segunda-feira, 11 de abril de 2011

Definitivamente tudo tem sua hora de acabar. A idéia do fim sobre o que quer que seja as vezes nos assusta. Acho que por isso ando fascinado com "La Santa Niña". Dizem que La Santa Muerte tem mais de 5 milhoes de fiéis no México. A igreja católica e todo cristianismo sempre a renegou, mesmo esse sendo o maior sincretismo do país. Outros a mantém distante porque esta demais relacionada com os "narcos" e todo tipo de marginalidade. O fato é que ela está presente no imaginário mexicano desde sempre. Vários povos prehispanicos também lhe rendem inúmeros esforços e oferendas, e como bem sabemos, o dia dos mortos aqui é simplesmente uma apoteose. Nada se compara a celebração nessas terras ao dia de los muertos.

La Santa Muerte tem aqui um encanto que é o da continuidade e das possibilidades. As pessoas a invocam para tudo, desde as coisas mais básicas aos desdobramentos mais complexos da vida humana. Depende sempre de sua fé, de suas intenções, necessidades e relação com algum aspecto de sua emanação. De todo modo é um encontro para ir adiante, para a superação e a conquista. Entendo isso como o destino que segue um pouco mais e de que nada está pronto. Da mesma forma que os zapatistas invocam tanto sua ancestralidade para dizer que a luta é como um círculo, que há um ponto para se começar, mas nunca para terminar. Onde a superação é de suas limitações, temores e angústias. E por fim, a conquista de si.

Desde que aqui cheguei tenho pensado nisso de muitas maneiras. Desde a relação tão espontânea com La Santa Muerte e todos os objetos, músicas e imagens que não te deixam esquece-la, até os estranhamentos que isso desperta e na minha própria necessidade de morrer para tantas outras coisas.

Assim, meu desejo me leva a saber que nessa absoluta abertura até a morte, não sei mais a respeito da necessidade de continuar com esse espaço. O fanzine Paladar de Palavra, como escrevi na primeira mensagem desse blog a 4 anos atrás, nasceu em um momento de compartilhar idéias e ações no meio punk hardcore de São Paulo no meio dos anos 90. A internet estava tímida e os fanzines cheios de colagens e maluquices faziam a cabeça de muito mais gente que agora. Então em 2007 ele ganha sua versão digital em virtude de outra necessidade de compartilhar experiências que estava vivendo fora do Brasil na época. Acabou sendo muito mais. Aqui chorei, lamentei, briguei, sorri, fiz amigos, encontrei gente, falei merda, lavei roupa suja, elogiei, protestei, compartilhei e coisas que nem se quer imaginava. O lance, como diz uma canção d'O Rappa, é que meu Santo tá cansado!

De alguma maneira acho que ele iria acabar assim que voltasse ao Brasil. Porém sinto que é melhor que ele fique por aqui agora. Talvez devesse esperar a celebração do dia de los muertos em novembro, mas como disse, a importância de morrer para algumas coisas já esta presente. Assim apenas aceito. Simplesmente decido que seja isso e reconheço outra maneira de compartilhar o que sinto. Os encontros que tenho agora e os cuidados que estou permitindo se iniciarem deixam isso claro.

Alguns budistas também falam sobre samsara e de como tudo recomeça. As mandalas tibetanas são ótimos símbolos disso. Do ciclo que nasce e morre, surge e desaparece. Daquilo que se precisa entender sobre impermanência. O Paladar volta algum dia? Pouco provável, mas tudo que é visto como “para sempre” merece alguma desconfiança... Esse blog como é vai acabar.

Obrigado a todo mundo que passou por aqui até agora. Por todos que escreveram algo, independente de eu concordar com isso ou não. As postagens ficarão aí até que alguma coisa aconteça com esse espaço, ou que se decida sumi-lo por falta de postagens, ou eu mesmo vá ali e apague ele completamente, exatamente como a mão do monge que varre os grãos da mandala... Irei entretanto manter o outro blog que possui um caráter bem diferente desse. Na verdade nem eu sei qual é o carater desse aqui... Do sintagma e outras considerações é realizado com outra perspectiva e interesse. Entretanto, nao deixem de visitar os links ao lado.

Continuarei a divulgar mais material ligado a pesquisa, psicologia, educação e política do que reflexões e delírios pessoais. O México vive uma luta e contém uma tradição que merecem ser divulgadas. Da mesma forma as lutas de nosso povo brasileiro. Pretendo evitar qualquer personalismo e manterei apenas a linha daquilo que me alimenta e inspira. Evidentemente que tudo esta numa perspectiva política, mas existem delimitações que são da ordem privada e que respeitarei mais.

Dito isso, boa sorte para todos nós!

Alessandro de Oliveria Campos

Cidade do México, DF, 11 de abril de 2011.

2 comentários:

untitled disse...

Outro dia, alguém me disse que o que importa não é como a gente vive, mas como a gente se mata. Interessante forma de suicídio essa sua. Lamento que você tenha resolvido eliminar exatamente aquilo que expressa o que você mais tem de singular: o seu personalismo. Engraçado, para mim, o motivo contrário é a única razão pela qual vale a pena morrer – a defesa de quem eu sou e da minha visão particular das coisas. Podem me amaldiçoar, me queimar na fogueira, me condenar, me abandonar, me incompreender, mas jamais vou abrir mão de escrever o que estou sentindo, da forma que estou sentindo. Cuida-te!

Frida Cores disse...

Fui atrás do dono de um comentário no meu blog, e ao chegar aqui, este presente!