sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Todo enfiado

por Ediney Santana

Há muito a Bahia deixou de ser a terra de todos os santos para ser a terra de todas as mediocridades. O lixo cultural e político tomaram conta da terra do Velho Jorge Amado, a mediocridade é à base da intelligentsia baiana de hoje. Com o argumento de que gosto cada um tem o seu, rádios, imprensa, TVs e espaços públicos são tomados por todo um submundo artístico não raro patrocinado pelo poder público o qual nada mais é que o espelho dessa gangrena social. Grupos de “artistas” são criados do dia para noite que além da missão de ganhar dinheiro para seus donos, servem também para massificar a cultura do nada, o vazio – social. A musicalidade da Bahia de hoje, se é que existe essa musicalidade, nada mais é que a sonoridade do flagelo social reinante em cada esquina da capital baiana disfarçado da “expressão” cultural de um povo.
No teatro sempre as mesmas comédias baratas e repetitivas, como se a única coisa a qual um público que vai assistir a um espetáculo sabe fazer é ri, ri, ri de se mesmo. Estou farto de atores vestidos de mulheres, de roteiros chatos, de interpretações menores e tacanhas, dessa visão pequena a qual o Rio de Janeiro é a nossa Los Angels.
No Pelourinho grupos de capoeira não vão além de bizarros balés para gringo “vê”. Grupos tão submissos e passivos como escravos em uma senzala, no carnaval o baiano “se diverte” muito segurando as cordas para uma elite de merda e estúpida tirar “o pé do chão”.
O governo estadual não menos medíocre e incompetente na articulação de políticas públicas para a cultura criou os infames “Pontos de cultura” que não ajudam a formar ninguém, algo meio parecido como um bolsa família para justificar o mau uso de verbas públicas.
A única política pública a qual esse governo fraco e desarticulado com a realidade conhece é “transferência de verbas”. Transferência para o bolso de quem cara pálida?
Enquanto se discute se a “professora” está correta ou não em dançar “toda enfiada” e os jornais, TVs baianos dedicam um espaço fabuloso para discutir o vazio das mazelas “culturais” a cidade do Salvador apodrece culturalmente, politicamente. A mídia baiana, com raríssimas exceções é digna de desprezo.
Nos programas de TVs no lugar de uma programação de excelência, se oferece dinheiro para o telespectador, única maneira que conseguem ter risórios índices de audiência.
A Bahia de hoje é esse playground da pedofilia, do turismo sexual, do carnaval excludente das cordas, da violência desenfreada contra o patrimônio imaterial de um povo.
O samba de roda é transformado e vendido como objeto de sedução da pior espécie o que ajuda atrair canalhas do mundo todo para fazerem da capital baiana o maior puteiro ao céu aberto do mundo, a capoeira nada além de exercício aeróbio no Mercado Modelo, tudo bem disfarçado da “manifestação, luta e resistência de um povo” e é claro com uma boa dose de anti-política pública para a cultura.
A cidade antes de todos os “santos” como Glauber Rocha, Pierre Verger, Dias Gomes, Minelvino Francisco Silva, Raul Seixas, Marcelo Nova, Anísio Teixeira, Mestre Pastinha, Bule Bule, dos fabulosos e emocionantes grupos de Samba de Roda e tantos outros artistas contemporâneos que são sombreados e esquecidos por essa estupidez soteropolitana é um lugar o qual Gregório de Matos há tantos anos profetizou:
“De dois ff se compõe esta cidade a meu ver: um furtar, outro foder.”
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