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Eleições estaduais: tudo pela governabilidade
Hoje, o governo apresenta uma popularidade comparável à do Plano Cruzado na época do pleito de 1986, no entanto, não há indícios de que aquela transferência de votos seja reeditada. A peculiaridade deste próximo processo eleitoral é o fato de os partidos que encabeçam as candidaturas favoritas, PT e PSDB, não terão tanto peso nas disputas estaduais quanto nos anos anteriores.
Despolitização
O cenário que aponta para uma polarização na disputa presidencial não é refletido no plano estadual, portanto. O aparente acirramento que se dá entre Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) é diluído na esfera regional. Sem a verticalização das candidaturas, criou-se uma série de peculiaridades como o “PMDB governo” (no Rio de Janeiro e Maranhão) e o “oposição” (em São Paulo e Rio Grande do Sul).
O símbolo da confusão política nessas eleições é o PTB. A legenda integra a base governista e a coligação de Serra ao mesmo tempo. Mas esse cenário não impede que Fernando Collor, favorito ao governo alagoano, declare apoio a Dilma.
Para Rudá Ricci, sociólogo do Instituto Cultiva, a preferência que os partidos majoritários têm dado aos aliados explicita um fisiologismo arraigado. “É uma situação das mais instigantes e peculiares. A polarização entre lulismo e tucanos paulistas levou a uma espécie de ‘tudo ou nada’ para os dois lados. Veja que não é efetivamente o interesse de seus partidos. Serra joga um tudo ou nada para se manter como cacique tucano. Se perder, encerra sua carreira política e, possivelmente, o eixo da direção tucana sai também de São Paulo. Portanto, para os dirigentes paulistas do PSDB, o que interessa é vencer em São Paulo e ganhar as eleições presidenciais. No caso do lulismo, o interesse é eleger Dilma. Não é exatamente o interesse do PT, como vimos em vários Estados, incluindo Minas Gerais e Maranhão, para citar apenas dois”, analisa.
Ricci avalia que o fato de a popularidade do governo não se refletir em plano estadual, tal como em 1986, é consequência da desestruturação do sistema político-partidário brasileiro. “O lulismo desmontou o sistema vigente e a conseqüência é que lideranças partidárias são maiores que seus partidos. Este é o caso de Aécio Neves no PSDB, Lula no PT, Marina no PV, e assim por diante. Temos, ainda, a emergência de um eleitorado mais informado e exigente, mais individualista. Metade da população brasileira é classe C. Eles são ciosos por manter sua ascensão social. O que quero dizer é que não temos mais os currais eleitorais que transferiam votos. O que temos é uma espécie de eleitor médio que avalia individualmente os candidatos e tenta se certificar das vantagens e garantias que terá”, explica.
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