quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Janelas abertas

Certa noite voltei ao meu eremitério após caminhar nas montanhas, e percebi que todas as portas e janelas da cabana estavam completamente abertas. Ao deixar a casa, eu não as havia fixado, e um vento frio soprou através da habitação, abrindo as janelas e espalhando por toda a sala os papéis que estavam sobre minha mesa. Imediatamente fechei as portas e janelas, acendi uma lâmpada, recolhi os papéis e arrumei-os ordenadamente sobre minha mesa. Acendi então o fogo da lareira, e logo a lenha crepitante voltou a aquecer a sala.

Algumas vezes nos sentimos cansados, com frio e solitários no meio da multidão. Podemos desejar nos retirar para sermos nós mesmos e nos aquecermos novamente, como fiz no eremitério, sentando-me perto do fogo, protegido do vento frio e úmido. Nossos sentidos são janelas para o mundo exterior, e algumas vezes o vento sopra e nos perturba interiormente. Muitos de nós deixamos a janela aberta o tempo todo, permitindo que as visões e os sons do mundo nos invadam, nos penetrem e exponham nosso eu triste e perturbado. Ficamos com muito frio e nos sentimos solitários e temerosos. Você já deu consigo assistindo a um programa horrível na televisão e incapaz de desligá-la? Os sons estridentes e o estampido de armas de fogo são desagradáveis. No entanto, você não se levanta para desligar a televisão. Por que você se tortura dessa maneira? Você não quer fechar suas janelas? Está com medo de ficar sozinho – do vazio e da solidão que poderá encontrar quando se vir a sós?

Thich Nhat Hanh, O Sol meu coração, da atenção à contemplação intuitiva, Editora Paulus, São Paulo, 1995

retirado de para ser zen

Nenhum comentário: