segunda-feira, 13 de setembro de 2010

olha ela aí outra vez!

Ainda pensando sobre a ausência. Caso me perguntem qual a emoção que melhor conheço não preciso muito tempo para pensar: é o medo. O que me é mais familiar e visceral é o medo. Conheço tanto o meu como conheço o caminho entre o trabalho e minha casa. Ele é tal qual um parente muito próximo que vi crescer. Particularmente por conta de tudo que fiz e deixei de fazer até hoje, ou ainda melhor, por tudo que não pretendia fazer e fiz ou pelo que tanto desejei e não realizei. Levei tempo demais tentando me dar conta disso e hoje espero ser capaz de ir um pouco mais adiante. Sei que esse post esta demasiado pessoal, mas percebo que há de se falar destas coisas também. Acabo de ler um livro lindo do escritor moçambicano Mia Couto intitulado Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra, ed. cia. das letras. Várias das frases que andaram aparecendo por aqui recenetemente vieram de lá. Fala ele de retorno, exílio, tradição, pertencimento, mudança e sim, medo, particularmente diante de todas as coisas ditas antes. Atenho-me a apenas uma frase dita lá pelas tantas: só se conhece seu anjo após passar muito tempo com o demônio. Para mim isso tem todo sentido do mundo. Como escrevi inúmeras vezes, partir e ir é muito fácil para mim. E durante muitas despedidas que vivi, quem mais me acompanhou foram meus demônios. Porém nada de dramas! até passei a gostar mais dele porque fui achando o meu anjo um tanto bunda-mule. Esta tudo bem pois sei que foi assim, apenas; e quando tentei permanecer e ficar, ou ainda voltar, já era tarde e não tinha mais demônio nem anjo. Algo completamente diferente do sentido de Sankofa... Pois bem, o livro. Apesar de tratar do tema da tradição e dos costumes, o protagonista da história precisa lidar com sua autonomia e realização de sua própria história naquele contexto. E é nesse lugar que estamos interessados. Quando não nos resta muito o que fazer, as vezes tendemos a repetir, abraçamos mais do mesmo, acreditando na aposta daquilo que nos é familiar. Algo nos diz para ficar ali, esperando por algo mais conveniente, agradável e tranquilo. Vou me dando conta que isso na realidade é muito raro. Acabei de escutar de uma pessoa que vem chegando assim, toda tranquila, linda e cheia de brilho e força, algo que resume parte desse dilema e que certamente encara a ausência de uma maneira bastante particular e digna. Ela me disse, sem dizer a fonte, que o contrário da vida não é a morte, mas a repetição. Falar o que depois disso? Então, estou indo logo, para a beira do penhasco, depois da subida árdua, me preparar para saltar.

3 comentários:

Anônimo disse...

http://www.youtube.com/watch?v=4z88U915uq8

Anônimo disse...

Acabo de chegar de uma conversa sobre conversações onde justamente perguntei sobre confiança. Em tentativa, ele me respondeu: as pessoas não se entendem na linguagem mas no sentimento profundo de bem estar... e então, a partir dessa compreensão, escolheu escolher ampliar-se, gerar, oferecer, vivenciar no bem estar. O contrario da vida não é a morte, tão pouco a ilusoria repetição, mas o proprio medo que não nos deixa caminhar ou nos faz pular para nenhum bem estar.

Lia Vainer Schucman disse...
Este comentário foi removido pelo autor.