terça-feira, 21 de julho de 2009

III Jornada Brasileira de Cinema Silencioso

De 7 a 16 de agosto próximo será realizada, na Cinemateca Brasileira, a terceira edição da Jornada Brasileira de Cinema Silencioso, evento que se integrou definitivamente ao calendário cultural da cidade e do país.

Como nas edições anteriores, uma cinematografia nacional do período silencioso será privilegiada, de forma a destacar os trabalhos dos arquivos de filme de um determinado país. Nesta terceira edição, aliando-se às manifestações relativas ao Ano da França no Brasil, a III Jornada receberá o cinema silencioso francês através da contribuição vinda dos Arquivos Franceses do Filme/Centro Nacional de Cinematografia, da Cinemateca Francesa e dos Arquivos Albert Kahn.

Entre os destaques da mostra francesa, uma coleção dos primeiros trabalhos dos irmãos Lumière, inventores do cinema na França, documentários curtos sobre a Córsega, a Tunísia, a Abissínia, e filmes de longa metragem – comédias, romances e filmes policiais da década de 1920 em cópias maravilhosamente tingidas, como se usava na época. Entre as grandes realizações artísticas, as atrações ficam por conta de L'homme du large / O homem do mar (1920) e de Maldone (1928), realizados respectivamente por Marcel L’Herbier e Jean Grémillon, cineastas marcantes da vanguarda cinematográfica francesa. Salammbo (Pierre Marodon, 1925), filme histórico de grande espetáculo, adaptado do romance de Gustave Flaubert, encerrará a Jornada. Ainda como parte da mostra francesa, será apresentado, na Sala São Paulo, de 13 a 16, o filme Études sur Paris, realizado por André Sauvage em 1928, com partitura original para grande orquestra composta especialmente por um de nossos maiores músicos eruditos contemporâneos, José Antônio de Almeida Prado.

Contribuição também a esta seção será uma coletânea de filmes da produtora Gaumont, restaurada pela Cinemateca da Suécia, com várias realizações de Alice Guy, primeira diretora de cinema do mundo.

A conferência inaugural da III Jornada ficará a cargo de Caroline Patte, pesquisadora do Centro Nacional de Cinematografia, que abordará o cinema silencioso francês conhecido e preservado até os dias de hoje.

Três conferências serão proferidas por Isabelle Marinone, pesquisadora do Instituto de Estudos Avançados do Collegium de Lyon e professora da Universidade Paris 3 – Sorbonne Nouvelle, que falará sobre as relações entre Anarquismo e cinema na França, tema de sua tese de doutorado. Articuladas ao curso dado por Isabelle Marinone, serão feitas algumas projeções de filmes realizados pela cooperativa Cinéma du Peuple, primeira organização anarquista ligada à produção de filmes para a divulgação de idéias libertárias entre a classe operária. Serão exibidos La Commune / A Comuna (Armand Guerra, 1914), Les misères de l’aiguille / As misérias da agulha (Raphael Clamour, 1914) e fragmentos de Le Vieux docker / O velho doqueiro (Armand Guerra, 1914); além de Manifestations en faveur de Sacco et Vanzetti (1921 e 1927, de Le Saint e Sauvageot respectivamente) e La Terroriste / A Terrorista (produção da Pathé de 1907). Será lançada durante a Jornada uma edição de parte da tese de Isabelle Marinone sobre Anarquismo e cinema, especialmente preparada pela autora para o Brasil.

A seção brasileira da III Jornada será dedicada aos filmes de expedição à Amazônia feitos nas primeiras décadas do século XX. Dois grandes documentaristas do período no Brasil, Silvino Santos e Thomaz Reis terão sessões especiais. Será também exibido, pela primeira vez no Brasil, o filme The River of Doubt / O Rio da Dúvida, sobre a expedição realizada em 1914 pelo ex-presidente dos Estados Unidos Theodore Roosevelt, em companhia do então coronel Cândido Rondon. Este filme virá especialmente da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, e será feita uma cópia que permanecerá no Brasil tendo em vista que esse filme não possui nenhum material em nosso país.

Para a seção permanente da Jornada Brasileira de Cinema Silencioso dedicada à Giornate del Cinema Muto, de Pordenone – a maior manifestação cinematográfica mundial dedicada ao cinema silencioso – o comitê diretor desse evento (que este ano alcança sua edição de número 28) selecionou duas divertidíssimas comédias americanas, The Patsy / Filhinha querida (King Vidor, 1928), estrelada por Marion Davies, e Exit smiling / Doce amargura (Sam Taylor, 1926), estrelada por Beatrice Lillie. Destaques femininos também são de grande importância no filme canadense Back to God’s country / De volta à terra de Deus (David Hartford, 1919), produzido e estrelado por Nell Shipman, primeira atriz a dedicar praticamente sua vida toda a questões ecológicas, e no filme chinês Tianming / Amanhecer (Sun Yu, 1933), estrelado pela diva Li-li Li. A seleção de Pordenone ficará completa com a exibição do primeiro filme longo antimilitarista do mundo Maudite soit la guerre! / Maldita seja a guerra! (Alfred Machin, 1914), com extraordinárias pesquisas sobre o uso dramático da cor no cinema.

No programa Janela para a América Latina será exibido El Húsar de la muerte / O hússar da morte (Pedro Sienna, 1925), cedido pela Cinemateca Nacional do Chile, o maior sucesso do cinema silencioso chileno, que narra de forma irônica e divertida as peripécias de Manuel Rodrigues, figura quase folclórica ligada a episódios do período revolucionário de independência do país.

A Jornada Brasileira de Cinema Silencioso terá a satisfação de exibir um filme silencioso realizado em 2006 pela Winsconsin Bioscope: A expedição brasileira de 1916, que reconstitui a viagem à lua de alguns aeronautas pátrios.

Graças à colaboração do Instituto Cervantes de São Paulo, o premiado músico e pianista catalão Jordi Sabatès apresentará um programa especial dedicado às obras de animação, ilusionismo, experimentais e cômicas do cineasta Segundo de Chomón.

Em comemoração ao centenário de nascimento da atriz brasileira (nascida no Egito) Eva Nil, destaque na concepção das peças gráficas da III Jornada, será realizada a pré-estréia do curta-metragem Eva Nil, cem anos sem filmes, de João Marcos Almeida.

Com curadoria geral de Carlos Roberto de Souza, uma das preocupações da Jornada é atualizar o espetáculo cinematográfico das primeiras décadas do século XX, permitindo ao público contemporâneo conhecer significativas obras do passado, despindo esse contato de qualquer forma de saudosismo. A curadoria musical da III Jornada Brasileira de Cinema Silencioso estará novamente sob a responsabilidade de Livio Tragtenberg e, entre alguns músicos participantes, estarão Marlui Miranda, Felipe Julian, Leo Cavalcanti, Antonio Eduardo, Ordinária Hit, Marco Scarassati, Duo Portal, Carlos Careqa, Carlinhos Antunes, Gisela Muller, Felipe Caramuru e Lucila Tragtenberg. Uma das concepções desenvolvidas para o tratamento sonoro desse ano foi o uso de narrações e falas sincronizadas aos filmes.

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