Caminho por dois lugares quanto a espiritualidade. Tem gente que não encara isso com bons olhos, acha complicado, pensa que caminhar por caminhos distintos na senda da religiosidade é um ecletismo desnecessário. Talvez, mas eu tenho aqui comigo uma certeza: como um perfeito par de sapatos, cada um voltado para um lado, com sua função bem definida, o budismo e a umbanda são uma perfeita combinação. Não apenas por me auxiliarem, mas por as vezes serem meus próprios pés. Não é ecletismo, papagaida de nova era que aceita qualquer coisa em nome de uma pseudo diversidade, tampouco coisa de quem não sabe o que quer. A umbanda é um de meus modos de permanecer na tradição, é a religião do meu povo, da minha casa, da minha terra. Há nela um olhor tão belo e lindo que para mim é a experiência da amorosidade única. E como a muito tempo ando eu sedento de povo e terra é alí que faço minha oração e aprofundo os fundamentos, é o mistério, a magia e aceitação. Alí ninguém nunca disse que estava certo ou errado. Nesse espaço e nesse encontro posso aceitar o Tempo, saber melhor que acaso é um luxo que quase nunca temos. É a força do combate bem sucedido. Já no budismo a coisa é diferente. Pelo menos no que estudei e tento experimentar é o olhar da prática da compaixão. é saber o que o outro sente sem precisar passar por aquilo. Dos ensinamentos de Sidartha vieram os esforços para a ação correta, para a ação sem reação. É observar para acalmar seu pensamento e seu corpo. Perceber a impermanência, anicca... Sempre o bom combate pela paciência. Esse encontro é de resignação porque sabe do momento para mudar, para deixar partir, mesmo quando não tenho a menor idéia do que estou fazendo. Cria movimento, é o caos, é silêncio. Também é quando choro, quando a dor cala fundo. E esta tudo bem. É a ambiguidade. Minha singularidade que precisa ser, que quer acontecer. O que me interessa nesse espaços é que a conotação de bem/mal, certo/errado, corpo/mente é percebida de modo bem diferente do que o habitual. Ela não é a dualidade. Sua moralidade é para o bem comum e os desejos para meu crescimento. As vezes os dias são por demais conflitivos e o medo maior do que conheço, e é nesses dias que chamo Exu para sentar e meditar comigo. Ele me acompanha e não fala muito. Exu não é apenas conhecimento, é sabedoria. Ele me mostra pelo lugar que caminho onde é que esta meu apego e minha aversão. Exu é aquele que caminha pelo Vazio! É a máxima do ditado que professa que é dando que se recebe. Exu é a perfeita prática do discurso sobre o Carma. Sabe que ações não são melhores ou piores, mas que elas tem consequências! Ele é o Mestre que não se pode vencer. Ele é conhecedor do Dharmma e para esses não há caminhos desconhecidos. Quando Buda caminhou pela terra a tantos séculos atrás e conheceu as Nobres Verdades em sua iluminação, reverenciou todos os seres de todos os mundos existentes com a cabeça tocando a terra em uma encruzilhada. Há dias mais conturbados sim, e nesses dias eu agradeço por Exu sentar e meditar comigo. O que não me surpreende é que ele sempre aceita.
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