sábado, 31 de julho de 2010

Habitar


No princípio,
a casa foi sagrada
isto é, habitada
não só por homens e vivos
como também por mortos e deuses
Sophia de Mello Breyner

photo by shastadaisy

2 comentários:

Anônimo disse...

Falo-te das casas que são pedra e terra
E sangue; falo-te das casas que são bocas
Amantes dos azuis luzentes, do sumo
Das laranjas astrais, dos voos apolíneos
E musicais; falo-te das casas, cujo hálito
São ervas verdes olorosas, corolas
De vermelhos líquidos e quentes; falo-te
Das casas que são carícias de areias
E de brisas de pinhos marítimos; falo-te
Das casas que são conchas com bichos
Dentro e cantatas de águas e espumas
Brancas, se balanceando, como folhas de álamos.

Falo-te, em suma, das casas-casas.
Falo-te das casas, onde não me coube,
Onde nunca me coube o ser-me
Respiração dentro.

Violeta Teixeira, in RESINAS DE ABULIA, Magno Edições, 2003

Anônimo disse...

Poética II - Vinícius de Moraes

Com as lágrimas do tempo
E a cal do meu dia
Eu fiz o cimento
Da minha poesia.

E na perspectiva
Da vida futura
Ergui em carne viva
Sua arquitetura.

Não sei bem se é casa
Se é torre ou se é templo:
(Um templo sem Deus.)

Mas é grande e clara
Pertence ao seu tempo
– Entrai, irmãos meus!