quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Encontro da Luta Antimanicomial 2009

IX Encontro Nacional de Usuários e Familiares da Luta Antimanicomial
VIII Encontro Nacional da Luta Antimanicomial
Reforma Psiquiátrica: a revolução na comunidade!

É hora de afirmar!
De 26 a 29 de Novembro de 2009
São Bernardo do Campo
Região do Grande ABCDMRR - SP
Inscrições:http://www.osdevoltaparacasa.org.br/
Informações:http://br.mc343.mail.yahoo.com/mc/compose?to=osdevoltaparacasa@uol.com.br
Tel.: 11 4455-0825
Aviso aos Núcleos da Luta Antimanicomial: ainda há vagas subsidiadas para alimentação e hospedagem!

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Professor é...

Isso de ser professor é mesmo muito interessante. Não apenas pelas boas interpretações e intervenções que os alunos podem fazer -e eles as fazem- mas também pelas pérolas que nos revelam. Li esses dias em um dos relatórios de estágios de meus alunos, depois de contextualizarem a instituição onde eles estavam indo fazer sua intervenção (um ambulatório infantil), escreveram:
"Achamos o lugar muito bonito, mas nos surpreendeu a total falta de autoritarismo dos profissionais com as crianças, elas faziam o que queriam!"
Ainda não pude perguntar para minhas alunas o que exatamente eles entendem por "falta de autoritarismo", mas cá estou eu imaginando o que minhas queridas estagiárias fariam no lugar dos técnicos desse ambulatório. Ou será apenas uma questão mal interpretada do uso da "autoridade"? Veremos.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Cidinha da Silva estréia na literatura infanto-juvenil e apresenta sua obra em São Paulo!


A escritora mineira, Cidinha da Silva prepara o lançamento de mais um livro: Os nove pentes d’África. Desta vez, a autora direciona sua criação, a quarta, ao público infantil e juvenil. A publicação será apresentada, pela primeira vez no país, em noite de autógrafos na tradicional Feira do Livro de Porto Alegre, em sua 55ª edição.

Com um texto pautado pela emoção, em que a prosa a cada linha é pura poesia, a mais recente obra literária de Cidinha da Silva terá, com certeza, leitura disputada pelos adultos. A história construída em 56 páginas, com ilustração da atriz e artista plástica Iléa Ferraz, é lançamento da Mazza Edições, editora de Belo Horizonte, Minas Gerais.

A micro apresentação de seu novo livro, Cidinha da Silva expressa que Os nove pentes d'África" tecem um bordado de poesia e surpresa na tela de uma família negra brasileira. Os pentes herdados pelos nove netos de Francisco Ayrá, personagem condutor, são a pedra de toque para abordar a pulsão de vida presente nas experiências das personagens e rituais cotidianos da narrativa.

O livro de Cidinha da Silva cativa pela descrição minuciosa do universo das relações familiares, pela reverência à sabedoria dos mais velhos e à ancestralidade africana. A motivação criadora, segundo Cidinha da Silva, veio de casa, dos pequenos da família “e em especial, de uma sobrinha que, aos seis anos, em processo de alfabetização, soletrava as letras do Tridente - referência ao seu segundo livro Cada Tridente em seu lugar” -. Aquilo me comovia e angustiava. Expliquei que se tratava de um livro para adultos, por isso as letras eram pequenas e daí sua dificuldade para ler. Ela então me perguntou: “- Tia quando você vai escrever livros para crianças?”.

Era a senha que faltava para a escritora mergulhar nesse novo processo criativo. Ela está fascinada pela experiência. “Creio que farei este caminho por algum tempo. Estou determinada a ser lida pelos pequenos da minha casa, enquanto são pequenos, e fico felicíssima quando minhas sobrinhas e irmãos levam meus livros para a biblioteca da escola em que estudam, ou quando encontram meus livros por lá e vêm me contar. É delicioso sentir que eles têm orgulho de mim e agora poderão ler minha literatura sem esforço, apenas por prazer”.

Outras publicações da autora – “Ações afirmativas em educação: experiências brasileiras”, de 2003, um livro de ensaios organizado por Cidinha da Silva com a parceria de sete outros autores e autoras. “Cada tridente em seu lugar”, já em segunda edição (2006/2007), é o primeiro livro de ficção. Em 2008, Cidinha da Silva publicou “Você me deixe, viu? Eu vou bater meu tambor”, um conjunto de 26 textos, entre crônicas e mini-contos, que gira em torno das afetividades, da sexualidade, do amor e do corpo.

Serviço

O que é: Lançamento do livro de Cidinha da Silva: Os nove pentes d´Áfric

Quando: 21/11/09

Horário: 20:00

Onde: ODUN Formação e Produção - Rua Jardim Francisco Marcos, N.180, Bela Vista
Informações: (11) 31057247


sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Vai ser em Sampa também!

O novo livro de Cidinha da Silva estará sendo lançado em São Paulo em breve. Os nove pentes d'África (ed. Mazza) estará com a autora dia 21/11, às 20:00, na Odun - Formação e Produção e dia 23/11, às 19:00, na Casa das Áfricas. Em breve mais notícias!
"Cidinha da Silva é uma amiga minha que escreve como quem trança ou destrança cabelos e nos presenteia com pentes presentes cheios de passado que nos ajudam a destrinçar o futuro. Seus pentes são pontes de compreensão entre o que somos nós negros brasileiros agora, nossos avós recentes e os tais ancestrais africanos. E pontes entre nós e nossos filhos e sobrinhos, os que vêm depois de nós. Compreensão aqui que eu digo é aquele entendimento afetuoso, apaixonado até e cheio de compaixão no sentido de gratidão pelo que se é. Pelo que nós somos: família, solidariedade e contradição na difícil tarefa de encontrarmos, cada um, nosso papel de levar adiante a história coletiva e ao mesmo tempo afirmar o traço intransferivelmente pessoal do indivíduo. Estar com a mãe e nascer, ser da famíla e ir embora, constituir a sua própria (que ainda é a mesma). É aí que mora o penteado: saber qual é o pente que te penteia. Para os mais jovens, a quem se destina a princípio este livro, mas também para os nem tão jovens assim são generosas as pistas sopradas ao nosso ouvido por essa contadora de história. Escutadora atenta, agora vem a griot nos atentar doce e profundamente. Vem aqui nos alentar deschavandos e nos ajudando a achar laços nesse desconchavado mundo. Vem reforçar nossas ligações básicas, comunitárias, domésticas. É tão certeiro e tão bem-vindo esse livro que lê-lo me encheu de orgulho e admiração. Pelo tema e pela forma. Sei que os próximos leitores de "Pentes" sentir-se-ão gratos a Cidinha da Silva, como eu". (Chico César, compositor).

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

De São José

Aconteceu numa das tardes que caminhava pelo centro da cidade. Tenho uma "janela" logo após o almoço e costumo caminhar pelas ruas de São José dos Campos que me são mais acessíveis para conhecer melhor a cidade onde trabalho. O centro, seja de qual cidade for, sempre me interessa. Alí sempre está concentrada uma espécie de democracia direta, é o lugar que reúne a diversidade e que revela bem a cidade a qual pertence. O centro precisa conviver com a diferença, ele é a convergência, a aglutinação da diversidade por excelência. Enfim, adoro o centro! O de São José revela essa particularidade também. Simultaneamente é o típico interior paulista com um tanto da metrópole, da conversa tranqüila do caipira e do passo acelerado dos comerciantes. A principal praça do centro de São José é a Afonso Pena. Bem cuidada e arborizada, possui uma fonte central, é cercada por algumas lojas de armarinhos, móveis e eletrodomésticos, agências bancárias, um restaurante, uma escola, um distrito policial, algumas bancas de jornal e livros usados, barraquinhas de lanches a preços populares e parte do Banhado, principal cartão postal da cidade de onde se pode ver o pôr do sol. Os tipos que a habitam também são bem ecléticos e são esses que me interessam mais. Estão por alí no horário comercial, inúmeros trabalhadores do comércio, estudantes, donas de casa, senhores com chapéu de palha e trabalhadoras do sexo. Realmente me chamou atenção essa atividade por lá, mas é isso mesmo. Estão em um dos cantos da praça as crianças brincando no chafariz, no outro os idosos papeando e jogam baralho, e em outra parte, as trabalhadoras do sexo que oferecem seus serviços para que estiver interessado. Muito tranquilas, discretas e educadas, permanecem sentadas na mureta do jardim, ou em pé, sozinhas, em dupla ou trio, esperando a abordagem dos clientes. Como disse, numa tarde dessas caminhando pelo centro, depois de comprar um sorvete, resolvi sentar num dos bancos próximo as meninas para pensar sobre os problemas da existência que afligiam minha alma naquele momento. Não me dei conta quando uma delas sentou no mesmo banco que eu. Não disse nada. Nem ela. Passados alguns segundos ela me fala:

-Vamos?
-Obrigado, mas acho que não.
Alguns segundos depois pergunto:
-E quanto é?
-40, mais 10 do hotel.
-E você fica sempre aqui?
-Todos os dias, de segunda a sexta, das 9:00 às 18:00.
-Horário comercial mesmo. Não trabalha a noite?
-Não, tenho que cuidar da casa, então só de dia.
-Entendi.

Ela se dando conta que alí não tinha cliente também não disse mais nada. Ainda assim me tratou com simpatia e permaneceu sentada olhando as crianças brincando. Terminei meu sorvete, me despedi com um "até logo" e um aceno de mão e voltei a caminhar em direção a meu trabalho.
Vim a saber depois por uma de minhas alunas, joseense nativa de quase trinta anos, que a praça é ponto dessas trabalhadoras antes mesmo dela nascer. Interessante, não? Fico intrigado para entender melhor dessa convivencia entre tantos tipos distintos numa cidade como São José. Talvez, como disse antes, seja a beleza e o encantamento das diferenças do centro que permita essa aglomeração de identidades tão múltiplas.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Após o Zapatismo


"FHC: O Filho da P..." - A Nova Superprodução do Cinema Nacional.

Incomodados com a repercussão que o filme “Lula, O Filho do Brasil” está tendo mesmo antes de sua estréia, os principais líderes demo-tucanos decidiram dar o troco produzindo uma cinebiografia de seu guru-mor: o "príncipe dos sociólogos" Fernando Henrique Cardoso - primeiro e único. Financiado com recursos provenientes do governo do Rio Grande do Sul, do Banco Opportunity, de sobras de campanha e de uma graninha que restou de um capilé que a CIA mandava para o biografado na década de 70, o filme “FHC, o Filho da P...” já nasce como um clássico do cinema (trans) nacional. Reunindo um elenco estelar, a película recebeu aplausos unânimes dos críticos dos principais veículos de comunicação do país. O único dilema desta crítica especializada foi saber de que forma classificar o filme: se como terror, como drama ou como policial. O “Abobrinhas Psicodélicas”, em mais um furo de reportagem, publica em primeira mão o cartaz e a ficha técnica desta obra que, definitivamente, entrará para os anais (ops!) da sétima arte. Portanto, não deixe de ampliar a imagem abaixo para apreciar os detalhes deste belíssimo cartaz, que faz juz à estatura intelectual e política do homenageado.


Ficha Técnica:

Título Original: “FHC, The Son of B…”

Gênero: Drama/Terror/Policial

Produção: Brasil/EUA

Ano: 2010

Direção: Arnaldo Jabor

Distribuição: Globo Filmes e FMI Pictures

Direção de Arte: Nizan Guanaes

Efeitos Especiais: Hans Doner

Roteiro: Ali Kamel e Diogo Mainardi

Inspiração Espiritual: Roberto Marinho (psicografado por Ana Maria Braga)

Trilha Sonora: Caetano Veloso (incluindo a música-tema: “Você não vale nada, mas eu gosto de você”, na voz e no violão deste grande compositor e intelectual baiano)

Figurinos: Merval Pereira

Moça do Cafezinho: Miriam Leitão

Elenco: FHC (o próprio), Daniel Dantas, Gilmar Mendes, Geraldo Brindeiro, Ronivon Santiago, Ricardo Sérgio, José “Nosferatu” Serra, Herr Jürgen Bornhausen, Carlos Augusto Montenegro, Ronaldo “little jet” Sardenberg, Celso “no shoes” Lafer, Eduardo Jorge.

Participações Especiais: Miriam Dutra e Regina Duarte

terça-feira, 10 de novembro de 2009

As turbas têm um ponto em comum: detestam a ideia de que a mulher tenha desejo próprio

CONTARDO CALLIGARIS
Folha de S. Paulo - Ilustrada - 5/11

NA SEMANA passada, em São Bernardo, uma estudante de primeiro ano do curso noturno de turismo da Uniban (Universidade Bandeirante de São Paulo) foi para a faculdade pronta para encontrar seu namorado depois das aulas: estava de minivestido rosa, saltos altos, maquiagem -uniforme de balada.

O resultado foi que 700 alunos da Uniban saíram das salas de aula e se aglomeraram numa turba: xingaram, tocaram, fotografaram e filmaram a moça. Com seus celulares ligados na mão, como tochas levantadas, eles pareciam uma ralé do século 16 querendo tocar fogo numa perigosa bruxa.

A história acabou com a jovem estudante trancada na sala de sua turma, com a multidão pressionando, por porta e janelas, pedindo explicitamente que ela fosse entregue para ser estuprada. Alguns colegas, funcionários e professores conseguiram proteger a moça até a chegada da PM, que a tirou da escola sob escolta, mas não pôde evitar que sua saída fosse acompanhada pelo coro dos boçais escandindo: "Pu-ta, pu-ta, pu-ta".

Entre esses boçais, houve aqueles que explicaram o acontecido como um "justo" protesto contra a "inadequação" da roupa da colega. Difícil levá-los a sério, visto que uma boa metade deles saiu das salas de aula com seu chapéu cravado na cabeça.

Então, o que aconteceu? Para responder, demos uma volta pelos estádios de futebol ou pelas salas de estar das famílias na hora da transmissão de um jogo. Pois bem, nos estádios ou nas salas, todos (maiores ou menores) vocalizam sua opinião dos jogadores e da torcida do time adversário (assim como do árbitro, claro, sempre "vendido") de duas maneiras fundamentais: "veados" e "filhos da puta".

Esses insultos são invariavelmente escolhidos por serem, na opinião de ambas as torcidas, os que mais podem ferir os adversários. E o método da escolha é simples: a gente sempre acha que o pior insulto é o que mais nos ofenderia. Ou seja, "veados" e "filhos da puta" são os insultos que todos lançam porque são os que ninguém quer ouvir.

Cuidado: "veado", nesse caso, não significa genericamente homossexual. Tanto assim que os ditos "veados", por exemplo, são encorajados vivamente a pegar no sexo de quem os insulta ou a ficar de quatro para que possam ser "usados" por seus ofensores. "Veado", nesse insulto, está mais para "bichinha", "mulherzinha" ou, simplesmente, "mulher".

Quanto a "filho da puta", é óbvio que ninguém acredita que todas as mães da torcida adversa sejam profissionais do sexo. "Puta", nesse caso (assim como no coro da Uniban), significa mulher licenciosa, mulher que poderia (pasme!) gostar de sexo.

Os membros das torcidas e os 700 da Uniban descobrem assim um terreno comum: é o ódio do feminino -não das mulheres como gênero, mas do feminino, ou seja, da ideia de que as mulheres tenham ou possam ter um desejo próprio.

O estupro é, para essas turbas, o grande remédio: punitivo e corretivo. Como assim? Simples: uma mulher se aventura a desejar? Ela tem a impudência de "querer"? Pois vamos lhe lembrar que sexo, para ela, deve permanecer um sofrimento imposto, uma violência sofrida -nunca uma iniciativa ou um prazer.

A violência e o desprezo aplicados coletivamente pelo grupo só servem para esconder a insuficiência de cada um, se ele tivesse que responder ao desejo e às expectativas de uma parceira, em vez de lhe impor uma transa forçada.

Espero que o Ministério Público persiga os membros da turba da Uniban que incitaram ao estupro. Espero que a jovem estudante encontre um advogado que a ajude a exigir da própria Uniban (incapaz de garantir a segurança de seus alunos) todos os danos morais aos quais ela tem direito. E espero que, com isso, a Uniban se interrogue com urgência sobre como agir contra a ignorância e a vulnerabilidade aos piores efeitos grupais de 700 de seus estudantes. Uma sugestão, só para começar: que tal uma sessão de "Zorba, o Grego", com redação obrigatória no fim?

Agora, devo umas desculpas a todas as mulheres que militam ou militaram no feminismo. Ainda recentemente, pensei (e disse, numa entrevista) que, ao meu ver, o feminismo tinha chegado ao fim de sua tarefa histórica. Em particular, eu acreditava que, depois de 40 anos de luta feminista, ao menos um objetivo tivesse sido atingido: o reconhecimento pelos homens de que as mulheres (também) desejam. Pois é, os fatos provam que eu estava errado.

PARTICIPE DESSE ATO!

POR FAVOR, DIVULGUEM AMPLAMENTE E COMPAREÇAM!

CONVOCAÇÃO AO POVO DE SÃO PAULO
Nesta quinta-feira dia 12 de Novembro
Apartir das 16h00 no MASP
PARTICIPE DESSE ATO DE REPÚDIO


*Shimon Peres Senhor da Guerra vem a São Paulo *

Nós, da Frente em Defesa do Povo Palestino de São Paulo, que reúne movimentos sociais, organizações não-governamentais, associações da sociedade civil e partidos políticos, desejamos tornar público nosso repúdio à visita de Shimon Peres, presidente de Israel, ao Brasil no dia 12 de novembro.

O partido de Shimon Peres é o Kadima, um partido israelense fundado por Ariel Sharon, que coordenou os massacres de Sabra e Chatila no Líbano em 1982 e organizou a sangrenta repressão à segunda Intifada em 2000, que ele mesmo havia provocado. A atual presidente do Kadima é Tzipi Livni, que disputava o “mérito” da organização do massacre deGaza em janeiro de 2009.

Shimon Peres disse, em entrevista ao /Expresso, /diário português, que “no fim, o mundo irá agradecer-nos” pelo massacre em Gaza, pelos 1500 mortos, pela destruição completa de um território que já vinha sofrendo dois anos de fechamento de fronteiras. É também um presidente que defende o crescimento dos assentamentos na Cisjordânia e a expansão do Muro que dilacera a sociedade palestina.

Esse porta-voz de Israel será recebido pelos dignatários brasileiros e pelos empresários paulistas, na semana em que o mundo se levanta contra o Muro do Apartheid. A Fiesp organizará um seminário especial destinado a discutir as relações comerciais Brasil-Israel e o Acordo de Livre Comércio Mercosul-Israel, pautado para votação no Congresso. Além de Shimon Peres, falará o presidente da empresa israelense Elbit, desenvolvedora dos principais armamentos e tanques israelenses usados no massacre em Gaza.

Qual mensagem o Brasil passa ao mundo com essa visita? A mensagem de que senhores da guerra podem testar seus equipamentos contra populações infinitamente menos preparadas e depois vendê-los a outros países, sedimentando assim as “parcerias estratégicas”.

Perante tal cinismo do empresariado paulista e dos governos estadual e federal, nós livantamos nossa voz.


*PARTICIPE DESSE ATO A PARTIR DAS 16H NO MASP*

domingo, 8 de novembro de 2009

ESPELHO ATLÂNTICO – MOSTRA DE CINEMA DA ÁFRICA E DA DIÁSPORA


Após o furor cinematrográfico provocado pela Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que neste ano não exibiu nenhum filme africano, a Matilha Cultural e a curadora Lilian Solá Santiago promovem a ESPELHO ATLÂNTICO – MOSTRA DE CINEMA DA ÁFRICA E DA DIÁSPORA, como programação exclusiva para o Mês da Consciência Negra. A seleção de filmes propõe um olhar contemporâneo da diversidade cultural do vasto continente africano e de seus descendentes dispersos pelo mundo.
A ESPELHO ATLÂNTICO vêm sendo realizada há dois anos na Caixa Cultural do Rio de Janeiro, acompanhada por um público crescente e fiel. O cronograma do evento paulistano inclui a exibição de 11 filmes, africanos, europeus e brasileiros sobre a temática, sendo a maioria inédita em São Paulo.
A abertura da Mostra acontece na terça-feira, 10 de novembro às 19 horas, no Espaço Matilha Cultural, com coquetel e a primeira exibição em 35mm de “Graffiti”, dirigido por Lilian Solá Santiago. Na noite da abertura, haverá também uma performance CORES DA PERCUSSÃO, com o duo Simone Soul e Marina Uehara.

De 10 a 15 de novembro de 2009 (terça a domingo)

Exibições gratuítas, sempre às 19:00h.

ESPAÇO MATILHA CULTURAL
R. Rego Freitas 542 - São Paulo – Brasil (próx. à R. da Consolação)
fone:11 3256.2636

Mais informações sobre a Mostra:

http://liliansantiago.blogspot.com/

http://matilhacultural.com.br/2009/10/espelho-atlantico-mostra-de-cinema-da-africa-e-da-diaspora/


PROGRAMAÇÃO E SINOPSES

Dia 10/11 - terça-feira - abertura com coquetel

Graffiti (ficção / documentário)

Lílian Solá Santiago (Brasil, 2008, 10 min.)
São Paulo é a cidade mais grafitada do mundo. "Graffiti" acompanha o rolê solitário de Alê numa das semanas mais sinistras que essa cidade já viveu – dos ataques do PCC, e a violenta revanche da polícia em 2006. O que o move a enfrentar as ruas nessa noite? Ganhador do Prêmio Estímulo ao Curta-Metragem. Com Sidney Santiago e Chico Santo.

Sessões: 19:30, 20:00, 21:00 e 21:30 horas.

Dia 11/11 – quarta-feira

O som e o resto (ficção)
André Lavaquial (Brasil, 2007, 23min)
Jahir é um virtuoso baterista carioca que toca numa banda evangélica. Ao se indispor com o pastor da igreja, se vê sozinho na rua com seu instrumento e inicia uma jornada existencial rumo à sua música. Participou de importantes festivais internacionais e, em 2008, foi o único curta-metragem brasileiro a conquistar uma vaga do Festival de Cannes, na seção Cinéfondation.

Cariocas (documentário)
Ariel de Bigault (França, 1989, 57 min.)
“Cariocas” mostra diversas facetas do samba no Rio de Janeiro. Grande Otelo, nos guia ao encontro dos grandes músicos da cidade. Realizado originalmente para a TV francesa, conta com importantes depoimentos de Martinho da Vila, Paulo Moura, Velha Guarda da Portela, Nelson Sargento, Wilson Moreira, e Joel Rufino dos Santos.

Dia 12/11 – quinta-feira
Balé de pé no chão (documentário)
Lilian Solá Santiago e Marianna Monteiro (Brasil, 2006, 17 min.)
Documentário sobre Mercedes Baptista, principal precursora da dança afro-brasileira. Bailarina de formação erudita, cria seu grupo na década de 50, e estuda os movimentos do candomblé e das danças folclóricas. Participou de vários festivais nacionais e internacionais. A versão de 52 minutos para televisão ganhou, entre outros, o Prêmio de Melhor Documentário no I Hollywood Brazilian Film Festival, 2009.

Esperando os homens (documentário)
Katy Lena Ndiaye (Senegal/ Mauritânia/ Bélgica, 2007, 56 min.)
Em Hassania, no abrigo de Oualata, uma cidade vermelha na fronteira distante do deserto de Sahara, três mulheres praticam pintura tradicional decorando as paredes da cidade. Em uma sociedade dominada pela tradição, pela religião e pelos homens, estas mulheres expressam-se livremente, discutindo o relacionamento entre homens e mulheres. Presente em mais de 20 festivais internacionais.

Dia 13/11 – sexta-feira
Ossudo (ficção / animação)
Júlio Alves (Portugal, 2007, 14 min.)
Baseado no conto "Ossos", do famoso escritor moçambicano Mia Couto, este filme é uma história de amor entre duas pessoas desamparadas. Participou de mais de vinte festivais pelo mundo. Recebeu, entre outros, o Troféu de Melhor Filme Português e o Troféu Ouro Animação no 36º Festival Internacional do Algarve.

Kuxa Kanema – O nascimento do cinema (documentário)
Margarida Cardoso (Bélgica / França / Portugal, 2003, 52min.)
O governo Moçambicano cria após a independência, em 1975, o Instituto Nacional de Cinema (INC), pois o presidente, Samora Machel, sabia do poder da imagem para a nação socialista. O filme acompanha a ruína do INC após um incêndio e a desilusão dos moçambicanos com o regime. Vencedor do Festival de Nova York de Filmes Africanos, entre outros.

Dia 14/11 – sábado
Maria sem graça (ficção)
Leandro Godinho ( Brasil, 2007, 14min.)
Maria das Graças, menina negra de 12 anos, moradora da periferia de São Paulo, atormenta a vida de sua mãe para alcançar seu maior sonho: ser a apresentadora Xuxa Meneghel. Selecionado para o Festival Internacional de curta-metragens de São Paulo.

Cabo Verde, meu amor (ficção)
Ana Lisboa (Portugal/ França/ Cabo Verde, 2007, 76 min.)
A condição feminina em Cabo Verde na atualidade é o foco principal deste primeiro longa metragem da cineasta Ana Lisboa. Falado em crioulo cabo-verdiano, foi totalmente rodado na Cidade da Praia com um vasto elenco de atores amadores. Primeiro filme realizado e produzido em Cabo Verde, por cabo-verdianos.

Dia 15/11 – domingo
Black Berlim (ficção)
Sabrina Fidalgo (Alemanha / Brasil, 2009, 15 min.)
Nelson é um jovem baiano estudante de engenharia em Berlim. Na capital alemã, leva uma vida muito distante de suas verdadeiras raízes. Porém tudo muda quando ele frequentemente passa a encontrar Maria, uma imigrante ilegal do Senegal. Apesar de ignora-la ele começa a ter visões de personagens estereotipados, que o remetem a um passado que ele prefereria esquecer. Inédito.

O Herói (ficção)
Zezé Gamboa (Angola / França / Portugal, 2004, 97 min.)
Um soldado mutilado na explosão de uma mina volta à Luanda após 20 anos de combates. No elenco o senegalês Makena Diop, as brasileiras Maria Ceiça e Neuza Borges. Premiado no Festival de Sundance (EUA) e no Festival de Cinema Africano de Milão, entre outros.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Sobre Exu

Não foi eu ter acabado de falar de minha admiração e respeito por Exu, leio no blog do Bruno Ribeiro esse ótimo texto falando sobre a intolerância religiosa que ainda permeia nossa gente. Leiam vocês mesmos. Inté!
------------------------------
Nas religiões afro-brasileiras, Exu é o mensageiro entre o Céu e a Terra (entre o Orum e o Ayiê, como dizemos no Candomblé). É o único orixá com liberdade para circular nas duas esferas. Por esta razão, Exu apresenta, entre suas inúmeras virtudes, também numerosos defeitos ou vícios humanos. Sua personalidade contraditória e imprevisível talvez ajude a explicar a associação equivocada que a Igreja Católica, ainda no tempo das caravelas, fez entre Exu e o Diabo.

Longe de ser um demônio, Exu é uma energia vital, presente em todas as coisas que se movem. Sem a sua energia, quase nada seria possível. Exu não é bom e nem mau, posto que o Candomblé desconhece o maniqueísmo. Exu é simplesmente a fagulha que detona os grandes acontecimentos, seja ele o nascimento de uma criança ou a guerra mais sangrenta. Os conceitos de Bem e Mal, para o povo-de-santo, não existem; pelo menos, não da forma como os cristãos concebem tais valores.

Exu não é santo, não é diabo, não é espírito. Exu é um orixá, ou seja, uma divindade mitológica africana. E é também um princípio. Nenhuma entidade, como ele, foi vítima de tanto preconceito ao longo da história. Quando o povo brasileiro ainda estava sendo formado, lá pelos idos da escravidão, o culto a Exu foi proibido pela Igreja. Relegado ao submundo dos porões e dos becos mais escuros, acabou ganhando uma conotação de culto macabro, misterioso, feito nas sombras da noite. Puro preconceito. Nada ou ninguém pode ser mais solar e festivo do que Exu.

E ainda hoje, se os senhores querem saber, Exu é o alvo maior do preconceito que recai sobre a religião de milhões de brasileiros, dentre os quais me incluo. Grande parte deste preconceito, sem dúvida a maior, vem atualmente das igrejas neopentecostais que estão proliferando no País, sobretudo nos lugares mais pobres – onde é mais fácil colocar em Exu a culpa pela miséria, pela prostituição, pelo desemprego, pelo alcoolismo...

Não faz muito tempo, a professora Maria Cristina Marques, que leciona Literatura Brasileira em uma escola de Macaé, município do Rio de Janeiro, foi proibida pela diretora de trabalhar com seus alunos as histórias do ótimo livro Lendas de Exu, de Adilson Martins, recomendado pelo Ministério da Educação (MEC). Mary Lice Petrilo, a diretora, é evangélica. Além de proibir sua funcionária de apresentar aos alunos lendas afro-brasileiras – lendas que, aliás, trazem ensinamentos e valores morais belíssimos – espalhou provérbios bíblicos na sala dos professores, com a intenção de "salvar" a alma de Maria Cristina, que é umbandista.

De nada adiantou. A professora, acertadamente, entrou com notícia-crime no Ministério Público e denunciou a diretora da escola, por se sentir vítima de intolerância religiosa. Ela não estava trabalhando questões religiosas dentro de sala de aula, mas literárias e culturais. Mesmo assim, não se livrou das humilhações que sofreu por parte da direção – Petrilo acusou Maria Cristina de estar fazendo apologia do diabo.
.
A professora, que fora afastada, continua no exercício de suas funções, respaldada por decisão da Procuradoria do Município e da Secretaria de Educação. Porém, segundo ela, mães de alunos, todas evangélicas, querem proibi-la de dar aulas sobre a História da África. “Algumas disseram que eu estava usando os alunos para fazer magia negra e comercializar os órgãos das crianças”, disse.

A nota à imprensa, publicada pela Secretaria de Educação de Macaé, toma providência enérgica e justíssima contra o ato de intolerância. O conteúdo, na íntegra, pode ser lido no blog do escritor e compositor Nei Lopes (clique aqui). Para saber mais sobre o lamentável caso, acessem o portal online do jornal O Dia (cliquem aqui)
.
Laroiê, Elegbara!

Claude Lévi-Strauss

Bruxelas, 28 de novembro de 1908-Paris, 30 de outubro de 2009

Ocupe!

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Quando preciso olhar mais para meus pés

Caminho por dois lugares quanto a espiritualidade. Tem gente que não encara isso com bons olhos, acha complicado, pensa que caminhar por caminhos distintos na senda da religiosidade é um ecletismo desnecessário. Talvez, mas eu tenho aqui comigo uma certeza: como um perfeito par de sapatos, cada um voltado para um lado, com sua função bem definida, o budismo e a umbanda são uma perfeita combinação. Não apenas por me auxiliarem, mas por as vezes serem meus próprios pés. Não é ecletismo, papagaida de nova era que aceita qualquer coisa em nome de uma pseudo diversidade, tampouco coisa de quem não sabe o que quer. A umbanda é um de meus modos de permanecer na tradição, é a religião do meu povo, da minha casa, da minha terra. Há nela um olhor tão belo e lindo que para mim é a experiência da amorosidade única. E como a muito tempo ando eu sedento de povo e terra é alí que faço minha oração e aprofundo os fundamentos, é o mistério, a magia e aceitação. Alí ninguém nunca disse que estava certo ou errado. Nesse espaço e nesse encontro posso aceitar o Tempo, saber melhor que acaso é um luxo que quase nunca temos. É a força do combate bem sucedido. Já no budismo a coisa é diferente. Pelo menos no que estudei e tento experimentar é o olhar da prática da compaixão. é saber o que o outro sente sem precisar passar por aquilo. Dos ensinamentos de Sidartha vieram os esforços para a ação correta, para a ação sem reação. É observar para acalmar seu pensamento e seu corpo. Perceber a impermanência, anicca... Sempre o bom combate pela paciência. Esse encontro é de resignação porque sabe do momento para mudar, para deixar partir, mesmo quando não tenho a menor idéia do que estou fazendo. Cria movimento, é o caos, é silêncio. Também é quando choro, quando a dor cala fundo. E esta tudo bem. É a ambiguidade. Minha singularidade que precisa ser, que quer acontecer. O que me interessa nesse espaços é que a conotação de bem/mal, certo/errado, corpo/mente é percebida de modo bem diferente do que o habitual. Ela não é a dualidade. Sua moralidade é para o bem comum e os desejos para meu crescimento. As vezes os dias são por demais conflitivos e o medo maior do que conheço, e é nesses dias que chamo Exu para sentar e meditar comigo. Ele me acompanha e não fala muito. Exu não é apenas conhecimento, é sabedoria. Ele me mostra pelo lugar que caminho onde é que esta meu apego e minha aversão. Exu é aquele que caminha pelo Vazio! É a máxima do ditado que professa que é dando que se recebe. Exu é a perfeita prática do discurso sobre o Carma. Sabe que ações não são melhores ou piores, mas que elas tem consequências! Ele é o Mestre que não se pode vencer. Ele é conhecedor do Dharmma e para esses não há caminhos desconhecidos. Quando Buda caminhou pela terra a tantos séculos atrás e conheceu as Nobres Verdades em sua iluminação, reverenciou todos os seres de todos os mundos existentes com a cabeça tocando a terra em uma encruzilhada. Há dias mais conturbados sim, e nesses dias eu agradeço por Exu sentar e meditar comigo. O que não me surpreende é que ele sempre aceita.

“Invertir en salud mental comunitaria”

BENEDETTO SARACENO, DIRECTOR DE SALUD MENTAL DE LA ORGANIZACION MUNDIAL DE LA SALUD
El especialista italiano advierte que en la Argentina “hay un exceso de camas psiquiátricas”. Destaca los modelos de Brasil y Chile, donde hay menos internaciones y más atención ambulatoria. Propone crear una red de atención comunitaria.

Por Pedro Lipcovich
“Hoy la OMS dice claramente: manicomios, nunca más”, advierte Benedetto Saraceno, director del Departamento de Salud Mental de la Organización Mundial de la Salud. El destacado especialista italiano, en un breve viaje a Buenos Aires, explicó a Página/12 que la “desmanicomialización –fue la palabra que eligió, en su perfecto castellano– forma parte del discurso aceptado en salud pública”. Saraceno destacó el ejemplo de dos países. Uno es Brasil, donde “en los últimos quince años cayó la cantidad de camas en los manicomios, mientras subía la cantidad de centros ambulatorios en salud mental, en el marco de una política sostenida por gobiernos de distintos signos partidarios”. El otro es Chile, donde también “cayeron las internaciones psiquiátricas, mientras subía la presencia de la salud mental en las salas de atención clínica”. En cambio, “en la Argentina hay un exceso de camas psiquiátricas”, señaló el jefe de salud mental de la OMS. Saraceno destacó la necesidad de que, en las reformas, participen los pacientes psiquiátricos, “porque ellos son los que mejor saben cuáles son los problemas en la atención”.

–¿Cómo evalúa la situación actual, en el mundo, en el orden de la enfermedad mental y sus instituciones?
–Hoy la idea de que la atención a las enfermedades mentales no puede centrarse en hospitales psiquiátricos no pertenece ya a una minoría innovadora, sino que forma parte del pensamiento de la salud pública en muchísimos países; es parte del discurso aceptado por la salud pública. Hace treinta años, la OMS no tenía una actitud tan clara y tajante. A partir de su Informe de 2001, la OMS dice claramente: manicomios, nunca más.

–¿Cuál es el modelo que, en cambio, hoy reconoce la OMS?
–La salud mental no se hace en manicomios, sino con fuerte inversión en salud mental comunitaria y en atención primaria, y poniendo en primer lugar los derechos ciudadanos de los pacientes. Hace treinta años había “esquizofrénicos argentinos”, o de cualquier nacionalidad; hoy hay argentinos que tienen esquizofrenia. No estoy jugando con las palabras, sino refiriéndome al hecho de que cualquier persona, cualquiera sea el tipo de discapacidad que pueda sufrir, es primero un ciudadano. Primero, tiene derechos y, después, una discapacidad.

–¿Cómo este cambio de paradigma se expresa en distintos países?
–Este discurso, tan aceptado, no se implementa en todo el mundo. Hay mucha heterogeneidad. No me voy a centrar en Europa, donde, desde las décadas de 1970 y 1980, primero Italia y España, después Inglaterra, Escocia, Irlanda, Portugal y otros países encararon la desinstitucionalización. También países en vías de desarrollo avanzaron mucho, y en algunos casos no se limitaron a tomar modelos de otros países, sino que los construyeron a partir de su propia realidad. Un caso es el de Brasil, que hace quince o veinte años tenía una población manicomial enorme y con un aspecto particularmente dramático, que era la presencia de manicomios privados, sin supervisión del Estado.

–¿“Manicomios privados”? ¿Se refiere a clínicas de internación psiquiátrica, como las hay en la Argentina?
–Clínicas donde el Estado pagaba una cuota diaria por cada paciente: el Ministerio de Salud de Brasil empezó por evaluar la calidad de esos lugares; si no era buena, cortaba los fondos. En todo caso, la naturaleza misma de estas instituciones las lleva a defender el sistema manicomial. Dentro del sistema público, es más fácil movilizar los fondos, que pueden trasladarse desde la cama psiquiátrica hacia la comunidad. Al dueño del lugar privado de internación nunca le conviene que vayan recursos a la comunidad, porque su interés es mantener un alto número de pacientes para garantizar su interés económico.

–¿Cómo fue la reforma de la salud mental en Brasil?
–Brasil, en quince años, bajó en forma impresionante la cantidad de camas en manicomios. Al mismo tiempo, la cantidad de centros de atención psicosocial (CAPS) subió desde 80 a más de mil: la baja en la población manicomial fue correlativa con el aumento en los recursos de salud mental comunitaria financiada por el sector público. Brasil en esto mostró un liderazgo en América latina y, diría también, en el mundo.

–¿Qué más configuró el modelo brasileño?
–Una característica específica de Brasil es la involucración de los usuarios de los servicios. He visto reuniones organizadas por el Ministerio de Salud, en Brasilia, con presencia de centenares de usuarios que llegaban en buses financiados por el Estado. Los usuarios no sólo participaban en las discusiones, sino también en las votaciones: era una democratización del proceso de reforma. Y esa reunión fue hace varios años, cuando el partido que gobernaba era otro: la lucha antimanicomial en Brasil se sostuvo con distintos gobiernos, más conservadores o más progresistas. Esto es un factor muy importante.

–¿Qué otro país ofrece enseñanzas?
–Chile, donde hubo una notable disminución de camas psiquiátricas, con gran fortalecimiento de la red comunitaria. Una característica propia de este país ha sido la gran inversión y desarrollo de la atención primaria de la salud en general. Uno de sus aspectos es que los profesionales que hacen atención primaria están muy entrenados para manejar problemas de salud mental. Otra característica importante es la coherencia institucional. En la Argentina, advierto una fuerte fragmentación en la salud: están la Nación, las provincias, los municipios, los gremios, las organizaciones. Aunque esto pueda implicar una mayor vivacidad social, así el consenso debe buscarse entre muchos más actores. En Chile, en cambio, el Ministerio de Salud nacional toma decisiones, define reformas y las financia.

–¿Qué más observa sobre la salud mental en la Argentina?
–Mi grado de conocimiento de la Argentina es modesto, mientras que tengo trayectoria de trabajo en Chile y en Brasil, desde la OMS y la OPS. Puedo decir, sí, que en la Argentina hay un exceso de camas psiquiátricas, y una necesidad de invertir más recursos humanos en salud mental comunitaria, como de agregar camas en hospitales generales para internación de episodios agudos. También encuentro que el nudo más complicado es el área metropolitana. Sin embargo, hay experiencias en provincias argentinas que lograron reconocimiento internacional. La ley de desmanicomialización de Río Negro es una normativa de referencia, citada en diversos documentos. Es cierto que este proceso es más difícil en los grandes conglomerados urbanos.

–¿Cómo es, concretamente, la red de atención comunitaria que recomienda la OMS?
–Es algo más complejo que tener una sala de salud mental ambulatoria en la comunidad. Tampoco es sólo un conjunto de casas de medio camino, hogares protegidos, cooperativas de personas con discapacidad. También es más que la relación de trabajo con los servicios de atención primaria que actúan en el área, pero tampoco es sólo eso. No hay que reducirla a una cuestión de ingeniería institucional: casas, casitas, camas, no son más que los contenedores. La vida de una persona no se reduce a tener una casa y una cama; tampoco la de una persona con discapacidad mental. La salud mental comunitaria es un mundo de relaciones por las que a una persona vulnerable se le brindan oportunidades de aumentar su intercambio afectivo y material con el entorno social.

–¿Por ejemplo?
–Alguien puede creer que hace psiquiatría comunitaria si cierra un hospital psiquiátrico de 500 camas y las distribuye en diez lugares de 50, pero eso no es más que repartir la lógica y la cultura del manicomio. En cambio, pensemos en cada una de esas 50 personas: quizá tres de ellas no necesitan mucha asistencia y pueden ir a un departamento, con una trabajadora social que los visite una vez por semana; otros ocho necesitan atención más intensa, en la casa habrá un enfermero y el médico pasará una vez por día; otros pueden volver a su casa, la familia los acepta, pero mantenemos visitas domiciliarias para que los familiares se sientan respaldados; otros van a consultorios para hacer psicoterapia o recibir medicación; otros participan en una cooperativa que vende su producción en el mercado. Se trata de reconocer las diferencias, las individualidades. El manicomio es la negación de las individualidades. Se trata de que la comunidad se enriquezca en la interacción con sus grupos vulnerables.

–¿Cómo es este enriquecimiento de la comunidad?
–La rehabilitación no consiste en enseñarles a los enfermos mentales cómo ser más normales. La rehabilitación no es enseñarle a un grupo cómo parecerse a otro grupo, sino un proceso en el que dos grupos aprenden que hay reglas distintas. Uno puede pensar como discapacitada a la persona que no conoce las reglas para sentarse a la mesa educadamente: rehabilitar es inventar una mesa donde se acepten reglas distintas. Los que no pertenecen al grupo vulnerable se enriquecen cuando empiezan a pensar que ese chico con retraso mental es muy dulce y con eso aporta a la escuela; que ese loco que nos daba miedo resulta ser un tipo simpático, con el que podemos vincularnos. Esta interacción con la diversidad enriquece a todos.

–¿Cuál es el principal resultado de la participación de usuarios de salud mental?
–Bueno, ¿cuál es el aporte de los usuarios de automóviles? Decir cuándo el auto no funciona bien. No es cierto que los profesionales de la salud mental sepamos siempre qué es lo que necesitan las personas. Es mejor que el mensaje no sea: “Tú eres el paciente y debes producir síntomas, delirios, alucinaciones, y mostrármelos; por lo demás debes quedarte callado, yo te daré las respuestas”. Si entramos en otra relación, donde esa persona seguirá produciendo síntomas pero también otras cosas, entonces yo también podré entender más: su contexto familiar, sus miedos, qué es lo que puede tolerar, qué cosas puedo proponerle y qué cosas no. Hace unos días, en una mesa de trabajo en Chile, participó una señora mapuche que tenía cierto grado de retraso mental; en su intervención habló muy despacio, se notaba que tenía dificultades. Pero después pidió la palabra por segunda vez: “...además, quiero agregar que el psiquiatra de mi centro de salud tendría que escucharme más: él no me escucha”, dijo.