sábado, 28 de julho de 2007

A respeito da difícil arte de discordar.

...apesar de tanta correria sempre sobrou um tempinho para encontrar os amigos e os amigos dos amigos pra jogar um pouco de conversa fora. Exatamente nesse tempo pensamos em muitas coisas e formam-se pequenos debates, interlocuções sobre o mundo e divergências a respeito de tudo e de nada. Fiquei pensando sobre o ato de discordar. Gostaria de pensar que essas discordâncias se dão pela fato de cada vez mais pessoas estarem melhor informadas e se dedicando a estudar coisas um pouco mais sérias e honestas, mas creio que infelizmente não. Será pela pouca capacidade de sermos contrariados? Afinal, porque é tão difícil de sermos contrariados?
Como se o fato de não aceitar o que o outro pensa e fala fosse uma obscena ofensa. Acontece que nem sempre conseguimos ficar tranquilos e indiferentes (mesmo?) quando ouvimos barbaridades de pessoas que dizem ter certeza sobre o que opinam porque leram na Veja ou assistiram no Jornal Nacional. Porém para além disso, discordar as vezes é interpretado como um dedo na cara que diz: “ei, eu não gosto de você!” Opiniões nem sempre estão em busca de aprovação, mas sem dúvida não é sempre também que podem se dar ao luxo de dispensar um reflexão conjunta e é nisso que consiste a discordância. Alguém disse certa vez que poderia não concordar com nada sobre o que dizia seu interlocutor, mas até o último momento ele defenderia o direito de ser dito. Vejo que quando uma pessoa discorda de outra seu rosto se transforma, um bocejo aparece, o olhar não se atenta mais, temos interrupções seguidas, a boca se contorce numa careta de desdêm e por aí vai.

Escutar coisas que nos contrariam tem sido quase um convite a guerra. Acabamos por perder uma ótima oportunidade de aprender sobre um outro ponto de vista, e mais ainda, sobre COMO as pessoas se posicionam. Isso pode nos ajudar a entender onde tudo aquilo que discutimos vai parar. Explico com algo que presenciei a alguns anos atrás. Eram meados de 2000 e estava em um debate sobre questões de gênero e amor livre entre anarquistas no antigo ICAL, espaço libertário que existiu na Vila Madalena, São Paulo. Não me recordo de todos que estavam compondo a mesa, mas quero falar de um querido conhecido que estava lá, o Eduardo Valadares. Uma pessoa muito bacana e extremamente lúcida em seus argumentos. Algo foi dito (não lembro exatamente o que) e um outro amigo fez uma observação. Era o Velot, criatura das mais inteligentes que já conheci. Em pouco tempo eles estavam a plenos pulmões (ambos possuem um modo bastante enfático e entusiasmado de dizer as coisas...) discordando plenamente um do outro. O mediador do debate chegou a tocar no ombro do Edu e pedir para ele ficar mais “tranquilo”, relaxar... O Edu deu uma boa risada e respondeu: “Calma? Mas é o Arthur! E na verdade eu só discordo assim com aqueles que acredito valer a pena.” Eu nunca mais esqueci isso.
De um modo geral eu gosto muito de uma boa polêmica, mas começo a entender melhor o que o Edu estava dizendo. Não se trata de discordar para convencer, mas pelo prazer do desafio que isso pode significar e esse lugar devo reconhecer, nem sempre é facíl de encontrar. Fico com a imagem de uma pessoa muito interessante que infelizmente já morreu e que era mestre das discordâncias, Mohandas Gandhi. Esse indiano que perambulou nesse planeta falou certa vez que o que precisava ser combatido não era o pecador, mas o pecado, em outras palavras que suas ações não eram voltadas para um pessoa em particular, mas para o mal que ela causava. A idéia de não-cooperação com o que esta errado reside aqui e sua desobediência civíl consistia nisso. Mostrou uma ótima maneira para saber como distinguir uma coisa da outra e para nos ajudar em verdadeiras conquistas. Quando discordar de alguém e tentar fazer algo a respeito observe isso: primeiro eles te ignoram. Depois eles tentam te ridicularizar. Na sequência ficam bravos e talvez passem para a agressão. Quando eles te agredirem, você vence.
Sigo em frente, se não discordando mais, pelo menos tentando discordar melhor.


2 comentários:

Jú Pacheco disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Mari Labaki disse...

Que bom que levou adiante a criação do blog. Adorei o nome também!

Quanto ao texto, realmente o desafio que vc menciona só vale a pena quando há uma troca e isso só acontece quando as pessoas se ouvem. Isso realmente acontece????!!!

Beijão debaixo de 11 graus!!! Friaaaca!