quinta-feira, 12 de novembro de 2009

De São José

Aconteceu numa das tardes que caminhava pelo centro da cidade. Tenho uma "janela" logo após o almoço e costumo caminhar pelas ruas de São José dos Campos que me são mais acessíveis para conhecer melhor a cidade onde trabalho. O centro, seja de qual cidade for, sempre me interessa. Alí sempre está concentrada uma espécie de democracia direta, é o lugar que reúne a diversidade e que revela bem a cidade a qual pertence. O centro precisa conviver com a diferença, ele é a convergência, a aglutinação da diversidade por excelência. Enfim, adoro o centro! O de São José revela essa particularidade também. Simultaneamente é o típico interior paulista com um tanto da metrópole, da conversa tranqüila do caipira e do passo acelerado dos comerciantes. A principal praça do centro de São José é a Afonso Pena. Bem cuidada e arborizada, possui uma fonte central, é cercada por algumas lojas de armarinhos, móveis e eletrodomésticos, agências bancárias, um restaurante, uma escola, um distrito policial, algumas bancas de jornal e livros usados, barraquinhas de lanches a preços populares e parte do Banhado, principal cartão postal da cidade de onde se pode ver o pôr do sol. Os tipos que a habitam também são bem ecléticos e são esses que me interessam mais. Estão por alí no horário comercial, inúmeros trabalhadores do comércio, estudantes, donas de casa, senhores com chapéu de palha e trabalhadoras do sexo. Realmente me chamou atenção essa atividade por lá, mas é isso mesmo. Estão em um dos cantos da praça as crianças brincando no chafariz, no outro os idosos papeando e jogam baralho, e em outra parte, as trabalhadoras do sexo que oferecem seus serviços para que estiver interessado. Muito tranquilas, discretas e educadas, permanecem sentadas na mureta do jardim, ou em pé, sozinhas, em dupla ou trio, esperando a abordagem dos clientes. Como disse, numa tarde dessas caminhando pelo centro, depois de comprar um sorvete, resolvi sentar num dos bancos próximo as meninas para pensar sobre os problemas da existência que afligiam minha alma naquele momento. Não me dei conta quando uma delas sentou no mesmo banco que eu. Não disse nada. Nem ela. Passados alguns segundos ela me fala:

-Vamos?
-Obrigado, mas acho que não.
Alguns segundos depois pergunto:
-E quanto é?
-40, mais 10 do hotel.
-E você fica sempre aqui?
-Todos os dias, de segunda a sexta, das 9:00 às 18:00.
-Horário comercial mesmo. Não trabalha a noite?
-Não, tenho que cuidar da casa, então só de dia.
-Entendi.

Ela se dando conta que alí não tinha cliente também não disse mais nada. Ainda assim me tratou com simpatia e permaneceu sentada olhando as crianças brincando. Terminei meu sorvete, me despedi com um "até logo" e um aceno de mão e voltei a caminhar em direção a meu trabalho.
Vim a saber depois por uma de minhas alunas, joseense nativa de quase trinta anos, que a praça é ponto dessas trabalhadoras antes mesmo dela nascer. Interessante, não? Fico intrigado para entender melhor dessa convivencia entre tantos tipos distintos numa cidade como São José. Talvez, como disse antes, seja a beleza e o encantamento das diferenças do centro que permita essa aglomeração de identidades tão múltiplas.

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