sexta-feira, 29 de outubro de 2010
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
Bar Saci contrata urgente!

Atenciosamente,
Equipe Bar Saci
terça-feira, 26 de outubro de 2010
SEMANA ACADÊMICA DA PUC 2010
SIMPÓSIO
Pesquisas sobre Identidade-Metamorfose: entre práticas científicas transformadas e projetos de emancipação humana
Resumo: Esquadrinhar identidades como metamorfoses em busca de emancipação é uma proposta de pesquisa que representa, a priori, uma práxis em Psicologia Social Crítica. Adotar a perspectiva científica que está implicada neste tipo de pesquisa significa posicionar-se, tanto com relação a desconstrução de pressupostos positivistas e essencialistas, que há tanto incidem sobre o fazer científico nas Ciências Humanas, quanto à realização de um conhecimento situado e uma práxis politicamente posicionada. Daí, pesquisas iluminadas por esse aporte teórico sempre firmam e tendem a declarar seus compromissos com o futuro. Um futuro que, esteado por reflexões críticas no presente sobre seu passado referente, não pode ser antecipado, mas compreendido como projeto e perspectiva. Dada pertinência, buscamos reunir, nesse espaço de diálogo acadêmico, pesquisas, propostas e possibilidades científicas que viabilizem a publicização de novas experiências e formas de ser transformadoras, vislumbrando protagonismos sociais, utopias alforristas e fragmentos de emancipação – tanto do ponto de vista das práticas científicas quanto das relações humanas. São pesquisas realizadas no NEPIM – Núcleo de Esudos e Pesquisas sobre Identidade-Metamorfose, do Programa de Estudos Pós Graduados em Psicologia Social, da PUCSP.
Coordenador: Prof. Dr. Antonio da Costa CiampaVice-coordenador: Prof. Dr. Juracy Armando Mariano de Almeida
Quarta-feira, 27 de outubro de 2010
PUC-SP – Rua Ministro Godói, 969 - Perdizes
Sala 205 (2 andar do prédio novo) – 15h.
domingo, 24 de outubro de 2010
Imperdível!
Lançamento dia 26/10
Ação Educativa, rua General Jardim, 660, às 19 hs, Vila Buarque

O livro “Colonos e Quilombolas” registra histórias dos territórios negros urbanos formados em Porto Alegre, findo o trabalho escravizado, por meio do testemunho e da voz iconográfica de seus protagonistas, moradores da região conhecida como Colônia Africana. O território se iniciava na atual Cidade Baixa e passava pelos bairros Bom Fim, Mont’Serrat, Rio Branco e estendia-se até o bairro Três Figueiras, onde subsiste o Quilombo dos Silva, reconhecido pelo Governo Federal, mas, diuturnamente contestado pela vizinhança, como é regra notratamento dado aos quilombos, urbanos e rurais, em todo o país. Apesar de ter suas ruas inscritas nos mapas do século XIX, a região, popularmente conhecida como Colônia Africana, nunca foi reconhecida pela Prefeitura como um bairro da cidade. Os depoimentos e as fotografias nos contam uma história de resistência e reinvenção da vida na busca da humanidade plena, roubada pelo racismo. Os moradores da Colônia Africana nos alertam, por exemplo, que os porto-alegrenses gostam de pensar que os judeus foram os primeiros habitantes do BomFim. Não foram, não. Os negros chegaram antes, bem no início do século XX. Aos poucos foram imprimindo suas marcas nas festas populares e de origem religiosa que envolviam os imigrantes europeus, também moradores do bairro. A região era povoada por homens e mulheres negros qualificados para diferentes ofícios: trabalhadores(as) domésticos(as), tais como jardineiros, cozinheiras e damas de companhia; acendedores de lampião, roçadores de terrenos, lavadeiras, benzedeiras, condutores de carros e bondes, costureiras e músicos, dentre os predominantes. Como define a professora Petronilha Gonçalves na introdução da obra: “Os habitantes da Colônia Africana, assim como de outros bairros negros de Porto Alegre são colonos, não porque povoaram áreas não habitadas, ou porque se dedicaram ao cultivo de terras. São colonos porque guardaram, aqueceram e lançaram em seus descendentes, sementes de culturas africanas e histórias de antepassados trazidos à força da África. Sementes que germinaram em trabalhos, celebrações, festejos, jogos, cuidados e criatividade. Os negros colonos, como os quilombolas de que trata este livro, são guardiões de conhecimentos e da sabedoria que os escravizados trouxeram em seus corpos, consciência, sentimentos, e com os quais ajudaram a erguer a nação brasileira. São colonos e quilombolas porque resistem às reiteradas tentativas de desqualificação e de extermínio, porque ergueram e continuam erguendo fundamentos das africanidades brasileiras, resistindo para não desligar de suas origens.” Para narrar estas histórias, Cidinha da Silva se juntou às gaúchas Dorvalina Fialho, Vera Daisy Barcellos e Zoravia Bettiol, sob coordenação editorial de Irene Santos, e escreveu dez textos ficcionais a partir de depoimentos de ex-moradores da Colônia Africana para o livro “Colonos e Quilombolas”, um registro épico da territorialidade negra em Porto Alegre. Em tempo: Emanoel Araújo responsabilizou-se pelo prefácio.
sábado, 23 de outubro de 2010
Os "pretos" de Serra...
Por Fabio Domingues
Observei na campanha tucana na televisão um fato curioso(para não dizer outra palavra) ... Os negros, os mulatos e "sararás" que o PSDB mostra em sua peça publicitária são sem exceção os "manos", os motoboys, os braçais, os serviçais, o sambista na sua favela cenográfica, o pobre doente e desdentado que "agradece " ao candidato pela casinha que "ganhou", ou pelo leitinho que "ganhou" da prefeitura...
Pois é: Esse é o Brasil que eles enxergam, onde nós: jornalistas, publicitários, empresários, médicos, fotógrafos, engenheiros, artistas, advogados negros, não existimos.
Pois bem, até agora não vi, e tenho certeza quase que absoluta não verei NADA que se refira à politica racial em sua campanha. Será que somos SOMENTE sambistas caricatos ou B-Boys, manos ou pobres desgarçados? Ou é assim que somos vistos pela direita que ainda carrega o ranço do engenho, do coronel escravocrata?
Ouvi alguns falarem que o governo Lula teve uma atuação pífia nesse segmento. Pergunto: Será?
"Nunca antes na história desse país" tivemos ministros de estado negros, nem uma secretaria dedicada ao tema, nem algum governante com a coragem de implementar a política de cotas, apesar do atraso de quase meio século em comparção aos EUA(sim, eles que tem até Ku Klux Klan, conseguiram eleger o Obama) isso sem contar um número infinito de negros que alcançaram à dignidade e a classe média através dos planos de inclusão social e a estabilidade economica. Sei que está longe da perfeição, mas enquanto governos anteriores jogaram para baixo do tapete, esse teve a coragem para começar.
O sociólogo(sociólogo, viu gente?)FHC teve 8 anos para enfiar o dedo nessas feridas e deixou para o torneiro mecânico Lula... afinal de contas, para o PSDB negro é povo e povo é bom bem distante, lá na periferia, onde eles jamais pisarão, ou na favela cenográfica, de preferência de banho tomado e com desodorante.
Mas nós, aqui no "país do futuro", não captamos as mensagens subliminares de uma campanha televisiva em que nós negros somos vistos SOMENTE como os agradecidos pela esmola que os novos senhores de engenho nos deram, e que temos que tocar e dançar um sambinha para divertir o "sinhozinho". Ou que temos que ir à tv expor o quanto desgraçados fomos e que o Serra é a nossa redenção...
Repudio essa postura medieval, não sou sambista, não sou "mano", não sou motoboy, não sou braçal, sou negro e adoro sê-lo, e odeio ser visto de forma caricata.
O Brasil que eles enxergam é o Brasil que eles querem.
Resumindo: Preto bem sucedido aos olhos do PSDB, pelo que sei é só o Paulo Preto, que nem negro é.
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
Violência de faz-de-conta x realista
terça-feira, 19 de outubro de 2010
A psicologia de massa do fascismo à brasileira
O momento é dos mais delicados. O país passa por profundos processos de transformação, com a entrada de milhões de pessoas no mercado de consumo e político. Pela primeira vez na história, abre-se espaço para um mercado de consumo de massa capaz de lançar o país na primeira divisão da economia mundial
Esses movimentos foram essenciais na construção de outras nações, mas sempre vieram acompanhados de tensões, conflitos, entre os que emergem buscando espaço, e os já estabelecidos impondo resistências.
Em outros países, essas tensões descambaram para guerras, como a da Secessão norte-americana, ou para movimentos totalitários, como o fascismo nos anos 20 na Europa.
Nos últimos anos, parecia que Lula completaria a travessia para o novo modelo reduzindo substancialmente os atritos. O reconhecimento do exterior ajudou a aplainar o pesado preconceito da classe média acuada. A estratégia política de juntar todas as peças – de multinacionais a pequenas empresas, do agronegócio à agricultura familiar, do mercado aos movimentos sociais – permitiu uma síntese admirável do novo país. O terrorismo midiático, levantando fantasmas com o MST, Bolívia, Venezuela, Cuba e outras bobagens, não passava de jogo de cena, no qual nem a própria mídia acreditava.
À falta de um projeto de país, esgotado o modelo no qual se escudou, FHC – seguido por seu discípulo José Serra – passou a apostar tudo na radicalização. Ajudou a referendar a idéia da república sindicalista, a espalhar rumores sobre tendências totalitárias de Lula, mesmo sabendo que tais temores eram infundados.
Em ambientes mais sérios do que nas entrevistas políticas aos jornais, o sociólogo FHC não endossava as afirmações irresponsáveis do político FHC.
Mas as sementes do ódio frutificaram. E agora explodem em sua plenitude, misturando a exploração dos preconceitos da classe média com o da religiosidade das classes mais simples de um candidato que, por muitos anos, parecia ser a encarnação do Brasil moderno e hoje representa o oportunismo mais deslavado da moderna história política brasileira.
O fascismo à brasileira
Se alguém pretende desenvolver alguma tese nova sobre a psicologia de massa do fascismo, no Brasil, aproveite. Nessas eleições, o clima que envolve algumas camadas da sociedade é o laboratório mais completo – e com acompanhamento online - de como é possível inculcar ódio, superstição e intolerância em classes sociais das mais variadas no Brasil urbano – supostamente o lado moderno da sociedade.
Dia desses, um pai relatou um caso de bullying com a filha, quando se declarou a favor de Dilma.
Em São Paulo esse clima está generalizado. Nos contatos com familiares, nesses feriados, recebi relatos de um sentimento difuso de ódio no ar como há muito tempo não se via, provavelmente nem na campanha do impeachment de Collor, talvez apenas em 1964, período em que amigos dedavam amigos e os piores sentimentos vinham à tona, da pequena cidade do interior à grande metrópole.
Agora, esse ódio não está poupando nenhum setor. É figadal, ostensivo, irracional, não se curvando a argumentos ou ponderações.
Minhas filhas menores freqüentam uma escola liberal, que estimula a tolerância em todos os níveis. Os relatos que me trazem é que qualquer opinião que não seja contra Dilma provoca o isolamento da colega. Outro pai de aluna do Vera Cruz me diz que as coleguinhas afirmam no recreio que Dilma é assassina.
Na empresa em que trabalha outra filha, toda a média gerência é furiosamente anti-Dilma. No primeiro turno, ela anunciou seu voto em Marina e foi cercada por colegas indignados. O mesmo ocorre no ambiente de trabalho de outra filha.
No domingo fui visitar uma tia na Vila Maria. O mesmo sentimento dos antidilmistas, virulento, agressivo, intimidador. Um amigo banqueiro ficou surpreso ao entrar no seu banco, na segunda, é captar as reações dos funcionários ao debate da Band.
A construção do ódio
Na base do ódio um trabalho da mídia de massa de martelar diariamente a história das duas caras, a guerrilha, o terrorismo, a ameaça de que sem Lula ela entregaria o país ao demonizado José Dirceu. Depois, o episódio da Erenice abrindo as comportas do que foi plantado.
Os desdobramentos são imprevisíveis e transcendem o processo eleitoral. A irresponsabilidade da mídia de massa e de um candidato de uma ambição sem limites conseguiu introjetar na sociedade brasileira uma intolerância que, em outros tempos, se resolvia com golpes de Estado. Agora, não, mas será um veneno violento que afetará o jogo político posterior, seja quem for o vencedor.
Que país sairá dessas eleições?, até desanima imaginar.
Mas demonstra cabalmente as dificuldades embutidas em qualquer espasmo de modernização brasileira, explica as raízes do subdesenvolvimento, a resistência história a qualquer processo de modernização. Não é a herança portuguesa. É a escassez de homens públicos de fôlego com responsabilidade institucional sobre o país. É a comprovação de porque o país sempre ficou para trás, abortou seus melhores momentos de modernização, apequenou-se nos momentos cruciais, cedendo a um vale-tudo sem projeto, uma guerra sem honra.
Seria interessante que o maior especialista da era da Internet, o espanhol Manuel Castells, em uma próxima vinda ao Brasil, convidado por seu amigo Fernando Henrique Cardoso, possa escapar da programação do Instituto FHC para entender um pouco melhor a irresponsabilidade, o egocentrismo absurdo que levou um ex-presidente a abrir mão da biografia por um último espasmo de poder. Sem se importar com o preço que o país poderia pagar.
domingo, 17 de outubro de 2010
Para começar a semana
sábado, 16 de outubro de 2010
Composições
sexta-feira, 15 de outubro de 2010
Um coração em paz
Tendências aos apoios
O coordenador da Rede Ecosocialista e assessor da candidata à presidência da República, Marina Silva, Pedro Ivo Batista, avalia que a coligação de Dilma Rousseff (PT), saiu na frente na disputa pelo apoio do PV.
O PT abriu a possibilidade de incluir no programa de governo pontos reivindicados pela candidata Marina Silva, que ficou em 3º lugar nas eleições. Já o candidato José Serra (PSDB) ofereceu quatro ministérios para conquistar o apoio do PV.
Pedro Ivo, que saiu do PT e entrou no PV junto com Marina, acredita que é positiva a proposta de Dilma. Entre os pontos que Marina quer discutir com o PT está a manutenção do Código Florestal.
“A Marina já deixou claro que esse debate é programático. Nenhum tipo de toma-lá-da-cá ela aceita. Ela acha que pode contribuir para o Brasil através dessa plataforma. É isso que ela quer discutir. Essa questão de oferecimento de quatro ministérios ao PV ela já condenou publicamente. O PT, por enquanto, de forma correta, procurou – parabenizou a própria ministra Dilma – e tem buscado fazer uma conversa mais programática. Isso é positivo”.
Batista avalia positivamente a política econômica, a política externa e as políticas de inclusão social do governo Lula, mas avalia que ficou a desejar na questão da sustentabilidade, da reforma agrária e na reforma política. Por isso, ele defende uma discussão programática em torno do apoio a Dilma no 2º turno.
“Sem dúvida, o governo Lula tem uma tradição democrática muito maior e tem uma relação muito mais respeitosa do ponto de vista das liberdades democráticas e sindicais, do que o governo tucano, Tucano é repressão. Por outro lado, isso não significa dizer que simplesmente essa questão é suficiente.”
De São Paulo, da Radioagência NP, Danilo Augusto.
quinta-feira, 14 de outubro de 2010
Quem nunca viu venha ver!
Agenda cultural da semana:
14/10 (quinta) - Leonardo Costa Dela Coleta e convidados.
A partir das 20h.
Couvert: 5 reais.
Músicos que integram o coletivo de violinistas Comboio de Cordas.
15/10 (sexta) - DJ André Bianchi
música de diversos gêneros.
A partir das 20h.
Entrada: 5 reais.
Poket show de Maicon Pop.
16/10 (sábado) - Trio José - Moda de viola
http://triojose.blogspot.com
A partir das 20h.
Entrada: 5 reais.
O Trio José é um grupo de moda de viola composto por universitários com gosto pela boa música regional.
Amostras de apresentações: Vide Vida Marvada e Rio de Lágrimas
*A Casa do Saci é a sede da Associação Vida em Ação, mantenedora dos projetos: Bar Saci, Livraria Louca Sabedoria e Loja de diversos projetos da saúde mental e economia solidária.*
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Bar Saci
http://barsaci.wordpress.com
terça-feira, 12 de outubro de 2010
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
Nota do Conselho Federal de Psicologia em repúdio à demissão da psicóloga Maria Rita Kehl pelo jornal O Estado de S.Paulo
Veja aqui o artigo de Maria Rita Kehl
Veja aqui entrevista da psicóloga e psicanalista ao Terra Magazine
Leia também artigo do jornalista Eugênio Bucci sobre o tema
Nota:
CFP repudia demissão da psicóloga Maria Rita Kehl pelo jornal O Estado de S.Paulo
No dia 2 de outubro de 2010, a psicanalista e psicóloga Maria Rita Kehl, colunista do jornal O Estado de S. Paulo publicou artigo intitulado “Dois pesos” no qual questionou a desqualificação do voto da população pobre e fez comentários sobre o programa Bolsa Família, do governo Lula. O texto gerou grande repercussão na internet e mídias sociais nos últimos dias e culminou com a demissão da colunista no dia 6 de outubro. Segundo ela, a justificativa dada pelo jornal foi que Maria Rita cometeu um “delito” de opinião.
O Conselho Federal de Psicologia (CFP) repudia a demissão de Kehl, solidariza-se a ela e externa preocupação com a atitude do Estadão que, ao demitir uma articulista que se posiciona de maneira contrária ao discurso do jornal, fere o direito à liberdade de expressão e de pensamento. Ou não é para garantir a diversidade de opiniões que os jornais, além de editoriais, publicam artigos?
A grande mídia tem acusado o governo de cercear a liberdade de expressão e o Estadão há meses questiona um processo de censura. Entretanto, a demissão da colunista expõe a fissura entre o discurso da mídia que se diz ameaçada em sua liberdade de expressão e suas práticas cotidianas, restritivas à liberdade de opinião.
sexta-feira, 8 de outubro de 2010
A menina e o pássaro encantado
Ele era um pássaro diferente de todos os demais: era encantado.
Os pássaros comuns, se a porta da gaiola ficar aberta, vão-se embora para nunca mais voltar. Mas o pássaro da menina voava livre e vinha quando sentia saudades… As suas penas também eram diferentes. Mudavam de cor. Eram sempre pintadas pelas cores dos lugares estranhos e longínquos por onde voava. Certa vez voltou totalmente branco, cauda enorme de plumas fofas como o algodão…
— Menina, eu venho das montanhas frias e cobertas de neve, tudo maravilhosamente branco e puro, brilhando sob a luz da lua, nada se ouvindo a não ser o barulho do vento que faz estalar o gelo que cobre os galhos das árvores. Trouxe, nas minhas penas, um pouco do encanto que vi, como presente para ti…
E, assim, ele começava a cantar as canções e as histórias daquele mundo que a menina nunca vira. Até que ela adormecia, e sonhava que voava nas asas do pássaro.
Outra vez voltou vermelho como o fogo, penacho dourado na cabeça.
— Venho de uma terra queimada pela seca, terra quente e sem água, onde os grandes, os pequenos e os bichos sofrem a tristeza do sol que não se apaga. As minhas penas ficaram como aquele sol, e eu trago as canções tristes daqueles que gostariam de ouvir o barulho das cachoeiras e ver a beleza dos campos verdes.
E de novo começavam as histórias. A menina amava aquele pássaro e podia ouvi-lo sem parar, dia após dia. E o pássaro amava a menina, e por isto voltava sempre.
Mas chegava a hora da tristeza.
— Tenho de ir — dizia.
— Por favor, não vás. Fico tão triste. Terei saudades. E vou chorar…— E a menina fazia beicinho…
— Eu também terei saudades — dizia o pássaro. — Eu também vou chorar. Mas vou contar-te um segredo: as plantas precisam da água, nós precisamos do ar, os peixes precisam dos rios… E o meu encanto precisa da saudade. É aquela tristeza, na espera do regresso, que faz com que as minhas penas fiquem bonitas. Se eu não for, não haverá saudade. Eu deixarei de ser um pássaro encantado. E tu deixarás de me amar.
Assim, ele partiu. A menina, sozinha, chorava à noite de tristeza, imaginando se o pássaro voltaria. E foi numa dessas noites que ela teve uma ideia malvada: “Se eu o prender numa gaiola, ele nunca mais partirá. Será meu para sempre. Não mais terei saudades. E ficarei feliz…”
Com estes pensamentos, comprou uma linda gaiola, de prata, própria para um pássaro que se ama muito. E ficou à espera. Ele chegou finalmente, maravilhoso nas suas novas cores, com histórias diferentes para contar. Cansado da viagem, adormeceu. Foi então que a menina, cuidadosamente, para que ele não acordasse, o prendeu na gaiola, para que ele nunca mais a abandonasse. E adormeceu feliz.
Acordou de madrugada, com um gemido do pássaro…
— Ah! menina… O que é que fizeste? Quebrou-se o encanto. As minhas penas ficarão feias e eu esquecer-me-ei das histórias… Sem a saudade, o amor ir-se-á embora…
A menina não acreditou. Pensou que ele acabaria por se acostumar. Mas não foi isto que aconteceu. O tempo ia passando, e o pássaro ficando diferente. Caíram as plumas e o penacho. Os vermelhos, os verdes e os azuis das penas transformaram-se num cinzento triste. E veio o silêncio: deixou de cantar.
Também a menina se entristeceu. Não, aquele não era o pássaro que ela amava. E de noite ela chorava, pensando naquilo que havia feito ao seu amigo…
Até que não aguentou mais.
Abriu a porta da gaiola.
— Podes ir, pássaro. Volta quando quiseres…
— Obrigado, menina. Tenho de partir. E preciso de partir para que a saudade chegue e eu tenha vontade de voltar. Longe, na saudade, muitas coisas boas começam a crescer dentro de nós. Sempre que ficares com saudade, eu ficarei mais bonito. Sempre que eu ficar com saudade, tu ficarás mais bonita. E enfeitar-te-ás, para me esperar…
E partiu. Voou que voou, para lugares distantes. A menina contava os dias, e a cada dia que passava a saudade crescia.
— Que bom — pensava ela — o meu pássaro está a ficar encantado de novo…
E ela ia ao guarda-roupa, escolher os vestidos, e penteava os cabelos e colocava uma flor na jarra.
— Nunca se sabe. Pode ser que ele volte hoje…
Sem que ela se apercebesse, o mundo inteiro foi ficando encantado, como o pássaro. Porque ele deveria estar a voar de qualquer lado e de qualquer lado haveria de voltar. Ah!
Mundo maravilhoso, que guarda em algum lugar secreto o pássaro encantado que se ama…
E foi assim que ela, cada noite, ia para a cama, triste de saudade, mas feliz com o pensamento: “Quem sabe se ele voltará amanhã….”
E assim dormia e sonhava com a alegria do reencontro.
* * *
Para o adulto que for ler esta história para uma criança:
Esta é uma história sobre a separação: quando duas pessoas que se amam têm de dizer adeus…
Depois do adeus, fica aquele vazio imenso: a saudade.
Tudo se enche com a presença de uma ausência.
Ah! Como seria bom se não houvesse despedidas…
Alguns chegam a pensar em trancar em gaiolas aqueles a quem amam. Para que sejam deles, para sempre… Para que não haja mais partidas…
Poucos sabem, entretanto, que é a saudade que torna encantadas as pessoas. A saudade faz crescer o desejo. E quando o desejo cresce, preparam-se os abraços.
Esta história, eu não a inventei.
Fiquei triste, vendo a tristeza de uma criança que chorava uma despedida… E a história simplesmente apareceu dentro de mim, quase pronta.
Para quê uma história? Quem não compreende pensa que é para divertir. Mas não é isso.
É que elas têm o poder de transfigurar o quotidiano.
Elas chamam as angústias pelos seus nomes e dizem o medo em canções. Com isto, angústias e medos ficam mais mansos.
Claro que são para crianças.
Especialmente aquelas que moram dentro de nós, e têm medo da solidão…
As mais belas histórias de Rubem Alves
Lisboa, Edições Asa, 2003
quinta-feira, 7 de outubro de 2010
Fascistas, no pasarán!

terça-feira, 5 de outubro de 2010
A importância das eleições
Não acredite em tudo que dizem sobre você.
segunda-feira, 4 de outubro de 2010
Mais vida e amor!
domingo, 3 de outubro de 2010
Amar e viver
sábado, 2 de outubro de 2010
A ilusão do sufrágio universal
“Assim, sob qualquer ângulo que se esteja situado para considerar esta questão, chega-se ao mesmo resultado execrável: o governo da imensa maioria das massas populares se faz por uma minoria privilegiada. Esta minoria, porém, dizem os marxistas, compor-se-á de operários. Sim, com certeza, de antigos operários, mas que, tão logo se tornem governantes ou representantes do povo, cessarão de ser operários e por-se-ão a observar o mundo proletário de cima do Estado; não mais representarão o povo, mas a si mesmos e suas pretensões de governá-lo. Quem duvida disso não conhece a Natureza Humana”
Mikhail Bakunin ( 1814 – 1876)
Os homens acreditavam que o estabelecimento do sufrágio universal garantia a liberdade dos povos. Mas infelizmente esta era uma grande ilusão e a compreensão da ilusão, em muitos lugares, levou à queda e à desmoralização do partido radical. Os radicais não queriam enganar o povo, pelo menos assim asseguram as obras liberais, mas neste caso eles próprios foram enganados. Eles estavam firmemente convencidos quando prometeram ao povo a liberdade através do sufrágio universal. Inspirados por essa convicção, eles puderam sublevar as massas e derrubar os governos aristocráticos estabelecidos. Hoje depois de aprender com a experiência, e com a política do poder, os radicais perderam a fé em si mesmos e em seus princípios derrotados e corruptos. Mas tudo parecia tão natural e tão simples: uma vez que os poderes legislativo e executivo emanavam diretamente de uma eleição popular, não se tornariam a pura expressão da vontade popular e não produziriam a liberdade e o bem estar entre a população?
Toda decepção com o sistema representativo está na ilusão de que um governo e uma legislação surgidos de uma eleição popular deve e pode representar a verdadeira vontade do povo. Instintiva e inevitavelmente, o povo espera duas coisas: a maior prosperidade possível combinada com a maior liberdade de movimento e de ação. Isto significa a melhor organização dos interesses econômicos populares, e a completa ausência de qualquer organização política ou de poder, já que toda organização política se destina à negação da liberdade. Estes são os desejos básicos do povo. Os instintos dos governantes, sejam legisladores ou executores das leis, são diametricamente opostos por estarem numa posição excepcional.
Por mais democráticos que sejam seus sentimentos e suas intenções, atingida uma certa elevação de posto, vêem a sociedade da mesma forma que um professor vê seus alunos, e entre o professor e os alunos não há igualdade. De um lado, há o sentimento de superioridade, inevitavelmente provocado pela posição de superioridade que decorre da superioridade do professor, exercite ele o poder legislativo ou executivo. Quem fala de poder político, fala de dominação. Quando existe dominação, uma grande parcela da sociedade é dominada e os que são dominados geralmente detestam os que dominam, enquanto estes não têm outra escolha, a não ser subjugar e oprimir aqueles que dominam. Esta é a eterna história do saber, desde que o poder surgiu no mundo. Isto é, o que também explica como e porque os democratas mais radicais, os rebeldes mais violentos se tornam os conservadores mais cautelosos assim que obtêm o poder. Tais retratações são geralmente consideradas atos de traição, mas isto é um erro. A causa principal é apenas a mudança de posição e, portanto, de perspectiva. Na Suíça, assim como em outros lugares, a classe governante é completamente diferente e separada da massa dos governados. Aqui, apesar da constituição política ser igualitária, é a burguesia que governa, e é o povo, operários e camponeses, que obedecem suas leis. O povo não tem tempo livre ou educação necessária para se ocupar do governo. Já que a burguesia tem ambos, ela tem de ato, se não por direito, privilégio exclusivo. Portanto, na Suíça, como em outros países a igualdade política é apenas uma ficção pueril, uma mentira.
Separada como está do povo, por circunstâncias sociais e econômicas, como pode a burguesia expressar, nas leis e no governo, os sentimentos, as idéias, e a vontade do povo? É possível, e a experiência diária prova isto. Na legislação e no governo, a burguesia é dirigida principalmente por seus próprios interesses e preconceitos, sem levar em conta os interesses do povo. É verdade que todos os nossos legisladores, assim como todos os membros dos governos cantonais são eleitos, direta ou indiretamente, pelo povo.
É verdade que, em dia de eleição, mesmo a burguesia mais orgulhosa, se tiver ambição política, deve curvar-se diante de sua Majestade, a Soberania Popular. Mas, terminada a eleição, o povo volta ao trabalho, e a burguesia, a seus lucrativos negócios e às intrigas políticas. Não se encontram e não se reconhecem mais. Como se pode esperar que o povo, oprimido pelo trabalho e ignorante da maioria dos problemas, supervisione as ações de seus representantes? Na realidade, o controle exercido pelos eleitores aos seus representantes eleitos é pura ficção, já que no sistema representativo, o controle popular é apenas uma garantia da liberdade do povo, é evidente que tal liberdade não é mais do que ficção.
(em Ouvres, Vol. II, 1907)