quarta-feira, 29 de setembro de 2010
Daquilo que precisamos combater.
Extra! Extra!
terça-feira, 28 de setembro de 2010
As senhoras de Santana da imprensa

Em 1980, surgiu em São Paulo um grupo de mulheres preocupadas com a “imoralidade” que tomava conta da televisão. Sobretudo com os programas que surgiam naquela década falando abertamente de sexo, como o da hoje candidata a senadora Marta Suplicy no TV Mulher. Apelidadas de “senhoras de Santana”, por serem moradoras do bairro com este nome, elas marcaram época e viraram sinônimo do atraso e do conservadorismo nos costumes.
Trinta anos depois, surge uma nova geração de “senhoras de Santana”. Desta vez, não descobertas por jornalistas: são jornalistas. Instaladas em número cada vez mais volumoso nas redações, premiadas com cargos de chefia e ascensão meteórica, as senhoras de Santana do jornalismo são o exato oposto da figura mítica do repórter talentoso, espirituoso, culto e algo anarquista: têm um texto ruim de doer e nunca leram nada a não ser seu próprio veículo, mas cumprem rigorosamente as tarefas que lhes são dadas. Seu maior ídolo é o patrão.
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Esqueça a imagem do jornalista concentrado, batucando com rapidez sua reportagem com um cigarro pendurado no bico. As novas senhoras de Santana do jornalismo não fumam. Aliás, deduram quem estiver fumando em ambiente fechado, como reza a lei imposta por aquele político que seus patrões adoram e que eles, obedientemente, passaram a bajular. Fumar baseado, então, nem pensar. Os repórteres de Santana são contra a descriminação de todas as drogas, até da menos nociva delas. Se as senhoras de Santana do jornalismo soubessem que andam por aí fumando orégano, fariam matérias pela proibição do uso, mesmo na pizza.
As novas senhoras de Santana do jornalismo não questionam o poder ou os dogmas da Igreja católica. Pelo contrário, fazem questão de ir à missa todos os domingos. Pior: simpatizam com a Opus Dei, a ala mais conservadora do catolicismo. São contrários à liberação do aborto e defensores do papa sob quaisquer circunstâncias, inclusive quando o suposto representante de Deus na Terra é acusado de acobertar a pedofilia.
Ao contrário do que ocorreu no passado, quando os jornalistas tiveram papel importante na luta contra a ditadura, as novas senhoras de Santana do jornalismo se especializaram em denegrir a imagem daqueles que optaram pela ação armada para combater o poderio militar. Vilipendiam os guerrilheiros com fichas falsas e biografias inventadas. O repórter Vladimir Herzog morreu enforcado nos porões do regime. Não viveu para ver a triste transformação dos “coleguinhas” em senhoras de Santana. Quando Herzog morreu, a grande maioria dos jornalistas se dizia de esquerda. As novas senhoras de Santana do jornalismo adoram pontificar que não existe mais esquerda e direita, mas são de direita.
Nem pense nos papos animados após o fechamento dos velhos homens de imprensa, varando madrugadas pelos bares da vida. As novas senhoras de Santana não bebem, vão direto para casa depois de trabalharem mais de dez horas por dia – sem carteira assinada. E ainda patrulham a birita alheia, como se fossem fiscais de trânsito 24 horas a postos com seus bafômetros virtuais. “O presidente bebe cachaça”, torcem o nariz as jornalistas de Santana. “A candidata do presidente torceu o pé. Deve ser porque encheu a cara”, acusam.
Toda vez que as novas senhoras de Santana da imprensa encontrarem aquele ator famoso que andou se desintoxicando do vício de cocaína e por isso perdeu papéis em novelas, vão torturá-lo com as mesmas perguntas: “Você parou mesmo de cheirar?” “O tratamento funcionou ou não?” Sim, os jornalistas de Santana não saem para beber porque preferem ficar em casa vendo novela. Se duvidar, as novas senhoras de Santana do jornalismo nem fazem sexo. Talvez de vez em quando, vai. Mas só papai-e-mamãe. E heterossexual, claro.
No futuro, as escolas de jornalismo serão monastérios, de onde sairão mais e mais senhoras de Santana habilitadas não só a escrever reportagens como a rezar a missa.
domingo, 26 de setembro de 2010
sábado, 25 de setembro de 2010
Me chamo rua.
quinta-feira, 23 de setembro de 2010
O que te faz feliz?
Ainda fico emocionado só de lembrar! Enquanto no dia a dia pessoas sem carro, particularmente ciclistas, sofrem com a violência do trânsito e precisam de muita coragem e cautela nas ruas da cidade, nessa noite a relação foi subvertida, mas sem ameaças para os motoristas. Por duas horas a A. Paulista, 23 de maio, túnel Ayrton Senna, vicinal da marginal Pinheiros e depois Rebouças, foram tomadas por bicicletas mágicas que mantiveram seu ritmo e seus espíritos livres!
Claro que os motoristas apressados e enlouquecidos não entenderam. Mesmo com a faixa no fim da manada dizendo :"Você é dono de um carro, não da rua!", lamentavelmente eles não entenderam...
Não importa, nessa noite nada pode ser feito além do costume, e eles esperaram. Esperaram, mas dessa vez, porque a rua é de todos. A rua não pertence apenas a carros. O espaço público é de quem esta nele. A pedalada tem seu tempo e nessa noite ela se fez presente com toda sua autonomia e encanto. Carros não cruzaram os semáforos até a última bike sair do cruzamento.
Espaços costumeiros que não respeitam outros veiculos que não máquinas motorizadas foram ocupados sem abertura para negociação. Talvez alguns entendam isso como uma provocação- e tenho que confessar - é mesmo! Sem algum modo de contestação, pouca coisa muda. Sem indignação e fúria tudo vai ficar na mesma. E quem está contente com as coisas assim? Não queremos governar, mas também não seremos governados! Menos ainda por um estilo de vida que f. a todos e já se revelou uma enorme mentira.
A massa crítica que tomou algumas ruas importantes na noite de quarta-feira em São Paulo quer dizer exatamente isso. Viemos para ficar! Leia isso como uma declaração de guerra, ou não, realmente não nos interessa. O que nos importa é que a rua é nossa também e se você tem pressa e pensa ter o direito de colocar outras vidas em risco, esta mais do que na hora de rever seus valores e prioridade.
A massa crítica é um movimento. Não é uma instituição, uma organização, um grupo fechado, uma hierarquia, um comando ou um esforço de controle. Ela é pura necessidade e luta. E claro, prazer. O mal-humor deixamos com os motoristas. Mais amor e menos motor! Clamam as ruas tomadas por bicicletas nesses dias.
Ela é um enorme fodasse para a modernidade e suas certezas. Ela é subversão e liberdade de direção. A polícia não pode nos deter! O Estado vai ter que escutar e mudar, e a senhora sociedade... bom, essa vai precisar de outras coisas além de suas buzinas e de suas ofensas para nos fazer sair da frente.
Não sairemos!
A tomada do espaço pública revela, antes de mais nada, o poder da coletividade. Juntos somos invencíveis! Dar-se conta de estar em um lugar que é teu por direito, mas que na prática se faz notar pela opressão e imposição, e tomar de volta o que lhe pertence é fantástico. Tomar as ruas de assalto como foi feito no dia 22 é voltar a dar sentido a vida já aprisionada e cansada na cidade.
Humor minha gente! A cidade pede humor! Bicicletas são lindas e fabulosas, como pensar que isso é um problema? Como ser raivoso com tal invento? Coletividade criativa, espontânea e vigorosa! Gostaria disso em sua vida? Então, venha! Massa crítica é a solução para muitos males! Sinta a euforia das ruas, o contentamento desse poder, desse enfrentamento! Lutar pode te oferecer um sentido maior de emancipação. Pertencer e conquistar algo além de um trabalho e um salário vai te ampliar as possibilidades.
Bicicletas farão a revolução? Creio que não. Porém, pessoas pedalando com suas utopias, não resta a menor dúvida.
Tua bicicleta é mais poderosa do que pode imaginar!
E não esqueça: a revolução não será televisionada!