Faz um tempo que não falo sobre a Etiópa (já disse algo aqui, aqui e aqui) e continuo com a intensão de esclarecer mais coisas dessa terra linda e desse povo da qual sou descendente. Vamos ao que interessa e isso pode surpreender algumas pessoas: lá existem judeus negros. Não etíopes convertidos nas últimas décadas, mas considerados uma das 10 tribos perdidas de Israel e que segundo eles, com ancestrais remontando ao rei Salomão e à rainha de Sheba, ou Sabá. A história mais conhecida é mais ou menos a seguinte:
Por quase 3.000 anos, os judeus negros da Etiópia, conhecidos como falashas e que se auto-denominam Beta Israel mantiveram sua fé e identidade. Esse povo só ficaria conhecido pelo outros judeus em 1860, quando missionários ingleses entraram em contato com a tribo que praticava os rituais da Torá. Desde então a coisa foi tomando corpo e um monte de historiadores e outors judeus foram visitá-los na África.
A desconfiança mútua foi diminuindo na medida em que os debates sobre o judaismo aumentavam e a idéia de retorno a Jerusalém se tornava concenso. Acredite se quiser, mas conta um dos lados dessa história que a maior desconfiança era por parte do povo preto da África, afinal de contas depois de tanto tempo "isolados" e sem nenhum contato com outros judeus, eles diziam como seria possível um judeu branco?! Pois então, e é agora que a coisa vai ficando curiosa. Muitos desse povo queriam voltar a Jerusalém e aos poucos, desde 1930 isso foi acontecendo. Como a maioria dos relatos foram feitos por israelenses e membros do governo de Israel fica um pouo dificil saber como a coisa aconteceu de verdade. Mas vamos considerar o relato de Asher Naim, diplomata israelense que sempre esteve bastante próximo aos judeus etíopes e se envolveu diretamente na maior operação feita para a remoção dos falashas da Etiópia, que foi chamada operação Salomão.
Nos conta ele que em 1990, enquanto as forças rebeldes avançavam contra o ditador etíope Mengistu Haile Mariam, foi ficando claro que os falashas seriam exterminados, a não ser que conseguissem deixar o país. No dia 23 de maio de 1991, decidiu que havia chegado a hora de convocar a força aérea israelense - a operação Salomão devia começar imediatamente. Mengistu aceitara as condições, mediante pagamento em espécie e impondo segredo absoluto. Diante da embaixada israelense, milhares de falashas se acotovelavam, prontos para partir. Os primeiros aviões israelenses aterrissaram no aeroporto de Adis Abeba (capital da Etiópia), e no total, 14.200 etíopes foram levados da cidade para o aeroporto Ben-Gurion, em Tel Aviv. Trinta e cinco aviões militares e civis fizeram 41 vôos. Em um dado momento, haviam 28 aviões no ar. Um dos Jumbos, que normalmente poderia levar 500 passageiros, transportou de uma só vez 1.087 pessoas.
Os desafios continuam e em Israel a adaptação dos imigrantes tem sido bastante difícil. A maioria era muito jovem quando chegou e sofrem pela dificuldade nas diferenças culturais, assim como rejeição por causa de sua cor. Apartir daqui voltamos ao problema de conseguir mais informações. Claro que o governo de Israel divulga projetos e mais programas sobre a necessidade de integração e respeito aos falashas, mas como sabemos, falar e fazer são coisas bem distintas. Claro que por questões óbvias, muitos líderes etíopes apoiam o Estado de Israel. E claro também que o bicho já começou a pegar, principalmente no que diz respeito a religião. Acontece que muitos etiopes são cristãos e nessa leva toda de pessoas, muitos deles foram juntos. Existiam muitas familias que precisavam ser reunidas, assim como membros da seita Falash Mura, que mesmo se dizendo judeus, são acusados de terem raízes cristãs.
Atualmente o embaraço é por não saber quem fala o que. Nos últimos anos os falashas que ficaram na Etiopia pressionam o governo de Israel para serem levados até lá. Ou porque famílias se separaram, ou porque acreditaram na promessa do governo anos atrás de que isso iria acontecer, ou simplesmente porque a vida na Etiópia não é nada fácíl e Israel poderia ser um pouco melhor. Na verdade pelo que parece, eles já estão se tornando párias e ocupam o pior lugar na sociedade israelense. Nesse auê todo, tem gente entre os próprios etíopes, defendendo a expulsão de alguns compatriotas que falam sobre o cristianismo dentro da comunidade. Só para se ter uma idéia de como a coisa está, alguns etíopes se dizem judeus, mas que também acreditam em Jesus!
Bom, e para terminar você pode ficar perguntando o que eu penso, certo? Dificil saber. Primeiro pelo modo que temos as informações, na maioria das vezes dadas por orgãos do governo ou grupos que o apoiam. E nesse ponto, deixo bem claro que não apoio o Estado de Israel, e menos ainda me sinto a vontade para ir mais longe em dar credibilidade para suas informações, uma vez mais a diferente entre o que se fala e o que se faz. Segundo que falar de êxodo é sempre complicado. É fácil cair em algum reducionismo ou desconhecer a causa de algo que não vivemos e que é tão evidente ter poucos estudos a respeito. Terceiro, que independente da razão para irem à Israel ter sido religiosa ou não, bem intencionada ou não, nesse período a Etiópia estava vivendo uma guerra civíl devastadora aonde não escapava ninguém. Honestamente, talvez se tivesse a oportunidade de me salvar e salvar minha família eu também deixaria minha casa e atravessaria a fronteira para um outro país. Como avaliar isso? Que tipo de julgamento podemos fazer?
Fico então pensando sobre isso com vocês. A montagem abaixo apresenta algumas fotos dos falashas. A musica eh de Matisyahu e em outro momento prometo falar desse cara que vale a pena. Até mais.
Por quase 3.000 anos, os judeus negros da Etiópia, conhecidos como falashas e que se auto-denominam Beta Israel mantiveram sua fé e identidade. Esse povo só ficaria conhecido pelo outros judeus em 1860, quando missionários ingleses entraram em contato com a tribo que praticava os rituais da Torá. Desde então a coisa foi tomando corpo e um monte de historiadores e outors judeus foram visitá-los na África.
A desconfiança mútua foi diminuindo na medida em que os debates sobre o judaismo aumentavam e a idéia de retorno a Jerusalém se tornava concenso. Acredite se quiser, mas conta um dos lados dessa história que a maior desconfiança era por parte do povo preto da África, afinal de contas depois de tanto tempo "isolados" e sem nenhum contato com outros judeus, eles diziam como seria possível um judeu branco?! Pois então, e é agora que a coisa vai ficando curiosa. Muitos desse povo queriam voltar a Jerusalém e aos poucos, desde 1930 isso foi acontecendo. Como a maioria dos relatos foram feitos por israelenses e membros do governo de Israel fica um pouo dificil saber como a coisa aconteceu de verdade. Mas vamos considerar o relato de Asher Naim, diplomata israelense que sempre esteve bastante próximo aos judeus etíopes e se envolveu diretamente na maior operação feita para a remoção dos falashas da Etiópia, que foi chamada operação Salomão.
Nos conta ele que em 1990, enquanto as forças rebeldes avançavam contra o ditador etíope Mengistu Haile Mariam, foi ficando claro que os falashas seriam exterminados, a não ser que conseguissem deixar o país. No dia 23 de maio de 1991, decidiu que havia chegado a hora de convocar a força aérea israelense - a operação Salomão devia começar imediatamente. Mengistu aceitara as condições, mediante pagamento em espécie e impondo segredo absoluto. Diante da embaixada israelense, milhares de falashas se acotovelavam, prontos para partir. Os primeiros aviões israelenses aterrissaram no aeroporto de Adis Abeba (capital da Etiópia), e no total, 14.200 etíopes foram levados da cidade para o aeroporto Ben-Gurion, em Tel Aviv. Trinta e cinco aviões militares e civis fizeram 41 vôos. Em um dado momento, haviam 28 aviões no ar. Um dos Jumbos, que normalmente poderia levar 500 passageiros, transportou de uma só vez 1.087 pessoas.
Os desafios continuam e em Israel a adaptação dos imigrantes tem sido bastante difícil. A maioria era muito jovem quando chegou e sofrem pela dificuldade nas diferenças culturais, assim como rejeição por causa de sua cor. Apartir daqui voltamos ao problema de conseguir mais informações. Claro que o governo de Israel divulga projetos e mais programas sobre a necessidade de integração e respeito aos falashas, mas como sabemos, falar e fazer são coisas bem distintas. Claro que por questões óbvias, muitos líderes etíopes apoiam o Estado de Israel. E claro também que o bicho já começou a pegar, principalmente no que diz respeito a religião. Acontece que muitos etiopes são cristãos e nessa leva toda de pessoas, muitos deles foram juntos. Existiam muitas familias que precisavam ser reunidas, assim como membros da seita Falash Mura, que mesmo se dizendo judeus, são acusados de terem raízes cristãs.
Atualmente o embaraço é por não saber quem fala o que. Nos últimos anos os falashas que ficaram na Etiopia pressionam o governo de Israel para serem levados até lá. Ou porque famílias se separaram, ou porque acreditaram na promessa do governo anos atrás de que isso iria acontecer, ou simplesmente porque a vida na Etiópia não é nada fácíl e Israel poderia ser um pouco melhor. Na verdade pelo que parece, eles já estão se tornando párias e ocupam o pior lugar na sociedade israelense. Nesse auê todo, tem gente entre os próprios etíopes, defendendo a expulsão de alguns compatriotas que falam sobre o cristianismo dentro da comunidade. Só para se ter uma idéia de como a coisa está, alguns etíopes se dizem judeus, mas que também acreditam em Jesus!
Bom, e para terminar você pode ficar perguntando o que eu penso, certo? Dificil saber. Primeiro pelo modo que temos as informações, na maioria das vezes dadas por orgãos do governo ou grupos que o apoiam. E nesse ponto, deixo bem claro que não apoio o Estado de Israel, e menos ainda me sinto a vontade para ir mais longe em dar credibilidade para suas informações, uma vez mais a diferente entre o que se fala e o que se faz. Segundo que falar de êxodo é sempre complicado. É fácil cair em algum reducionismo ou desconhecer a causa de algo que não vivemos e que é tão evidente ter poucos estudos a respeito. Terceiro, que independente da razão para irem à Israel ter sido religiosa ou não, bem intencionada ou não, nesse período a Etiópia estava vivendo uma guerra civíl devastadora aonde não escapava ninguém. Honestamente, talvez se tivesse a oportunidade de me salvar e salvar minha família eu também deixaria minha casa e atravessaria a fronteira para um outro país. Como avaliar isso? Que tipo de julgamento podemos fazer?
Fico então pensando sobre isso com vocês. A montagem abaixo apresenta algumas fotos dos falashas. A musica eh de Matisyahu e em outro momento prometo falar desse cara que vale a pena. Até mais.
2 comentários:
Ola gostei muito de seu textosobre os Falashas, mim interesso muito pelos falashas, e pretendo também desenvolver uma pesquisa sobre eles, queria saber se é possivel você manter contato comigo e mim indicar alguma leituras..
desde já agradeço Stéphanie Zumba
meu e-mail: stephaniemonick19@yahoo.com.br
Olá amigo, também tenho muita curiosidade pelos falashas, e porque dai nasceu o movimento rasta o qual estou pesquisando.
O que vc puder me ajudar gostaria muito.
Obrigado.
Guidodinamarco@hotmail.com
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