terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Um pouco mais de nomes para os bois, vacas e outros bichos.

Quando junto com outros venho falando que as coisas estão cada vez mais claras no que diz respeito as diversas formas de retrocesso político e social no mundo todo, e que precisamos saber quem esta do lado de quem, reafirmo meu compromisso com as lutas populares, a resistência autêntica, os saberes ancestrais e com a vida comunitária. Veja o que acaba de acontecer com uma das maiores expressões culturais do Estado do Rio de Janeiro e me digam se tenho alguma chance de estar certo.
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POLÍCIA INVADE E DESTRÓI A ESCOLA DE JONGO DA SERRINHA.
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Olá Amigos e Amigas,
Depois de se meter na trapalhada de ocupar o espaço de uma creche no Morro Dona Marta que atendia a 120 crianças para transforma-la em uma Posto Policial, a política de "segurança" do Governo do Estado do Rio de Janeiro, em mais uma de suas atuações truculentas em comunidades populares, invadiu na manhã desta última sexta-feira a comunidade da Serrinha em Madureira.
A operação para prender traficantes, sem qualquer planejamento como são as recorrentes invasões de favelas, além de botar a vida dos moradores em risco, cometeu um crime contra a cultura e as tradições populares do Rio de Janeiro, uma vez que destruiu móveis, utensílios e as dependências da Escola de Jongo do Grupo Cultural Jongo da Serrinha um dos maiores símbolos da preservação da memória e das tradições jongueiras - matriz de uma das principais expressões da cultura popular do Rio - o Samba.
Abaixo segue um artigo escrito pelo Desembargador Siro Darlan, presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente, que dá a idéia do quão absurda tem sido a atuação da polícia quando intervém em comunidades populares e do quanto não há respeito às tradições de cultura e às intervenções da sociedade para assegurar à crianças e jovens direitos e possibilidades que as políticas públicas deveria mas não dão conta.
Abraços, Junior Perim
SERRINHA, Capital do jongo e do samba.
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SIRO DARLAN DE OLIVEIRAPRESIDENTE DO CONSELHO ESTADUAL DE DEFESA DO DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTEO
Rio de Janeiro está sediando o 3º Congresso Internacional de Combate às Violências sexuais contra crianças e adolescentes. E, paralelamente, a menos de 50 quilômetros do Rio Centro, a polícia dá mais uma demonstração de despreparo e desrespeito às populações mais carentes.Assim como fizeram na ocupação violenta do Complexo do Alemão, quando deixaram todas as crianças fora das escolas por mais de 60 dias, acabam de destruir um dos raros espaços culturais e educacionais existentes em comunidades empobrecidas, ao atacarem com fúria e violência a população da Serrinha sob o pretexto, aplaudidas por alguns desavisados cidadãos, de combater os comerciantes de drogas, que por incompetência da policia de fronteiras e falta de políticas públicas, obrigação dos governos estaduais e municipais.
O Jongo da Serrinha é um dos mais tradicionais grupos de cultura do país tendo recebido diversos prêmios por seu trabalho artístico e social. Com 40 anos de história, o grupo de Madureira foi fundado por Mestre Darcy e sua mãe, Vovó Maria Joana Rezadeira que, preocupados com a extinção do jongo na cidade, transformaram a antiga dança praticada nos quintais da Serrinha num espetáculo. O Morro da Serrinha, localizado na zona norte do município do Rio de Janeiro, é uma comunidade urbana com aproximadamente 5.000 moradores na sua maioria negros. Com cerca de 110 anos de existência, a Serrinha é uma das primeiras favelas do país, tendo recebido no início do século passado um enorme contingente de escravos negros recém-alforriados. Os moradores da Serrinha constituíram um núcleo religioso e cultural potencial, visitado não só pelos moradores das cidades próximas, como também por jornalistas, artistas e turistas de vários pontos do Estado do Rio, do Brasil e exterior, interessados em cultura e tradições afro-brasileiras.
O Jongo é uma herança cultural trazida pelos negros bantos que vieram da região do Congo-Angola, na África, para as fazendas de café do Vale do Paraíba no século 19 que ficou preservado na região. Graças a uma iniciativa do grupo, o ritmo foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), em 2005, como o primeiro Bem Imaterial do Estado do Rio de Janeiro. Ao transformar a antiga dança de roda num espetáculo, Mestre Darcy e Vovó Maria inovaram ao introduzir violão e cavaquinho no jongo e ao ensinar crianças a dançar, antigamente só permitido aos "cabeça branca", criando uma nova referência do jongo na cidade e garantindo sua sobrevivência no contexto da globalização.
Em sua trajetória de resistência, o Jongo da Serrinha se transformou em uma das mais genuínas referências da cultura carioca e vem se apresentando em diversas cidades do Brasil e exterior divulgando e preservando o ritmo com espetáculos de alta qualidade. Em 2000, o grupo criou a ONG Grupo Cultural Jongo da Serrinha (GCJS) para desenvolver estratégias de preservação da memória da comunidade Serrinha e do jongo e de educação e capacitação profissional para jovens e crianças, através da Escola de Jongo (EJ). Recebeu diversos prêmios entre eles o Escola Viva (2007), Cultura Nota Dez (2006), Cultura Viva (2006), Itaú-Unicef (2007 e 2005), Petrobrás Rival BR (2002), Orilaxé (2002) e o prêmio mais importante do Ministério da Cultura, a Medalha de Ordem ao Mérito Cultural (2003).
A ONG tem, em linhas gerais, duas missões institucionais: educar crianças e jovens através da arte e da memória e preservar o jongo como patrimônio imaterial através da produção cultural, gerando trabalho e renda. A Escola de Jongo é o projeto sócio-educativo do Grupo hoje patrocinado pela Petrobrás, Criança Esperança e Ministério da Cultura. A Escola valoriza e fortalece laços familiares, comunitários e a identidade local, preservando o Patrimônio Imaterial do jongo criando alternativas de geração de trabalho e renda. A base pedagógica da Escola de Jongo é fundamentada na cultura e memória locais. A Escola de Jongo atende a cerca de 120 crianças e jovens, diariamente em dois turnos, com aulas de música (canto e percussão), dança (afro e jongo), teatro, capoeira angola, cultura popular, leitura e Griôs (contadores de história). O GCJS também cria produtos (discos, livros, filmes, etc), pesquisa, reúne, organiza e produz acervo audiovisual sobre o jongo, a Serrinha e a cultura popular brasileira e africana.
Como ONG, está inserido em diversas redes do terceiro setor e conta com o apoio de vários parceiros institucionais. Para elaboração de metodologia pedagógica e planejamento estratégico participa das Redes Social da Música, Rede Circo Social e Rede de Memória do Jongo. A instituição conta ainda com o apoio da Unesco, FASE/SAAP, G.R.E.S. Império Serrano e artistas entre eles Paulão Sete Cordas, Letícia Sabatella, Sandra de Sá, Beth Carvalho, Dona Ivone Lara, Beth Carvalho, Jorge Mautner, Arlindo Cruz, entre outros.
Pois essa rara escola de cultura e tradição acaba de ser destruída pela incompetência dos policiais do Senhor Beltrame que sob pretexto de combater a violência, usando da mesma, deixou órfãos crianças e jovens que mesmo tendo sido roubados em seus direitos fundamentais de cidadania, porque lá o governo não chega com creches, educação, saneamento básico, se dedicavam a preservação de sua cultura e arte, mas tal qual o exército nazista foram atacados por fuzis e armas pesadas, enquanto se defendiam com sua chupetas, mamadeiras e o som de seus jongos e instrumentos. Até quando, Governador, insistirão nessa política de desrespeito ás crianças do Rio de Janeiro. Não seria a hora de usar um pouco de respeito e inteligência?
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Junior Perim
Coordenador Executivo
CRESCER E VIVERRua Benedito Hipólito, s/n (Lona de Circo) - Praça Onze - Cep.: 20.211-130 - Rio de Janeiro/RJ
Tel.: (21) 3972-1391

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