sexta-feira, 4 de abril de 2008

Acabando com a política da boa vizinhança.

Não é tão complicado assim, o difícil mesmo é saber o limite da tolerância. Pense em ação direta. A sensação de estar tomando o próprio destino nas mãos é impressionante! Você não delega poder ou decisão a terceiros, na verdade isso está contigo, o poder já é seu. Voraz e contundente, a luta por uma vida melhor implica riscos. Escolhas audaciosas que precisam deixar claro de que lado você esta, por isso mesmo a dificuldade em saber alguns limites. Ao que me cabe hoje, tenho certeza que não posso mesmo tolerar algumas coisas. Tolerar tudo é absurdo e até mesmo lamentável. Li certa vez o filósofo francês André Comte-Sponville dizer que tolerar é se responsabilizar, e a tolerância que responsabiliza o outro já não é tolerância. Concordo! Tolerar o sofrimento dos outros, tolerar a injustiça de que não somos vítimas, tolerar o horror que nos poupa não é mais tolerância: é egoismo, é indiferença, ou pior. Ele ainda diz lá no mesmo lugar (Pequeno tratado das grande virtudes, ed. Martins Fontes), que tolerar Hitler era ser seu cúmplice, pelo menos por omissão, por abandono, e essa tolerância já era colaboração. O que dizer hoje então da canalha que está dirigindo praticamente todas as grandes corporações, governos e bancos? Antes o ódio, antes a fúria, antes a violência, do que a passividade diante do horror, do que essa aceitação vergonhosa do pior! Concordo sim! Uma certa radicalidade é urgente, necessária. Uma tolerância universal seria tolerância do atroz: atroz tolerância! Não é apenas um problema de opinião, do debate concordo-discordo, mas de ação e abandono. Ação para deixar a pestilência e a preguiça, substituindo-as por criatividade e esperança. Abandono do conforto e do privilégio, principalmente por parte daqueles que têm a certeza de que precisam de mais (mesmo que já tenham), não importa do quê! Temos as vezes que dar nomes aos bois. Já disse Bakunin: socialismo sem liberdade é opressão, mas liberdade sem socialismo é privilégio e exploração. E nem adianta vir com o papo desacreditado ou a acusação cínica do tal idealista e não sei o que do sonhador, ao que me cabe também, sem medo ou dúvida aos meus 30 anos, anarquista! Ousadia sempre, principalmente para não tolerar o pior. Veja bem, quando muitos proclamam aos quatro ventos a imagem de Mohandas Gandhi nesses dias de tanta dor e miséria. Adoro ele! Até onde saiba foi sincero, inteligente e forte. Um mestre na conduta da não-violência e desobediência civíl. O que algumas pessoas esquecem de mencionar, até por que lhes convêm, é seu radicalismo. Acho mesmo que ele foi um radical, bem diferente de um extremista, e essa é uma diferença importante para o que estou tentando dizer. Radical na raiz do problema, na essência do desafio, no que exige ética. Dizia ele que diante de uma injustiça, de uma opressão evidente, você deve prefirir a afronta e até a violência do que a covardia. E foi mais longe: falava que todo aquele que possui coisas da qual não necessita é um ladrão! E agora meus caros, o que parece? Era ou não um radical? Liberdade dá trabalho e implica em escolhas nem sempre prazeirosas. Ação direta é a simplicidade, é aceitar o desafio com a tolerância que deseja primeiro a solução, e não o conforto. Ela nunca é a tolerância do desprezível. Ela ensina que não se deve abrir mão do próprio poder e da responsabilidade, alertando que aquele que deseja apenas para si toda segurança e liberdade do mundo, não conseguirá nada além que a mediocridade.

foto por Centro de Midia Independente Dublin - marcha de anarquistas contra a guerra no Iraque, 2006, Irlanda.

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