sexta-feira, 18 de julho de 2008

Ausencia

Amigos todos, me desculpem por desaparecer. Vai num folego soh... Muitas coisas mudaram e uma parte se deve ao fato de realmente nao haver tempo para o blog, e outro por nao ter um pc. Estive vivendo em Tokyo por um tempo, mas como as coisas nao aconteceram como esperava, mudei para uma provincia proxima. Comecei um trampo novo e isso esta realmente me consumindo muito. Trabalho pra casa numa vila na cidade de Kuki, Saitama, norte de Tokyo. Na verdade muito mais trabalho que casa... Desde que sai do Brasil fiz muitas coisas para poder viver. Quando caminhamos com tanta abertura de possibilidade encontramos coisas boas e outras nem tanto... mas deixa explica melhor. Ja fui nesses quase dois anos de ausencia da terrinha brasilis professor de capoeira, de ingles, espanhol e portugues. Fui jardineiro, garcon e pedreiro. Tambem fui barman, distribuidor de panfleto, psicologo. Fui musico, motorista de caminhao, condutor de guindaste e empilhadeira. Operario de fabrica, cozinheiro de marmitex vegetario, organizador de luta por direitos de imigrantes, palestrante e voluntario de pelo menos uns 4 grupos de defesa de direitos humanos que nao rolou grana, mas garantiram sustento por um bom tempo. Nem preciso dizer que algumas coisas foram feitas com prazer, e que outras melhor deixar pra la...E eis que agora me encontro numa nova empreitada: metalurgico. Estou trabalhando numa metalurgica que constroi material utilizado ne construcao civil. Basicamente vigas de ferro bruto para sustentacao de edificios e pecas de concreto. Sem duvida a coisa mais insana que fiz na vida! Primeiro pelo tipo de trabalho que eh pesado, sujo e perigoso. E eu que achava que o de operario tinha sido o pior... puts! Tudo feito no braco, nada de maquina automatica e tecoilogia de ponta que muitas vezes o pessoal pensa que rola por aqui. Tudo manual e que precisa de muita forca fisica e atencao. Porem o pior nao eh isso. O mais louco eh a quantidade de horas que preciso me submeter ao trampo. Pelos menos 12 horas de trabalho diarios. E nos ultimos 1o dias tem sido 16 horas! perto de maquinas de solda e fornos com temperaturas altissimas a maior parte do tempo. A producao aumentou e a fabrica nao pode parar. Claro, tambem nao preciso dizer que capitalista eh capitalistaem qualquer lugar do mundo e sem duvida que o que interessa eh a producao. Vamos ver onde isso vai parar... Caso eu nao seja demitido por tumultuar a coisa por la, esse assunto vai aparecer mais por aqui. A luta dos trabalhadores foi praticamente extinta no Japao e falar de algumas coisas por aqui eh na certa pedir para perder o emprego. Havia pensado em contar algumas coisas nesse sentido, afinal essa carga horario de trabalho eh algo normal entre os imigrantes no Japao. Ser imigrante aqui nao eh facil, principalmente se voce nao fala japones. Comecar a desmistificar esse lugar aqui. Acontece que o tempo, como vcs podem ver esta curto. Falo de outra coisa entao. Enquanto trabalhava os primeiros dias nesse lugar, pensei em muitas coisas da minha vida. No que tenho passado, nas pessoas que conheci e nos lugares que vi. Aprendi muito e se posso dizer algo depois de algumas cabecas por ai e alegrias acola, eh o fato de me dar conta do mundo nao me assustar mais tanto. Nao ha um lugar que nao posso ir, uma cidade que sinto nao poder conhecer. Apesar da pauleira que tenho vivido nos ultimos tempo, e de toda dificuldade que existe, nao vejo porque nao faze-lo. Uma vez mais lembro da minha avozinha querida que ta velhinha la em Ribeirao Preto. Vive cercada de netos e bisnetos e parece que um tataraneto, ela continua lucida como nunca. Essa mulher que nunca escreveu nem leu, criou os 4 filhos pequenos sozinha, depois que meu avo resolveu sair de casa. Nunca ouvi da boca da minha avo uma reclamacao frivola, um lamento banal, uma historia de ressentimento. Claro que ela deve ter la seus desgostos e amarguras, mas semprefoi do tipo que nao fugia da raia, sabe? Do tipo que ta ai pro que der e vier e vai fazer o que ter de ser feito. Quando estava em Londres, la por meado de novembro de 2007, trampando com os panfletos, encontrei um colega de Sao paulo por la. Ele tambem queria ficar ali mais tempo, mas estava quase sem dinheiro e reclamva o tempo inteiro. Eu disse que poderia tentar arrumar aquele trampor pra ele tambem, que nao era nada legal, o melhor a se fazer, mas que ele conseguiria o dinheiro que precisava pra ficar mais alguns dias e que logo mais apareceria outra coisa. Na epoca eu estava passando por isso e indo trabalhar com o pessoal do No Borders (grupo de defesa de direitos de imigrantes na Europa), no interior da Inglaterra, algo muito mais interessante que distribuir aqueles malditos panfletos... enfim, o fulano me disse entao que nao queria fazer aquilo, que havia um "que" de humilhacao. Afinal, como ele iria contar la no Brasil para os amigos, e princialmente para mae dele, que ele estava fazendo algo tao ruim? Apenas olhei pra ele e disse: "mas vc acabou de dizer que quasenao tem dinheiro pra comer! E isso eh apenas por alguns dias..." Ele disse que nao, que se preciso fosse voltaria para o Brasil e ficaria desempregado sustentado pela mae. Mas antes dele partir eu lembrei de algo que aprendi com um angolano que trabalhei nos Estados Unidos a primeira vez que estive la. Conversavamos exatamente sobre isso, de trabalho pra imigrantese as terriveis condicoes. Hoje eh ele um profissional liberal bem estabelecido na Philadelfia. Conheci ele ajudando-o com a mudanca da sua casa. Resumindo: vergonha mesmo eh sacanear os outros, vergonha mesmo seria falar com minha mae no Brasil e dizer pra ela que virei um ladrao, assassino e sei la mais o que. Contar pra meus pais, ou mentir, que na verdade vivo bem, mas prejudicando outros. Minha avo foi empregada domestica a vida inteira e nao posso acreditar que isso tenha sido algo feio. Hoje sou um metalurgico, mas sei que sou melhor professor, muito melhor psicologo, entretanto nao vejo onde uma coisa pode ser menos digna que outra. E com isso eu prefiro ficar. Com essa sensacao. Ficar com a dignidade daquele homem negro africano que lutou e salvou sua familia que estava para ser morta em tempos nao tao remotos na Angola. Fico com minha avo e meus pais dentro de mim que me mostraram esses valores. Eu agradeco a eles! Por isso eu nunca parei. Por coisas assim eu talvez pude ver o que vi. Hoje eu sei de onde venho e nunca mais fui dormir sem agradecer isso. Lembro sempre de meus muitos mestres, homems e mulheres que tive o privilegio de conhecer e ver isso. Hoje nao tem nada fora do lugar e ninguem, nunca mais podera me dizer o que fazer. Todos os negros e indios que me fazem sempre entenderam isso. Essa eh a heranca que ainda compartilho. Tudo tem sua hora e vejo por exemplo, que saber voltar eh importante tambem. Porem fica isso para falar depois. Concluindo, o blog vai aparecer de tempos em tempos com postagens novas, e provavelmente em dose dupla. Faz tempo que queria contar do livro da Cidinha da Silva e sera com isso que o blog comeca essa nova etapa. Um livro lindo que apareceu em um momento bem importante pra mim e foi como um prsente dos ceus.A todos desejo boa sorte e a gente se encontra logo mais.
Beijos e abracos
Ale

Nenhum comentário: