terça-feira, 18 de agosto de 2009

Quando tudo muda.

Engraçado quando paramos para considerar e avaliar alguns espaços e atitudes em nossa vida. A exatamente um ano atrás meu mundo era completamente diferente do que é hoje. Exatamente em meados de agosto de 2008 eu vivia no Japão e atravessava uma das fases mais dificeis de minha vida. As coisas eram um tanto confusas, estava bem aborrecido e descontente com o que fazia para viver e como me relacionava com as pessoas em minha volta. Sentia um processo de profunda apatia, desconsolo, de desencontro e tristeza. Apesar dos esforços da então minha companheira para me animar e acolher, queria era abandonar aquilo tudo, partir para outras possibilidades e mudar definitivamente as coisas dentro de mim. O Japão há exatamente um ano atrás era, para mim, o simbolo do desapontamento, do distanciamento e da alienação. Olhando isso agora me dou conta que poderia ter feito algumas coisas de modo diferente, mas dizer isso é apenas lamentar e não é esse o caso agora, afinal quando vivemos a situação, quando estamos no olho do furacão, nem sempre percebemos essas outras possibilidades, permanecemos míopes, sem sentirmos que existe outro modo de agir. Bom, já foi e acabou esse tempo e nada posso fazer nesse instante. Agora apenas lembranças e recordações que vão se distanciando de minha vida. Voltei para minha casa. Retornei para meu povo, meus amigos e depois de certo tempo, buscando por respostas e cuidado, fui recebido por um novo-antigo amor. Como se retornando do campo de batalha, com as feridas expostas, a sede implacável e a fome gigantesca, eu sucumbi. Queria apenas uma boa noite de sono que levou inumeras luas para me acalmar. Adoraria somente escutar as histórias dos que ficaram, sentir o amor de minha familia, ver os sorrisos dos amigos, dançar o que me era conhecido. Comecei a buscar exatamente as coisas que me faziam bem, a caminhar por espaços que me estimulam, encontrar pessoas que me provocam, a viver em uma casa com aqueles que estão cheios de afinidades. E essa casa é hoje meu simbolo de refúgio. Seus moradores são meus novos amores. Homens e mulheres cheios de idéias, apaixonantes, sinceros e desafiantes. Assim como eu, as vezes mais, as vezes menos, tentam lidar com seus limites e defeitos, choram e se desculpam olhando nos olhos. Somos um espaço coletivo que decidiu compartilhar além de uma casa, opiniões, modos de viver, dividir a comida, dividir o tempo e a atenção na contramão do que diz o mundo. Não queremos seis liquidificadores, seis fogões, seis geladeiras. Estamos dividindo as tarefas, sendo responsáveis por nossa limpeza e a manutenção dos espaços coletivos. Engraçado como as vezes um simples café e pão na chapa se transforma quase numa defesa de tese! Pois então, esse clima e essa gente optou por isso. Estamos escolhendo outras formas de reconhecimento. Porque digo isso? Quando iniciou meu novo trabalho exatamente a uma semana atrás, onde não imaginava estar depois de um ano carregando e cortando barras de ferro por 14 horas seguidas, respirando enxofre, chorando nas ruas por não saber o caminho de volta, não podendo cuidar de quem me amava e nem de mim, chego a apenas uma conclusão: impermanência. O budismo explica que todas as coisas, tanto as que amamos quanto as que detestamos irão desaparecer, tudo irá mudar. Apego e repulsa, cobiça e aversão fazem parte da mesma lógica, do mesmo movimento. Precisamos de uma esforço de compreensão para tentar cessar a reação e iniciar a ação. Minha casa hoje me oferece mais uma oportunidade para o exercício desse agir. Ainda não estou bem certo do que irá acontecer e estou agora tratando apenas de aceitar o que existe. Cresce minha gratidão por meus pais, por essas pessoas que me querem por perto em uma mesma casa, pelos amores que tive nessa vida, pela jornada que experimentei nos últimos dois anos, por fazer parte dessa tradição afro-brasileira, por meus novos alunos de psicologia, pelos encontros de hoje. Existe uma tradição mexicana, particularmente nas montanhas de Chiapas, que é conhecida como a "Flor da Palavra". É na verdade uma conduta ética. Quando falamos algo devemos estar comprometidos com isso. Simples assim. As palavras não devem ser anunciadas de forma leviana, devem ser bem escolhidas, ditas com cuidado, com o coração repleto de sinceridade. A Flor da Palavra garante a clareza, incentiva a verdade, afirma a ação e o comprometimento de nossas intenções. Hoje no meu esforço de ser um homem diferente, tento tomar isso como exemplo e inspiração, porque um dia eu menti, fui descuidado, vaidoso, egoista e feri quem não pretendia. Coragem para enfrentar o medo é bom e necessária. Para mudar precisamos da coragem para a verdade. Amargar em determinados momentos é importante, mas saber a hora de parar é imprescindível. Digo a meu bom Tempo, que isso então se mantenha!

ps- Postei essa ladainha de Mestre Toni Vargas a muito tempo, mas creio que ela merece estar aqui outra vez.

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