segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Mais nome aos bois

O Brasil de Fato publica no seu último número uma curiosa análise sobre as eleições dando enfâse aos processos regionais. Há considerações pertinentes sobre os modos operandis de se fazer política partidária no país. Reproduzo a pequena matéria aqui no Paladar. Antes, apenas digo que em meu entender no fundo permanece a lógica da conveniência e um pouco mais do mesmo. O que tem me aborrecido nessas discussões é que permanecemos na falsa dicotomia que transita nas diferenças entre PT e PSDB, ou melhor dizendo: criticar o PT te faz tucano, criticar o PSDB te faz petista. Não são partidos iguais, sabemos disso, porém santa inocência acreditar que essa é a única possibilidade de pensar e fazer política. Nada mais falso! De todo modo isso fica pra depois.
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Eleições estaduais: tudo pela governabilidade
por Admin

Hoje, o governo apresenta uma popularidade comparável à do Plano Cruzado na época do pleito de 1986, no entanto, não há indícios de que aquela transferência de votos seja reeditada. A peculiaridade deste próximo processo eleitoral é o fato de os partidos que encabeçam as candidaturas favoritas, PT e PSDB, não terão tanto peso nas disputas estaduais quanto nos anos anteriores.

Para consolidar alianças em nível nacional, o PT optou por ceder a cabeça de chapa para aliados, como PSB e PMDB. Os partidos que compuseram a extinta Frente de Esquerda – que apoiou Heloísa Helena à presidência da República em 2006 – são os que possuem o maior número de candidaturas. Justamente por não terem reeditado a aliança, Psol, PSTU e PCB lideram a lista de postulantes aos governos estaduais.

Despolitização

O cenário que aponta para uma polarização na disputa presidencial não é refletido no plano estadual, portanto. O aparente acirramento que se dá entre Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) é diluído na esfera regional. Sem a verticalização das candidaturas, criou-se uma série de peculiaridades como o “PMDB governo” (no Rio de Janeiro e Maranhão) e o “oposição” (em São Paulo e Rio Grande do Sul).

O símbolo da confusão política nessas eleições é o PTB. A legenda integra a base governista e a coligação de Serra ao mesmo tempo. Mas esse cenário não impede que Fernando Collor, favorito ao governo alagoano, declare apoio a Dilma.

Para analistas, o fato de os maiores partidos abrirem mão de candidaturas revela um processo despolitizado e fisiológico. “As alianças eleitorais, sem nenhum critério programático ou no campo da grande política, condenam as eleições ao jogo da pequena política. Acabam prevalecendo os caciques locais, os chefes políticos com mais chances eleitorais, os acertos e trocas de favores diante das possibilidades de financiamento de campanha, como se vê na aliança de Marina Silva do PV com PSDB e DEM no Rio”, aponta Mauro Iasi, historiador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Para Rudá Ricci, sociólogo do Instituto Cultiva, a preferência que os partidos majoritários têm dado aos aliados explicita um fisiologismo arraigado. “É uma situação das mais instigantes e peculiares. A polarização entre lulismo e tucanos paulistas levou a uma espécie de ‘tudo ou nada’ para os dois lados. Veja que não é efetivamente o interesse de seus partidos. Serra joga um tudo ou nada para se manter como cacique tucano. Se perder, encerra sua carreira política e, possivelmente, o eixo da direção tucana sai também de São Paulo. Portanto, para os dirigentes paulistas do PSDB, o que interessa é vencer em São Paulo e ganhar as eleições presidenciais. No caso do lulismo, o interesse é eleger Dilma. Não é exatamente o interesse do PT, como vimos em vários Estados, incluindo Minas Gerais e Maranhão, para citar apenas dois”, analisa.

Sistema desestruturado

Ricci avalia que o fato de a popularidade do governo não se refletir em plano estadual, tal como em 1986, é consequência da desestruturação do sistema político-partidário brasileiro. “O lulismo desmontou o sistema vigente e a conseqüência é que lideranças partidárias são maiores que seus partidos. Este é o caso de Aécio Neves no PSDB, Lula no PT, Marina no PV, e assim por diante. Temos, ainda, a emergência de um eleitorado mais informado e exigente, mais individualista. Metade da população brasileira é classe C. Eles são ciosos por manter sua ascensão social. O que quero dizer é que não temos mais os currais eleitorais que transferiam votos. O que temos é uma espécie de eleitor médio que avalia individualmente os candidatos e tenta se certificar das vantagens e garantias que terá”, explica.

Ainda segundo o sociólogo, as disputas estaduais são muito influenciadas por fatores locais, sobretudo em termos da comunicação, controlada por poucas famílias. “As eleições atuais dependem da televisão e da rede de operadores políticos regionais. Estes operadores são mais que os velhos cabos eleitorais. Eles influenciam na avaliação e interpretação do que se vê na televisão. Tudo para dizer que a competição entre candidaturas é muito mais individualizada e profissional que antes. Se o candidato fosse Lula, a eleição (todos sabemos) já estaria decidida”, aponta.

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