domingo, 15 de junho de 2008

JAMELÃO SABIA “O QUE É O AMOR”

Não tenho idéia de quantos clientes e quantas vezes me perguntaram se o que sentem é amor ou, afinal, o que é o amor.As pessoas buscam o amor porque ele é o principal alimento da vida, mas grande parte delas se envolvem, antes para "serem amadas" do que de fato "para amar".Ninguém deveria voltar-se para o amor, por necessidade de ter um amor!
Este sentimento é a mais preciosa vivência que podemos ter, certamente, mas ele não se viabiliza verdadeiramente antes que se galgue algum amadurecimento.As crianças, por exemplo, têm suas preferências e empatias afetivas, mas ainda não são capazes de amar, senão de se aconchegarem e buscarem proteção no calor de quem possa (quem sabe?) dar-lhes provas e exemplos de amor.Relacionamentos de amor real não ameaçam a individualidade de cada um e exercitam, na consideração pelo outro, os mais difíceis enfrentamentos, na solidariedade que não sufoca e nem despersonaliza.
Mas muitas pessoas imaginam que poderão ser felizes "quando forem amadas", sem a preocupação de serem "aquelas que amam". Na sua inquietação e insegurança esperam, à maneira das crianças, encontrar portos seguros para as embarcações de suas emoções desordenadas, sem o cuidado de se conhecerem melhor para navegarem neste oceano. Como se vê, não é simples definir “o que é o amor”.Mas dançando mentalmente entre essas considerações, de uma harmonia já elaborada, eu me lembrei de outras danças, lembrei-me do amor que é tão cantado em nossos sambas, lembrei-me do carnaval.Meu coração foi parar na intocável lembrança de um desfile da Mangueira. Eu pude estar lá, pessoalmente. Já faz alguns anos - sequer me lembro qual era, então, o enredo da Escola. O que ficou em minha memória, porém, foi o exemplo concretizado de uma história de amor, no desempenho de um artista já idoso, um ícone do Carnaval Brasileiro, chamado Jamelão.De fato, seria mais apropriado escrever: "Jamelão é o grande intérprete dos sonhos desta sua 'mulher amada', a Estação Primeira de Mangueira".
Eu o vi, então no alto de seus oitenta anos, com o olhar voltado para baixo, porque o tempo curvou-lhe as costas e já lhe era difícil olhar à frente ou para o céu... Mas eu também o ouvi! e do fundo daquela alma vinha o vozeirão único, fortalecido pelo amor à sua querida parceira.Aquele olhar não dizia tristeza - embora muitas tristezas devam ter bordado essa sua existência. Era o olhar de quem via a sua amada, muito bem alojada dentro dele mesmo. A Mangueira, contudo, não estava "aprisionada" pelo afeto de Jamelão. Ele a conhecia e a amava como ela é, livre e sempre à sua frente, rejuvenescida a cada ano e solta, para ser admirada, enquanto arte de um povo. Ele a tinha plasmada em sua própria afeição, o que lhe garantiu que jamais seria esquecido por ela. E ele lhe dava o que parecia ter de melhor: a ternura robusta de sua voz, que sempre dirá: ”Meu amor é seu", mesmo quando as circunstâncias não lhe permitam estar mais, concretamente, junto dela.
E ele não cobrava nada de sua tão querida. Quando aquele intercurso terminava, ele se recolhia silencioso, seguro, e segura a deixava, cada qual no reduto de sua própria realidade. Sequer se punha disponível a quaisquer cumprimentos.Havia quem o considerasse mal-humorado. Não creio.Eu o via apenas, senhor dos próprios sentimentos.
Quando Jamelão cantava: "Mangueira, seu cenário é uma beleza que a natureza criou”... ele era feliz, com certeza, por dar-se a ela e por possibilitar a ela ser muito mais bonita, aos olhos de todos, porque enriquecida por sua voz.Agora está respondida aquela pergunta que tantas vezes me fizeram: "Amar é isto - é dar com a melhor das emoções, o que temos de melhor, para a realização de nossos seres queridos."Está aí o amor de Jamelão por sua Mangueira, para mostrá-lo melhor do que qualquer terapeuta saberia fazer!!!

Um abraço aos amigos,
Antonieta.
Antonieta de Castro Sá é psicóloga e escritora.
Pode ser melhor conhecida pelo site: www.antonietadecastro.psc.br

4 comentários:

[tabita] disse...

alê,
muito difícil amar. às vezes dói. (quase sempre.) o mais difícil é amar como jesus ensinou: até os inimigos. mas talvez esse seja o verdadeiro amor, que é o desinteressado.
um beijo no seu coração.
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Mão do Macaco disse...

Eu achei legal esse texto sobre o amor. Li domingo no suplemento "Mais" da Folha de São Paulo um artigo interessante sobr eum livro d eum filósofo espanhol que se chama Marina, também sobre o amor e sobre o desejo.
Concordo com a autora desse texto que é necessário saber amar, mas acho que é tão necessário saber ser amado, não confundir posse do outro, controle do outro, chantagem emocional ou dependência do outro com amor.
Aí acho que se encontra um meio-termo saudável no que o Marina sugere, que é o discurso do amor, a constante submissão da relação amorosa à conversa, à análise do casal e à identificação de pontos de tensão e pontos de necessidades.
Mas do que estou falando? Não sei amar nem ser amado...

Abraços, Professor!

Alessandro de Oliveira Campos disse...

Denise minha querida,esse é um dos propositos dessa caminhada, não? Desafiante, mas necessário, vital, urgente. Do que vale a vida sem amor? outro grande beijo

caro Mão de macaco, adorei seu comentário. Vou atras disso que você sugere, então não estranhe se algo aparecer por aqui mais tarde...rs e não seja tão duro consigo mesmo. Tenho certeza que com essa sua maozinha que não é nada boba, pratica um "amor próprio" de vez em quando...
abração e se cuida!

Mão do Macaco disse...

Na verdade, atualmente, esse é o único amor que me resta! :)))))