Iniciamos o ano com um enorme lamento. Gaza, Palestina. Definitivamente não há mais como dizer que não se sabia a intenção de Israel: matar todos os palestinos! Os detalhes estão revelados. Um massacre feito em nome de uma oportunidade eleitoreira. Meses de planejamento para efetivar o extermínio. Crianças massacradas. Uma vez mais, a brutalidade e a violação de todos os direitos humanos para beneficiar um pequeno grupo e ainda contando com a conivencia de uma mídia corporativa de merda como a brasileira. Sei que posso chover no molhado falando algumas das coisas aqui, mas é inevitável. Por favor, não deixem de ler o pequeno texto de Haim Bresheeth no final.
Desculpe, mas é mais que um desabafo! Que fique claro: não sou anti-semita, mas com toda minha fúria eu afirmo: sou anti-sionista sim! Assim como sou contra o racismo, a homofobia, o sexismo, sou contra essa porcaria de Estado sionista. Há muito tempo venho pensando nessa maneira de colocar as coisas.
Devemos entender melhor que anti-semitismo não tem nada haver com anti-sionismo. Os malditos sionistas querem dizer que sim, mas isso é uma farsa deslavada. Semita é o praticante da cultura e religião judáica e não importa o lugar onde vivem, sua identidade é preservada e caracterizada por formas específicas de agir. O judaísmo é legítimo, deve ser respeitado e aceito como manifestação autêntica e diversa de um grupo humano.
Diferente do sionismo. Esse passa por um processo de "reforma" de suas escrituras sagradas, carregado de uma ideologia segregacionista, intolerante e racista. É diferente de religião e isso é outro papo. O Estado de Israel é um Estado sionista, logo autoritário, facista, repulsivo! Não reconhecem o povo local e não respeitam a autonomia daqueles que vivem alí a milhares de anos. Para apoiar o sionismo e seu Estado covarde e assassino precisa ser mal informado ou mal intencionado mesmo. Que fique muito claro também: a Palestina não pertence ao Estado de Israel!
O que temos haver com isso? Tudo! Imagine você não poder atravessar a rua de sua casa para ir a escola ou hospital? Imagine não poder mais trabalhar? Imagine ser revistado cada vez que sair para comprar comida? Imagine suas filhas e esposas violentadas? Imagine seu filho fuzilado? Imagine seu pai preso por anos sem cometer nenhum crime? Imaginou? Essa é uma realidade comum na Palestina, na Faixa de Gaza. Isso nos faz todos palestinos! Coincidência? A guerra civíl não parou nas grandes cidades brasileiras. Somos todos palestinos! A violência do Estado continua matando crianças em São Paulo, Rio, Salvador, Recife. Somos todos palestinos! Os muros continuam separando mansões e favelas. Somos todos palestinos! O jovem negro olhado com desconfiança cada vez que entra numa loja. Somos todos palestinos! Vivemos todos em Gaza! Viva o povo palestino! Viva os povos árabes!
A paz não passa pelo massacre, por Milton Hatoum O exército de Israel é suficientemente poderoso para destruir todo o Oriente Médio (e, de fato, também para destruir parte importante do ocidente). O único problema é que, até hoje, jamais conseguiu mandar, sequer, no território em que lhe caberia mandar. O mais poderoso exército do mundo está detido, ainda, pela resistência palestina. Como entender essa contradição?
Bem, para começar, Israel jamais trabalhou para construir qualquer paz com os palestinos; jamais usou outro meio que não fossem os meios do extermínio, da limpeza étnica, do holocausto, para matar as populações nativas e residentes históricas na Palestina, desde a fundação do Estado de Israel, em maio de 1948.
Israel expulsou 750 mil palestinos, converteu-os em refugiados e, em seguida, passou a impedir sistematicamente o retorno deles e de seus filhos (hoje, também, já, dos netos deles), apesar das Resoluções da ONU, ao mesmo tempo em que continuou a destruir cidades e vilas, ou - o que é o mesmo - passou a construir colônias de ocupação sobre as ruínas das cidades e vilas palestinas.
Desde 1967, Israel fez tudo que algum Estado poderia fazer para tornar impossível qualquer solução política: colonizou por vias ilegais territórios ocupados por via ilegal e recusou-se a acatar os limites de antes das invasões de 1967; construiu um muro de apartheid; e tornou a vida impossível para a maioria dos palestinos. Nada, aí, faz pensar em esforço de paz. Antes, é operação continuada e sistemática para a limpeza étnica dos territórios palestinos ocupados ilegalmente.
Assim sendo, se a paz implicar - como implica necessariamente - o fim do mini-império construído por Israel, Israel continuará a fazer o que estiver ao seu alcance para que não haja paz, mesmo que a paz lhe seja oferecida numa bandeja, como a Iniciativa de Paz dos sauditas, recentemente, por exemplo. Outra vez, não se entende: se os israelenses só tinham a esperar esse tipo de oferta, se desejassem alguma paz, porque a rejeitaram, praticamente sem nem a considerar?
Faz tanto tempo que Israel rejeita toda e qualquer possibilidade de paz, que a maioria dos israelenses já nem são capazes de ver que rejeitar a paz converteu-se, para Israel, numa espécie de segunda natureza.
Mas o motivo mais aterrorizante pelo qual nenhuma iniciativa de paz jamais teve qualquer chance de prosperar tem a ver, de fato, conosco, com o ocidente.
Israel continua a ser apoiada pelas democracias ocidentais como uma espécie de força delegada, como batalhão ocidental avançado, implantado na entrada do mundo árabe, mais indispensável, tanto quanto mais dependente do ocidente, que regimes-clientes, como os sauditas e como o Iraque de Saddam até 1990.
Como uma espécie de 'encarnação' da tese do "choque de civilizações" de Huntington, Israel é, como sempre foi, mais exposta ou mais veladamente, um bastião do mundo judeu-cristão, contra os árabes e o Islam.
Isso já era verdade há décadas, mas jamais foi mais verdade do que na última década, quando a Ordem do Novo Mundo entrou em crise terminal, e começou-se a ouvir falar da "Doutrina do Choque", de "Choque e Horror", de várias 'operações' tempestade contra os desertos da Ásia e sempre contra os islâmicos.
Israel, não o Iran, possui armas nucleares e é capaz de usá-las - e várias vezes já ameaçou usá-las. Mas fala-se como se o perigo viesse do Iran, não se Israel. Os que propõem a destruição do Iran são os mesmos mercadores de tragédias que impingiram aos EUA e à Inglaterra o custo altíssimo da guerra do Iraque.
Quem escreve é Haim Bresheeth, professor titular de Estudos sobre Mídia na Universidade de East London, citado pelo mais premiado escritor brasileiro contemporâneo, Milton Hatoum.
Um comentário:
alê,
postamos quase ao mesmo tempo, quase a mesma coisa.
se somos todos palestinos, nos organizemos em solidariedade ativa e paremos este genocídio!
chega de hospitais bombardeados e crianças mortas!
viva a resistência palestina!
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