quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Dos trampos e outros conflitos

Ia eu tentar escrever algo parecido. Sobre trabalho, desemprego e a correria de buscar o seu da melhor maneira possível. Encontrei o texto no blog da Cidinha. Talvez a diferença um pouco mais significativa entre o Michel - que não conheço - e eu é o fato dele ter o ensino médio (ou em vias de terminar, ou ainda nada disso, tudo especulação minha...) e eu estar iniciando um doutorado. E fique claro que não se trata de capacidade, mas de tempo, afinal sou mais velho do que ele, estive onde ele está e passei por alguns lugares por onde ele ainda vai passar, isso se desejar. Fica claro pelo talento do rapaz que vai onde quiser. Mas nem só de talento as coisas acontecem e a humanidade caminha, sendo assim, faço das palavras dele as minhas. Antes conto que assisti na tv esses dias um especialista, desses com títulos importantes e reconhecimento internacional. Dizia o tal economista que o problema do Brasil é a falta de qualificação profissional. Que o trampo está aí pra quem quiser e um monte de blá, blá, blá. Ele não está de todo errado, mas não sei, fico sempre com uma sensação estranha quando escuto coisas que minha própria experiência contraria. Tenho também alguns amigos doutores. E alguns deles infelizmente começam a não revelar suas qualificações porque no fim das contas o possível empregador não quer, já que na opinião dele, vai ficar uma coisa cara. Ou mesmo o caso de outros que depois de anos na pós-graduação vão parar na linha de produção da Uni-não-sei-o-que e acabam recebendo apenas como especialistas. Acontece, para quem não sabe, que as universidades sempre pagam salários distintos dependendo da titulação do profissional. Até aí normal, o problema é depois de uns 8 anos na pós, você receber equivalente a algo como se esse tempo nunca tivesse existido na sua vida. Vai vendo! Tá bom, eu sei que dá para pensarmos um monte sobre luta de classes, a merda do capitalismo, as desiqualdades, os privilégios, as relações de poder e mais um monte de outras coisas fundamentais, mas agora chega. Fica pra próxima. Abraços!


(Por: Michel da Silva) "Segundona. Sete e meia da manhã. Praça Ramos de Azevedo e um envelope com cinco currículos de baixo do braço. Tudo pra tentar sair da fila do desemprego. A fila de um prédio em frente da Galeria 24 de maio me pareceu convidativa. As vitrines me instigaram: “Quando ganhar meu primeiro pagamento vou comprar um tênis”. Mas primeiro um trampo. Então deixa pra lá o pensamento alheio. Achei um jornal. Dei uma folheada pra não pesar na consciência e li o seguinte anúncio: “CURSO PROFISSIONALIZANTE PARA OFFICE-BOY”. Amassei e joguei no lixo. Me lembrei do tempo que eu trampava de office-boy, detalhe: sem fazer curso nenhum. Trombava outros manos nos bancos e fliperamas da vida. Era muita idéia, tiração de sarro, uns rolês. Nosso lema era: “A gente ganha pouco, mas se diverte!” Naquela época eu concordava. No prédio o que mais tinha era agência, e o que menos tinha era emprego. Primeira sala: Mais uma filinha básica. Chegou a minha vez, a moça do balcão me olhou e disse: - "Aqui não pega currículo! Só faz cadastro"! - "Tá bom! Posso fazer"? - "É um real pra fazer o cadastro... Você vai ser visto por diversas empre"... Antes dela terminar, dei às costas. Segunda sala, no andar de cima: Sem fila. Resolvi entrar. Tirei um currículo do envelope e esperei. Um cara, quando me viu chegar, entrou numa sala fechada. A moça, que estava sentada, fingiu que não me viu. Chamei a atenção dela: - "Por favor"... Recebi na lata. - "Pra deixar currículo é cinqüenta centavos, moço"! Balancei a cabeça e fui embora. Caramba! Eu já vi situação em que você paga pra trabalhar, mas pra procurar? Fui embora. Na descida, vi dois manos comentando: - "Que sacanagem! Pagar pra arrumar emprego"! O outro foi além: - "Já ouvi falar que mesmo as agências que não cobram, só pegam currículo pra juntar uma cota boa e vender o papel, vai vendo"! Não agüentei, dei risada da conspiração. Firmeza! Fui a outro prédio na Barão de Itapetininga. Segui a indicação da placa, sobre o corpo de um senhor na rua. O outdoor humano anunciava 50 vagas para operador de telemarketing, inicio imediato. Me olho brilhou e corri pro endereço. Terceira sala: Mais fila. Na hora que fui atendido a menina do balcão olhou meu currículo e perguntou: - "Você tem experiência em carteira"? - "Não, mas trabalhei pra uma cooperativa. Era de operador também". - "Olha moço, pras vagas correspondentes, só estamos aceitando currículo de quem tem experiência". – Eu olhava pra ela e seu rosto parecia se derreter no mesmo ritmo da voz. Tentei manguear na rua de novo . Parei na banca de jornal para olhar as manchetes. Futebol meu time perdeu. Mega Sena acumulou. Greve do metrô. Corrupção na política. Caos nos aeroportos! Sem novidade. Queria mais que tudo explodisse! Pique Bin Landen! Mirei uma agência na Sete de abril. Quarta sala: Até que enfim a chama reascendeu. A moça do balcão mó atenciosa, leu meu currículo, disse que eu tinha perfil pra vaga. Nem precisei esperar muito. Já fui pra entrevista. “Agora vai virar” – pensei. Na salinha fui atendido por um outro cara. - "Bom dia, Paulo"! – falou olhando pra minha ficha - "Bom dia" - "Então, nos aprovamos seu currículo! Você foi selecionado pra fazer um treinamento de trinta dias e após o treinamento você inicia na empresa. Ok"? - "Tudo bem"!? Ele continuou com um sorriso largo: - "No final desses trinta dias você vai receber um certificado de conclusão do curso. O único custo é o material didático, 150 reais. Mas a vantagem é que você já está com a sua vaga garantida e mesmo que você não fique na nossa empresa, você vai ter um diploma de operador de telemarketing. O curso inicia amanhã, posso confirmar seu nome"?

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