sexta-feira, 29 de maio de 2009

Sempre na última sexta-feira do mês.

E leiam abaixo as ótimas palavras de Luiz Antonio Simas no seu Histórias do Brasil

Tomei, no ano passado, uma das mais sensatas decisões de minha vida; deixei de ter carro. A motorista, aqui em casa, é a mulher. A vida sem automóvel é uma belezura - ando de ônibus, barcas e metrô; prefiro beber mesmo em botequins perto de casa; não fico doido em engarrafamentos; gasto de táxi muito menos do que gastaria pagando IPVA, pedágios, seguro e estacionamentos; não sou extorquido por guardadores; e não preciso enfrentar os visigodos do trânsito carioca. Acordo meia horinha mais cedo para trabalhar, mas os ganhos que obtive com essa decisão foram imensos. Sei que muita gente depende do carro - por razões de trabalho e por conta das deficiências grosseiras do transporte público. Eu tenho a sorte de não precisar.

Já esculhambei alhures o governo de Juscelino Kubitschek por causa do desvario rodoviarista dos anos dourados. Além da opção rodoviarista propriamente dita, os anos JK começaram a criar no Brasil um troço terrível; o culto ao automóvel como símbolo de projeção social. O automóvel é o epítome de um Brasil que foi perdendo a delicadeza. O culto ao defunto Airton Senna [um sujeito que conseguiu namorar a Xuxa, apoiar o Maluf e ser amigo íntimo do Galvão Bueno; e cujo talento maior foi o de ficar dando voltas em alta velocidade numa banheira de gasolina] é a sua expressão mais macabra.

Comecei fazendo esse arrazoado contra o automóvel para contar uma história curiosa. Em 1957, em plena euforia desenvolvimentista, o país gastava os tubos construíndo rodovias de integração nacional e sucateava de forma suicída a malha ferroviária. Enquanto o asfalto cortava o país, a Estrada de Ferro Teresina-São Luís, por exemplo, continuava trafegando com máquinas movidas a lenha.

Puto dentro das calças com essa história, o grande João do Vale resolveu fazer uma música denunciando o abandono e a lerdeza da ferrovia. Foi assim que surgiu o xote De Teresina a São Luís - uma das mais elegantes, bem-humoradas e contundentes críticas ao abandono criminoso das ferrovias brasileiras e, ao mesmo tempo, uma crônica magnífica do que era viajar de trem naquelas plagas distantes do Brasil dourado de Juscelino; esquecidas pelo Plano de Metas do simpático Nonô.

O resto é História [maiúscula]. Luiz Gonzaga gravou e a música fez um sucesso danado. Foi o suficiente para que os políticos espertalhões da região providenciassem a mudança; trocassem a lenha pelo óleo diesel e colocassem nas duas locomotivas que faziam a rota nomes de canções de João do Vale. O trem que subia para Teresina foi batizado de Pisa na Fulô, e o que descia para São Luís, de Peba na Pimenta.

Ouçam aqui o Velho Lua cantando essa maravilha que é De Teresina a São Luís.

Abraços.

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