sexta-feira, 2 de abril de 2010

De amargar e ir adiante

Tomara que de algum modo esteja entendendo um pouco mais como aceitar o que não continuou, algo já dito sobre o desafio de saber amargar sem permanecer no ressentimento. Pode parecer simples e de algum modo óbvio o que irei dizer, mas ainda fico com certa inquietação. Precisamos aceitar que as vezes fracassamos. Temos que deixar nossas imagens, fachadas e ilusões. Nem tudo dá certo ou errado ´porque assim tinha que ser´ como alguns dizem. Há momentos que simplesmente fracassamos e não conseguimos reconhecer. Antonio Lancetti certa vez escreveu em uma situação específica sobre a dependência química, que precisamos começar por aqueles que nos fazem fracassar, pelos que nos confrontam sempre. Podem pensar em seus fracassos? Não apenas naqueles que se passaram uma vez, mas nos que se repetiram, naqueles em que você não pode acreditar que novamente aconteceu. Difícil, não?Essa questão se localiza em muitos outros aspectos. Muitos de nós fomos levados a acreditar que devemos vencer ou vencer e sermos mais, mais e mais. Não nos falaram que existiriam fracassos e que desde então isso passaria a ser um problema. Para mim hoje, muitos ressentimentos e rancores decorrem da não aceitação e do reconhecimento disso: que fracassamos. Aprendi com meu Mestre de Capoeira Angola, o Plínio, que o guerreiro que se machuca no treino não está pronto para o combate. Nosso destino tem sido assim. Apostando naquilo que ainda não podemos ser, assumindo crimes que não cometemos, suportando o intolerável, não entendemos que por nossas atitudes e comportamentos convidamos determinadas respostas nos outros. Ou ainda cometendo, em nosso interior, o destino que tememos. Vamos suprimindo nossas sensações, aprisionando-nos em tensões que se desenvolvem com resistência a entrega, motivada pelo medo de ficarmos aprisionados. Assim fracassamos em muitos encontros não ´porque não deu certo´ou ´tinha que ser assim mesmo´, mas sim por que apostamos na repetição do inadequado, no desequilibrio, na manutenção da tristeza, mesmo quando acreditamos desejar o oposto. E quem não quer a felicidade? Porém nesse tempo e espaço não é bem uma questão do simples querer. Temos que ir nos preparando para o bom combate antes dele ser travado naquilo que o define. Antes e durante os grandes enfrentamentos precisamos nos entregar, precisamos de coragem para sermos nós mesmos, e como disse Foucault, de coragem para a verdade. Aceitar o fracasso é lidar com a finitude e sem isso permanecemos na ilusão de nossa auto-imagem. Amor-próprio e contentamento exigem real consideração por si e contemplação da capacidade de agir. Reparem como nos avaliamos por nossas intenções e aos outros por suas ações! Sigamos adiante. E com os lindos anarquistas tento aprender que sem uma boa dose de indignação e fúria não vamos a luta, mas também que a sincera transformação só é possível pelo amor à liberdade. E como amar o que não se conhece ou o que se pretende conhecer? Amargar e fracassar pedem humor nessa tarefa, porque só assim poderemos rir de nós mesmos, não nos levando tão a sério, para a partir daí rir do mundo, rir de suas tragédias, afinal sempre haverão dramas maiores que os nossos, mas cada um é que sabe onde aperta mais... Podemos aceitar e reconhecer a luta em nós, mas nunca contra nós! Olhar onde fracassamos, escutar o que não foi possível, sentir o que não deu, passa a ser um movimento importante para não provar mais nada ao mundo sobre nosso destino. Não-fazer é imprescíndivel. É sim oportunidade encantadora para assumir o que queremos e a ser quem somos sem medo da vida.

2 comentários:

Anônimo disse...

http://doirrespiravel.blogspot.com/2010/03/vidas-gateadas.html

untitled disse...

LARÔYE!

CORagem = Agir com o coração

Liberdade = FREIheit = frei Hals = pescoço livre = livre dos grilhões

Alessandro = do helênico: protetor e defensor do gênero humano

Larôye = o bem falante e comunicador

Cheiro!