segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Pedra bruta.

A memória é nossa coluna. Nossa guia. Porque se você perde a memória é muito triste.
Bernardo Bidlowsky

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Aqueles que mais têm razão para chorar
são os que não choram nunca.
Padre Nunes

Mudando

Todos precisamos mudar alguma coisa, em algum lugar e alguma hora. Seja em objetividades ou subjetividades, precisamos sim transformar. Para as coisas da subjetividade, isso se podemos fazer essa separação, há por exemplo, os livros, a terapia e conversas inesperadas. Para a objetividade é a praticidade do movimento que o corpo pede, é ir correr, pedalar, se alimentar de outro modo. E claro, o que é mais certo, uma combinação desses lugares. É entre tantas coisas, dançar, é o samba, o ziriguidum, o terreiro, os pequenos mimos para si mesmo, a provocação em se aprender algo novo, um instrumento musical, uma viagem, uma pessoa desconhecida... Nesse esforço fui parar, chan nãn nãn nãn: numa nutricionista! Que pra mim era tudo isso: o desconhecido, o inédito, o que fazer, o que vai acontecer e se vou sobreviver foram algumas perguntas. Comecemos pelo fundamental: a gente é o que come! Fato! E eu como porcaria pra caramba. Enfim, havia um cansaço e uma desatenção crescente em meu corpo e em minha mente e isso me incomodava. Fui ter então com a Priscila di Ciero. A moça muito simpática e competente, depois de duas horas de conversa e esclarecimentos, tranquilizou-me e me convenceu do que preciso fazer. Meu corpo vive alguns excessos, e como bem sabemos, quando começamos a nos acostumar com eles vamos nos convencendo que mudar não dá. Tá confortavel, então para que mudar? O corpo vai reclamar e de repente começamos a acreditar que as coisas são assim mesmo. Estou começando minha nova dieta que inclui um monte de farinha de linhaça, frutas e grãos em horários mais apropriados. A cerveja e o açúcar vão diminuir, assim como o queijo e as pizzas no meio da noite. Necessidade de educação é assim e como não escapamos desse hedonismo dominante já sei o que me espera logo mais. Sobre o efeito que isso esta tendo em minha cabeça? Já começou no dia anterior a consulta. Quando nos movimentamos criamos possibilidades de ampliar o que sempre vimos e acreditamos. Alguma coisa precisa acontecer e sei que isso faz parte da pergunta que mais interessa: como é que mudamos?! Não estou bem certo, mas já disse o glorioso Chico, não esse que tá aí, mas o que já foi: um passo a frente e você não está mais no mesmo lugar. Agora é Oxalá no céu e Priscila na terra! Mais reflexões dessa saga em breve.

site da Priscila di Ciero

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Que a terra lhe seja leve.

Morreram dois anarquistas

[Faleceu na última sexta-feira (20/08), em São Paulo, o ator e militante anarquista Francisco Cuberos Neto (18-02-1924/20-08-2010), conhecido em teatro e TV como Cuberos Neto. Seu corpo foi cremado neste sábado, como era o seu desejo. Também morreu nesta sexta-feira a veterana anarquista Nair Lazarine Dall’Oca (23-04-1923/20-08-2010), em Santos, litoral paulista.]

Militante anarquista desde a mocidade, Chico Cuberos, ou simplesmente Chico, como era carinhosamente chamado pelos companheiros de ideal libertário, durante décadas fez parte do Centro de Cultura Social de São Paulo, ao lado de seu irmão Jaime Cubero e tantos outros companheiros. No CCS Cuberos dirigiu ao lado de Pedro Catallo o "Laboratório de Ensaio", que nos anos 60 produziu muitas peças políticas de fundo libertário. Por essa época, Cuberos participava também de outra associação libertária, a Sociedade Amigos de Nossa Chácara. Por divergências internas, desligou-se do CCS nos últimos anos, mas manteve sua militância anarquista.

Ator com extensa carreira no teatro e televisão, Cuberos neto começou profissionalmente no Teatro Brasileiro de Comédia, trabalhando ao lado de grandes diretores, como Flávio Rangel e Ademar Guerra, tendo também participado de filmes e novelas na extinta TV Tupi.

Casado com a espanhola Maria ("Maruja"), deixa um casal de filhos, Thalia e Parmênides.

Alberto Centurião

Eu, Ator E Anarquista

Através do teatro libertário, cheguei ao anarquismo. Ao tanger, compreender e sentir a mais elevada concepção de vida social e humana que as utopias projetaram, compreendi e senti quão nobre, generosa e emancipadora é a missão do ator.

Todas as injustiças, todas as misérias da sociedade em que vivemos com seus privilégios e ambições de poder, todas as paixões que emergem da intensa gama de contradições que refletem o comportamento e a psicologia humana, desfilam pelos textos representados no teatro. Esta complexa realidade é assumida pelo ator que, através de suas personagens e de suas interpretações, passa para o público mensagem que pode ser transformadora quando desperta uma centelha de revolta, que consola quando transmite um sentimento de solidariedade, de esperança e de bondade, que pode provocar o riso e a alegria mas que terá sempre uma perspectiva política.

Para mim o teatro tem uma essência libertária e o ator, mesmo sem uma adesão racional é, em certo sentido, anarquista. O ator tem que compreender e sentir a realidade em que vive e será mais livre, na medida em que suas decisões forem pessoais. Isso dependerá de seu desenvolvimento intelectual e afetivo e do fortalecimento de sua vontade, será o resultado de todo um processo educativo, político, físico, intelectual, afetivo e volitivo. Sua liberdade é relativizada pela convivência e interação com os outros. Ser livre não é fazer tudo o que ser quer, mas querer tudo o que se faz.

Ao adotar um padrão de valores onde todos os interesses se subordinam a princípios éticos e a liberdade fundamental, a solidariedade, constituindo-se em premissa básica para o desenvolvimento do potencial criativo do ser humano (um dos aspectos mais gratificantes da vida), me posiciono contra as instituições opressoras. Sou contra o Estado e os organismos que o sustentam com todas as suas imposições: o voto obrigatório, o serviço militar obrigatório e as mil sujeições obrigatórias. Sou contra todas as castrações, limitações e restrições que anulam a personalidade humana. Como anarquista, sou contra os organismos que sustentam e reproduzem um sistema de exploração e opressão do homem: partidos políticos, com a imbecilidade caricata de seus profissionais; instituições militares, policiais, judiciais, educacionais e religiosas a serviço de um sistema que corrompe e ofende a dignidade humana. Como ator, penso no teatro como um agente de transformação e não reprodutor de uma sociedade dirigida contra as mais legítimas aspirações do homem. Penso na mensagem poderosa que o teatro sempre transmitiu, na consciência crítica que o forma, através da história, desde a Grécia até a modernidade. Penso em Ésquilo, Sófocles e Eurípedes; Shakespeare, Moliére e Ibsen; Tchekhov, Brecht, Lorca e tantos outros que refletiram os conflitos humanos de suas épocas, com tragédias, dramas, comédias, mas também transmitiram o universal da existência humana. O ator foi sempre o porta-voz da mensagem, dando significado a seu texto, na medida da consciência de sua realidade e de sua perspectiva futura.

Para mim, ator e anarquista, a maior gratificação, a grande recompensa de cada instante de minha existência é o júbilo que a busca permanente das possibilidades humanas proporciona. A limpidez da alma na busca da superação, transmitindo o otimismo de um peregrino do ideal, de um militante da alegria, contente de viver, de estar no meio da procela, porque ainda há muito amor entre os homens.

Cuberos Neto

fonte: agência de notícias anarquistas-ana

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Acontece.

O Departamento Reichiano do Instituto Sedes Sapientiae convida-o(a) para participar da XXIII Jornada Reich no Sedes Sapientiae, que ocorrerá nos dias 17, 18 e 19 de setembro de 2010.

A inscrição para a participação já está aberta!

Para mais informações, mande um email para jornadareich@sedes.org.br.

ps-Estarei apresentando um trabalho no sábado a tarde.
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DEBATE CINEMA E POLÍTICA NO ESPAÇO AY CARMELA!!!

Lançamento do livro:
A Cinemateca Brasileira: das luzes aos anos de chumbo debate com o autor e pesquisador Fausto Douglas Correa Jr.

Sábado, 28 de agosto às 16h

Espaço Ay Carmela!
Rua dos Carmelitas, 140 - Sé São Paulo / SP (Travessa da Rua Tabatinguera / Saída Poupatempo do Metro Sé) Siga as placas ;)
Saiba mais sobre o Espaço Ay Carmela!

http://www.ay-carmela.birosca.org/Sobre

A resenha do livro encontra-se no seguinte link:
http://www.ay-carmela.birosca.org/node/465

No mesmo dia teremos os seguintes eventos no Espaço Ay Carmela!
Das 15h as 18:30h - Pedalinas Com a Mão na Graxa
Oficina de manutenção básica de bicicleta, por mulheres, para mulheres!
Haverá um bonde de ciclistas partindo da praça do ciclista (Av. Paulista x R. Consolação) às 14:30h.

As 19h - Teatro - Peça - Zumbi or not Zumby
Uma adaptação do texto ?Arena Conta Zumbi? de Augusto Boal e Gianfrancesco Guarnieri, com direção de Thiago Reis Vasconcelos.
Contribuição sugerida : R$ 5,00 Pague o quanto puder! Todo o dinheiro arrecadado será revertido para a manutenção do Espaço Ay Carmela!
E no domingo nosso tradicional almoço mensal a partir das 13h com feirinha do MST a partir das 10h
Site: http://ay-carmela.birosca.org/

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O IV Seminário Educação, Relações Raciais e Multiculturalismo que se realizará entre os dias 10 e 12 de novembro de 2010 nas dependências do Centro de Ciências Humanas e da Educação (FAED) da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Integrado à programação do evento teremos a realização do II Seminário Internacional Áfricas: Historiografia Africana e Ensino de História e do II Seminário Memória e Experiência: elementos de formação da Capoeira Angola.
O seminário tem como objetivo ser um espaço de divulgação, discussão, apresentação, avaliação e debate sobre ações e propostas em prol das relações etnicorraciais na educação em sintonia com as políticas públicas. Assim, o intuito central é possibilitar que o IV Seminário coloque em discussão os desafios e as novas perspectivas para se pesquisar e produzir conhecimento em ciências sociais e humanas, no campo da história e da educação, referente à educação das relações etnicorraciais, aos estudos de diáspora africana e história da África, incorporando novas discussões no âmbito do que se tem produzido e disseminado sobre as populações de origem africana.
Infos: http://sites.google.com/site/testeivseminario/home
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A Biblioteca Terra Livre e a Editora Imaginário tem o prazer de convidá-los para o lançamento de três livros de Élisée Reclus em português.
Quando: Quinta – 26/08 – 19h
Onde:
Antiga Biblioteca da História e Geografia (FFLCH/USP)
Av. Prof. Lineu Prestes, 338.
Cidade Universitária – São Paulo
CARTAZ:
http://bibliotecaterralivre.wordpress.com/2010/08/10/lancamento-dos-livros-e-debate/

OS LIVROS:

- Do Sentimento da Natureza nas Sociedades Modernas
http://imaginario.lojapronta.net/produtos_descricao.asp?lang=pt_BR&codigo_produto=82

- Renovação de uma Cidade / Repartição dos Homens
http://imaginario.lojapronta.net/produtos_descricao.asp?lang=pt_BR&codigo_produto=81

- Da Ação Humana na Geografia Física / Geografia Comparada no Espaço e no
Tempo
http://imaginario.lojapronta.net/produtos_descricao.asp?lang=pt_BR&codigo_produto=80

Site da Editora Imaginário: http://imaginario.lojapronta.net/
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DEBATE sobre a vida e obra do geógrafo anarquista com a presença dos pesquisadores Amir El Hakim, David Ramírez e Marcelo Miyahiro. (Geografia/USP).
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Contato:
bibliotecaterralivre@gmail.com

Biblioteca Terra Livre
Caixa Postal 195
São Paulo - SP - Brasil
01009-972

http://bibliotecaterralivre.wordpress.com
http://www.inventati.org/terralivre
http://www.fotolog.com.br/terralivre2010

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Mais nome aos bois

O Brasil de Fato publica no seu último número uma curiosa análise sobre as eleições dando enfâse aos processos regionais. Há considerações pertinentes sobre os modos operandis de se fazer política partidária no país. Reproduzo a pequena matéria aqui no Paladar. Antes, apenas digo que em meu entender no fundo permanece a lógica da conveniência e um pouco mais do mesmo. O que tem me aborrecido nessas discussões é que permanecemos na falsa dicotomia que transita nas diferenças entre PT e PSDB, ou melhor dizendo: criticar o PT te faz tucano, criticar o PSDB te faz petista. Não são partidos iguais, sabemos disso, porém santa inocência acreditar que essa é a única possibilidade de pensar e fazer política. Nada mais falso! De todo modo isso fica pra depois.
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Eleições estaduais: tudo pela governabilidade
por Admin

Hoje, o governo apresenta uma popularidade comparável à do Plano Cruzado na época do pleito de 1986, no entanto, não há indícios de que aquela transferência de votos seja reeditada. A peculiaridade deste próximo processo eleitoral é o fato de os partidos que encabeçam as candidaturas favoritas, PT e PSDB, não terão tanto peso nas disputas estaduais quanto nos anos anteriores.

Para consolidar alianças em nível nacional, o PT optou por ceder a cabeça de chapa para aliados, como PSB e PMDB. Os partidos que compuseram a extinta Frente de Esquerda – que apoiou Heloísa Helena à presidência da República em 2006 – são os que possuem o maior número de candidaturas. Justamente por não terem reeditado a aliança, Psol, PSTU e PCB lideram a lista de postulantes aos governos estaduais.

Despolitização

O cenário que aponta para uma polarização na disputa presidencial não é refletido no plano estadual, portanto. O aparente acirramento que se dá entre Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) é diluído na esfera regional. Sem a verticalização das candidaturas, criou-se uma série de peculiaridades como o “PMDB governo” (no Rio de Janeiro e Maranhão) e o “oposição” (em São Paulo e Rio Grande do Sul).

O símbolo da confusão política nessas eleições é o PTB. A legenda integra a base governista e a coligação de Serra ao mesmo tempo. Mas esse cenário não impede que Fernando Collor, favorito ao governo alagoano, declare apoio a Dilma.

Para analistas, o fato de os maiores partidos abrirem mão de candidaturas revela um processo despolitizado e fisiológico. “As alianças eleitorais, sem nenhum critério programático ou no campo da grande política, condenam as eleições ao jogo da pequena política. Acabam prevalecendo os caciques locais, os chefes políticos com mais chances eleitorais, os acertos e trocas de favores diante das possibilidades de financiamento de campanha, como se vê na aliança de Marina Silva do PV com PSDB e DEM no Rio”, aponta Mauro Iasi, historiador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Para Rudá Ricci, sociólogo do Instituto Cultiva, a preferência que os partidos majoritários têm dado aos aliados explicita um fisiologismo arraigado. “É uma situação das mais instigantes e peculiares. A polarização entre lulismo e tucanos paulistas levou a uma espécie de ‘tudo ou nada’ para os dois lados. Veja que não é efetivamente o interesse de seus partidos. Serra joga um tudo ou nada para se manter como cacique tucano. Se perder, encerra sua carreira política e, possivelmente, o eixo da direção tucana sai também de São Paulo. Portanto, para os dirigentes paulistas do PSDB, o que interessa é vencer em São Paulo e ganhar as eleições presidenciais. No caso do lulismo, o interesse é eleger Dilma. Não é exatamente o interesse do PT, como vimos em vários Estados, incluindo Minas Gerais e Maranhão, para citar apenas dois”, analisa.

Sistema desestruturado

Ricci avalia que o fato de a popularidade do governo não se refletir em plano estadual, tal como em 1986, é consequência da desestruturação do sistema político-partidário brasileiro. “O lulismo desmontou o sistema vigente e a conseqüência é que lideranças partidárias são maiores que seus partidos. Este é o caso de Aécio Neves no PSDB, Lula no PT, Marina no PV, e assim por diante. Temos, ainda, a emergência de um eleitorado mais informado e exigente, mais individualista. Metade da população brasileira é classe C. Eles são ciosos por manter sua ascensão social. O que quero dizer é que não temos mais os currais eleitorais que transferiam votos. O que temos é uma espécie de eleitor médio que avalia individualmente os candidatos e tenta se certificar das vantagens e garantias que terá”, explica.

Ainda segundo o sociólogo, as disputas estaduais são muito influenciadas por fatores locais, sobretudo em termos da comunicação, controlada por poucas famílias. “As eleições atuais dependem da televisão e da rede de operadores políticos regionais. Estes operadores são mais que os velhos cabos eleitorais. Eles influenciam na avaliação e interpretação do que se vê na televisão. Tudo para dizer que a competição entre candidaturas é muito mais individualizada e profissional que antes. Se o candidato fosse Lula, a eleição (todos sabemos) já estaria decidida”, aponta.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Visita ao fazedor de covas

Se eu não creio em Deus?
Lá crer, creio.
Mas acreditar mesmo, eu acredito é no Diabo.

Avô Mariano

*Encontrado no livro Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra, de Mia Couto.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Aos mestres que não nos abandonam.

Há dias em que as palavras dos grande mestres são o único conforto para a alma. Claro que temos que seguir lutando, tentando mudar, acreditando, rompendo, superando, mesmo que a gente não tenha a menor idéia de onde isso vai dar. Eis aqui então uma singela reverência e lembrança a um dos nossos grandes gênios que foi João Nogueira. A música Minha Missão foi composta em parceria com outro mestre, Paulo César Pinheiro. Passei bastante tempo de minha vida distante desses poetas e hoje são eles que mais entendem meu coração. Daqui não saio nunca mais! Como não agradecer?

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Mais episódios do fim do que é bom.


Sei que estou atrasado no debate, mas em situações como essa acho que nunca é tarde. Como muitos de vocês devem estar sabendo, foi anunciado a uns 10 dias atrás o fim do programa Manos e Minas da TV Cultura. Não preciso nem dizer que isso se trata de um crime, certo? Segue o plano já conhecido de desmantelar o patrimônio público, acusá-lo de ser ineficiente e depois distribuir as cartas marcadas para a privatização. FHC deixou bons aprendizes! Enfim, esse programa era um dos raros na televisão brasileira a falar da cultura hip hop, juventude, debater a arte de rua, a falar da periferia pelo que ela tem de bom, a ter música independente e por ai afora. Fim de semana foi o último programa a ir ao ar. Está rolando um abaixo-assinado para tentar reverter a situação, mas não sei não. Também há algumas pessoas como o Eduardo Suplicy tentando intervir, porém o buraco é mais embaixo, e além do fim de mais um programa, existe a real ameaça de demissão de mais de mil funcionários. Puta que pariu! É revoltante ver esse processo de aniquilamento e tanta gente apoiando a canalha a continuar no lugar que sempre esteve. Meu comparça TIM, mais uma vez, escreveu aqui sobre esse episódio triste da vida brasileira. Faço dele as minhas palavras.

O Xirê

Como é bonito o poeta falando. Como é linda a canção que vem do coração. Como é a herança de nossa gente encantadora. Como é bom fazer parte dessa lembrança. Como é ótimo viver sabendo de onde viemos e onde estamos.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Para se tentar outras vezes.

"Há alguma coisa aqui que me dá medo; quando descobrir o que me assusta, saberei também o que amo aqui. O medo sempre me guiou para o que eu quero; e, porque eu quero, temo. Muitas vezes foi o medo quem me tomou pela mão e me levou. O medo me leva ao perigo. E tudo o que eu amo é arriscado."

Clarice Lispector

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Seja um amigo do Saci!

A Associação Vida em Ação é uma entidade sem fins lucrativos, fundada por volta de 2004 em meio às discussões do FÓRUM PAULISTA DA LUTA ANTIMANICOMIAL. Objetivo inicial era criar condições que favorecessem um espaço de troca e desenvolvimento de experiências e atividades para além da rede de serviços substitutivos da saúde mental. Atividades que nos serviços não eram possíveis ou adequadas a se fazer, em destaque alternativas de geração de trabalho e renda para os usuários destes serviços.

Tendo como referencia algumas iniciativas que na ocasião estavam inativas ou mesmo extintas, a saber: a Livraria da ONG S.O.S. Saúde Mental, projeto Diversidade e projeto Luzcidade, dentre outras, seguimos nosso ideal com bastante criatividade e certas doses de improviso, organizando festas, coquetéis, feiras e outras atividades, que nos deram segurança e conhecimento para que em 2007 pudéssemos concentrar nossos esforços em um espaço físico, concreto, chamado CCPC (centro cultural popular da consolação) que reunia, além de nós, outros grupos e propostas variadas, de teatro a dança e por ai adiante. Surgiu daí um nome que concentrava nosso ímpeto festeiro, o Bar Saci.

Da Consolação, seguindo Tom Zé, fomos parar em Perdizes, na Casa do Saci, agora sede da Associação, onde juntamos toda nossa boa e velha loucura em fomento a três projetos: uma livraria, uma loja e o bar-café. A livraria hoje é chamada de Louca Sabedoria, a loja tem o nome de todos os produtos vindos dos serviços e com eles toda uma série de discussões e iniciativas que alimentam a REDE DE SAÚDE MENTAL E ECONOMIA SOLIDÁRIA, e o bar é o Bar Saci, que tem até cachaça com seu nome.

Para tanto e, no entanto, nosso ideal para além dos serviços e de se fazer dizer: somos auto-sustentáveis, ainda não é dado. Para toda essa estrutura, sua continuidade e ampliação, se faz necessário, um pedido de ajuda para concretização destes projetos. Diante disto, uma proposta: os Amigos do Saci!. Basicamente seria uma colaboração mensal por parte dos amigos que puderem apoiar estes projetos da Associação, até chegarmos num futuro próximo a esse fazer-dizer. A sugestão para essa contribuição mensal é no valor de R$ 20,00 (vinte reais). Cabe informar que além desta iniciativa, nossos projetos concorrem em editais de financiamento nacionais e internacionais para empreendimentos sociais.

Até mais importante que sua contribuição financeira para conosco, nos carece, e muito, novas idéias, sugestões, criticas, enfim, outras propostas, tanto para os projetos existentes, como para os que podem vir a ser.

http://barsaci.wordpress.com/

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Um pouco mais do espetáculo circense.

Respeitável público, quem não viu venha ver. Não é segredo pra ninguém que nunca votei e pretendo não fazê-lo agora. Como disse algumas vezes, não porque acredito que todos os candidatos sejam iguais e que é tudo a mesma merda. Os debates que tento ter estão em torno do que significa, por exemplo, democracia de fato, acessibilidade, poder e liberdade. Bom, que ninguém seja ingênuo aqui. Sem dúvida que ter que negociar com uma gestão é mais preferível do que com outra. Para quem mora no Estado de São Paulo e vive a duas décadas na gestão PSDB sabe o desastre que vivemos sucessivamente. A muitos anos os professores do Estado são tratados como bandidos e chegam literalmente a apanhar da polícia. O que esperar de uma gestão que espanca professores? Na cidade de São Paulo veja o que se tornou a educação e particularmente a saúde pública na gestão DEM. O que quero mostrar é a clara evidência e manutenção dos interesses de uma minoria enquanto a maioria se fode de verde e amarelo. Aja alienação ou má-fé pra pensar que são gestões democráticas e comprometidas com as necessidades do coletivo. Enfim, talvez alguém pergunte se a solução estaria nos partidos de esquerda. Estou convencido que o problema em parte está exatamente na ideia de que partidos contêm respostas satisfatórias para nossos desafios. Definitivamente não! Não vivemos uma democracia, mas sim jogos de poder e dominação partidários com um discurso democrático. Basta ver o lugar que ocupam os povos indígenas, a população negra, mulheres e por aí vaí no que diz respeito ao acesso a informação, distribuição de renda e visibilidade de ação e voz. De todo modo, como falei, temos que evitar a inocência e encarar os leões. Não tenho nenhuma ilusão quanto a governos e partidos, porém, nojo e repulsa tenho mais ainda com relação aos interesses do capital e de seus mais asquerosos representantes. Nome aos bois! A rede globo ocupa lugar de destaque. Segunda-feira foi feita uma entrevista com a candidata do PT. Dilma foi convidada a um show de horrores. O casal fantasia do Jornal Nacional se prestou a uma escrotidão sem tamanho, e tudo em nome da democracia! Que alguém cuspa nesses vermes, por favor! Fazer uma perguntare não permitir que seu interlocutor responda é no mínimo falta de educação. Arrogantes e cínicos o casal gosma me ajudou a ter um pouco mais de simpatia por Dilma, mas não suficiente para me convencer a ir as urnas. Assista a entrevista e prepare o saquinho de vômito. Caso queira mais diversão veja a conversa com a Marina Silva aqui.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Memória curta que nada!

Contrariando o discurso que o povo tem memória curta, reproduzo aqui o "acordo" e o "compromisso" de Zé com os governos e as populações que o elegem.

domingo, 8 de agosto de 2010

Imperdível!

IV JORNADA BRASILEIRA DE CINEMA SILENCIOSO
06 e 15 de agosto de 2010
A Cinemateca Brasileira promove a quarta edição da JORNADA BRASILEIRA DECINEMA SILENCIOSO, evento dedicado ao cinema produzido entre os finaisdo século XIX até aproximadamente 1930, quando a chegada do sommodificou os rumos da arte cinematográfica. Com curadoria geral deCarlos Roberto de Souza, a IV JORNADA privilegia novamente umacinematografia nacional do período silencioso e os trabalhos depreservação dos arquivos de filme de um determinado país. Nesta edição,o foco é o cinema silencioso da Suécia e as obras escolhidas sãoresultado de restaurações feitas pela Cinemateca Sueca. A seleção doprograma esteve a cargo de Jon Wengström, curador do arquivo, eresponsável também pela conferência inaugural da IV JORNADA.
Dentre muitas outras atrações, a seção permanente dedicada às Giornatedel Cinema Muto, de Pordenone, apresenta nesse ano alguns clássicos docinema americano das décadas de 1910 e 1920. O programa Janela para aAmérica Latina exibe o único filme silencioso remanescente da Bolívia, oraríssimo Wara Wara, rodado em 1929 por José María Velasco. O cinemabrasileiro é também um dos destaques da IV JORNADA, com a projeção dasversões restauradas pela Cinemateca Brasileira dos documentáriosCompanhia Paulista de Estrada de Ferro e Companhia Mogyana, queregistram trabalhos industriais e a instalação das ferrovias no Estadode São Paulo. Para homenagear os 80 anos da produtora Cinédia, principalempresa cinematográfica brasileira da década de 1930, a IV JORNADA exibeLábios sem beijos, dirigido por Humberto Mauro. A programação brasileirase completa com a seção Produções silenciosas contemporâneas, queapresenta Que cavação é essa?, de Estevão Garcia e Luís Alberto RochaMelo, curta-metragem que fala do comprometimento do cinema brasileirocom o poder.Todos os filmes serão exibidos com acompanhamento musical ao vivo naSala Cinemateca BNDES e em projeção silenciosa na Sala CinematecaPetrobras. As sessões musicadas estão indicadas com um asterisco (*). Acuradoria musical da IV JORNADA é assinada pelo músico e compositorLivio Tragtenberg. A programação inclui ainda uma exposição deampliações fotográficas feitas a partir de placas de vidro do cinemasilencioso sueco e três mesas de debate: a primeira delas, sobre adeclaração da FIAF – Federação Internacional dos Arquivos de Filmes arespeito de Acesso Livre; a segunda, sobre as salas de cinema em SãoPaulo e Rio de Janeiro nas primeiras décadas do século XX; a terceira,sobre as relações entre a psicanálise e o cinema – numa programação realizada em conjunto com a mostra FÁBRICA DE SONHOS: 100 ANOS DE CINEMAE PSICANÁLISE, em cartaz na Cinemateca até o dia 12 de setembro. Confiramais informações no catálogo da mostra ou no site
www.cinemateca.gov.br/jornada/Programação não recomendada para menores de 14 anos
ENTRADA FRANCA
CINEMATECA BRASILEIRA
Largo Senador Raul Cardoso, 207
próximo ao Metrô Vila Mariana
Outras informações: (11) 3512-6111 (ramal 215)
www.cinemateca.gov.br
AUDITÓRIO IBIRAPUERA
Avenida Pedro Álvares Cabral, s/nºParque do Ibirapuera – portão 2
Outras informações: (11) 3223-3966
www.auditorioibirapuera.com.br

sábado, 7 de agosto de 2010

Consciência

Estou a um bom tempo pensando em como escrever sobre vipassana e minha última experiência em um curso de 10 dias. O que gostaria de dizer é que isso me deixa mais desperto, alerta e também tranquilo, paciente e autêntico. Apesar do código de disciplina parecer extremamente rigoroso e assustador em um primeiro momento, ele te ajuda a saber que você está vivo! Que cada passo que dá, cada respiração que tem, cada sensação de desconforto ou conforto, ele te deixa mais consciente.
O que é isso?
O que não é Vipassana:
Não é um rito ou ritual baseado na fé cega.
Não é um entretenimento intelectual ou filosófico.
Não é uma cura através do repouso, umas férias ou uma oportunidade de confraternização.
Não é uma fuga dos problemas e atribulações da vida diária.

O que Vipassana é:
Uma técnica para erradicar o sofrimento.
Um sistema de purificação mental que nos permite enfrentar todas as tensões e problemas da vida de maneira calma e equilibrada.

Uma arte de viver que permite uma contribuição positiva para a sociedade.
A meditação Vipassana permite alcançar as metas espirituais mais elevadas: a libertação total e o pleno despertar. Seu propósito não é curar as enfermidades físicas, mas, como conseqüência da purificação mental, desaparecem muitos dos distúrbios psicossomáticos. Efetivamente, Vipassana elimina as três causas de toda infelicidade: avidez, aversão e ignorância. Com a prática contínua, a meditação elimina as tensões que tendem a se desenvolver na vida diária, desmanchando os nós que foram atados por nosso velho hábito de reagir de forma desequilibrada às situações agradáveis e desagradáveis.
Apesar da Vipassana ter sido desenvolvida como técnica de meditação pelo Buda, sua prática não se limita aos budistas e, de modo algum, em nada se parece a uma conversão. Todos os seres humanos compartilham os mesmos problemas, e uma técnica capaz de erradicar esses problemas terá uma aplicação universal. Os benefícios produzidos pela meditação Vipassana têm sido experimentados por pessoas das mais diversas crenças religiosas, sem qualquer conflito com a fé que professam.
Saiba mais aqui.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Censo 2010: Sou negro e sou de Axé!

No próximo mês de agosto, a população brasileira dos 5.565 municípios estará recebendo recenseadores e recenseadoras para o levantamento demográfico que desde o primeiro censo, em 1872, com 643 municípios, se mostrou como importante fonte de dados.
Sabemos do valor das informações coletadas para acompanhar o crescimento, a distribuição geográfica e a evolução das características da população e como elementos importantes para definição de políticas públicas em nível nacional, estadual e municipal, bem como para a tomada de decisões na iniciativa privada, incluindo, atualmente (para algumas), as ações de responsabilidade social.
Foi no censo de 1872 que, pela primeira vez, o conjunto da população era compreendido oficialmente em termos raciais, base para o estabelecimento de novas diferenças entre os grupos sociais. Diferenças ainda longe das concepções hierarquizantes e poligenistas que se acercariam da noção de raça, anos mais tarde.
Naquele momento, tratava-se de conhecer uma população de ex-escravizados que começava a exceder cada vez mais o número dos ainda escravizados. E esta diferença era possível na medida em que a instituição escravista tinha perdido a legitimidade devido à ação de grupos abolicionistas ou mesmo por meio das consequências da abolição do tráfico (1850) ou das leis posteriores que prometiam, apesar de gradual, a abolição da escravidão: a lei do ventre livre (1871), depois a lei dos sexagenários (1885), seguida da proibição dos açoites (1886) .
É muito importante anotar que a noção de “cor”, herdada do período colonial, não designava, preferencialmente, matrizes de pigmentação ou níveis diferentes de mestiçagem, mas buscava definir lugares sociais, nos quais etnia e condição social estavam indissociavelmente ligadas.
O novo Movimento Negro, surgido nos anos 1970, enfrentou a falácia da “democracia racial” entendendo que a o quesito “cor” era determinante do lugar social da população negra. Esse conhecimento, sustentado por militantes e pensadores na área das ciências humanas e sociais (incluindo a economia e a estatística), levou a uma campanha, em nível nacional, para o censo de 1991: “Não deixe sua cor passar em branco”.
Se fizermos uma breve retrospectiva do quesito “raça” / “cor” nos censos do País, não é difícil compreender a necessidade dessa campanha por parte do Movimento Negro:
1 - o quesito “raça” foi pesquisado nos censos de 1872 e de 1890;
2 - foi suprimido em 1900 e 1920;
3 - o quesito retorna em 1940, sob o rótulo de “cor”;
4 - em 1970, o questionário não contemplou o quesito “cor”;
5 - em 1980, o quesito volta a aparecer;
6 - em 1991 o quesito “cor” está presente, incorporando a (nova) categoria “indígenas e amarelos”;
7 - o censo de 2000 admitiu “raça e cor” como sinônimos, compondo uma única categoria (“cor ou raça”).
A força da campanha do Movimento Negro tinha ainda maior razão! Além da invisibilidade da população negra, pela falácia da “democracia racial”, o quesito “cor”, respondido apenas no Questionário Amostra, tangenciava uma população já impregnada pelo não lugar do ser negro, colocado sempre no lugar de 2ª classe!
“Não deixe sua cor passar em branco!” cobriu o censo de 1991 e foi reprisada no censo de 2000, com o objetivo de sensibilizar os negros e seus descendentes para assumirem sua identidade histórica insistentemente negada; ao mesmo tempo em que era um alerta para a manipulação da identidade étnico-racial dos negros brasileiros em virtude de uma miscigenação que se constitui num instrumento eficaz de embranquecimento do país por meio da instituição de uma hierarquia cromática e de fenótipos que têm na base o negro retinto e no topo o ‘‘branco da terra'', oferecendo aos intermediários o benefício simbólico de estarem mais próximos do ideal humano, o branco.
Apesar de, neste novo censo de 2010, o quesito “cor ou raça” sair do Questionário da Amostra e passar a ser investigado também no Questionário Básico, cobrindo toda a população recenseada , ainda há um longo caminho da superação do racismo para que todos e todas respondam pela dignidade e pelo reforço da auto-estima de pertencerem a um grupo étnico que só tem feito contribuir eficiente e eficazmente para o desenvolvimento do País.
Ao contrário do que propõe as “assertivas” de exclusão, a identificação da população negra se faz necessária sempre e a cada vez para que se constate em números (como gosta o parâmetro científico) o racismo histórico que ainda está perpetrado sobre a população negra. Só depois que alcançarmos a liberdade de fato é que as anotações étnicas passarão a ser fatores que dizem respeito exclusivamente à cultura. Enquanto estivermos, como estamos hoje – após 122 anos da abolição da escravatura – vivendo uma abolição não conclusa, precisaremos reafirmar nossa etnia do ponto de vista político; econômico; habitacional; na área da saúde; na área da educação; nas condições de supressão da liberdade que não se dá apenas aos presidiários, mas a pais e mães que clamam por políticas para garantir que seus filhos e filhas possam crescer com dignidade e sem ameaças.
A proposta do IBGE de tirar a “fotografia” mais nítida o possível do Brasil, ainda está longe de ser alcançada!
E a luta do povo negro não termina! O racismo é tão implacável que, a cada etapa alcançada, um novo desafio se apresenta!
Para este ano, novamente o Movimento Negro está em campanha, em nível nacional! E, agora, é para que todos aqueles que são adeptos das Religiões de Matrizes Africanas respondam sem qualquer dissimulação: “Quem é de Axé diz que é!” (**)
O quesito “religião ou culto” continua no Questionário de Amostra e tem campo aberto para que o recenseador ou a recenseadora anote a “religião ou culto” declarado pelo cidadão, pela cidadã.
Tanto no quesito “cor ou raça” para todos (no Questionário Básico); quanto no quesito “religião ou culto” para alguns que responderão o Questionário Amostra, a população negra e seus descendentes estão conscientes de que suas palavras precisam ser firmes e que devem estar atentos para que a anotação seja feita sem qualquer margem de erro em relação ao que declarou.
Já se justificou essa omissão do quesito “cor” por um possível empenho do regime republicano brasileiro em apagar a memória da escravidão. Entretanto, parte da explicação pode vir do incômodo causado pela constatação de que nossa população era marcada e crescentemente mestiça, enquanto as teses explicativas do Brasil apontavam para os limites que essa realidade colocava à realização de um ideal de civilização e progresso.
Não temos qualquer dúvida de que a resistência em tratar de raça-cor e em tudo o que a discussão implica – como políticas de reparações, com fundo para superação do racismo histórico – é a mesma que teremos de enfrentar no tratamento das Religiões de Matrizes Africanas. Não dissimular a declaração de adepto ou adepta das religiões de Axé, trazidas e preservadas como memória ancestral por aqueles e aquelas que resistiram à travessia e morte nos porões dos navios tumbeiros é dignificar a humanidade que por princípio e necessidade é diversa e assim deve permanecer.
A poligenia está superada! As evidências de que a humanidade surgiu no continente africano são cada vez em maior número e com rigor científico sempre mais acurado. O conceito de raça não tem o menor sentido, dizem nossos opositores, no afã de jamais ceder o lugar histórico de conforto a que estão acostumados! Enquanto não repararmos o estrago que o uso histórico do conceito fez a cidadãos e cidadãs que hoje são em mais de 50% da população, qualquer discussão conceitual será apenas a má retórica que tenta persuadir para continuar reinando.
Por isso,
Não vamos deixar nossa cor passar em branco!
E vamos dizer que somos de Axé!
“Quem é de Axé diz que é!”

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Homem feminista

Da série sobre o masculino vão surgindo coisas interessantes e novos aliados. Dia desses conheci o Fábio. Uma dessas figuras autênticas, sinceras, que vão falando e gesticulando com naturalidade sobre temas que deveriamos falar todos para combater o tédio que toma conta da vida da maioria das pessoas. Porém não quero falar dele agora, mas sobre o que ele anda escrevendo e pensando a um certo tempo. Fábio se define como um homem feminista. Sua principal tese é de o machismo prejudica não apenas as mulheres, mas também os homens. Ele se sente por um lado, vítima da cultura sexista, porque o impediu de viver tantas coisas que teve vontade, e por outro, um dos combatentes das amarras do machismo que tentam determinar o que são e como devem agir os homens em nossa cultura. Enfim, o homem anda escrevendo algumas coisas que conheci e gostaria de compartilhar e divulgar. Reprodizo parte de um dos manifestos que fez. O restante vocês podem ler aqui.
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por Fabio Veronesi

Homens contra o machismo

Não pelas mulheres!

Não. Não é pelas mulheres que lutamos contra o machismo. Não é pelos muitos males que o machismo historicamente ocasionou e ainda hoje ocasiona às mulheres. Nisso não há muita novidade, visto que faz um século que já é dito das muitas formas que há para se divulgar informação: passeatas com cartazes, sutiãs queimados em praça pública, peças de teatro, filmes, palestras, teses de mestrado, novelas, artigos de revista, jornal, livros e principalmente nos discursos cotidianos dentro dos lares. Todos já sabem disso e mesmo assim o machismo ainda existe em nossas civilizações. Está sem dúvida diferente daquele do início do século passado, mas sobrevive, insiste e se perpetua para as próximas gerações em nossas modernas sociedades neoliberais.

Sim. É pelos homens que lutamos contra o machismo! É aí que está a novidade. Quem sabe com isso a gente desatola o movimento de revolução social contra o machismo que, depois de tantas lutas e conquistas de direitos para mulher, está estagnado.

O que pouco se disse sobre o assunto é que O MACHISMO PREJUDICA OS HOMENS!

Acorda homem! Faz um século que as mulheres lutam contra o machismo e nós estamos somente na defensiva! O que nos prende é a ilusão de que o machismo nos beneficia.

continua...

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

La dama y la muerte

Eu quero compor!

Defender la alegría como una trinchera
defenderla del escándalo y la rutina
de la miseria y los miserables
de las ausencias transitorias
y las definitivas

defender la alegría como un principio
defenderla del pasmo y las pesadillas
de los neutrales y de los neutrones
de las dulces infamias
y los graves diagnósticos

defenderla alegría como una bandera
defenderla del rayo y la melancolía
de los ingenuos y de los canallas
de la retórica y los paros cardiacos
de las endemias y las academias

defender la alegría como un destino
defenderla del fuego y de los bomberos
de los suicidas y los homicidas
de las vacaciones y del agobio
de la obligación de estar alegres

defender la alegría como una certeza
defenderla del óxido y la roña
de la famosa pátina del tiempo
del relente y del oportunismo
de los proxenetas de la risa

defender la alegría como un derecho
defenderla de dios y del invierno
de las mayúsculas y de la muerte
de los apellidos y las lástimas
del azar
y también de la alegría.

Mario Benedetti