sábado, 28 de junho de 2008

Subindo ate as nuvens

Um pouco de história para inspirar...
por Moésio Rebouças

"Os abraçadores de árvores" é um dos mais notáveis e originais exemplos de ação direta. Já nos anos 20, na Califórnia, nos EUA, surgiu um grupo de mulheres, as ladies conservationists (senhoras conservacionistas), que se acorrentava nas árvores para impedir a ação dos madeireiros.
Mas foi a partir do movimento Chipko nos anos 70, quando as mulheres das aldeias himalaias do norte da Índia decidiram abraçar-se às árvores para impedir a ação das madeireiras que o movimento ganhou força. Estimulados por vários grupos ambientalistas internacionais, o movimento conseguiu um certo sucesso e bastante impacto junto à mídia.
O acontecimento deu origem a outros movimentos de “abraçadoresde árvores” (tree-huggers) ao redor do mundo. No fim da década de 80, na Austrália, um grupo, de pessoas subiu nas árvores para defender a última floresta de eucaliptos nativos do mundo, ali ficando por vários dias. Coma ajuda do efeito de suas ações na imprensa, os abraçadores conseguiram rescindir o contrato do governo australiano com as madeireiras japonesas.
Nos anos 90, na Inglaterra, surgiram os tree-sitters, ou dongas, com outra estratégia: se algemar nas árvores, se acorrentar nas pedras ou acampar na região a ser atingida, para impedir a construção de anéis rodoviários que atravessariam áreas de proteção especial.
Os acampamentos dos sitters (numa tradução livre,“os pregados no chão”) duraram vários anos, provocando uma reação violenta das autoridades inglesas, que acabaram expulsando-os na força.
Em1997, um caso que repercutiu muito na imprensa internacional foi o da estadunidense Julia Borboleta Hill, que passou dois anos vivendo em cima de uma árvore à qual deu o nome deLuna, numa tentativa de frustrar os planos da madeireira Pacific Lumber de destruir uma floresta de sequóias da Califórnia.
Outro fato recente que ganhou espaço na mídia, em 2006, envolveu a cantora Joan Baez, que juntamente com Julia, subiram no topo de uma árvore em uma tentativa de evitar a demolição de um horto comunitário de 14 acres com frutas e vegetais no sul de Los Angeles.
Hoje, este tipo de ação direta continua à mil em várias partes do mundo. Entre no site da Earth First! (http://www.earthfirst.org/) que terás muitas notícias atualizadas.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Na rua deserta
O vento varre as folhas
O gari descansa
Tony Marques

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Assim pode ser

Nao sei se ha algum lugar nesse mundo que seja simples. Menos ainda se ha alguma coisa nessa vida que vale realmente a pena que seja facil. Nao que eu seja partidario da opiniao que nessa vida apenas o que nos faz sofrer eh que tem valor, mas se nao estivermos atentos para alguns detalhes acabamos por ser tomados de um certo rancor que vai fazendo o doce sabor do desafio desaparecer.
Existiram textos que escrevi, mas que prudentemente nao foram publicados. Particularmente o ultimo, acabei demonstrando esse tipo de rancor que nao faria bem a ninguem. Desde que coloquei os pes fora do Brasil, em busca de outro amor, liberdade, calor e sei la mais o que, aprendi coisas valiosas sobre expectativas e sonhos que envolvam esses sentimentos e virtudes. Engracado que a maior parte me pareceu vir nao de lugares bonitos e situacoes de boa sorte, mas surpreendentemente de desapontamentos e lagrimas que demoraram a correr. E nada pior que o desapontamento e a amargura de aceitar que aquilo que voce sonhou encontrar e ver durante tanto tempo na verdade foi apenas isso, algo que infelizmente nao deu certo ou apenas um lugar que nunca existiu. Passado o sabor triste da desilusao, tentamos ainda assim seguir em frente. Por mais estranho que tenha sido, sair pelas portas do fundo falando mal denota uma pequenez de alma merecedora apenas de pena. Eu dispenso esse tipo de misericordia e cada dia que lamentamos eh um dia a menos que aproveitamos - olha, ate rimou! rs
Nao ha nenhum arrependimento, nada que depois de passado o tempo nos faca sentir dor. E se houver, tem de ser deixado para tras. Afinal, que tipo de ser humano eh aquele que nao sonha? Que tipo de pessoa eh aquela que nao deseja e nao luta? Acontecendo ou nao, o importante depois do distanciamento de um certo lugar conhecido e revisitado eh a nossa capacidade de deixar partir, perdoar, agradecer e voltar a sonhar, isso eh que acaba valendo. Por isso quero agradecer mais quem me fez sonhar um dia, mesmo que ela/ele nao saiba disso. E no fundo me parece ser isso que tento buscar agora. Nao esperar nada de ninguem nem de porra nenhuma , num primeiro momento pode ser dificil, mas aceitar isso sem fazer com que se torne o discurso de um ressentido e de um amargurado, eh a chave do negocio. No fundo mesmo, parece que estamos sozinhos e como disse o poeta, na calada da noite, quando nao ha ruido e nossa mente nao pode se distrair, os demonios mais intimos sussurram nos ouvidos o que nao pode ser ignorado. Aprendi (sera mesmo? mas eu tento, juro que tento!) nos ensinamentos de Buda a buscar por uma vida mais desprendida. Uma conduta regrada a observacao e a acao. Que eh importante parar de reagir e saber que sua vida depende muito mais do que se passa na sua cabeca e na sua alma do que com as medidas adotadas pelo atual governo e se isso ira interferir na minha vida ou nao. Entretanto, nao nos iludamos; e para isso tenho ela que nao me deixa esquecer, que nunca mentiu, nunca esteve um dia de joelhos: minha doce Anarquia. Assim como fez com V de Vinganca - e corroboro em tudo com ele - ela uma amante inigualavel. Seu espirito de revolta e inquietacao sempre traz cores e sabores maiores do que qualquer jantar no melhor restaurante da cidade. Quando se precisa escolhar - quase sempre - eu tambem prefiro a liberdade do que a seguranca, sem duvida quero a paz do que o progresso.
Assim sendo chega de lamentacao. Nao que eu pense ter feito muito isso ate agora, e nem que o blog aqui tenha servido para isso, mas se me cabe fazer algo nesse momento eh falar daquilo que me inspira. Dizer das coisas belas e uteis. Mostrar igualmente homens e mulheres que provocam riso, que querem a verdade, a inteligencia e o bom gosto. E claro, agir muito e todo tempo.
Muitas e muitas vezes as coisas sao simples. Como disse certa vez um dos oponentes de Sidarta a mais de 2000 anos atras, que era dificil falar ou fazer algo contra ele, porque toda sua vida estava embasada no fato dele apenas falar o que praticava e por sua vez, fazer o que ensinava. Coerencia, sabe? As vezes (e acreditem, sao muitas) fico puto com o que vejo aqui. Lamento o que me cerca, porem mais ainda, fico triste comigo mesmo por ter perdido a oportunidade de ter sido coerente. Assim, que fique registrado para posteridade, escrito no universo quase infinito da internet - e quem sabe para meu desespero daqui uns 20 anos - que serao ditas aqui coisas que me sao caras e nada mais. E fora daqui, mais ainda.
Como prova dessa intencao, lhes aprensento uma verdadeira celebridade japonesa: Sr. Mutsugoro. Bom, Mutsugoro-san, como eh conhecido o simpatico velhinho, tem uma historia curiosa. Um amante dos animais, se aventurou a vida inteira pelos lugares mais distantes do plaenta tentando estudar e registrar a vida dos animais. Nao satisfeito em apenas olhar, sentia necessidade de interagir com os bichos. Queria viver como as criaturas viviam e numa dessas perdeu um dedo (comido por uma leoa), incontaveis partes do corpo quebradas, centenas e talvez milhares de mordidas e picadas, e muitas doencas ate entao desconhecidas da ciencia. Isso eh o lado mais conhecido do velho japones. Os bastidores tambem sao bem intrigantes. Participante de inumeras edicoes da World Cannabis Cup, a Copa Mundial da Maconha, ja ganhou difentes titulos que vao desde o melhor paladar, o melhor cultivador da erva e outras homenagens. Dizem por aqui que ele eh uma das raras pessoas autorizadas pelo governo a cultivar a plantinha e estuda-la para fins terapeuticos. Vai saber, ne? O video fala por isso mesmo. Alguns expressoes na sequencia em que aparecem: "esse aqui adora beijar. entao a gente beija!"; "olha a marquinha que eles fizeram?","...mas ela eh bonitinha, muito boa, muito boa."; "Ela adora abracar!" e no final, "gostoso!" Aproveitem. Sinto pela acentuacao. Abracos e inte.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Que temos?

Que temos a temer? Que temos a perder?

[...] Não temos nada a perder além de nossa ilusões, e cada ilusão perdida nos aproxima um pouco mais do Real [...].

ilustra-nos Jean-Yves Leloup em sua autobiografia O absurdo e a graça, Verus Editora, Campinas, 2003 (edição original francesa de 1991).

encontrado em para ser zen

segunda-feira, 23 de junho de 2008

"... as coisas que mais amo hoje,
um dia se tornarão apenas lembranças".
Sidarta Gotama

domingo, 15 de junho de 2008

JAMELÃO SABIA “O QUE É O AMOR”

Não tenho idéia de quantos clientes e quantas vezes me perguntaram se o que sentem é amor ou, afinal, o que é o amor.As pessoas buscam o amor porque ele é o principal alimento da vida, mas grande parte delas se envolvem, antes para "serem amadas" do que de fato "para amar".Ninguém deveria voltar-se para o amor, por necessidade de ter um amor!
Este sentimento é a mais preciosa vivência que podemos ter, certamente, mas ele não se viabiliza verdadeiramente antes que se galgue algum amadurecimento.As crianças, por exemplo, têm suas preferências e empatias afetivas, mas ainda não são capazes de amar, senão de se aconchegarem e buscarem proteção no calor de quem possa (quem sabe?) dar-lhes provas e exemplos de amor.Relacionamentos de amor real não ameaçam a individualidade de cada um e exercitam, na consideração pelo outro, os mais difíceis enfrentamentos, na solidariedade que não sufoca e nem despersonaliza.
Mas muitas pessoas imaginam que poderão ser felizes "quando forem amadas", sem a preocupação de serem "aquelas que amam". Na sua inquietação e insegurança esperam, à maneira das crianças, encontrar portos seguros para as embarcações de suas emoções desordenadas, sem o cuidado de se conhecerem melhor para navegarem neste oceano. Como se vê, não é simples definir “o que é o amor”.Mas dançando mentalmente entre essas considerações, de uma harmonia já elaborada, eu me lembrei de outras danças, lembrei-me do amor que é tão cantado em nossos sambas, lembrei-me do carnaval.Meu coração foi parar na intocável lembrança de um desfile da Mangueira. Eu pude estar lá, pessoalmente. Já faz alguns anos - sequer me lembro qual era, então, o enredo da Escola. O que ficou em minha memória, porém, foi o exemplo concretizado de uma história de amor, no desempenho de um artista já idoso, um ícone do Carnaval Brasileiro, chamado Jamelão.De fato, seria mais apropriado escrever: "Jamelão é o grande intérprete dos sonhos desta sua 'mulher amada', a Estação Primeira de Mangueira".
Eu o vi, então no alto de seus oitenta anos, com o olhar voltado para baixo, porque o tempo curvou-lhe as costas e já lhe era difícil olhar à frente ou para o céu... Mas eu também o ouvi! e do fundo daquela alma vinha o vozeirão único, fortalecido pelo amor à sua querida parceira.Aquele olhar não dizia tristeza - embora muitas tristezas devam ter bordado essa sua existência. Era o olhar de quem via a sua amada, muito bem alojada dentro dele mesmo. A Mangueira, contudo, não estava "aprisionada" pelo afeto de Jamelão. Ele a conhecia e a amava como ela é, livre e sempre à sua frente, rejuvenescida a cada ano e solta, para ser admirada, enquanto arte de um povo. Ele a tinha plasmada em sua própria afeição, o que lhe garantiu que jamais seria esquecido por ela. E ele lhe dava o que parecia ter de melhor: a ternura robusta de sua voz, que sempre dirá: ”Meu amor é seu", mesmo quando as circunstâncias não lhe permitam estar mais, concretamente, junto dela.
E ele não cobrava nada de sua tão querida. Quando aquele intercurso terminava, ele se recolhia silencioso, seguro, e segura a deixava, cada qual no reduto de sua própria realidade. Sequer se punha disponível a quaisquer cumprimentos.Havia quem o considerasse mal-humorado. Não creio.Eu o via apenas, senhor dos próprios sentimentos.
Quando Jamelão cantava: "Mangueira, seu cenário é uma beleza que a natureza criou”... ele era feliz, com certeza, por dar-se a ela e por possibilitar a ela ser muito mais bonita, aos olhos de todos, porque enriquecida por sua voz.Agora está respondida aquela pergunta que tantas vezes me fizeram: "Amar é isto - é dar com a melhor das emoções, o que temos de melhor, para a realização de nossos seres queridos."Está aí o amor de Jamelão por sua Mangueira, para mostrá-lo melhor do que qualquer terapeuta saberia fazer!!!

Um abraço aos amigos,
Antonieta.
Antonieta de Castro Sá é psicóloga e escritora.
Pode ser melhor conhecida pelo site: www.antonietadecastro.psc.br

sábado, 14 de junho de 2008

Jamelão, vá em paz Mestre...


apenas uma canção?

Resposta ao Tempo
Aldir Blanc/Cristovão Bastos

Batidas na porta da frente é o tempo
Eu bebo um pouquinho pra ter argumento
Mas fico sem jeito, calado, ele ri
Ele zomba do quanto eu chorei
Porque sabe passar e eu não sei

Um dia azul de verão, sinto o vento
Há folhas no meu coração é o tempo
Recordo um amor que perdi, ele ri
Diz que somos iguais, se eu notei
Pois não sabe ficar e eu também não sei

E gira em volta de mim, sussurra que apaga os caminhos
Que amores terminam no escuro sozinhos
Respondo que ele aprisiona, eu liberto
Que ele adormece as paixões, eu desperto
E o tempo se rói com inveja de mim
Me vigia querendo aprender
Como eu morro de amor pra tentar reviver

No fundo é uma eterna criança que não soube amadurecer
Eu posso, ele não vai poder me esquecer
No fundo é uma eterna criança que não soube amadurecer

quinta-feira, 12 de junho de 2008


Um importante encontro

Não é segredo algum minha admiração e respeito aos Zapatistas de Chiapas, México. Uma das lutas mais originais e pertinentes que surgiram nos últimos vinte anos. Uma maneira de fazer política no mínimo inspiradora, que nos últimos anos prova ser possível a organização horizontal, direta e transformadora. Para se ter uma idéia, a Assembléia Popular dos Povos de Oaxaca foi influênciada por essa luta, assim como muitos outros grupos e movimentos.
No próximo domingo haverá em São Paulo um encontro com mulheres que vivenciaram o surgimento desses marcos de resistência e que hoje lutam em outros espaços da sociedade mexicana. Mas antes de falar sobre esse encontro, recomendo para quem tiver mais interessa que dê uma lida na Sexta Declaração da Selva Lacondona e que olhem um pouco do que é A Outra Campanha. A Declaração é um documento escrito à centenas de mãos que ainda norteiam muitas das ações zapatistas. A Outra Campanha é uma referência para ações quando o diálogo se mostra impossível com governos ruins. Mesmo que você não vá encontrar as mexicanas, vale a pena conferir esses importantes registros da luta anticapitalista e de esperança.

e aí vai o convite:

Bate Papo sobre Criminalização de Movimentos com Mulheres da COMO e APPO do México

15/06 - domingo as 14h no espaço Carmelitas, 140 - Sé - Centro - SP.

Ajude a divulgar e participe desta atividade gratuita para compartilhar das experiências dessas mulheres que estavam presentes na repressão em Atenco em 2006. Será um debate aberto ao público e a movimentos sociais, aqueles que puderem tragam comes e bebes.

abaixo o convite por elas:

A Coordenadoria das Mulheres Oaxaquenhas 1o de Agosto (COMO), uma parte da Assembléia dos Povos de Oaxaca (APPO), saúda cordialmente os povos irmãos da América Latina e do mundo que também estão sofrendo criminalização por se defenderem da injustiça e os convida a conhecer a luta pacífica que vive o povo de Oaxaca na próxima visita que faremos a essa formosa terra irmã tendo como motivo o Fórum sobre Criminalização dos Movimentos Sociais.

A COMO é um esforço plural, onde se somam mulheres de diferentes idades, profissões e ocupações que hoje estão lançando sua voz ao ver a situação de repressão e perseguição que padece nosso povo por ter reivindicado seus direitos elementares.

Quando uma mulher avança, não há homem que retroceda!

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Pedalada dos pelados

Este resumo não está disponível. Clique aqui para ver a postagem.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

a la Karnak: estamos adorando Tokyo!

Pense em um lugar com muita gente. Pensou? Com muita gente mesmo! Agora, imagine um espaço pequeno para esse povo todo. Tokyo é mais ou menos assim. Alí esta o metro quadrado mais caro do mundo. Uma multidão que caminha sem você ter a menor idéia para onde vai e de onde vem. Lugares escondidos entre luminosos impactantes. Ter o endereço do lugar onde você pretende ir as vezes não significa nada. Precisa de pelo menos umas duas outras referências para pedir informação, um edíficio, um restaurante, sei lá... Em algumas partes muito barulho e muita música, boa e horrível.
Bom, resumindo é aquele tipo de lugar com tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo que se você não sabe o que quer fazer, vai se "perder" facíl. Quem não é de lá precisa se preparar bem para o desafio de cada quarteirão. Um lugar legal, contrastante, caótico e estimulante. Fiquei alí pouco tempo, alguns dias e foi só uma idéia do que é essa cidade. As imagens são do segundo dia. Vou voltar e aí conto mais. A gente só não sabe até quando vai durar, mas enquanto isso...
...planejando o dia do 52 andar!oceano?o parque aí no meio é um tipo de Ibirapuera japonês e estamos indo até lá...uma das entradas do Jinja Meiju Jingu, que fica no "Ibirapuera japonês",
pedindo proteção para os Kamis (deuses e divindades da natureza)...
e o dia começou bem: pequena exposição de bonsais no pátio central do jinja (templo xintoista). A "árvore" mais nova, essa aí em baixo, tinha 80 anos!
um momento de descontração das sacerdotisas
Esse figura aí é o Fernando. Amigo que vive por lá e que me emprestou olhos e ouvidos para descobrir e caminhar pela cidade. Valeu!
é proibido fumar em quase todas as ruas de Tokyo. Em cada esquina, pelo menos no grande centro, têm o sinal e nem dá pra falar que "não sabia"... fumou? multa de uns 3.000 yens, mais ou menos uns 30 dólares!
E vamos chegando em um dos bairros mais conhecidos e tumultuados da cidade: Shinjuku.
Cada placa normalmente é um comércio. Como não cabe todo mundo de frente pra rua, o jeito foi improvisar dentro dos prédios - uma cidade dentro da cidade! E isso na verdade é bom, porque se cria uma cultura underground que apenas quem é de lá conhece, turista tá fora...
A noite chegou e como ninguém é ferro, fomos tomar uma gelada em um desses lugares estranhos com gente esquisíta. Foi bem legal!

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Os Falashas

Faz um tempo que não falo sobre a Etiópa (já disse algo aqui, aqui e aqui) e continuo com a intensão de esclarecer mais coisas dessa terra linda e desse povo da qual sou descendente. Vamos ao que interessa e isso pode surpreender algumas pessoas: lá existem judeus negros. Não etíopes convertidos nas últimas décadas, mas considerados uma das 10 tribos perdidas de Israel e que segundo eles, com ancestrais remontando ao rei Salomão e à rainha de Sheba, ou Sabá. A história mais conhecida é mais ou menos a seguinte:
Por quase 3.000 anos, os judeus negros da Etiópia, conhecidos como falashas e que se auto-denominam Beta Israel mantiveram sua fé e identidade. Esse povo só ficaria conhecido pelo outros judeus em 1860, quando missionários ingleses entraram em contato com a tribo que praticava os rituais da Torá. Desde então a coisa foi tomando corpo e um monte de historiadores e outors judeus foram visitá-los na África.
A desconfiança mútua foi diminuindo na medida em que os debates sobre o judaismo aumentavam e a idéia de retorno a Jerusalém se tornava concenso. Acredite se quiser, mas conta um dos lados dessa história que a maior desconfiança era por parte do povo preto da África, afinal de contas depois de tanto tempo "isolados" e sem nenhum contato com outros judeus, eles diziam como seria possível um judeu branco?! Pois então, e é agora que a coisa vai ficando curiosa. Muitos desse povo queriam voltar a Jerusalém e aos poucos, desde 1930 isso foi acontecendo. Como a maioria dos relatos foram feitos por israelenses e membros do governo de Israel fica um pouo dificil saber como a coisa aconteceu de verdade. Mas vamos considerar o relato de Asher Naim, diplomata israelense que sempre esteve bastante próximo aos judeus etíopes e se envolveu diretamente na maior operação feita para a remoção dos falashas da Etiópia, que foi chamada operação Salomão.
Nos conta ele que em 1990, enquanto as forças rebeldes avançavam contra o ditador etíope Mengistu Haile Mariam, foi ficando claro que os falashas seriam exterminados, a não ser que conseguissem deixar o país. No dia 23 de maio de 1991, decidiu que havia chegado a hora de convocar a força aérea israelense - a operação Salomão devia começar imediatamente. Mengistu aceitara as condições, mediante pagamento em espécie e impondo segredo absoluto. Diante da embaixada israelense, milhares de falashas se acotovelavam, prontos para partir. Os primeiros aviões israelenses aterrissaram no aeroporto de Adis Abeba (capital da Etiópia), e no total, 14.200 etíopes foram levados da cidade para o aeroporto Ben-Gurion, em Tel Aviv. Trinta e cinco aviões militares e civis fizeram 41 vôos. Em um dado momento, haviam 28 aviões no ar. Um dos Jumbos, que normalmente poderia levar 500 passageiros, transportou de uma só vez 1.087 pessoas.
Os desafios continuam e em Israel a adaptação dos imigrantes tem sido bastante difícil. A maioria era muito jovem quando chegou e sofrem pela dificuldade nas diferenças culturais, assim como rejeição por causa de sua cor. Apartir daqui voltamos ao problema de conseguir mais informações. Claro que o governo de Israel divulga projetos e mais programas sobre a necessidade de integração e respeito aos falashas, mas como sabemos, falar e fazer são coisas bem distintas. Claro que por questões óbvias, muitos líderes etíopes apoiam o Estado de Israel. E claro também que o bicho já começou a pegar, principalmente no que diz respeito a religião. Acontece que muitos etiopes são cristãos e nessa leva toda de pessoas, muitos deles foram juntos. Existiam muitas familias que precisavam ser reunidas, assim como membros da seita Falash Mura, que mesmo se dizendo judeus, são acusados de terem raízes cristãs.
Atualmente o embaraço é por não saber quem fala o que. Nos últimos anos os falashas que ficaram na Etiopia pressionam o governo de Israel para serem levados até lá. Ou porque famílias se separaram, ou porque acreditaram na promessa do governo anos atrás de que isso iria acontecer, ou simplesmente porque a vida na Etiópia não é nada fácíl e Israel poderia ser um pouco melhor. Na verdade pelo que parece, eles já estão se tornando párias e ocupam o pior lugar na sociedade israelense. Nesse auê todo, tem gente entre os próprios etíopes, defendendo a expulsão de alguns compatriotas que falam sobre o cristianismo dentro da comunidade. Só para se ter uma idéia de como a coisa está, alguns etíopes se dizem judeus, mas que também acreditam em Jesus!
Bom, e para terminar você pode ficar perguntando o que eu penso, certo? Dificil saber. Primeiro pelo modo que temos as informações, na maioria das vezes dadas por orgãos do governo ou grupos que o apoiam. E nesse ponto, deixo bem claro que não apoio o Estado de Israel, e menos ainda me sinto a vontade para ir mais longe em dar credibilidade para suas informações, uma vez mais a diferente entre o que se fala e o que se faz. Segundo que falar de êxodo é sempre complicado. É fácil cair em algum reducionismo ou desconhecer a causa de algo que não vivemos e que é tão evidente ter poucos estudos a respeito. Terceiro, que independente da razão para irem à Israel ter sido religiosa ou não, bem intencionada ou não, nesse período a Etiópia estava vivendo uma guerra civíl devastadora aonde não escapava ninguém. Honestamente, talvez se tivesse a oportunidade de me salvar e salvar minha família eu também deixaria minha casa e atravessaria a fronteira para um outro país. Como avaliar isso? Que tipo de julgamento podemos fazer?
Fico então pensando sobre isso com vocês. A montagem abaixo apresenta algumas fotos dos falashas. A musica eh de Matisyahu e em outro momento prometo falar desse cara que vale a pena. Até mais.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

determinado

Quando corvos encontram uma serpente moribunda, agem como se fossem aguias. Quando me vejo como vitima, sou ferido por frivolos fracassos.
Shantideva



terça-feira, 3 de junho de 2008

considerações sobre a religiosidade afrobrasileira

por Marcelo Beraba
da Folha de S.Paulo, no Rio.

O escritor e compositor popular Nei Lopes critica o afastamento de setores da umbanda das raízes africanas. "Essa umbanda não usa tambores e se pretende esotérica", diz. "É como se seus praticantes dissessem: 'Essa coisa de tambor, sacrifícios de animais, isso é coisa de selvagens! Nós somos civilizados'. Nessa oposição entre 'selvagem' e 'civilizado' é que está o racismo". Nei Lopes é o autor da "Enciclopédia Brasileira da Diáspora Africana" (Selo Negro Edições).

Folha- Como analisa a formação da umbanda?

Nei Lopes - O mito de origem da umbanda, na versão que tem como protagonista o médium Zélio de Moraes, é exemplar. Ele evidencia a busca de inserção dos despossuídos da sociedade brasileira no espaço religioso.Todo mito tem um fundo de verdade, que os eruditos chamam de "mitologema"; e, na história da umbanda, esse fundo é o episódio do médium Zélio. Mas antes já havia, além dos calundus coloniais, que não tinham organização social, comunitária, os candomblés, organizados, como se sabe hoje, desde antes de 1850. Na virada para o século 19, a ialorixá baiana Mãe Aninha vinha de vez em quando ao Rio, onde inclusive fundou, por volta de 1906, uma filial de sua "roça", o Opô Afonjá, que funciona até hoje em Coelho da Rocha, São João de Meriti [Baixada Fluminense]. E a umbanda, herdeira direta de cultos bantos como o da cabula, cresceu certamente sob a influência desse prestígio do candomblé baiano, incorporando as figuras dos orixás jeje-nagôs e outros elementos. Mas o que fundamentalmente distingue a umbanda é o culto aos pretos-velhos, que não existem no candomblé. E esses pretos-velhos são representações de espíritos familiares bantos, da área de Angola, Congo e Moçambique (África centro-ocidental e oriental), daí seus nomes: Vovó Conga, Pai Joaquim de Angola, Tia Maria Rebolo, Pai Joaquim de Aruanda. O candomblé vem do Benin, da Nigéria, da África ocidental.
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Folha- Como o sr. se define sob o ponto de vista religioso?

Lopes - Minha mãe recebia uma preta-velha, mas não era umbandista. Nós tínhamos lá em casa nosso culto doméstico. Hoje eu cultuo orixás. Mas não sou candomblecista, como aliás já fui. Eu me dedico à forma de culto que em Cuba se conhece como santeria, que inclusive já tem muitos adeptos no Brasil. E cultuo esses orixás na minha casa. A definição, então, não é fácil. E por isso eu proponho que o IBGE inclua tudo na rubrica "religião africana", ou "religião de matriz africana", onde a umbanda, por ser cada vez mais sincrética, talvez já não caiba mais.
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Folha- Qual é a diferença que o sr. distingue entre o candomblé e a santeria cubana?

Lopes - As diferenças são poucas, mas significativas. Restringem-se quase exclusivamente a particularidades litúrgicas, uso de instrumentos (aqui atabaques daomeanos, percutidos entre as pernas do tocador; lá, batás nigerianos, levados a tiracolo); diferenças nos elementos que compõem os assentamentos dos orixás etc. E é tudo uma questão de procedência: o candomblé da Bahia é basicamente um produto de Quêto, um reino localizado no atual Benin, antigo Daomé; e a santería cubana vem de Oyó, um outro reino, de onde parece ter vindo, também, o xangô de Pernambuco, que guarda muito mais semelhanças com a santeria que com o candomblé, principalmente no destaque que dá ao culto de Orumilá ou Ifá, o grande orixá do saber, do conhecimento, dono do Oráculo, em torno do qual gravita todo o conhecimento sobre os outros orixás iorubanos (nagôs, lucumis, ijexás etc.), sua mitologia e a liturgia do seu culto.
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Folha- A umbanda aparentemente vem perdendo espaço para outras religiões. O sr. tem essa percepção?

Lopes - Todas as religiões de matriz africana vêm perdendo espaço para a truculência neopentecostal. Truculência que chega à agressão física, como na Bahia.
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Folha- Muita gente que freqüenta centros não se declara umbandista. Por que será? Por medo? Vergonha?

Lopes - Essa ocultação é conseqüência do racismo brasileiro. A maioria das pessoas tem vergonha de assumir alguma coisa que remeta à África, à escravidão. Cultura negra só se for desafricanizada... é aí que a gente chega a uma coisa interessante. Existe uma vertente da umbanda que inclusive nega a origem africana da religião, buscando suas raízes na Índia. Tentam até provar que o nome umbanda (que deriva do quimbundo mbanda, ritualista, curandeiro) vem do sânscrito. Essa umbanda não usa tambores e se pretende esotérica; e é ela que vem se expandindo pela América do Sul e pelo mundo. É como se seus praticantes dissessem: "Essa coisa de tambor, sacrifícios de animais, isso é coisa de selvagens! Nós somos civilizados". Nessa oposição entre "selvagem" e "civilizado" é que está o racismo. Então, a intenção dos espíritos acolhidos pelo médium Zélio Moraes há cem anos parece que está se frustrando.

domingo, 1 de junho de 2008

A caminhada dos Ainus

Serão 370 km percorridos em 27 dias por Hokkaido, norte do Japão. O povo originário dessa parte do planeta, os Ainus, e outros povos dos quatro cantos do mundo iniciam mais uma longa caminhada. Não apenas como um ato político, mas uma maneira de resgatar seu passado, respeitar suas tradições, transformar a vida e por um futuro melhor. O primeiro passo é dado hoje, dia 1.

Esta é a sua mensagem:


Essa caminhada nasceu para o encontro dos 6 povos, cada um de uma etínia diferente e de nacionalidades variadas.
Mais de um século atrás em junho de 1876, a população inteira de Karafuto Ainu (Sakhalin Ainu) foi forçadamente removida de sua terra natal em Cape Soya para Tsuishikari (Norte de Sapporo).
O que foi transferido da terra Ainu Mosir, pelos diferentes povos, culturas e nações que têm ocupado essa terra? Assim nós investigamos e não podemos encontrar um simples resposta para essa questão...
Em junho de 2008 nós caminharemos passo a passo, refletindo profundamente sobre nosso passado coletivo.
Nós tomaremos nossa descendência e o que somos agora como nossa guia, e se imaginarmos o intervalo de um século, e as inevitáveis conexões entre nós e a diversidade de criaturas vivendo aqui em Ainu Mosir, nós podemos dar um passo na direção de um futuro coletivo.
Completo esse projeto, nós caminharemos e pediremos. Nós pediremos que possamos cruzar uma cultura honrada com valores de toda uma vida de gerações seculares até agora.
Pirka Kewtum Apkas - “Caminhar com a beleza do coração” na língua Ainu.
Nós caminharemos atravessando a terra juntos com este simples refrão em nossos corações.
A Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos do Povos Indigenas foi aprovada em 2007 e essa reunião do G8 será a primeira desde então.
Em toda caminhada nós enviaremos nossos pedidos e mensagens para o encontro dos Povos Indígenas Ainu Mosir 2008, e enviaremos mensagens de paz e orações para a cura da geração de hoje e as gerações de amanhã.

Caminhando pela Terra, cuidando da Terra, agradecendo a Terra que nos sustenta.


Para ver imagens e ler outros manifestos de Pirka Kewtum Apkas http://web.mac.com/pirka.kewtum.apkas

Para o encontro dos povos Indígenas Ainu Mosir
http://www.ainumosir2008.com/en/

Para saber mais sobre o povo indígena Ainu
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ainos