sexta-feira, 29 de outubro de 2010

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Bar Saci contrata urgente!


Desde março de 2010 existe a Casa do Saci. Um espaço que busca aproximar novas formas de construção econômica com as muitas experiências da loucura. Por um lado pensar a aplicação dos princípios da economia solidária e geração de renda. Por outro, debater uma mudança da cultura manicomial, hospitalocentrica e segregadora por uma antimanicomial e a favor da diferença. A Casa reúne nesse momento três projetos: o café e Bar Saci, a livraria Louca Sabedoria e uma lojinha de produtos artesanais. O espaço é autogestionário e os grupos possuem autonomia para organizar e propor atividades. Somos trabalhadores do Bar Saci, o que nesse caso significa, pau para toda obra! Somos todos usuários dos diferentes serviços de saúde mental propostos na Reforma Psiquiátrica brasileira. Um bar feito por e para loucos. Mas não nos interessam apenas os comes e bebes, as horas trabalhadas, a música executada, a ritalina na caixa d'água, a conta paga e a cerveja gelada. Estamos tentando construir um lugar de convergência e convivência. Um espaço onde as pessoas possam estar para compartilhar idéias e modos de ver o mundo com maior espontaneidade e satisfação. Um encontro que não se dê pela lógica do consumismo e dos legalismos vigentes dos dias atuais. Ficamos felizes com as possibilidades disso se concretizando e muitas pessoas vem chegando e colaborando com esse movimento. Estamos tentando, mas pena que não é todo mundo que sabe disso. Recentemente aumentaram os problemas, afinal é uma casa de porta aberta e entram todas as pessoas com suas habituais formas de se relacionar, inclusive os delatores, os puxa-sacos, os canalhas e os sacanas. A casa tem um funcionamento simples: a porta esta sempre aberta e ao entrarem as pessoas recebem uma comanda para controle do bar e de seus pedidos. Quando ela decide ir embora basta pagar no caixa e seguir seu caminho. Acontece que não fazemos nenhum controle na porta, as pessoas precisam também fumar, e nesse momento não tem sido raro os sujeitos que dizem ir “fumar um fininho do capeta” e já voltarem. E aí nos damos conta que não voltam! Bom, n ão somos vigilantes e não queremos nesse espaço dispositivos de controle do comportamento alheio. Mas como lidar com pessoas pouco habituadas a convivência em espaços que apostam no bom-senso? Como pensar uma relação em que um de seus componentes quer tirar proveito da abertura oferecida? O que fazer com o sacana que pensa que malandragem é prejudicar o trabalho coletivo? Na Casa do Saci e em seu bar não tem patrão, não tem subalterno, não tem polícia. Na Casa do Saci tem iniciativa, confiança e loucos. A gente aposta nisso e não pretendemos mudar. Porém como aqui ninguém é inocente e trouxa, e malandro é malandro, mané é mané, lá estamos tentando remediar a situação e contornar o problema. Já conseguimos alguns cartazes animados que estão espalhados pela casa buscando sensibilizar alguns e dizendo sugestivamente que paguem antes de sair, caso contrário o Saci ficará sem sua única perna! Tem também em momentos específicos o Sr. Michael Jackson baixando no terreiro do 'menino traquina' para dar uma força nas comandas. Porém estamos buscando a melhor sugestão feita até esse momento, realizada exatamente pelo médium do distinto Michael. E é aí que todos entram novamente. Em reunião da equipe de trabalhadores do bar foi feita a seguinte sugestão: porque não colocamos um cachorro na porta? Sim, um cão! Além dele não nos dar problemas desfalcando a equipe de trabalho no momento de funcionamento do bar, ele come pouco e intimidaria os mais espertalhões. A equipe se entreolhou apreensiva e não entendeu bem a proposta, até o momento em que o caro trabalhador explicou a limitação da sugestão. Acontece que o cachorro não sabe ler. Pelo menos ele não conhece nenhum! Afinal como o cãozinho poderia saber qual comanda esta paga e qual não? Assim, nós do Saci viemos encarecidamente a público buscar solução para nosso problema enquanto uma pequenina parte dos frequentadores ainda se educa para não nos sacanear. Caso alguém conheça um cão que saiba ler e escrever entre em contato com a equipe do Bar Saci pelo site http://barsaci.wordpress.com/ Pode ser uma cadela também. Estamos muito interessados na contratação desse fundamental membro. Remuneração compatível com a do mercado ou um pouco menos.
Atenciosamente,
Equipe Bar Saci

terça-feira, 26 de outubro de 2010

SEMANA ACADÊMICA DA PUC 2010

SIMPÓSIO

Pesquisas sobre Identidade-Metamorfose: entre práticas científicas transformadas e projetos de emancipação humana

Resumo: Esquadrinhar identidades como metamorfoses em busca de emancipação é uma proposta de pesquisa que representa, a priori, uma práxis em Psicologia Social Crítica. Adotar a perspectiva científica que está implicada neste tipo de pesquisa significa posicionar-se, tanto com relação a desconstrução de pressupostos positivistas e essencialistas, que há tanto incidem sobre o fazer científico nas Ciências Humanas, quanto à realização de um conhecimento situado e uma práxis politicamente posicionada. Daí, pesquisas iluminadas por esse aporte teórico sempre firmam e tendem a declarar seus compromissos com o futuro. Um futuro que, esteado por reflexões críticas no presente sobre seu passado referente, não pode ser antecipado, mas compreendido como projeto e perspectiva. Dada pertinência, buscamos reunir, nesse espaço de diálogo acadêmico, pesquisas, propostas e possibilidades científicas que viabilizem a publicização de novas experiências e formas de ser transformadoras, vislumbrando protagonismos sociais, utopias alforristas e fragmentos de emancipação – tanto do ponto de vista das práticas científicas quanto das relações humanas. São pesquisas realizadas no NEPIM – Núcleo de Esudos e Pesquisas sobre Identidade-Metamorfose, do Programa de Estudos Pós Graduados em Psicologia Social, da PUCSP.

Coordenador: Prof. Dr. Antonio da Costa Ciampa

Vice-coordenador: Prof. Dr. Juracy Armando Mariano de Almeida

Quarta-feira, 27 de outubro de 2010

PUC-SP – Rua Ministro Godói, 969 - Perdizes

Sala 205 (2 andar do prédio novo) – 15h.

Isso é uma vergonha!

domingo, 24 de outubro de 2010

Imperdível!

Novo trabalho de Cidinha da Silva!
Lançamento dia 26/10
Ação Educativa, rua General Jardim, 660, às 19 hs, Vila Buarque

RELEASE COLONOS E QUILOMBOLAS

O livro “Colonos e Quilombolas” registra histórias dos territórios negros urbanos formados em Porto Alegre, findo o trabalho escravizado, por meio do testemunho e da voz iconográfica de seus protagonistas, moradores da região conhecida como Colônia Africana. O território se iniciava na atual Cidade Baixa e passava pelos bairros Bom Fim, Mont’Serrat, Rio Branco e estendia-se até o bairro Três Figueiras, onde subsiste o Quilombo dos Silva, reconhecido pelo Governo Federal, mas, diuturnamente contestado pela vizinhança, como é regra notratamento dado aos quilombos, urbanos e rurais, em todo o país. Apesar de ter suas ruas inscritas nos mapas do século XIX, a região, popularmente conhecida como Colônia Africana, nunca foi reconhecida pela Prefeitura como um bairro da cidade. Os depoimentos e as fotografias nos contam uma história de resistência e reinvenção da vida na busca da humanidade plena, roubada pelo racismo. Os moradores da Colônia Africana nos alertam, por exemplo, que os porto-alegrenses gostam de pensar que os judeus foram os primeiros habitantes do BomFim. Não foram, não. Os negros chegaram antes, bem no início do século XX. Aos poucos foram imprimindo suas marcas nas festas populares e de origem religiosa que envolviam os imigrantes europeus, também moradores do bairro. A região era povoada por homens e mulheres negros qualificados para diferentes ofícios: trabalhadores(as) domésticos(as), tais como jardineiros, cozinheiras e damas de companhia; acendedores de lampião, roçadores de terrenos, lavadeiras, benzedeiras, condutores de carros e bondes, costureiras e músicos, dentre os predominantes. Como define a professora Petronilha Gonçalves na introdução da obra: “Os habitantes da Colônia Africana, assim como de outros bairros negros de Porto Alegre são colonos, não porque povoaram áreas não habitadas, ou porque se dedicaram ao cultivo de terras. São colonos porque guardaram, aqueceram e lançaram em seus descendentes, sementes de culturas africanas e histórias de antepassados trazidos à força da África. Sementes que germinaram em trabalhos, celebrações, festejos, jogos, cuidados e criatividade. Os negros colonos, como os quilombolas de que trata este livro, são guardiões de conhecimentos e da sabedoria que os escravizados trouxeram em seus corpos, consciência, sentimentos, e com os quais ajudaram a erguer a nação brasileira. São colonos e quilombolas porque resistem às reiteradas tentativas de desqualificação e de extermínio, porque ergueram e continuam erguendo fundamentos das africanidades brasileiras, resistindo para não desligar de suas origens.” Para narrar estas histórias, Cidinha da Silva se juntou às gaúchas Dorvalina Fialho, Vera Daisy Barcellos e Zoravia Bettiol, sob coordenação editorial de Irene Santos, e escreveu dez textos ficcionais a partir de depoimentos de ex-moradores da Colônia Africana para o livro “Colonos e Quilombolas”, um registro épico da territorialidade negra em Porto Alegre. Em tempo: Emanoel Araújo responsabilizou-se pelo prefácio.

sábado, 23 de outubro de 2010

Os "pretos" de Serra...

Por Fabio Domingues

Observei na campanha tucana na televisão um fato curioso(para não dizer outra palavra) ... Os negros, os mulatos e "sararás" que o PSDB mostra em sua peça publicitária são sem exceção os "manos", os motoboys, os braçais, os serviçais, o sambista na sua favela cenográfica, o pobre doente e desdentado que "agradece " ao candidato pela casinha que "ganhou", ou pelo leitinho que "ganhou" da prefeitura...

Pois é: Esse é o Brasil que eles enxergam, onde nós: jornalistas, publicitários, empresários, médicos, fotógrafos, engenheiros, artistas, advogados negros, não existimos.

Pois bem, até agora não vi, e tenho certeza quase que absoluta não verei NADA que se refira à politica racial em sua campanha. Será que somos SOMENTE sambistas caricatos ou B-Boys, manos ou pobres desgarçados? Ou é assim que somos vistos pela direita que ainda carrega o ranço do engenho, do coronel escravocrata?

Ouvi alguns falarem que o governo Lula teve uma atuação pífia nesse segmento. Pergunto: Será?

"Nunca antes na história desse país" tivemos ministros de estado negros, nem uma secretaria dedicada ao tema, nem algum governante com a coragem de implementar a política de cotas, apesar do atraso de quase meio século em comparção aos EUA(sim, eles que tem até Ku Klux Klan, conseguiram eleger o Obama) isso sem contar um número infinito de negros que alcançaram à dignidade e a classe média através dos planos de inclusão social e a estabilidade economica. Sei que está longe da perfeição, mas enquanto governos anteriores jogaram para baixo do tapete, esse teve a coragem para começar.

O sociólogo(sociólogo, viu gente?)FHC teve 8 anos para enfiar o dedo nessas feridas e deixou para o torneiro mecânico Lula... afinal de contas, para o PSDB negro é povo e povo é bom bem distante, lá na periferia, onde eles jamais pisarão, ou na favela cenográfica, de preferência de banho tomado e com desodorante.

Mas nós, aqui no "país do futuro", não captamos as mensagens subliminares de uma campanha televisiva em que nós negros somos vistos SOMENTE como os agradecidos pela esmola que os novos senhores de engenho nos deram, e que temos que tocar e dançar um sambinha para divertir o "sinhozinho". Ou que temos que ir à tv expor o quanto desgraçados fomos e que o Serra é a nossa redenção...

Repudio essa postura medieval, não sou sambista, não sou "mano", não sou motoboy, não sou braçal, sou negro e adoro sê-lo, e odeio ser visto de forma caricata.

O Brasil que eles enxergam é o Brasil que eles querem.

Resumindo: Preto bem sucedido aos olhos do PSDB, pelo que sei é só o Paulo Preto, que nem negro é.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Violência de faz-de-conta x realista

Fui assistir ao filme Tropa de Elite 2. Apesar de todo falatório queria aproveitar o dia chuvoso e conferir se realmente ele estava melhor que o primeiro. Depois de toda expectativa algo acontece na sessão onde eu estava que me chamou mais atenção que o próprio filme. A recomendação do filme é para maiores de 16 anos de idade. Conhecendo o primeiro já podemos imaginar por qual motivo da faixa etária ser essa. Não sou da opinião que essas recomendações, ou censuras, deve ser levadas a risca, mas alguma cautela não é de todo mal. O que vocês achariam de um público com crianças de todas as idades, de 1 aos 12 anos, assistindo uma trama com certo grau de complexidade, repleta de violência, tortura, ameaças, estupro e crueldade aos montes? Pois era esse o cenário do cinema onde eu estava. Confesso que não contive minha perplexidade e indaquei a respeito da presença dos pequenos em um filme extremamente brutal e sem nenhuma sutileza ou algo que justificasse a presença deles alí. Cheguei a perguntar depois para uma funcionária sobre isso e ela me informou que as crianças acompanhadas de pais podiam entrar. Ops, tudo bem? como assim? Eu devo ter perdido alguma coisa e não me dei conta! Estou pouco me importando com as exigências do governo a esse respeito, não sou um legalista que por qualquer otivo esbraveja sobre a lei e a ordem, mas fico sim confuso com os temas que devem interessar a uma criança. Não tenho tantas certeza nesse mundo, mas algo que estou convencido é de que assassinatos, torturas e estupros não devem fazer parte disso. Não se trata de ludibriar os pequenos e apresentar um mundo cor de rosa onde essas coisas terríveis não ocorram, porém não encontrei resposta para entender o que leva um adulto deliberadamente a expor uma menininha de 5 anos a isso tudo?! Haviam mais de 15 crianças com idade até 10 anos durante o filme. Ainda estou susrpreso e não sei bem como avaliar toda essa condição sem considerar o possível efeito no mundo imaginário infantil. De um modo geral entendo a necessidade de certa agressividade das crianças como maneira de liberar stress e energia, e um outro tanto de violência-de-faz-de-conta para elaborar medos e temores irracionais. Alguns desenhos animados e video-games proporcionam isso, apesar de toda polêmica sobre o assunto. Entretanto a exposição a doses enormes de violência realista pode produzir um efeito contrário e aquilo que serviria para aliviar acaba por criar mais angústia, desconfiança, agressividade e medo. Sou partidário da opinião de que crianças são capazes de diferenciar a maior parte da fantasia da realidade, além do fato de saber que elas não são seres estúpidos e sem vontade própria como boa parte dos adultos ainda insistem em pensar. Imaginar é bom, e de uma maneira geral quando orientadas podem ir lidando com a realidade que as limita e frustra sem necessariamente isso ser um desastre. E quando essa orientaçao é comprometida por pais bizarros, e eles sim, sem nenhuma noção de realidade? Bom, de cara sinto muito por essa criança. Aprendi com um pediatra que dizia ao receber uma criança em seu consultório não agradecer aos pais por trazerem seu filho para o atendimento, mas dizer à criança por trazer seus pais! Aqui a perspectiva é outra. Estou fazendo uma caricatura, mas boa parte dos problemas de comportamento de inúmeras crianças estão relacionados com a maneira que os adultos de referência olham para ela e o mundo. As vezes ela nada mais é do que porta voz de uma dificuldade maior e anterior. Depois disso, o filme passou a ser secundário para mim. O filme tem lá seus pontos bons e suas críticas. Interessante que a coisa na história fica muito mais complexa do que na primeira edição. Ruim é o capitão, agora coronel Nascimento, continuar como o herói e ser a melhor referência daquilo que é correto e desejado. Porém lamentável mesmo é a presença de adultos idiotas sem a mínima capacidade de terem filhos sacaneando pequenos seres que não podem se defender adequadamente desses abusos. Sim, você nunca pensou que parte do enrosco que vivemos nos dias de hoje é exatamente por termos pais que f*** com seus filhos? Pois é isso que se faz a uma criança ao levá-la para esse tipo de "programa familiar". Para esses, e para interessados nesse tema, recomendo urgentemente a leitura do livro de Gerard Jones, Brincando de Matar Monstros - porque crianças precisam de fantasia, videogames e violência de faz-de-conta, editora Conrad. Ótima oportunidade para ir além do senso comum e entender um pouco mais a respeito desses limites e modos de compartilhar.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

A psicologia de massa do fascismo à brasileira

por luisnassif

Há tempos alerto para a campanha de ódio que o pacto mídia-FHC estava plantando no jogo político brasileiro.

O momento é dos mais delicados. O país passa por profundos processos de transformação, com a entrada de milhões de pessoas no mercado de consumo e político. Pela primeira vez na história, abre-se espaço para um mercado de consumo de massa capaz de lançar o país na primeira divisão da economia mundial

Esses movimentos foram essenciais na construção de outras nações, mas sempre vieram acompanhados de tensões, conflitos, entre os que emergem buscando espaço, e os já estabelecidos impondo resistências.

Em outros países, essas tensões descambaram para guerras, como a da Secessão norte-americana, ou para movimentos totalitários, como o fascismo nos anos 20 na Europa.

Nos últimos anos, parecia que Lula completaria a travessia para o novo modelo reduzindo substancialmente os atritos. O reconhecimento do exterior ajudou a aplainar o pesado preconceito da classe média acuada. A estratégia política de juntar todas as peças – de multinacionais a pequenas empresas, do agronegócio à agricultura familiar, do mercado aos movimentos sociais – permitiu uma síntese admirável do novo país. O terrorismo midiático, levantando fantasmas com o MST, Bolívia, Venezuela, Cuba e outras bobagens, não passava de jogo de cena, no qual nem a própria mídia acreditava.

À falta de um projeto de país, esgotado o modelo no qual se escudou, FHC – seguido por seu discípulo José Serra – passou a apostar tudo na radicalização. Ajudou a referendar a idéia da república sindicalista, a espalhar rumores sobre tendências totalitárias de Lula, mesmo sabendo que tais temores eram infundados.

Em ambientes mais sérios do que nas entrevistas políticas aos jornais, o sociólogo FHC não endossava as afirmações irresponsáveis do político FHC.

Mas as sementes do ódio frutificaram. E agora explodem em sua plenitude, misturando a exploração dos preconceitos da classe média com o da religiosidade das classes mais simples de um candidato que, por muitos anos, parecia ser a encarnação do Brasil moderno e hoje representa o oportunismo mais deslavado da moderna história política brasileira.

O fascismo à brasileira

Se alguém pretende desenvolver alguma tese nova sobre a psicologia de massa do fascismo, no Brasil, aproveite. Nessas eleições, o clima que envolve algumas camadas da sociedade é o laboratório mais completo – e com acompanhamento online - de como é possível inculcar ódio, superstição e intolerância em classes sociais das mais variadas no Brasil urbano – supostamente o lado moderno da sociedade.

Dia desses, um pai relatou um caso de bullying com a filha, quando se declarou a favor de Dilma.

Em São Paulo esse clima está generalizado. Nos contatos com familiares, nesses feriados, recebi relatos de um sentimento difuso de ódio no ar como há muito tempo não se via, provavelmente nem na campanha do impeachment de Collor, talvez apenas em 1964, período em que amigos dedavam amigos e os piores sentimentos vinham à tona, da pequena cidade do interior à grande metrópole.

Agora, esse ódio não está poupando nenhum setor. É figadal, ostensivo, irracional, não se curvando a argumentos ou ponderações.

Minhas filhas menores freqüentam uma escola liberal, que estimula a tolerância em todos os níveis. Os relatos que me trazem é que qualquer opinião que não seja contra Dilma provoca o isolamento da colega. Outro pai de aluna do Vera Cruz me diz que as coleguinhas afirmam no recreio que Dilma é assassina.

Na empresa em que trabalha outra filha, toda a média gerência é furiosamente anti-Dilma. No primeiro turno, ela anunciou seu voto em Marina e foi cercada por colegas indignados. O mesmo ocorre no ambiente de trabalho de outra filha.

No domingo fui visitar uma tia na Vila Maria. O mesmo sentimento dos antidilmistas, virulento, agressivo, intimidador. Um amigo banqueiro ficou surpreso ao entrar no seu banco, na segunda, é captar as reações dos funcionários ao debate da Band.

A construção do ódio

Na base do ódio um trabalho da mídia de massa de martelar diariamente a história das duas caras, a guerrilha, o terrorismo, a ameaça de que sem Lula ela entregaria o país ao demonizado José Dirceu. Depois, o episódio da Erenice abrindo as comportas do que foi plantado.

Os desdobramentos são imprevisíveis e transcendem o processo eleitoral. A irresponsabilidade da mídia de massa e de um candidato de uma ambição sem limites conseguiu introjetar na sociedade brasileira uma intolerância que, em outros tempos, se resolvia com golpes de Estado. Agora, não, mas será um veneno violento que afetará o jogo político posterior, seja quem for o vencedor.

Que país sairá dessas eleições?, até desanima imaginar.

Mas demonstra cabalmente as dificuldades embutidas em qualquer espasmo de modernização brasileira, explica as raízes do subdesenvolvimento, a resistência história a qualquer processo de modernização. Não é a herança portuguesa. É a escassez de homens públicos de fôlego com responsabilidade institucional sobre o país. É a comprovação de porque o país sempre ficou para trás, abortou seus melhores momentos de modernização, apequenou-se nos momentos cruciais, cedendo a um vale-tudo sem projeto, uma guerra sem honra.

Seria interessante que o maior especialista da era da Internet, o espanhol Manuel Castells, em uma próxima vinda ao Brasil, convidado por seu amigo Fernando Henrique Cardoso, possa escapar da programação do Instituto FHC para entender um pouco melhor a irresponsabilidade, o egocentrismo absurdo que levou um ex-presidente a abrir mão da biografia por um último espasmo de poder. Sem se importar com o preço que o país poderia pagar.


domingo, 17 de outubro de 2010

Para começar a semana

Bom iniciar a semana com resultados interessantes. Primeiro o debate entre Dilma e Serra. Apesar do marasmo já previsto, a coisa deve se manter na mesma: Dilma liderando as intenções de voto que a levará a presidência, e se Deus quiser, o desaparecimento para o eterno limbo de José Serra. Falei e repito: não apoio ninguém e não coloco minha energia na manutenção de nenhuma estratégia partidária pseudo-representativa, mas como aqui não há inocentes, trabalhar nesse momento histórico para o desaparecimento dessa legenda (PSDB) é dever moral de todos aqueles que ainda acreditam em alguma possibilidade de convivência política nessa terra. Não me diga que você encontra uma contradição nisso?! Veja o depoimento abaixo da professora Marilena Chauí sobre o assunto. E depois, como não pode deixar de ser, o clássico do futebol brasileiro com o tricolor vencendo de 4X3 do Santos. Rapaziada, eu até tenho alguma simpatia por vocês, mas não foi dessa vez! Salve o Tricolor paulista! Política e futebol: combinação perfeita!

sábado, 16 de outubro de 2010

Composições

Fico pensando nos encontros possíveis dessa vida e definitivamente alguns deles, por pouco convencionais que sejam, são uma obra prima. Então, aos encontros lindos dessa vida! Olhem bem, pois eles podem estar bem ao nosso lado.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Um coração em paz

Durante muito tempo de minha vida fui apaixonado por um encontro. Quando pequeno tive uma amiga que me ensinou a respeito das muitas formas de amar. A Karina e eu tinhamos na época uns 10 ou 11 anos e eramos de fato muito amigos. Ela era uma mestiça filha de mãe branca e pai nissei. Depois em minha adolescencia encontrei outros amigos maravilhosos também mestiços e nikeis. Era tão apaixonado por isso que minhas três primeiras namoradas sérias (rs) na vida eram nikeis. Um verdadeiro nipomaniaco como alguns amigos brincavam. E era apaixonado não apenas por uma estética ou pelo encanto dos olhos lindos dessas japonesas. Era maluco pela história dessa gente, por sua memória, por seu silêncio, por sua maneira tão particular de dizer as coisas sem pronunciar tantas palavras. Era encantado pelo ensinamento zen, pelos kimonos coloridos, pelo gosto doban-cha, pelo divertimento do bon-odori, pelo sabor do karinto, pela batida do taikô, o som do shamisen, pelas histórias do mestre Kurosawa e de Yamada, a literatura de Mishima e o erotismo de Tanizaki. Sempre me emocionou as histórias da imigração que escutava das obas de meus amigos e era tanto encantamento que cheguei ao ponto de conhecer mais dessas histórias que meus próprios amigos. Ia até a casa deles apenas para conversas com seus pais e avós e não era raro o espanto deles ao me escutarem falar de algum fato que mesmo para um nikei era dificil saber. Porém hoje eu entendo porque era tão fascinado por isso tudo. Percebia alí um profundo pertencimento e isso era o que mais procurava na vida. Como filho de funcionario público, passei a maior parte de minha vida mudando de cidade e tendo que deixar tudo para tras e recomeçar uma nova vida a cada 3 ou 4 anos. Boa parte dos nikeis por mais tempo que estivessem aqui sempre faziam referencia a alguma diferença nos modo de pertencer a cultura brasileira. Claro que com o tempo isso vai se dissolvendo, amaciando e nenhuma idéia pode resistir as influências do tempo. O fato é que alí entre estes eu me sentia bem e quase em casa. Aprendi que o tempo é uma benção e não me aborrecia ter que esperar pela hora de estar mais fundo ainda nesses valores. Entretanto como meu coração sempre foi um nômade por definição, precisei ir viver outras coisas e outros encontros, tanto para o bem como para o mal, se é que podemos dizer isso. Até que um dia por conta das tecnologias virtuais, um desses amores foi reencontrado e um sonho tomou conta de mim. Havia muitos anos que pretendia conhecer o Japão, mas em todas as vezes que fui tentar chegar até lá não obtive exito. Pura frustração. Esse encontro oferecia mais do que a possibilidade de pisar em terreno distante, ele trazia a esperança de entregar meu coração. Sabia de alguma forma que essa era a mulher para toda minha vida! Uma convicção que me lançou para o outro lado do mundo sem duvidar. No fim das contas a gente chegou a casar. Porém, muitas outras coisas foram ficando dificeis e quase impossíveis. Lá na terra distante foi despertando em mim sentimentos nada nobres e de enorme fúria. Me entristecia como era a relação do povo local com os imigrantes. Ficou realmente muito amargo presenciar e sentir toda xenofobia, racismo e principalmente a exploração no trabalho, até o momento que nada mais me interessava. Estava desistindo de lutar aquela batalha. E junto a isso, já não tinha mais certeza se amava aquela mulher. E tudo que havia sido encanto transformousse em decepção e lamento. Precisava ir embora de lá e foi o que fiz. Sozinho, tentando não olhar para tras, retornei a minha gente. Foi nessa hora que muito do trabalho que vinha tendo nos últimos anos sobre o pertencimento estava em novo lugar. Essa relação com os nikeis durou pelo menos 20 anos. E sobre as questões do enraizamento havia finalmente encontrado o meu. Ainda assim permaneceu um enorme ressentimento dessa relação, ficou um rancor com o que tinha vivido naqueles últimos anos. Eu simplesmente não podeia assistir mais a nenhum filme ou ler os autores que um dia fui apaixonado sem ressentir, sem entristecer. Era como se aquele amor por aquela mulher ao terminar, todo esse universo igualmente passará a ser estranho. Entendi que nenhum pertencimento pode depender de outra pessoa. Construimos isso sozinhos e em alguns encontros, mas a maior parte do tempo, estamos em absoluta solitude. Nunca receberemos um lugar e ninguém pode dar uma existencia a outro. Fazemos isso a sós e quando abrimos nossa alma surgem aqueles que nos auxiliam. Passei muitos meses ignorando o fato de que esss coisas fazem parte de minha história. Ressentir desencontros e momentos da vida que nos fizeram chorar é alimentar um pouco do esquecimento de nossa própria vida. É como abandonar um pedaço importe de si mesmo e achar que tudo bem. A pouco tempo atrás voltei a conversar com essa tradição. Todo o encanto que um dia tive com esses mestres retornou. Minha gratidão as mulheres e homens que compartilharam tantas coisas valiosas comigo voltou a estar ao meu lado. Estou contando essa história porque nas últimas semanas o que mais tenho feito é me reconciliar com meus sonhos e minha vida. Por mais que achamos ter sido traidos, feridos ou abandonados, por pior que tenhamos agido e também ferido, o que realmente importa é o que preservamos em nossa alma. Estou preferindo manter a gratidão no lugar da mágoa. Quero ter a lembrança das horas que rimos mais do que o olhar de censura. Manter o carinho dessa mulher muito mais do que as porradas do guarda da migra. Levar a benção da idosa no lugar das ofensas do racista. Quero e não vou mais perder, entender que tudo tem seu lugar e sua duração. Hoje estou profundamente comprometido com a tradição do meu povo e de meus outros mestres. Não preciso mais justificar sua existência. Esse texto é somente um modo de agradecer o que foi, de deixar partir, e uma esperança com o que esta por vir. Como é bom dar adeus aos nossos demônios. E como é melhor ainda não temer, mas reverenciar nossas memórias. Sem esperança e um amor eu não sei viver.

Tendências aos apoios

O coordenador da Rede Ecosocialista e assessor da candidata à presidência da República, Marina Silva, Pedro Ivo Batista, avalia que a coligação de Dilma Rousseff (PT), saiu na frente na disputa pelo apoio do PV.

O PT abriu a possibilidade de incluir no programa de governo pontos reivindicados pela candidata Marina Silva, que ficou em 3º lugar nas eleições. Já o candidato José Serra (PSDB) ofereceu quatro ministérios para conquistar o apoio do PV.

Pedro Ivo, que saiu do PT e entrou no PV junto com Marina, acredita que é positiva a proposta de Dilma. Entre os pontos que Marina quer discutir com o PT está a manutenção do Código Florestal.

“A Marina já deixou claro que esse debate é programático. Nenhum tipo de toma-lá-da-cá ela aceita. Ela acha que pode contribuir para o Brasil através dessa plataforma. É isso que ela quer discutir. Essa questão de oferecimento de quatro ministérios ao PV ela já condenou publicamente. O PT, por enquanto, de forma correta, procurou – parabenizou a própria ministra Dilma – e tem buscado fazer uma conversa mais programática. Isso é positivo”.

Batista avalia positivamente a política econômica, a política externa e as políticas de inclusão social do governo Lula, mas avalia que ficou a desejar na questão da sustentabilidade, da reforma agrária e na reforma política. Por isso, ele defende uma discussão programática em torno do apoio a Dilma no 2º turno.

“Sem dúvida, o governo Lula tem uma tradição democrática muito maior e tem uma relação muito mais respeitosa do ponto de vista das liberdades democráticas e sindicais, do que o governo tucano, Tucano é repressão. Por outro lado, isso não significa dizer que simplesmente essa questão é suficiente.”

De São Paulo, da Radioagência NP, Danilo Augusto.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Quem nunca viu venha ver!

* A Casa do Saci fica na Rua Wanderley, 702 - Perdizes*

Agenda cultural da semana:

14/10 (quinta) - Leonardo Costa Dela Coleta e convidados.

A partir das 20h.
Couvert: 5 reais.
Músicos que integram o coletivo de violinistas Comboio de Cordas.

15/10 (sexta) - DJ André Bianchi
música de diversos gêneros.
A partir das 20h.
Entrada: 5 reais.
Poket show de Maicon Pop.

16/10 (sábado) - Trio José - Moda de viola
http://triojose.blogspot.com
A partir das 20h.
Entrada: 5 reais.
O Trio José é um grupo de moda de viola composto por universitários com gosto pela boa música regional.
Amostras de apresentações: Vide Vida Marvada e Rio de Lágrimas

*A Casa do Saci é a sede da Associação Vida em Ação, mantenedora dos projetos: Bar Saci, Livraria Louca Sabedoria e Loja de diversos projetos da saúde mental e economia solidária.*
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Bar Saci
http://barsaci.wordpress.com

terça-feira, 12 de outubro de 2010

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Nota do Conselho Federal de Psicologia em repúdio à demissão da psicóloga Maria Rita Kehl pelo jornal O Estado de S.Paulo

Diante da agressão à liberdade de expressão cometida pelo jornal O Estado de S. Paulo contra a psicóloga e psicanalista Maria Rita Kehl, o CFP emitiu a nota a seguir. Para o Conselho, o jornal deu exemplo de produção de alienação pois, ao mesmo tempo em que se diz ameaçado em sua liberdade de expressão, impede a emissão de opinião por articulista que ali escrevia há anos.


Veja aqui o artigo de Maria Rita Kehl

Veja aqui entrevista da psicóloga e psicanalista ao Terra Magazine

Leia também artigo do jornalista Eugênio Bucci sobre o tema

Nota:
CFP repudia demissão da psicóloga Maria Rita Kehl pelo jornal O Estado de S.Paulo

No dia 2 de outubro de 2010, a psicanalista e psicóloga Maria Rita Kehl, colunista do jornal O Estado de S. Paulo publicou artigo intitulado “Dois pesos” no qual questionou a desqualificação do voto da população pobre e fez comentários sobre o programa Bolsa Família, do governo Lula. O texto gerou grande repercussão na internet e mídias sociais nos últimos dias e culminou com a demissão da colunista no dia 6 de outubro. Segundo ela, a justificativa dada pelo jornal foi que Maria Rita cometeu um “delito” de opinião.

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) repudia a demissão de Kehl, solidariza-se a ela e externa preocupação com a atitude do Estadão que, ao demitir uma articulista que se posiciona de maneira contrária ao discurso do jornal, fere o direito à liberdade de expressão e de pensamento. Ou não é para garantir a diversidade de opiniões que os jornais, além de editoriais, publicam artigos?

A grande mídia tem acusado o governo de cercear a liberdade de expressão e o Estadão há meses questiona um processo de censura. Entretanto, a demissão da colunista expõe a fissura entre o discurso da mídia que se diz ameaçada em sua liberdade de expressão e suas práticas cotidianas, restritivas à liberdade de opinião.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

A menina e o pássaro encantado

Era uma vez uma menina que tinha um pássaro como seu melhor amigo.
Ele era um pássaro diferente de todos os demais: era encantado.
Os pássaros comuns, se a porta da gaiola ficar aberta, vão-se embora para nunca mais voltar. Mas o pássaro da menina voava livre e vinha quando sentia saudades… As suas penas também eram diferentes. Mudavam de cor. Eram sempre pintadas pelas cores dos lugares estranhos e longínquos por onde voava. Certa vez voltou totalmente branco, cauda enorme de plumas fofas como o algodão…
— Menina, eu venho das montanhas frias e cobertas de neve, tudo maravilhosamente branco e puro, brilhando sob a luz da lua, nada se ouvindo a não ser o barulho do vento que faz estalar o gelo que cobre os galhos das árvores. Trouxe, nas minhas penas, um pouco do encanto que vi, como presente para ti…
E, assim, ele começava a cantar as canções e as histórias daquele mundo que a menina nunca vira. Até que ela adormecia, e sonhava que voava nas asas do pássaro.
Outra vez voltou vermelho como o fogo, penacho dourado na cabeça.
— Venho de uma terra queimada pela seca, terra quente e sem água, onde os grandes, os pequenos e os bichos sofrem a tristeza do sol que não se apaga. As minhas penas ficaram como aquele sol, e eu trago as canções tristes daqueles que gostariam de ouvir o barulho das cachoeiras e ver a beleza dos campos verdes.
E de novo começavam as histórias. A menina amava aquele pássaro e podia ouvi-lo sem parar, dia após dia. E o pássaro amava a menina, e por isto voltava sempre.
Mas chegava a hora da tristeza.
— Tenho de ir — dizia.
— Por favor, não vás. Fico tão triste. Terei saudades. E vou chorar…— E a menina fazia beicinho…
— Eu também terei saudades — dizia o pássaro. — Eu também vou chorar. Mas vou contar-te um segredo: as plantas precisam da água, nós precisamos do ar, os peixes precisam dos rios… E o meu encanto precisa da saudade. É aquela tristeza, na espera do regresso, que faz com que as minhas penas fiquem bonitas. Se eu não for, não haverá saudade. Eu deixarei de ser um pássaro encantado. E tu deixarás de me amar.
Assim, ele partiu. A menina, sozinha, chorava à noite de tristeza, imaginando se o pássaro voltaria. E foi numa dessas noites que ela teve uma ideia malvada: “Se eu o prender numa gaiola, ele nunca mais partirá. Será meu para sempre. Não mais terei saudades. E ficarei feliz…”
Com estes pensamentos, comprou uma linda gaiola, de prata, própria para um pássaro que se ama muito. E ficou à espera. Ele chegou finalmente, maravilhoso nas suas novas cores, com histórias diferentes para contar. Cansado da viagem, adormeceu. Foi então que a menina, cuidadosamente, para que ele não acordasse, o prendeu na gaiola, para que ele nunca mais a abandonasse. E adormeceu feliz.
Acordou de madrugada, com um gemido do pássaro…
— Ah! menina… O que é que fizeste? Quebrou-se o encanto. As minhas penas ficarão feias e eu esquecer-me-ei das histórias… Sem a saudade, o amor ir-se-á embora…
A menina não acreditou. Pensou que ele acabaria por se acostumar. Mas não foi isto que aconteceu. O tempo ia passando, e o pássaro ficando diferente. Caíram as plumas e o penacho. Os vermelhos, os verdes e os azuis das penas transformaram-se num cinzento triste. E veio o silêncio: deixou de cantar.
Também a menina se entristeceu. Não, aquele não era o pássaro que ela amava. E de noite ela chorava, pensando naquilo que havia feito ao seu amigo…
Até que não aguentou mais.
Abriu a porta da gaiola.
— Podes ir, pássaro. Volta quando quiseres…
— Obrigado, menina. Tenho de partir. E preciso de partir para que a saudade chegue e eu tenha vontade de voltar. Longe, na saudade, muitas coisas boas começam a crescer dentro de nós. Sempre que ficares com saudade, eu ficarei mais bonito. Sempre que eu ficar com saudade, tu ficarás mais bonita. E enfeitar-te-ás, para me esperar…
E partiu. Voou que voou, para lugares distantes. A menina contava os dias, e a cada dia que passava a saudade crescia.
— Que bom — pensava ela — o meu pássaro está a ficar encantado de novo…
E ela ia ao guarda-roupa, escolher os vestidos, e penteava os cabelos e colocava uma flor na jarra.
— Nunca se sabe. Pode ser que ele volte hoje…
Sem que ela se apercebesse, o mundo inteiro foi ficando encantado, como o pássaro. Porque ele deveria estar a voar de qualquer lado e de qualquer lado haveria de voltar. Ah!
Mundo maravilhoso, que guarda em algum lugar secreto o pássaro encantado que se ama…
E foi assim que ela, cada noite, ia para a cama, triste de saudade, mas feliz com o pensamento: “Quem sabe se ele voltará amanhã….”
E assim dormia e sonhava com a alegria do reencontro.
* * *
Para o adulto que for ler esta história para uma criança:
Esta é uma história sobre a separação: quando duas pessoas que se amam têm de dizer adeus…
Depois do adeus, fica aquele vazio imenso: a saudade.
Tudo se enche com a presença de uma ausência.
Ah! Como seria bom se não houvesse despedidas…
Alguns chegam a pensar em trancar em gaiolas aqueles a quem amam. Para que sejam deles, para sempre… Para que não haja mais partidas…
Poucos sabem, entretanto, que é a saudade que torna encantadas as pessoas. A saudade faz crescer o desejo. E quando o desejo cresce, preparam-se os abraços.
Esta história, eu não a inventei.
Fiquei triste, vendo a tristeza de uma criança que chorava uma despedida… E a história simplesmente apareceu dentro de mim, quase pronta.
Para quê uma história? Quem não compreende pensa que é para divertir. Mas não é isso.
É que elas têm o poder de transfigurar o quotidiano.
Elas chamam as angústias pelos seus nomes e dizem o medo em canções. Com isto, angústias e medos ficam mais mansos.
Claro que são para crianças.
Especialmente aquelas que moram dentro de nós, e têm medo da solidão…
As mais belas histórias de Rubem Alves
Lisboa, Edições Asa,
2003

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Fascistas, no pasarán!

Cenário político partidário em chamas! Conservadorismos a parte, ou melhor, por toda parte, a ala mais reaça da política partidária brasileira não descansa. Quando pensavamos que a famigerada TFP havia sido enterrada, eis que o cadáver de alguns defensores da moral e dos bons costumes surgem das trevas. Não esta entendendo? Leia no O Dia a declaração do vice Índio sobre proibição dos direitos humanos na questão da homofobia. Para seguir o exemplo, a infeliz disseminação do ódio que revela preconceitos de um grupo e como isso não é tão espontâneo assim. Dica no Blog do Bruno, um ótimo texto de Arnobio Rocha sobre a intolerância política. Aqui ele descreve uma situação cada vez mais corriqueira: o ódio e o preconceito ensinado a crianças pelos pais. São tantas barbaridas ditas por aí que mesmo eu, um não-votante confesso, não posso ficar indiferente. Aprendi algo muito valioso com os anarquista que é o esforço de ser contra todo e qualquer sectarismo. Esse espaço continuará se posicionando contra essa gente reacionário e covarde, que tem nome e endereço. Claro que não irei apoiar essa farsa de democracia representativa que vivemos, mas ficarei muito feliz que nesse momento histórico algumas coisas sejam sepultadas para todo o sempre.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

A importância das eleições

Iria escrever sobre o ainda desesperador processo eleitoral brasileiro, mas quando encontrei isso... sem dúvida o segundo turno que espere de novo.

Não acredite em tudo que dizem sobre você.

As vezes a gente passa tanto tempo acreditando naquilo que não é, ouvindo coisas duras e tentando provar o contrário, que fica difícil dar-se conta de quem realmente somos. No bom combate para assumir quem queremos ser muita coisa vai rolar e à de se ter cuidado com as profecias auto-realizadas. Quando as pessoas esperam ou acreditam que algo acontecerá, agem como se a profecia ou previsão já fosse real e assim a previsão acaba por se realizar efetivamente. Ou seja, ao ser assumida como verdadeira - embora seja falsa - uma previsão pode influenciar o comportamento das pessoas, seja por medo ou por confusão lógica, de modo que a reação delas acaba por tornar a profecia real. O resto é tentativa para se encontrar.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Mais vida e amor!

O segundo turno que espere! Agora eu só quero é continuar a viver essa vida que só se vive uma vez... Aqui outra versão desse clássico latino que continua a conduzir tanta gente a novos sonhos e amores.

domingo, 3 de outubro de 2010

Amar e viver

Definitivamente só se vive uma vez. Arrepender? Talvez de algumas poucas coisas, mas não para não seguir adiante. Não suficiente para nunca mais amar. Porque o amor, esse a gente tem que viver sempre e quantas vezes possíveis.

sábado, 2 de outubro de 2010

A ilusão do sufrágio universal

“Assim, sob qualquer ângulo que se esteja situado para considerar esta questão, chega-se ao mesmo resultado execrável: o governo da imensa maioria das massas populares se faz por uma minoria privilegiada. Esta minoria, porém, dizem os marxistas, compor-se-á de operários. Sim, com certeza, de antigos operários, mas que, tão logo se tornem governantes ou representantes do povo, cessarão de ser operários e por-se-ão a observar o mundo proletário de cima do Estado; não mais representarão o povo, mas a si mesmos e suas pretensões de governá-lo. Quem duvida disso não conhece a Natureza Humana”

Mikhail Bakunin ( 1814 – 1876)

Os homens acreditavam que o estabelecimento do sufrágio universal garantia a liberdade dos povos. Mas infelizmente esta era uma grande ilusão e a compreensão da ilusão, em muitos lugares, levou à queda e à desmoralização do partido radical. Os radicais não queriam enganar o povo, pelo menos assim asseguram as obras liberais, mas neste caso eles próprios foram enganados. Eles estavam firmemente convencidos quando prometeram ao povo a liberdade através do sufrágio universal. Inspirados por essa convicção, eles puderam sublevar as massas e derrubar os governos aristocráticos estabelecidos. Hoje depois de aprender com a experiência, e com a política do poder, os radicais perderam a fé em si mesmos e em seus princípios derrotados e corruptos. Mas tudo parecia tão natural e tão simples: uma vez que os poderes legislativo e executivo emanavam diretamente de uma eleição popular, não se tornariam a pura expressão da vontade popular e não produziriam a liberdade e o bem estar entre a população?
Toda decepção com o sistema representativo está na ilusão de que um governo e uma legislação surgidos de uma eleição popular deve e pode representar a verdadeira vontade do povo. Instintiva e inevitavelmente, o povo espera duas coisas: a maior prosperidade possível combinada com a maior liberdade de movimento e de ação. Isto significa a melhor organização dos interesses econômicos populares, e a completa ausência de qualquer organização política ou de poder, já que toda organização política se destina à negação da liberdade. Estes são os desejos básicos do povo. Os instintos dos governantes, sejam legisladores ou executores das leis, são diametricamente opostos por estarem numa posição excepcional.
Por mais democráticos que sejam seus sentimentos e suas intenções, atingida uma certa elevação de posto, vêem a sociedade da mesma forma que um professor vê seus alunos, e entre o professor e os alunos não há igualdade. De um lado, há o sentimento de superioridade, inevitavelmente provocado pela posição de superioridade que decorre da superioridade do professor, exercite ele o poder legislativo ou executivo. Quem fala de poder político, fala de dominação. Quando existe dominação, uma grande parcela da sociedade é dominada e os que são dominados geralmente detestam os que dominam, enquanto estes não têm outra escolha, a não ser subjugar e oprimir aqueles que dominam. Esta é a eterna história do saber, desde que o poder surgiu no mundo. Isto é, o que também explica como e porque os democratas mais radicais, os rebeldes mais violentos se tornam os conservadores mais cautelosos assim que obtêm o poder. Tais retratações são geralmente consideradas atos de traição, mas isto é um erro. A causa principal é apenas a mudança de posição e, portanto, de perspectiva. Na Suíça, assim como em outros lugares, a classe governante é completamente diferente e separada da massa dos governados. Aqui, apesar da constituição política ser igualitária, é a burguesia que governa, e é o povo, operários e camponeses, que obedecem suas leis. O povo não tem tempo livre ou educação necessária para se ocupar do governo. Já que a burguesia tem ambos, ela tem de ato, se não por direito, privilégio exclusivo. Portanto, na Suíça, como em outros países a igualdade política é apenas uma ficção pueril, uma mentira.
Separada como está do povo, por circunstâncias sociais e econômicas, como pode a burguesia expressar, nas leis e no governo, os sentimentos, as idéias, e a vontade do povo? É possível, e a experiência diária prova isto. Na legislação e no governo, a burguesia é dirigida principalmente por seus próprios interesses e preconceitos, sem levar em conta os interesses do povo. É verdade que todos os nossos legisladores, assim como todos os membros dos governos cantonais são eleitos, direta ou indiretamente, pelo povo.
É verdade que, em dia de eleição, mesmo a burguesia mais orgulhosa, se tiver ambição política, deve curvar-se diante de sua Majestade, a Soberania Popular. Mas, terminada a eleição, o povo volta ao trabalho, e a burguesia, a seus lucrativos negócios e às intrigas políticas. Não se encontram e não se reconhecem mais. Como se pode esperar que o povo, oprimido pelo trabalho e ignorante da maioria dos problemas, supervisione as ações de seus representantes? Na realidade, o controle exercido pelos eleitores aos seus representantes eleitos é pura ficção, já que no sistema representativo, o controle popular é apenas uma garantia da liberdade do povo, é evidente que tal liberdade não é mais do que ficção.

(em Ouvres, Vol. II, 1907)

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Autenticidade.

Cada um é cada um.
Mestre Pastinha