta contra o capitalismo. Contudo, em março, no dia 17, terça-feira, foi preso por fraude na Universidade de Barcelona. A seguir apresentamos uma resenha desta obra e mais algumas informações sobre o caso Enric Duran.

Um documento sobre como e porque de suas ações. Logo adiante um conto rocambolesco ou de qualquer leitura sensacionalista, a ação levada a cabo por Enric Duran, conseguindo crédito de 39 entidades bancárias, valendo-se das falhas do próprio sistema financeiro, não apenas colocado em cheque à vulnerabilidade deste sistema, mas também a denúncia contundente da falsa “natureza” do dinheiro, criado pelos bancos a partir da especulação de crédito. Todo ele se explica sem firulas em Abolim la Banca, um livro onde o protagonista nos fala do sentido de sua ação contra os fundamentos do capitalismo.

“Frente a um governo que encarcera muitas pessoas injustamente, o melhor lugar para uma pessoa justa também é a prisão”, com estas palavras de Henry Thoreau, inicia o capítulo “Diário de uma expropriação planificada”, em que Enric Duran (Vilanova i la Geltrú, 1976) narra com fina ironia e todo luxo de detalhes o modo como chegou a reunir cerca de meio milhão de euros em créditos, partindo do nada, para transformá-los depois em recursos que ajudaram a financiar projetos sociais alternativos.

Não existem dúvidas que, além de criar uma inteligente partida de xadrez com o sistema, conhecendo todas as suas jogadas, levar a cabo uma ação assim, traz à tona novamente o significado das palavras de Thoreau e, desde logo, isso é o que tem feito Enric Duran com total destreza. Seus propósitos de “insubmissão bancária”, não é apenas uma marca da tradição de desobediência civil, iniciada pelo pensador norte-americano e incita dentro da tradição sócio-histórica analisada por Eric Hobsbawm em um de seus trabalhos mais conceituados: “Bandidos”.

Neste livro, o historiador analisou o perfil da figura do “bandido social”: um arquétipo que ao largo do tempo se repete de forma mítica em todas as culturas. Onde melhor rastrear a continuidade da tradição na época contemporânea é na “expropriação anarquista”. Não em vão, Enric Duran se refere a ela em seu livro e especialmente a Lucio Urtubia como uma de suas principais fontes de motivação. Que esta tradição continua viva, não é apenas comprovada pela irrupção da ação de Duran em plena crise financeira, mas nos mostra o debate gerado por suas ações, e, sobretudo, as inúmeras mostras de simpatia e cumplicidade que despertou na população.

O ativismo como escola

A leitura de Enric Duran não é meramente acadêmica ou sociológica. Seu testemunho é estímulo que não se pode ficar indiferente. O autor renuncia a seus direitos autorais, remarcando em seu contrato editorial que 10% do preço da arrecadação da venda será destina ao Coletivo Crise para leva a cabo novas ações. De fato, boa parte do livro está destinada a narrar a gênese deste coletivo e seus propósitos a partir de ações como as publicações em massa de “Crisis” e “Podemos Vivir Sin Capitalismo”, ambas financiadas com as expropriações dos bancos.

O que também fica definido no livro é o compromisso social e a trajetória ativista e autodidata de Enric Duran há mais de uma década, quando se iniciou os movimentos de resistência à globalização. Essa foi a escola que o levou a compreender as dificuldades das lutas sociais em um mundo cada vez mais complexo e mutante, assim como a necessidade de criar novas estratégias de luta servindo-se magistralmente de meios como a internet. O livro, em definitivo, é um testemunho de uma pessoa incansável que, faz o que acredita. E isso é o que vale!

Alfonso López Rojo

Resenha publicada no semanário Directa - abril de 2009.

Enric Duran: Abolim la banca.Testimoni d’un activista que ha desafiat el poder.

Ed. Ara Llibres, Badalona, 2009, 213 págs.
A prisão de Enric Duran

Em 17 de setembro de 2008, ao mesmo tempo em que os governos do mundo se mexiam para evitar o colapso do sistema financeiro mundial, Enric Duran, um catalão anticapitalista, anunciou um ato ousado de “desobediência civil financeira”. Ao longo dos últimos dois anos Duran tinha pedido emprestados 492.000 euros de 40 bancos diferentes, sem a intenção de devolver o dinheiro. Como um protesto contra o sistema financeiro global e a natureza inerentemente exploradora dos bancos comerciais, Duran distribuiu o dinheiro a diversos movimentos sociais anticapitalistas na Espanha e utilizou-o para publicar 200.000 exemplares de uma revista chamada “Crise” que critica detalhadamente o sistema bancário. Ele foi apelidado pela mídia de “Robin dos Bosques dos Bancos”.

Duran deixou o país para evitar processos judiciais e iniciou uma campanha para organizar devedores e depositantes bancários com o coletivo “Crise” de Barcelona. Em 16 de março de 2009 Duran regressava a Barcelona para anunciar uma segunda publicação numa conferência de imprensa. A publicação define as formas de começar a organizar uma sociedade pós-capitalista. 350.000 exemplares da revista foram editados e distribuídos gratuitamente, por centenas de voluntários, em toda a Espanha.

Em 17 de março, Duran foi preso por fraude na Universidade de Barcelona. Solidários com Duran realizaram uma manifestação exigindo a sua libertação, no dia 18 de março.

Para atualizações sobre a situação de Enric Duran visite: http://17-s.info ou http://bankstrike.net ou através do e-mail: bankstrike@riseup.net

“Viver sem capitalismo”

É a peça central da publicação “Podemos!”, delineando uma resposta popular para obrigar os ricos a pagar pela crise financeira. Apela para que as pessoas organizem alternativas ao capitalismo através da remoção de depósitos dos bancos, suspendendo os pagamentos de dívidas e hipotecas, e ao desenvolvimento de instituições auto-geridas para satisfazer as necessidades dos povos.

Mais infos e para baixar a publicação: www.17-s.info

Solidariedade

Para enviar cartas de apoio a Enric Duran, atualmente detido na prisão de Brians:

Enric Duran

Brians, 1

Aptdo. 1000

08.760 - Martorell

Barcelona - Espanha

Tradução > Palomilla Negra
fonte Agencia de Notícias anarquistas

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