quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Os elementos do cativeiro


Pegue uma criatura original.
Domestique-a cedo, de preferência antes da fala e da locomoção.
Socialize-a ao máximo.
Deixe que sinta fome profunda pela natureza selvagem.
Isole-a dos sofrimentos e liberdades dos outros, para que ela não possa comparar sua vida a nada.
Ensine-lhe apenas um ponto de vista.
Permita que ela seja carente (ou fira, ou indiferente) e deixe que todos percebam, mas que ninguém lhe diga.
Permita que ela se isole do seu corpo físico, eliminando, portanto, seu relacionamento com essa criatura.
Solte-a num ambiente em que possa obter em excesso coisas que antes lhe eram negadas, coisas que sejam tanto interessantes quanto perigosas.
Dê-lhe amigos que também sejam carentes e que a estimulem ao desregramento.
Permita que seus institos fragilizados relacionados à prudência e à proteção continuem assim.
Em conseguência de seus exageros (alimentação insuficiente, alimentação excessiva, drogas, sono insuficiente, sono excessivo, etc.), permita que a morte se insinue bem perto dela.
Permita que ela se esforce por uma restauração da persona de “boa menina” e que tenha sucesso, mas só de vez em quando.
Depois, finalmente, permita que ela se envolva freneticamente com excessos promotores de depêndencia em termos psicológios ou fisiológicos, que causem entorpecimento por si mesmos ou pelo seu abuso (álcool, sexo, raiva, submissão, poder, etc.).
Agora ela está no cativeiro.
Inverta o processo, e ela se libertará. Restaure seus institos, e ela se fortalecerá.

Trecho encontrado em Mulheres que correm com os lobos de Clarissá Pinkola Estés

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